19 julho 2024

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 40: A Trindade e o amor trinitário






 Jorge F. Isah




Há muitos textos na Escritura que revelam o amor de Deus por seu povo. O apóstolo diz que ele nos amou tanto que deu o seu próprio Filho em nosso favor, revelando que, como nos diz o mesmo apóstolo, ele nos amou primeiro. Se somos capazes de amá-lo é porque ele nos amou antes, e temos essa capacidade porque o Imago Dei, ainda que distorcido, quase um reflexo tênue do ser divino, foi-nos dado por ele. Amamos, porque ele nos amou antes da fundação do mundo; amamos, porque ele nos deu o seu amor e colocou em nós o seu maravilhoso atributo; amamos, porque sem ele não haveria o amor; amamos, porque Deus é amor, e traz eternamente em si mesmo a relação de amor entre as pessoas da Trindade.

Ora, o amor não pode existir sem haver o outro; qualquer ideia de um amor solitário é impossível. Para haver amor é necessário, ao menos, duas pessoas, de onde o sentimento parte do sujeito ao objeto, ainda que o objeto não ame o sujeito. Ao amor não é necessário reciprocidade, alguém pode amar outrem e este outrem não nutrir nenhum sentimento pelo alguém. Em nossas relações há vários tipos de "amores", todos asseguradamente garantidos pela imperfeição e limitação humana. Há quem diga amar a natureza, o seu animal de estimação, uma obra de arte, um time de futebol, e coisas do gênero. Podemos refletir sobre eles se são mesmo amor ou não, porém, interessa-nos não estabelecer o que seja o amor da criatura, mas compreender o amor divino e relacioná-lo com o seu ser.

Fato é que Deus, se sendo uma única pessoa, não teria a quem amar antes da criação. Mas se até mesmo a criação é um ato amoroso, ele, como o texto sagrado revela, nos amou sempre, eternamente. Alguém dirá que esse amor é possível; sendo Deus perfeito e imutável pode amar mesmo o que ainda não existiu e que para ele sempre existiu, pois sua mente é eterna assim como a sua vontade e atributos. Acontece que nenhum atributo divino surgiu por um processo de "evolução", mas todos são inerentes ao seu ser. Contudo, fica a pergunta: mesmo assim seria possível haver amor sem objeto a que se amar?

Penso que em Deus o amor se dá exatamente porque em seu ser subsistem três pessoas; de forma que o amor eterno somente existe devido às pessoas eternas que se amam mutuamente; sem as quais o significado da palavra "amor" não teria qualquer sentido, e a afirmação bíblica seria uma mera figuração, um símbolo desconectado com a natureza divina. Quando dizemos que "Deus é amor" não podemos jamais o afirmar com base apenas na criação, como se o atributo fosse contingente ao tempo e momento da criação. Ele existe eternamente e somente porque há uma interrelação entre as pessoas da Trindade, e pelo amor que há nelas, manifestando-se umas às outras. Negar o amor como fruto necessário da interrelação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo é desprezar as evidências bíblicas, que mostram serem verdadeiras. E o amor somente é possível porque Deus é trino, e cada uma das pessoas tem em si a unidade absoluta do amor.

Além desta questão crucial e fundamental para a fé cristã e bíblica, há outras provas de que o ser divino não é unipessoal, mas tripessoal, onde as pessoas se relacionam eterna e intrinsecamente, sendo, contudo, distintas entre si. Senão, vejamos:


a) Relacionamento pessoal
Nas relações pessoais que a Trindade têm entre si é evidenciado que são Pessoas diferentes. As suas designações Pai, Filho e Espírito Santo testificam isso:

1) Usam mutuamente os pronomes Eu, Tu, Ele quando falam um do outro, ou entre si [Mt 17.5; Jo 17.1; 16.28; 16.13];

2) O Pai ama o Filho, e o Filho ama o Pai. O Espírito Santo glorifica o Filho [Jo 3.35; 15.10; 16.14];

3) O Filho ora ao Pai [Jo 17.5; 14.16].

4) O Pai envia o Filho, e o Filho e o Pai enviam o Espírito Santo que atua como Seu Agente [Mt 10.40; Jo 17.18; 14,26; 16.7];

Porquanto, pelo fato de usar pronomes Eu, Tu, entre Si é evidenciado que há um só Deus em Três Pessoas Distintas.


B) São apresentadas separadamente

Três pessoas distintas são apresentadas em 2Sm 23.2,3; Is 48.16; 63.7-10. Igualmente, à vista do fato da criação ser atribuída a cada pessoa da divindade separadamente, como também a Eloim com as palavras “Também disse Deus [Eloim]:Façamos o homem ‘a nossa’ imagem” [Gn 1.26].

Esta convicção é confirmada como verdadeira pelo plural de Eclesiastes 12.1 que diz: “Lembra-te do(s) teu(s) criador(es) nos dias da tua mocidade”, e Is 54.5, que diz: “Porque o(s) teu(s) criador(es) é(são) teu marido”.

Este texto é um pequeno complemento às aulas passadas. Não tem por objetivo convencer os antitrinitários, os quais se desdobrarão em apresentar refutações ao que se apresenta, mas de levá-los a meditar na verdade, a qual a Bíblia insistente e claramente revela, e sem o quê o Cristianismo seria uma religião incoerente e sem nexo, especialmente diante daquilo mesmo que se revela. Há uma tão grande profusão de passagens que expressam a trinunidade de Deus que é o mesmo que chover no molhado, como a minha avó sabiamente dizia. E para que ninguém se molhe além do necessário, pararei por aqui, orando para que a verdade escriturística seja também verdade no coração rebelde do homem caído.
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Notas: 1 - Alguns pontos não abordados neste texto encontram-se expostos no áudio.
2- Aula realizada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico
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ÁUDIO DA AULA 40:

3 comentários:

  1. Olá Jorge,

    Quanto ao fato de amarmos a Deus você disse:

    "Se somos capazes de amá-lo é porque ele nos amou antes, e temos essa capacidade porque o Imago Dei, ainda que distorcido, quase um reflexo tênue do ser divino, foi-nos dado por ele".

    Talvez essa compreensão não faz redundar que todos podem amar a Deus, visto que todos possuem o imago dei? A capacidade de amar não é dada especialmente àquele que é transformado por Deus, nos levando a concluir que a capacidade de amar é resultado da regeneração e não daquela característica especial que todos possuem?

    Quanto ao mais, gostei do texto, sobretudo do que disse acerca do amor de Deus:

    "Quando dizemos que "Deus é amor" não podemos jamais afirmá-lo com base apenas na criação, como se o atributo fosse contingente ao tempo e momento da criação. Ele existe eternamente e somente porque há uma interrelação entre as pessoas da Trindade, e pelo amor que há nelas, manifestando-se umas às outras".

    Essa compreensão é importante para se compreender um ser Eterno que ama, não em razão do que faz para se ver amando, mas em razão do que é. Isso é maravilhoso.

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  2. Oi, Mizael!

    Sim, o Imago Dei é algo que todos os homens têm, mas por conta do pecado ele encontra-se meio que "soterrado" pela natureza caída do homem. No sentido de que essa capacidade está "inoperante", como que em estado de hibernação, até que o Espírito Santo regenere e transforme o espírito humano, ligando-o a Deus. Logo, você está correto em sua análise.

    Acontece que todos os homens têm em si a possibilidade de amar, mas que, contudo, está latente no homem não-regenerado, aguardando a ação divina para se revelar. Por isto creio que ninguém poderá advogar a si mesmo a inescusabilidade de não ter amado a Deus por não ter o amor em si, mas que, em virtude da natureza pecaminosa [que é do próprio homem, e ninguém pode dizer que não é; ou seja, a própria humanidade encarrega-se de "impedir" que o amor se manifeste nele], permanece ineficaz, a espera do agir divino para, somente então, manifestar o amor.

    Quando entendemos que Deus ama eternamente, e de que esse amor perfeito somente é possível na diversidade de pessoas da Trindade, realmente o nosso coração se enche de alegria, e podemos compreender porque o amor divino por nós também é eterno. Deus é amor porque sempre amou, na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O que me leva ao entendimento de que sou amado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito, e de que devo amá-los assim também, na unidade do ser divino e na diversidade de suas pessoas.

    Grande e forte abraço, meu amigo!

    Cristo o abençoe!

    PS: pode-me enviar o seu telefone de contato pelo meu email.

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  3. Mizael,

    concluindo o que disse anteriormente, ou melhor, sintetizando, todo homem tem em si o Imago Dei, acontece que, após a Queda, há aqueles que são filhos de Deus [os eleitos] e os filhos do diabo [os não-eleitos]. Estes, ainda que inescusáveis, no sentido de que não podem alegar que não podiam amar a Deus, de fato não o podem sem que Deus os mova a ele.

    Visto não haver filhos de Deus e do diabo ao mesmo tempo, apenas os filhos de Deus podem amá-lo verdadeiramente, com o mesmo amor com que ele nos ama [não em extensão, nem intensidade ou perfeição, mas como o amor que temos que é o mesmo amor que nos foi dado por Deus através do seu Filho Amado].

    É isto!

    Novos abraços!

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