Estou a descobrir um novo estágio no qual alguns cristãos estão se estabelecendo, e muitos já se fizeram mestres: o da auto-vitimização. Quer dizer que se criticar pode, mas ser criticado não pode?... Engraçado, se não fosse trágico. É o caso de se usar dois pesos e duas medidas; do pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Porém há algo por trás disso tudo, a necessidade de se ser aceito, e a crítica ou exortação significar em rejeição. Para eu agir com amor, ao ver deles, tenho de contemporizar e fazer vistas-grossas ao erro. Mas ao que me consta, a Bíblia nos chama à responsabilidade de exortar uns aos outros, como adultos e maduros na fé, como responsáveis uns pelos outros, e como prova de amor fraternal, que no fim das contas é o amor que Cristo tem por sua igreja. Acontece que o papel de vítima, agir como um bebê mimado e choroso, é mais fácil e esconde da própria pessoa as camadas de erros que ela não quer ver, nem quer que os outros vejam. E o problema se agrava, pois vai trazendo um endurecimento, uma espécie de recalcitração, em que tudo me é permitido, convindo ou não, e ao outro nada, além da indiferença e do desprezo. No fim das contas, vai-se criando uma teia de desculpas, em que os fatos são grosseiramente distorcidos, jogados para debaixo dos tapetes, levando a pessoa a dar vasão à sua completa incapacidade de lidar com os problemas, em que a vitimização acaba por impedi-la de reconhecê-los e de enfrentá-los.
Outro ponto, é que falta maturidade para se tratar com essas e outras questões, e digo maturidade em todos os sentidos, moral, intelectual e espiritual. Todo mundo anda melindrado demais, meio paranoico, vendo cavalo com chifres onde não se tem. Anda-se muito em voga fazer "tempestade em copo d'água", como se as coisas nos afetassem além da conta, ganhando dimensões catastróficas, o que é tratá-las com uma super-importância e o super-poder de nos atingir que elas não têm. Quando hiperbolizamos sentimentos e situações, nossas reações também se tornam exageradas, ao extremo, e fugimos da realidade, criando para nós um outro tipo de "realidade", o que acaba por nos afastar de Deus, do próximo e de nós mesmos, ainda que nós e muitos dos "próximos" acreditemos que todo esse extremo é real.
Novamente, a imagem que me vem é a de crianças mimadas e despreparadas. E boa parte da culpa está nas pessoas ao redor que não vêm o que está acontecendo ou não querem ver; se vêm, fingem-se de cegas. Isso é amor? Isso trará crescimento? Até quando daremos tapinhas nas costas dos outros, vendo-os se destruírem? Ou caminharem para o inferno? Não sei, mas penso que a nossa geração tem sido omissa, individualista e covarde em vários aspectos. Cria-se uma redoma, e colocamos nelas pessoas como se fossem animais em exibição: vemos, mas não as tocamos, porque não queremos ou porque tememos; mantendo-as em um mundo entrópico
De certa forma, alguns nichos no meio cristão andam agonizando e, para piorar a situação, pensam que são os salvadores da pátria, que a solução está exatamente na agonia. Na verdade, a vida cristã é bem simples, mas requer algo difícil demais para os homens: a submissão, em nome do amor, o que na maioria das vezes significa humilhar-se. Por isso somos tão rudes, mal-educados, presunçosos, egoístas e soberbos, sempre dispostos a virar a mesa, a botar para quebrar; queremos autonomia, mas uma autonomia que não se aceita no outro, pois o que se quer é tê-lo como um satélite a orbitar ao nosso entorno. E aí está o grande problema: ser coerente com um discurso que somente é possível enquanto se fala, mas jamais quando se ouve.
Temo por parte da igreja, com toda a sua panaceia, a ministrar placebo aos seus membros, seja acreditando na sua eficiência, seja ministrando-a dolosamente. O resultado será sempre crentes fracos, sofrimento, dor e... tapinhas nas costas. Com isso não digo que temos de ter respostas para tudo, nem responder a tudo, mas jamais dizer aquilo que nós mesmos não queremos ouvir. Se não é bom para nós, por que tem de ser bom para o outro? Se não aceito, por que o outro deve aceitar? Por isso, cada vez mais, temos cristãos com discursos inflamados, soluções debaixo da manga, críticas a torto e a direito, onde a piedade existe apenas como prova de amor próprio, mas quanto ao outro, soterrou-na o orgulho.
E as experiências com muitos crentes acabam por torná-las tão ou mais difíceis do que com incrédulos, que muitas vezes revelam um caráter mais humilde, tão necessário à conversão quanto a uma vida cristã verdadeira. E fico a me perguntar: por que eu e você somos tão orgulhosos? Por que chegamos a esse ponto?
Não será porque acreditamos que já chegamos lá [ainda que não assumamos publicamente a nossa perfeição], enquanto desprezamos os sinais no meio do caminho e embrenhamo-nos perdidos no mato?
De minha parte, voltarei léguas e léguas, se necessário, para retomar o caminho do ponto onde Cristo me disse: "Vem!". E eu fui.
Nota: Começou como um texto cujo alvo eram os outros, e acabou acertando em mim, ou seja, a carapuça serviu.
Graça e paz Jorge.
ResponderExcluirCreio que necessitamos com urgência é de maturidade emocional e espiritual;alguns mais outros menos, mas necessitamos crescer. E uma das formas de reconhecermos que estamos amadurecendo tanto emocional quanto espiritualmente é quando nos vemos como somos e como estamos e o quanto necessitamos mudar ou pelo menos nos esforçar para mudar. Perfeito nunca seremos, mas que pelo menos tenhamos um alvo em nossas vidas que é procurar ser e refletir a imagem de Cristo.
Quanto as críticas essas muitas vezes incomodam, mas são elas que nos ajudam a entender como o outro, ou os outros, nos enxergam muitas vezes. Aí é que entra a maturidade para saber lidar com isso de forma sábia tanto espiritual quanto emocionalmente.
Que o Senhor nos ajude a atingirmos essa maturidade. O importante, como você mesmo disse, se nos perdermos retornar e reencontrar o caminho certo e não ter vergonha de admitir que estava errado. Isso é maturidade.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira
Pr. Silas,
ResponderExcluirobrigado por sua visita e comentário, realmente, o que o irmão disse é o que eu acredito também.
Reconhecer os erros e não nos considerar infalíveis é o melhor meio de se alcançar a maturidade e adentrar definitivamente na vida cristã como forma de obedecer e agradar a Deus. Afinal, foi assim que o Senhor, sendo Deus, se fez servo para que pudêssemos também servi-lo e ao próximo.
Um grande e forte abraço, meu irmão e amigo!
Cristo o abençoe!
Olá irmão Jorge,
ResponderExcluirInfelizmente o que mais observamos hoje são cristãos arrogantes, donos da verdade e críticos impiedosos uns dos outros.
Muitas vezes me pergunto que cristianismo é esse que produz soberba ao invés de humildade.
Precisamos sim dobrar os joelhos diáriamente e fazer uma auto-avaliação do nosso estado espiritual!
um grande abraço irmão muito querido!
Nazira
Oi, Nazira!
ResponderExcluirTudo bem? Anda sumida... Ou será que sou eu?
Assino embaixo de cada palavra sua, minha irmã!
Cristo a abençoe também, juntamente com os seus queridos!
Um grande e forte abraço!