07 novembro 2012

O dia em que Cristo me fez













Por Jorge Fernandes Isah  

 Hoje comemoro a data mais importante da minha vida. Não foi o meu nascimento na maternidade, nem o meu casamento, nem a vinda dos meus filhos, formatura ou qualquer outro evento que marcou a vida. Não que essas coisas sejam sem importância, não é isso. Elas são fundamentais, e devemos comemorá-las na proporção da felicidade e alegria com a qual Deus nos presenteou-as, como dádivas, como prova da sua bondade para conosco. Mas a prova maior do seu amor está em que "Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" [Rm 5.8]

E foi, exatos seis anos, no dia 12.10.2004, que Cristo me resgatou no tempo, convertendo-me a si. Sei que a minha salvação é eterna, determinada por Deus antes da fundação do mundo, escolhido por ele para sempre, mas apenas tornou-se minha conhecida naquela data. Parte de como era a minha vida e os meus pensamentos estão registrados no texto entitulado "A Morte da Morte", o qual pode ser lido aqui mesmo no Kálamos. 

Não vou entrar nos detalhes de como eu era, e nem é preciso. A Bíblia claramente assevera que, como todos os homens, eu não era justo, não entendia e nem buscava a Deus. Estava extraviado, e me fazia inútil; não fazia o bem. Minha garganta era um sepulcro aberto. Minha língua tratava enganosamente; peçonha de áspides estava debaixo dos meus lábios. A boca cheia de maldição e amargura. Os pés caminhando ligeiros para derramar sangue. Em meus caminhos havia destruição e miséria; e não conhecia o caminho da paz; nem havia temor de Deus diante dos meus olhos [Rm 3.10-18] 

Mesmo não realizando alguns desses males, aos quais o apóstolo Paulo se referiu e os profetas também relataram, todos os pecados estavam possíveis diante de mim, e somente não foram concretizados porque Deus não me deixou ser tudo o que eu poderia ser como pecador. Ele me poupou de levar à cabo toda a loucura e impiedade que estavam dispostas em meu coração, latentes, a esperar o momento adequado para se manifestarem; e não ser ainda pior do que já era.  Como o pecado nos cega, eu estava cego, e me considerava o único dos homens que valia alguma coisa; e desprezava todos, sem exceção, e aqui posso incluir até mesmo a minha família. Basta alguns minutos de bate-papo com a minha esposa para se perceber o nível de corrupção em que minha alma se encontrava. Eu era um tolo considerando-me sábio. Apelava para uma sanidade impregnada de loucura. Para uma saúde doentia. Uma perfeição mergulhada na imperfeição; atolada na corrupção mais que possível. E eu não queria ver. Não podia ver. O pecado me impedia de olhar para mim mesmo e encarar a realidade. Por isso, ele criava ondas de ilusão e delirio que me mantinham preso a uma imagem desconstruída e mal-formada, a manter preservada a impiedade naturalmente disforme, e a formar cada vez mais o espectro do homem caído, cheio de si mesmo, em minha própria insuficiência. Alguém poderá dizer: "mas que exagero! Ninguém é assim tão estúpido e tão mal". Mas pode acreditar, até o momento em que Senhor me restaurou, não há palavras suficiente para descrever o estado de corrupção, inaptidão e loucura da minha alma. 

Havia passado a noite em claro e, por alguns dias, esta foi a minha rotina. Dormia duas, três horas por noite, intermitentes e atormentadas. Sem saber ao certo o que estava acontecendo, colocará-me contra tudo e todos. Havia apenas eu, e mais ninguém. Interessante que não havia problemas na minha vida, nada que justificasse o estado angustiante em que me encontrava. Não tinha problemas financeiros além do normal: pequenas dívidas a serem pagas parceladamente. Não havia problemas de saúde na família. Ou algo de grave e insustentável. O problema era eu e somente meu. Nutria uma paranóia que colocava todos contra mim, e me defendia de nenhum ataque, odiando-os e jurando vingança. Até que, naquela noite, uma idéia desesperadora foi-se formando e, passadas algumas horas, já estava decidido; havia encontrado a solução final. E qual era? Abandonar tudo e todos, fugir, sem deixar rastros e ir longe o suficiente para me livrar da dor que me consumia. Se eles eram o problema, nada mais natural do que afastá-los. 

À medida que o tempo passava, e o silêncio era entrecortado por um veículo ou outro cruzando a rua, por uma voz ou outra solitária, eu estava cada vez mais decidido de que aquela era a solução. Estava na sala, a tv ligada, as cores de um filme se misturando à escuridão da mente. Foi quando vi aquela pequena Bíblia católica[1]. Dez anos antes, minha esposa me presenteara com aquele exemplar, o qual abri e li apenas a dedicatória. Fechei-a novamente; e, em Fevereiro ou Março de 2004, o meu desespero e a falta de opções levou-me a abri-la. Comecei pelos Evangelhos de Mateus e João. Não lia diariamente, as vezes passava até semanas sem ler. Nos piores dias, lia quase incessante. De alguma forma, eu sabia que ali estava a solução, mas não queria aceitá-la. De alguma forma, Deus me levou a ler a sua palavra, mesmo contra a minha vontade. A última coisa que eu poderia imaginar seria a volta ao evangelicalismo, do qual fiz parte na adolescência, por dois anos. Durante mais de vinte, eu nutria um ódio e uma aversão por crentes tão grande que nada mais suplantava esse desprezo por eles, suas igrejas e seus cultos escandalosos. Se alguém vinha falar de Jesus, eu o repelia imediatamente. Se queriam me entregar um folheto, eu recusava com cara de poucos amigos. Era grosseiro, desaforado e rude ao extremo no trato com qualquer que se aproximasse com o intuito de apresentar-me o Evangelho. Fugia de qualquer contato, e tinha-os como inimigos declarados. 

Aprouve a Deus, portanto, utilizar a sua palavra, apenas a sua palavra, através daquela pequena Bíblia, para operar em mim o novo-nascimento. E foi o que aconteceu. Durante meses, ela foi a única ligação que tive com Deus. E a única que admiti ter. Naquela madrugada, ao vê-la, peguei-a, e abri aleatoriamente. Em Gálatas 2. Não me lembro ao certo, mas acho que comecei a ler no verso 16. E quando estava no verso 20, aconteceu algo que não consigo explicar. Foi como se uma força poderosa me lançasse ao chão, me pusesse de joelhos, a cabeça curvada ao peito, e um choro convulsivo a derramar lágrimas no rosto. Em minha mente havia apenas arrependimento por toda uma vida que desagradara a Deus. Por uma vida jogada fora, de inimizade, de rebeldia. Em que pequei, e pequei somente contra Ti; e meus pecados estavam diante de mim [Sl 51.3]. Eu dizia ao meu Senhor: Perdoa-me! Perdoa-me! Por todos os meus pecados; por tê-lo desprezado e rejeitado. Perdoa-me! Reconhecendo-o como Senhor e Salvador da minha vida. 

Chorava, por mais ou menos meia-hora [foi o que me pareceu], não parei de chorar e de clamar o seu perdão. Subitamente, assim como a primeira lágrima, veio-me uma paz que não sabia explicar. Senti-me aliviado, e toda aquela dor passou e nem me lembrava mais dela. Havia uma segurança, uma certeza de que minha vida estava mudada, e de que seria outro homem. Como disse, não me veio nada claramente explicado, mas eu sabia, estava acontecendo. Cristo me convertera, se apiedara de mim, e mesmo na minha completa ignorância, mesmo que eu não lhe tivesse pedido nada, ele fez; e, naquele exato momento, pude sentir o seu amor. 

Enquanto isso, lá fora, uma profusão de foguetes explodiam em homenagem à santa, uma imagem de barro, feita por mãos humanas, mas eu sabia que mais do que isso, aqueles foguetes revelavam a alegria nos céus por um pecador que se arrependia [Lc 15.7]. E, por incrível que pareça, eu tinha certeza de que todo aquele barulho, uma overdose sonora, era para que me fosse distinguido, impregnado aos tímpanos, entranhado na mente, que Cristo havia morrido por mim, e de que agora e para sempre, eu seria seu e de mais ninguém. Levantei-me. Sentei-me. Olhei o relógio. Seis e vinte. Peguei a pequena Bíblia, e recomecei a ler Gálatas. Desde o princípio. Quando novamente li o verso 2.20, não pude conter as lágrimas e, chorando convulsivamente, orei ao Senhor, fazendo o meu primeiro pedido de que, assim como Paulo, um dia pudesse dizer: "já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim". E aquela afirmação do apóstolo eu sabia verdadeira e possível para Deus, que a tornaria verdadeira e possível na minha vida, ainda que não entendesse como; mas estava impregnado da certeza de que, um dia, eu seria assim como ele é. 

Dias depois, minha filha, então adolescente, conversava com minha esposa e meu filho, e disse: "dormi com um pai e acordei com outro". Tive confirmado o que já sabia, que a promessa em Gálatas estava se cumprindo, se cumpriria, pois Deus predestinou-nos a ser conforme a imagem do seu Filho, "a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" [Rm 8.29]. Não para a nossa glória. Mas para a glória de Deus, que nos gerou como a filhos amados. Neste momento, em que termino este texto, ouve-se ainda o foguetório; a espocar insensatos pelos homens que detém a verdade em injustiça. Então, esqueço-os, para agradecê-lo por ser-lhe servo e tê-lo por Senhor; para louvor da glória de sua graça, pela qual me fez agradável a si no Amado [Ef 1.6]. 

"Em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo" [1Pe 1.7].

Nota: [1] Quando digo Bíblia católica, refiro-me ao exemplar impresso e publicado pela Edições Loyola; que à exceção dos livros e acréscimos apócrifos, é a mesma santa palavra de Deus.
[2] Publicado originalmente em 12/10/2010, aqui mesmo no Kálamos

30 outubro 2012

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 39: A prova da Trindade - parte 2

Por Jorge Fernandes Isah

Não vou repetir aqui o que já disse outras vezes, especialmente neste estudo sobre o ser de Deus, que é o capítulo dois da CFB, mas analisar biblicamente a doutrina da Triunidade.

Pois bem, dias desses, assisti ao vídeo do pr. Paulo Romeiro no site Internautas Cristãos, como uma prova incontestável da doutrina da Trindade[1]. À primeira vista fiquei realmente embasbacado com a prova. Primeiro, assista o vídeo, e depois continuamos.

O pr. Romeiro citou Isaias 6.1-8; João 12.37-46 e Atos 28.23-28. Analisando os versos podemos ter certeza de que Deus é Triuno? Bem, alguns pontos iniciais que me chamaram a atenção:

1- O profeta Isaías vê o Senhor dos Exércitos e a sua glória, de quem os anjos clamavam entre si, dizendo: “Santo, Santo, Santo” [um triságio, do grego tris-agion, significando três vezes Santo]. Esta expressão, utilizada na Escritura em Is 6.3 e AP 4.8, parece-me o reconhecimento dos anjos e da própria revelação especial quanto à santidade divina, o que faz os anjos eleitos [igualmente feitos santos, sem pecado, não por si mesmos, mas pela vontade de Deus] afirmarem que Deus é o único e perfeitamente santo. Mas também nos remete à sua natureza Tripessoal, na qual o ser divino subsiste em três pessoas: o Pai e o Filho e o Espírito Santo, responsivamente indicado pelo "Santo, santo, santo".

2- O profeta ouviu a voz do Senhor que disse: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” [v.8], onde, novamente, Deus se refere a si mesmo no plural, não na pluralidade de “deuses”, mas na pluralidade de pessoas ou personalidades.
Interessante que uma das acusações dos antitrinitarianos é de que nós somos politeístas e pagãos. Mas mostre-me em qual religião pagã e politeísta há a ideia de um Deus subsistindo em três pessoas? A doutrina da Triunidade divina não encontra eco em nenhuma outra religião a não ser no Cristianismo, e, por isso, certamente é tão atacada e rejeitada.

3- Romeiro diz que o Pai foi visto por Isaías, mas João diz que Isaías viu a Cristo, e Paulo diz que o profeta ouviu o Espírito Santo. Como disse, à primeira vista pareceu-me irrefutável o argumento. Porém, analisando mais detidamente a questão, e após ler alguns contra-argumentos, ela parece ser uma desgraça para os unitaristas, mas nem tanto para os unicistas. Estes podem claramente afirmar que os textos em si revelam que Cristo é o único Deus, validando assim a heresia: Isaías viu Cristo como o Pai, o Senhor dos Exércitos, mas que foi entendido por João como sendo Cristo, e por Paulo como sendo o Espírito Santo, ou seja, Cristo se manifestando de modos diferentes. Será?

4- Nos trechos acima temos a repetição de um mesmo verso, de Isaías 6.10, indicando que os apóstolos, sem sombra-de-dúvidas, referiam-se a ele.

5- Eles demonstram a unidade de Deus, de que Deus é um. Também deixa claro que há três pessoas subsistindo no único Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. E salta-me aos olhos que, havendo três Pessoas, elas, em unidade, são a causa de tudo, seja na criação, na salvação, na sustentação; podemos referir-nos a uma das Pessoas como sendo a que criou ou salvou, de forma que ela participou ativamente em cada etapa da obra divina. É o que a Bíblia nos revela quando diz que Deus criou o universo, lembrando-nos de que foi uma obra conjunta das Pessoas que subsistem no Criador: o Pai, o Filho e o Espírito, em sua vontade e ação únicas operaram inseparavelmente na criação, sem, contudo, confundirem-se, como uma única pessoa. Em sua natureza e essência Deus é um, subsistindo em três Pessoas distintas, que se relacionam eternamente entre si. E, por conseguinte, pode-se dizer que as três realizaram, cada uma, a mesma obra.

Por exemplo, em Gênesis 1.1, Deus criou os céus e a terra, mas, em Jo 1.3, Cristo é apontado como o criador de todas as coisas, as quais, sem ele, não seriam criadas. Gênesis 1.2, Jó 26.13 e Salmos 104.30 indicam-nos que o Espírito Santo é o criador do universo. Assim o mesmo acontece em relação à obra de salvação: o Pai salva [Jn 2.9, Jo 3.16-17], o Filho salva [Mt 1.21, Jo 4.42] e o Espírito Santo salva [Tt 3.5]. De forma que há uma ação conjunta da Trindade em tudo, ainda que se possa designar individualmente uma ou outra como o seu agente direto. A obra, no fim-das-contas, pertence a cada uma delas porém realizadas em unidade, conjuntamente, como consequência da vontade única e indissolúvel de Deus.

A questão portanto não é se os trechos apontados pelo pr. Romeiro defendem o unicismo, o que não é verdade. Nunca, em tempo algum, qualquer versículo bíblico pode ser usado como argumento para o engano, o pecado ou a heresia. Jamais haverá afirmação escriturística que corrobore ou induza o homem a qualquer desvio. Logo, a culpa não é da Bíblia, mas da mente imperfeita, pecaminosa e caída do homem que interpreta equivocadamente o que o texto diz ou, a partir de pressupostos falhos, ele induz o texto a dizer o que não diz, e conclui, para a sua desgraça, que o texto confirma o que a sua mente doente não é capaz de ver: que nada do que pensa ou concluiu tem procedência divina, e foi revelada por Deus. A deficiência é completamente humana, na incapacidade de reconhecer a verdade, e apenas vislumbrar o engano.

Eles, antes, declaram que Deus é um e opera todas as coisas por intermédio das três Pessoas. O que há, na verdade, é uma distorção do ensino bíblico, ao se afirmar que as Pessoas são meras manifestações, estados ou modos de uma única personalidade. O pressuposto de que há um só Deus exclui, na mente herética, a sua tripersonalidade; o que faz desses, ao contrário do que querem parecer, os verdadeiros idólatras, ao adorarem e reverenciarem uma força, o Espírito Santo, ou um ser criado, Cristo. Fazer todas as passagens onde consta o nome "Deus" parecer serem obras de uma única pessoa é o reducionismo que adverti na aula passada, e pertence à mente racionalista dos unitarianos e unicistas. É como se eles vissem uma macieira carregada de frutos e acreditassem estar diante de uma única maça, esquecendo-se do tronco, galhos, ramos, flores e demais frutos que constituem a árvore. Com isto não estou a dizer que Trindade pode ser comparada a uma árvore, nada disso. O exemplo está a afirmar a incapacidade dos antitrinitarianos reconhecerem a verdade, desprezando a revelação que o próprio Deus faz de si mesmo. Toda a cegueira deles está no fato de serem também pragmáticos e se interessarem pelo resultado, seja ele qualquer um, desde que redunde em algo "palpável" e que atenda aos anseios dos seus intelectos.

Por isso, me assusto quando cristãos criticam o argumento do pr. Paulo Romeiro, como uma defesa do unicismo. Ela não é; pelo contrário, nos revela a unidade e a diversidade divina, onde a glória de Deus é compartilhada tanto pelo Pai, como pelo Filho, como pelo Espírito, em um interrelacionamento eterno, perfeito, santo e infinito, capaz de nos levar às lágrimas, à emoção, mas sobretudo à adoração, louvor e gozo em saber que o amor de Deus por nós não surgiu a partir de uma necessidade divina de se relacionar com a criação, mas é eternamente vivo no relacionamento intrínseco que há entre as Pessoas da Trindade.

Isaías viu o Pai ou o Filho? Ouviu o Pai ou o Espírito Santo?

Cristo disse que quem o vê, vê ao Pai [Jo 14.7, 9]: a mesma natureza ou essência divina, sendo duas Pessoas distintas. De forma que, ao afirmar duas vezes coisas aparentemente contraditórias, estava referindo-se à vontade e propósito iguais de ação por meio da Trindade. Senão, vejamos:
"Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" [Jo 14.26];

e

"Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim" [Jo 15.26].

O que lhes parece? O Pai ou o Filho é quem envia o Consolador, e em nome de quem? Ainda que não se possa explicar tudo, e tem-se de entender que a Trindade é um mistério insondável para o homem, ao menos por hora e aqui, o que está claro é o propósito e ação únicas das Pessoas. Não há mistura de Pessoas ou elas não podem ser distinguidas em suas ações, mas há uma só vontade e um só propósito, deliberação, decisão ou resolução no Pai, no Filho e no Espírito Santo, uma harmonia de intentos somente possível no Ser perfeito, eterno e santo de Deus. De outra forma não estaria ele lançando-nos uma pegadinha? Por que haveria distinção de nomes e pessoas sendo elas uma só personalidade? Com qual intento Deus se revelaria equivocadamente ao homem? Para confundi-lo?

O fato é que os textos indicados pelo pr. Romeiro não defendem o unicismo, mas a Trindade, de forma que aquele que crê no Deus bíblico crê na Pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo; e aquele que não crê no Pai, no Filho e no Espírito Santo verdadeiramente desconhece a Deus, e dele não é conhecido.

Notas: [1] O vídeo do pr. Paulo Romeiro intitulado, "A Trindade em Isaias 6", pode ser acessado na aula anterior, clicando AQUI
[2] Aula realizada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico
[3] Baixe o áudio desta aula em Aula 39.MP3

02 agosto 2012

MUNDO EM FILIGRANAS



































Por Jorge Fernandes Isah

Tenho que uma das coisas na qual os crentes mais negligenciam é a afirmação de Paulo: "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Rm 8.7). Em outras palavras, Paulo está dizendo o que Tiago diz: "Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4.4).

Em nome da intelectualidade, tolerância, do politicamente correto, indolência, comodismo, pieguice, e de tantas outras desculpas esfarrapadas, a igreja tem mantido, infelizmente, uma íntima relação com o mundo. O que vale dizer que as trevas ocuparam o lugar que deveria ser da luz, sucumbindo à escuridão completa, na ilusão de que estão a favorecer ou colaborar com a luz. O mundanismo na igreja é como uma peste, um flagelo, uma maldição que se propaga como um vírus letal, o qual consumirá e afasta-la-á do seu propósito: a grande comissão, a obra de proclamação do Evangelho, e a consequente salvação de almas.

Muitos vão taxar-me de fundamentalista (no sentido de reacionário, retrógado, extremista, medieval), mas a própria palavra de Deus afirma que os crentes devem se considerar em constante guerra com o mundo, não se conformarem com ele (Rm 12.2), nem o amarem, pois ao que ama o mundo, o amor do Pai não está nele (1Jo 2.2). Logo, se você quer agradar a Deus sendo obediente aos seus mandamentos, terá de ser reacionário, inflexível, ortodoxo e extremista em defender e viver a Escritura, opondo-se ao pecado. Ou não somos de Deus? Ou não sabemos que o mundo está no maligno? (1Jo 5.10). Não há de se ser condescendente, nem manter-se em uma relação amigável, nem compartilhar qualquer tipo de interesses com aqueles que estão no mundo, os quais são filhos de satanás, e esforçam-se em compartilhar e promover os ideais, princípios e conceitos anti-evangelho de Cristo, que os levarão à morte definitiva, e a quem pactuar com eles. Ouça o que o Senhor nos diz: "Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo" (Jo 17.14), pois "Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia" (Jo 15.19); "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim" (Jo 15.18). O que lhe parece? É possível se enganar? A sentença de Cristo deixa dúvida? Ou será que negligenciamos a Sua advertência fazendo-nos aliados do inimigo, julgando-nos amigos de Deus? "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro" (Mt 6.24). A maior tolice que o crente pode cometer é acreditar que o mundo será sincero, pacífico e justo; antes ele é igual ao seu mentor, o qual "foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44), e "não vem senão a roubar, a matar, e a destruir" (Jo 10.10). Cuidado! Por certo é o que ele deseja ardentemente, e, insistente, não se furtará a usar de todos os meios para lançar-nos em definitivo no abismo.

E tudo o que estiver em disposição de resistir a qualquer dos preceitos bíblicos, os quais Deus decretou como o padrão de vida cristã, representará inimizade para com Ele, ainda que aparente insignificância, e faça-se inofensivo. Você ouve piadas imorais e ri? Não se importa em ser desleal? Nem de falar mal do colega de trabalho ou escola? Já olhou para alguém e sentiu-se superior a ele? Ou desprezou-o por não acompanhar o seu raciocínio?... Não estou a falar de prostituição, adultério, furto, vícios, assassinato, e coisas do gênero, mas dos valores cristãos mais elementares que são desprezados e combatidos diariamente, e pelos quais você não se importa. Falo dos filigranas, dos mais tênues desejos que dividimos com o mundo: orgulho, inveja, vaidade, cobiça, trapaças (que se acalentam de uma forma tão intensa e muitas vezes passam despercebidas), e mais, da sua ordem pedagógica de nos sujeitar ao fim por ele pretendido. O salmista nos adverte: "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite" (Sl 1.1-2) . O que isso quer dizer? Que o crente não deve:

1) Ouvir o conselho do ímpio.

2) Deter-se em seu caminho, antes afastar-se dele. Se não for possível, deixá-lo passar a galope.

3) Assentar na roda dos escarnecedores, e assim, se fazer e agir como um zombeteiro. O alerta é evidente: manter a distância máxima de tudo o que se refere ao mundo, no sentido daquilo que o mundo tem, produz e doutrina como elementos que o levarão ao pecado e a desobediência. Porém, o crente deve ter prazer na Lei do Senhor, e nela meditar dia e noite, incessantemente. Este é o antídoto para não comungar com o mundo: o temor e reverência a Deus, o deleite e a alegria em se sujeitar à Sua vontade expressa claramente na Lei.

Para muitos é possível ser um crente sem amar a Lei de Deus; e, ultimamente, a igreja tem sido vítima (há casos em que é fomentadora) da idéia de que é possível servir a Cristo odiando a Lei. Mas como o Senhor pode concordar que alguém se intitule Seu filho se odeia e despreza aquilo que criou? É coerente? Não. E demonstra o quão pouco razoável e entendido é quem assim pensa e age à revelia da revelação divina, a qual nos diz que a Lei é espiritual (Rm 7.14), santa, justa e boa (Rm 7.12); o que não significa que seremos capazes de cumpri-la. Cristo fez isso por nós, para nos salvar (Gl 3.13). E a prova de que sou salvo é o amor à Lei (Sl 119.163), e desejar no íntimo cumpri-la, ainda que não o faça completamente. A minha alegria é obedecer a palavra de Deus, e a minha tristeza é não ser capaz de realizá-la, por isso a necessidade de arrepender-me e clamar o perdão divino.

Aparte:[Em Romanos 7, Paulo faz um verdadeiro tratado do domínio da lei sobre o homem. Ele fala de duas leis: a Lei santa e justa que revela o pecado, e pela qual Cristo morreu, e com Ele também morremos para o pecado; e a lei do pecado que "habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem... Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim" (Rm 7.17-18, 20). Ou seja, a Lei que revelou-me o pecado, pelo qual seria condenado, foi pregado na cruz do Calvário por Cristo, que cumpriu-a na carne por mim; o que me tornou livre da condenação da Lei, liberto do seu jugo. Contudo, deve-se anelar o desejo de observa-la, em sujeição à vontade de Deus, como Seu filho, o qual tem de ser santo como é santo o Pai celestial (Lv 20.26).

Por outro lado, o apóstolo aponta a incapacidade de se livrar completamente da lei do pecado, a qual serve-se da nossa carne. É o remanescente da nossa natureza corrupta em conflito com o Espírito que habita em nós, opondo-se um ao outro (Gl 5.17). Desta forma, se não reconheço o meu pecado, como me aceitarei pecador? E como buscarei em Deus a santidade e o perdão? Porém, alguns enganam-se a si mesmos dizendo que não têm pecado (1Jo 1.8), ou desprezam-no como algo irrelevante e, assim, poderiam achar que "tanto faz"; com o seguinte argumento: já que não se está livre do pecado, porque não pecar? Esse é um pensamento ímpio e que nada tem a ver com o legítimo propósito de Deus para os Seus filhos. Mesmo que não realizemos toda a Lei, devemos amá-la e desejar sinceramente obedecê-la, como a expressão da vontade divina aos eleitos] .

Claro que há posições divergentes. Muitos crêem que os cristãos poderão se apropriar daquilo que de bom a cultura, a ciência, a educação seculares podem nos oferecer. Creio ser isso evidente, pois somos beneficiados pela tecnologia, pela medicina, pelos avanços em todas as áreas do conhecimento humano, os quais acontecem apenas e somente pela graça e vontade de Deus. Não vejo o porquê de se rejeitar aquilo que o mundo realiza de bom, e que são dádivas do Criador para os homens (para todos os homens, porque Ele usará ímpios para abençoar os santos e vice-versa). Contudo, há de se ter uma separação do crente com as práticas que afrontam a Deus. Ambientes, programações e interesses que infringem a Lei Moral devem ser abominados e repelidos prontamente (bares, danceterias, e a maioria dos programas de tv, por exemplo).

Infelizmente, muitos cristãos têm se deixado seduzir pelos apelos do mundo e andando segundo o seu curso, segundo o espírito que opera a desobediência nos homens (Ef. 2.2); e, progressivamente têm permitido que o pecado entre em suas vidas e as consuma. O que acaba por transformar muitas igrejas em "parques de diversão" do diabo, onde ele se diverte zombando dos que o consideram inofensivo, dos incautos e estultos que são ludibriados pela perversão que há em seus corações, pela soberba dos seus ceticismos, ou das suas crendices.

Ao considerarem algumas práticas malignas como ingênuas, como fruto da "evolução cultural da humanidade", não se apercebem de que são dominados e tragados pela astúcia do prazer ilícito, pelo desejo obsceno, pela imoralidade e, anestesiados, têm suas mentes e corações cauterizados pelo pecado (a mente que deveria ser de Cristo, ainda continua sendo a mente governada pelo pecado, irregenerada), desprezam a Deus, ainda que tentem se convencer de que O servem, quando são escravos de si mesmos e do maligno.

A Bíblia alerta-nos a não descuidar com o pecado, o qual é sutil e malévolo, e quer sempre nos ver rebelar, nos ver insurgir contra Deus, o que, no final, será a nossa destruição.

E é assim que o mundo quer, que os filigranas sejam tecidos ao nosso redor e nos aprisionem, e, enfim, não restará mais nada além dos grilhões, e o Inferno.

Nota: Texto publicado originalmente em 22.05.2009, aqui mesmo. 

09 junho 2012

deus da lâmpada e o aladim mimado, de novo!

Por Jorge Fernandes Isah





Este foi um texto que o querido irmão, o pr. Rupert Teixeira, produziu, narrou e postou no Audível. Surpreendentemente, encontrei-o agora no Youtube, e gostei demais de mais essa produção made in New Jersey.

Agradeço a generosidade do pr. Rupert que, com o seu talento e dinamismo em idealizar e desenvolver maneiras de se difundir o Evangelho de Cristo, através da publicação de textos e produção de vídeos, tem sido um dos que tem resgatado e fortalecido a fé cristã bíblica.

Quanto a mim, não me sinto digno dessa honra, a qual somente foi possível pela bondade do irmão Rupert, a quem agradeço penhoradamente.

Porém, sabemos que nada disso aconteceria se não fosse o Cristo, no qual estamos unidos e nos amamos, porque ele nos uniu e amou primeiramente.

A Deus, honra e glória eternamente!

Notas: 1 - Para quem quiser ler o artigo originalmente publicado, clique Aqui
2- Para quem desejar ouvir o áudio original no Audível, clique Aqui
3- Através do pr. Rupert, fui informado de que não foi ele quem postou o vídeo. Como a única referência é o login do usuário no Youtube, o "uslei100", agradeço-o pela iniciativa, e por ter escolhido o meu texto. Cristo o abençoe!

07 janeiro 2012

Aniversário do Kálamos: És pó!

















Por Jorge Fernandes Isah


Bem, lá se foi mais um ano, em que aprendi muito [até mesmo a esquecer algumas coisas], mas que, apesar de tudo, ainda me mantém em um estado de ignorância mesmo no pouco que sei.

Não farei um balanço de fim-de-ano, pois não saberia por onde começar; já que os erros foram tantos que um ano seria pouco para relatá-los, e os acertos... deixa pra lá! Não farei planos para o futuro, como normalmente, esperando que o Senhor me guie e me oriente quanto à sua vontade. Na verdade, sempre pretendo fazer isso ou aquilo, e acabo por fazê-los, quando os faço, mal e porcamente. Mas de tudo, tudo mesmo, o que ficou, foi que, em meio a algumas lutas e aflições, Deus fez-me ver que a minha relação com ele estava em frangalhos, que eu, apesar de me considerar "espiritual", agia como um antiespiritual. É claro que isso somente ficou visível quando a mão do Senhor pesou para valer sobre mim. Então, me lembrei de Paulo: Como um Pai, Deus disciplina ao que ama [Hb 12.7].

Pensei que tudo era fruto dos meus pecados. Pensei que, mantendo-me saudavelmente longe deles, as coisas voltariam ao normal, e as feridas seriam saradas. De que um novo pacto entre eu e ele me levaria a obter os seus favores novamente. Mas lembrei-me de que já o refizera inúmeras vezes, sem sucesso. De que por mais que eu tentasse cumpri-los, me esforçasse com o que de melhor possuía, sempre caía na cláusula da "quebra-de-contrato". Isso fez com que me envergonhasse tanto, que vi lançado por terra a minha soberba espiritual. Sim, eu era um homem espiritualmente orgulhoso, o tipo mais doentio e nefasto de orgulho. Ao ponto em que, reconhecer os meus defeitos, falhas e pecados, fazia-me, de certa forma, superior aos meus próprios olhos. Mas que importância isso tem realmente? Pois, quem sou eu? Por que parecer bom aos meus olhos, se eles estão tão habituados ao mal, e não há bem neles? Seria o mesmo que um corvo, acreditando-se um rouxinol,  a participar de um concurso de canto, esperando ganhar o primeiro lugar, e agradar a todos com o seu grasnar monocórdico.

Porém, o que devia ser o motivo para me aproximar de Deus, humildemente, reconhecendo o meu pecado, e buscando nele a reparação do mal que trazia para mim mesmo, fez-me afastar ainda mais. De alguma forma, ainda que inconsciente, pensei que Deus precisava de mim, quando é o contrário. Deus é suficiente em si mesmo, na comunhão e unidade que há entre as três pessoas da Tri-unidade,  e eu era quem necessitava urgentemente de reparação. Minha frieza e distanciamento em relação à vida cristã, significavam perda e prejuízo apenas para mim. Esse foi um processo que durou meses, e do qual eu, inicialmente, não percebera nada. Como se tudo estivesse bem, e eu em paz comigo e com o Senhor. A minha tolice não tem mesmo tamanho...

Para encurtar a história, somente a partir do momento em que percebi que estava como que andando ao lado do meu melhor amigo sem notá-lo ou sem dirigir-lhe a atenção, pude finalmente ver que, a despeito da minha negligência, do meu descaso, e do orgulho que me impedia de desviar os olhos de mim mesmo, o Senhor estava ali, sem me abandonar. Porque não dependia de mim, nem do meu querer, pois o seu amor é eterno. Assim como o pai nunca deixará de ser pai, mesmo diante da rebeldia do filho, Deus jamais deixará de ser o Pai bendito, eterno, misericordioso, para com os seus.

Então, me vi em lágrimas, exultando-o, bendizendo-o, louvando-o, porque ele permanecia fiel enquanto eu insistia na infidelidade. Ele não me abandonaria, ainda que eu me considerasse abandonado; ele não me rejeitaria, ainda que me sentisse rejeitado; ele me amaria, mesmo que não me sentisse amado; porque o erro, o distanciamento, a incompreensão, serão sempre meus; na sua perfeição, Deus me ama plenamente, através do seu Filho Jesus Cristo. Certa vez, o pr. batista Erwin Lutzer disse que sempre, ao acordar, orava a Deus para que ele não o visse como ele era, mas o visse através de Cristo. E é assim que o Pai nos vê; e é assim que devemos vê-lo, como o nosso Senhor o vê. Como já disse em algum lugar, bendito o Pai que nos deu o Filho, bendito o Filho que nos deu o Pai. Já que ele me vê através do Filho, que eu possa vê-lo como o Filho o vê, também. Oro, portanto, para que ele me capacite, sempre, dando-me os olhos de Cristo, para que eu jamais pense em vê-lo com os meus olhos falíveis e imperfeitos.

Como Davi, o homem segundo o coração de Deus [não entendo porque os cristãos o têm como "exemplo de pecador", quando o Senhor o honra de uma forma tão maravilhosa por toda a Escritura], quero esperar com paciência no Senhor, pois ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor... E pôs um novo cântico na minha boca, um hino a ele... Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração... Não retires de mim, Senhor, as tuas misericórdias; guardem-me continuamente a tua benignidade e a tua verdade. Porque males sem número me têm rodeado; as minhas iniquidades me prenderam de modo que não posso olhar para cima. São mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça; assim desfalece o meu coração... Senhor, apressa-te em meu auxílio... Mas eu sou pobre e necessitado; contudo o Senhor cuida de mim [Sl 40].

É esta certeza que traz paz; e faz com que, a exemplo de Paulo, possamos regozijar sempre no Senhor [Fp 4.4], mesmo que sejamos, para nós mesmos, o motivo de tristeza e desolação. Pois certo é que, em nós, não há nada pelo qual nos alegremos, pois a alegria vem do Senhor; e, por isso, regozijarei sempre nele [Ts 5.16]; orando para que jamais, novamente, eu creia-me humilde, quando há apenas orgulho. Creia-me suficiente, quando há insuficiência. Creia-me necessário, quando sou inútil. Creia-me bom, quando sou mau. Creia-me espiritual, quando sou carnal. Que a minha fé não esteja, nunca mais, posta em mim mesmo, ao ponto de eu acreditar possível manter-me longe do meu Senhor; o qual é o único capaz de me alegrar a alma, pois, a ti, Senhor, levanto-a... Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus... E grande é a tua misericórdia para comigo [Sl 86]; pois conhece a minha estrutura; e sabe que sou pó [Sl 103.14].

A ele, o Deus eterno, bendito, santo, toda honra e glória!

Amém!

Nota: Esta postagem tinha o objetivo inicial de falar do aniversário de 04 anos do Kálamos, e de dizer que estarei sorteando, no próximo dia 30, entre outras coisas, uma Bíblia A.C.F. com referências, concordância e mapasMas, sem me conter, acabei confessando-me publicamente, e cheguei a pensar em não publicar o texto. Mas ele está aqui, posto. Aos que desejarem concorrer aos prêmios comemorativos, basta acessar o logo abaixo.


INSCREVA-SE E PARTICIPE DO SORTEIO DESTE MÊS!

30 setembro 2011

O labirinto do eterno cativeiro








Por Jorge Fernandes Isah

Cristo me converteu em 12 de Outubro de 2004 [1]. Na verdade fui convertido eternamente, pois ele me escolheu antes da fundação do mundo, quando nem mesmo ainda surgira a criação, a qual trouxe à existência pelo seu exclusivo poder, do nada, ainda que o nada não existisse formalmente, pois Deus sempre é e subsiste; o Deus pessoal ainda que espiritual, o Deus vivo ainda que intocado, o Deus presente ainda que imperceptível; o Deus sem o qual o impossível jamais seria possível. Por isso, para que as riquezas da sua glória fossem conhecidas e a sua ira manifestada, ele criou o homem, preparando de antemão uns para a glória, os quais são os eleitos, e preparando outros para a perdição, os quais são os réprobos, dignos de morte [Rm 9.22-24]. Mas tudo isso se tornou notório no tempo, de forma que as suas criaturas imperfeitas e limitadas conhecessem o que sua mente planejou e determinou, e assim viessem a reconhecer todo o seu poder [2].
Para nós, o seu povo, todo o seu amor foi evidenciado no novo-nascimento, quando ainda éramos seus inimigos [mesmo que ele não fosse nosso inimigo], e nos chamou e capacitou ao arrependimento de nossas obras más, de nossa natureza má, de nossa mente má, dos frutos podres que produzíamos na forma dos pecados e dos delitos em que andávamos conforme o curso deste mundo, cumprindo a vontade da carne e do pensamento, nos quais vivíamos como filhos da desobediência [Ef 2.1-3]. O que equivale dizer que todos os salvos, como propósito pelo qual o Senhor laborou desde sempre de forma que não pudesse não acontecer, conhecerão a Deus ainda em vida, reconhecerão o seu poder em vida, provarão da sua misericórdia e graça em vida, e saberão a quem pertencem, e o alto preço com que foram comprados pelo Senhor das suas almas.
Enquanto isso, os réprobos, ainda que reconheçam o poder de Deus, não o glorificaram como a Deus, nem deram graças; antes, se enfatuaram nas suas especulações, e ficou em trevas o seu coração insensato. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, e abandonaram a glória do Deus incorruptível por uma semelhança de figuras incorruptíveis [Rm 1.18-23]
De forma terrível, o homem afastou-se da verdade para viver uma aparente doce ilusão, uma mentira que o impelia cada vez mais para longe da realidade, de forma que ele se contentava em se entregar à adoração de qualquer coisa, seja outro homem ou a si mesmo, animais, seres imaginários e míticos, forças e fenômenos da natureza, como se pudesse com eles se comunicar, transferindo-lhes a glória que não lhes pertenciam e lhes era dado receber ou almejar. Como um embusteiro, um fraudador, acreditavam ter e poder distribuir aquilo que não tinham nem podiam entregar. Criou-se um mundo paralelo, irreal, em que o homem acreditava existir sem existência; viver sem vida; disposto a perpetuar o seu estado de morte, de tal forma que recebessem em si mesmos a devida recompensa pelo seu desvio [Rm 1.27]. Como parte daquilo que produziam, o homem criou um ser imaginário que é a personificação daquilo que se tornou, um zumbi, o reflexo daquilo que ele não pode reconhecer mas que inconscientemente foi-lhe dado representar-se: o corpo completamente dominado pela ideia fixa, dolorosa e perversa de se conservar morto enquanto se morre sucessivas e consecutivas vezes, num estado de findar-se perpetuamente.
Em todo esse processo de alucinação e desconstrução da realidade, o homem produziu apenas uma coisa verdadeira: a própria morte, como consequência de todos os seus intentos em permanecer distante e desejar ardentemente sofrer a antecipação da condenação iminente, experimentar em doses diárias o malograr extraordinário que desde o início não se materializou num futuro repentino, mas no presente anunciado de que esse homem sem Deus é muito menos que nada, e de que somente é possível no desterro eterno, o inferno, do qual não teme, mas zomba; o qual rejeita mas caminha célere; que diz desconhecer mas o reconhecerá como se ali estivesse nascido e fosse criado; o qual odeia mas o cultiva diligentemente como um jardineiro a tratar enciumado os canteiros de ervas daninhas crescerem desordenados. Ainda que o pecado nasça em nós espontaneamente, ainda que seja algumas vezes indesejado, há uma atração natural em sua negatividade, de forma que não vemos os seus danos, não os reconhecemos como possíveis, apropriamo-nos de todo os seu mal considerando-o um bem, sorvemos todo o seu amargor como se fosse mel; e reputamos alegria ao que não serve nem mesmo como tristeza; e em honra o que é ultrajante e ofensivo. 
Esse homem não conhece limites; anda à beira do precipício, caminha entre minas terrestres, não tem gosto pela vida, desconhece-a completamente, porque seu estado habitual é reservar-se na companhia dos restos putrefatos e decompostos; suas partes nunca estiveram no todo, são como páginas em branco e soltas na ventania que nunca formaram nem formarão um livro. 
Esse homem é autodestrutivo em sua capacidade de pecar; de se mutilar; de perder de vista toda a esperança e viver numa constante guerra consigo mesmo, ainda que cogite haver paz entre uma profusão de agressões, entre muito sangue derramado, entre tiros e explosões, entre corpos inertes e o cheiro mórbido de peste. 
Esse homem tenciona roubar o que não pode sequer alcançar; ele vislumbra o que não pode ver; espera matar a sede insaciável sem água; e a dor insuportável sem analgésicos. Como a história do ratinho que queria comer a lua por acreditá-la um grande queijo, o homem espera em vão alimentar-se do pecado de forma que seja possível estar com Deus, como se o veneno trouxesse saúde e força eternas. Mas sabemos, porque a Bíblia o afirma, que tal coisa é impossível. Que homem algum pode achegar-se a Deus por si mesmo, ainda mais porque está contaminado, tal qual um cadáver radioativo. 
Esse homem é fracionado, algo inacabado, pronto a permanecer inconcluído, na persuasão incrédula de suas próprias palavras; surdo a ouvir o silêncio da sua voz interior; cego a vislumbrar a escuridão de sua alma; louco em busca da razão na insanidade: "Pois o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos,  eles fecharam os olhos, para não suceder que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos, entendam no coração e se convertam, e eu os sare" [At 28.27].
Esse homem é impossível na fé, sendo possível apenas na descrença. A paz tomada como guerra, e a guerra como paz. O sofrimento como alívio, o alívio como dor lancinante. A buscar incessante à inutilidade, assim como o velho busca a jovialidade e frescor dos tempos remotos, enquanto se aproxima cada vez mais da senilidade.
Esse homem vive aquém ou além da realidade. Como Adão e Eva, no Éden, quis o impossível, desejou o que não lhe era lícito, buscou alcançar o inatingível e, mesmo caindo, chafurdando na lama, continuou lutando contra tudo, intentando contra si mesmo, ao não reconhecer humildemente a derrota, nem o fracasso: a impossibilidade de ser por si mesmo aquilo que jamais poderia não ser; pois somente Cristo pode fazer-nos novos, e tornar-nos no que não somos pelo poder de nos fazer como ele é, aquilo que seremos. Assim o homem se rebelou contra tudo, contra a verdade, contra a realidade, como se ele fosse supra-verdadeiro ou supra-real. Mas o que pode constatar é que toda a sua vida se transformara na miséria que não imaginou, pois era-lhe impossível cogitar, no paraíso, que houvesse uma realidade diminuta, pobre e vergonhosa como resultado daquilo que desejou mas não conseguiu, porque não percebeu que a verdade não pode ser recriada a não ser por aquele que a criou. E a verdade estava lá, diante dele, que não a quis reconhecer, antes se contentou em desprezá-la, em ignorá-la, como se houvesse a chance de tudo ser diferente apenas porque queria, e a sentença pudesse ser modificada sem que fosse reprovada: "De toda a árvore do jardim comerás livremente. Mas da árvores do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás... a alma que pecar, essa morrerá" [Gn 2.16-17, Ez 18.4]
É possível ver como o homem fugiu da ordem para o caos, da realidade para o ilusório, sem ter onde nem como se esconder de seu desarranjo mental, onde a cobiça e o orgulho afetaram-no profundamente, ainda que ele não se desse conta do que estava acontecendo, e tentasse criar uma outra maneira de escapar e se refugiar fora da realidade [Gn 3.12]. Na verdade, o homem vive em constante fuga, tentando se livrar de tudo o que é para refugiar-se no que não é. Há um claro desajuste entre a imagem, aquilo que o homem é, e a ideia que o homem tem de si mesmo; o que Deus é, e aquilo que o homem considera que ele seja. De forma que, para aquele homem, assim como para qualquer homem, a realidade não pode ser recriada, nem a verdade modificada; não dá para substituí-las pela ilusão e a mentira, pois não há espaço para elas. Apenas a mente doentia do homem pode inutilmente tentar criá-las num mundo de "faz-de-contas", ao alimentá-las com a estúpida rebeldia, a perpetuá-las como o fedor a espalhar-se em todas as direções. Como uma força a estrangulá-lo, de cujas garras não pode escapar, ele se tornou e é o algoz de si mesmo, ao rejeitar a verdade, ao cogitar a possibilidade de haver vida fora da vida, quando está latente que apenas a morte pode existir fora dela; e ao buscá-la, acalentá-la, e laborar ferrenhamente para possuí-la, o homem, ainda que não reconheça investir nesse propósito, se silencia antes mesmo de dar um último suspiro. E nesse círculo claustrofóbico não há como escapar, pois não há saída, apenas o labirinto angustiante do eterno cativeiro [3].

Nota: [1] Leia o relato da minha conversão em "O dia em que Cristo me fez"
[2] Ainda que eu seja supralapsariano, não estou a discutir a questão da ordem do decreto, pois o foco desta postagem não é este, mas outro.
[3] Mas o que isto tem a ver com a minha conversão em 2004? Tudo. E se Deus quiser, voltarei a este assunto em breve.

INSCREVA-SE E PARTICIPE NO SORTEIO DESTE MÊS!

07 setembro 2011

Bate-Papo com Filipe Machado: Determinismo, "mistério", livros e pizza





















Por Jorge Fernandes Isah

Este é mais um bate-papo da série que se iniciou com o André Venâncio. Tomei gosto pela coisa, e parece que ela não terá fim, ao menos, enquanto eu estiver vivo. Desta vez, conversei com o brother Filipe Luiz C. Machado, autor do blog “2 Timóteo 3.16”, e juntamente comigo do blog “Cotidiano Cristão” [na verdade, eu com ele, pois a ideia de criá-lo, e quem o administra, é o Filipe]. Ele é um irmão que tenho o prazer de prosear vez ou outra [não muito ultimamente, dado os meus horários livres escassos, e os dele também], e os papos são sempre edificantes e agradáveis. Esta foi uma conversa que girou sobre vários assuntos, especialmente os termos citados no título da postagem. Bem, sem enrolar demais, vamos à conversa. E, antes de me esquecer, quero agradecer ao Filipe por sua amizade e por autorizar a divulgação de nossa “cavaqueira”. Para quem não sabe ainda, cavaqueira quer dizer conversa demorada. E as nossas, quase sempre, demoram mesmo.

BATE-PAPO COM FILIPE C. MACHADO
Eu: Filipe, ocupado?
FilipeDepende... se for pra falar com você, sim... Brincadeira, pode falar.
Eu: Bem, serei rápido... Estou-lhe enviando por email um texto para o "Cotidiano Cristão"... Dê uma olhada e me diga o que acha. É um esboço, ok!... rsrs... Ainda bem que você é sincero.
Filipe: Pode mandar!
Eu: Foi!
Filipe: Recebi seu e-mail. Assunto em tempo oportuníssimo.
Eu: Foi um insight... Tanto que nem coloquei todos os versículos... Tem uns 30 minutos que comecei a escrever... Terminei agora... Dei uma lida superficial para ver se não tem erros ortográficos, mas aí vi que você estava on line e mandei meio as pressas... Quero ver se você deseja acrescentar alguma coisa... Podemos escrever a quatro mãos.
Filipe: Insight´s são os melhores... Os dedos quase que digitam sozinhos!
Eu: É, mais ou menos isso... Fique à vontade para acrescentar ou tirar o que considerar desnecessário... Se achar necessário.
Filipe: Hoje em dia é costumeiro ver o casamento/namoro como "fonte" de evangelização... Ficou bom, gostei. Simples, porém direto.
Eu: Bobagem. Evangeliza-se sem precisar casar e namorar... É, foge um pouco do meu estilo, mas estou tentando adequá-lo ao Cotidiano Cristão... Mas leva tempo.
Filipe: É moda, infelizmente!... Eu também tenho problemas com certos textos.
Eu: Sou prolixo, verborrágico, meio por causa dos sangues árabe, judeu e espanhol, acho.
Filipe: Talvez nesse quesito eu me aproxime dos puritanos que tinham um fôlego "deplorável, suas capacidades de falar por horas eram detestáveis"! Uma das críticas vinda contra os puritanos.
Eu: Li no livro do J.I.Paker, "Entre os Gigantes de Deus", que algumas orações durante o culto chegavam a ter uma, duas horas... Imagina a pregação então! É muito bom o livro, melhor do que o "Santos no Mundo".
Filipe: Sim. Tenho esse livro também, embora não lido, ainda.
Eu: Paulo, no livro de Atos, pregou mais de 12 horas, a ponto de um mancebo cair da sacada e morrer... Para depois ser ressuscitado... É a pregação matando o velho homem e ressuscitando-o em novo... literalmente.
Filipe:: Li o "Santos no Mundo - Leland Ryken". Agora estou lendo o "Paixão pela Pureza - J. R. Beeke e R. J. Pederson" - mais tem 1.000 páginas! Se bem que são somente biografias dos puritanos, e aí a leitura é fácil e bem agradável.
Eu: Puxa!... Gosto de livros grandes... E você está se dispondo aos grandes: Comentário do A.A. Hodge sobre a CFW; Paixão pela Pureza... Isso vai longe!... A Enciclopédia Britânica será fichinha para você em breve [rsrs]
Filipe: kkkk...
Eu: Vou comprar, então. Gosto muito de biografias.
Filipe: Comprei em uma promoção da Erdos por 90 reais, acho.
Eu: R$ 90,00, por 1.000 páginas... Está bom. Mas a sistemática do Hodges-pai sai por menos de R$ 90,00 e tem mais de 2.000 páginas. Custo-benefício melhor.
Filipe: Quero comprar essa; o ruim é que tem muitas citações em latim, que não são traduzidas...
Eu: É, mas o material em português é muito bom, tirando o compatibilismo do Hodges... E ainda pode ser um estímulo para se aprender latim, ora! [rsrs]
Filipe: Não sei qual o compatibilismo de Hodge...
Eu: Mas para quem acabou de ler o "livre-arbítrio" de Agostinho, os compatibilistas desceram um degrau em meu conceito, mas ao menos são calvinistas... Inconsistentes, mas são [rsrs]...Hodge é compatibilista. Crê na soberania de Deus e na liberdade do homem para se ser responsável. Duas verdades que se contradizem "aparentemente" [sic].
Filipe: Eu procuro entender duas coisa: Deus é soberano e o homem responsável, ao mesmo tempo em que o homem faz aquilo que Deus deseja que ele faça. Por isso que sou um determinista.
Eu: Também penso assim, mas eles colocam o elemento "liberdade", que no fim das contas é ser livre de Deus
Filipe: São hereges...  rsrsrs
Eu: rsrs... Não deixemos que eles nos ouçam... Rapaz, muito do que esse pessoal fica repetindo por aí vem de Agostinho. E o próprio Agostinho rejeitou a maioria do que escreveu no "Livre-Arbítrio", mas passados 1.500 anos, os caras não se tocaram disso.
Filipe: Piper cita um outro autor (não me lembro qual é, talvez seja Spurgeon ou Agostinho) que diz que aquelas "poeiras" que vemos se mexendo quando abrimos a janela de nosso quarto e os raios solares penetrando-o, todos eles, sem exceção, são controlados por Deus.
Eu: Uma citação e tanto! Mas o próprio Piper é compatibilista, nem crê no que transcreveu... Quero dizer, ele crê que a mais minúscula partícula da matéria é controlada por Deus, mas não crê que esse controle divino se estenda à vontade do homem.
Filipe: Não conheço muito dele nesse sentido.
Eu: E Agostinho, guardadas as devidas proporções, também era compatibilista. Tenho o livro "O Sofrimento e Soberania de Deus". São vários autores, cujos editores são o Piper e o Justin Taylor. Ele escreveu dois ensaios, se não me engano.
Filipe: Na verdade, depois que descobri os puritanos, abandonei Piper. Eu ia comprar esse, mas havia se esgotado.
Eu: Quase me apaixonei pelo Piper [rsrs]... Mas os livros dele são como aquela história da  vaca que deu 100 litros de leite de uma vezada e depois coiceia o tambor e joga tudo por terra. O que me mata nessa turma é isso: eles desenvolvem toda a questão de uma maneira que a soberania de Deus torna-se inquestionável, mas depois dizem que o homem é livre, e de que existem duas verdades "aparentemente" contraditórias. Eu não aguento! Quase tenho um troço!... Eles acabam desmentindo o que afirmaram, e afirmando o que desmentiram. E depois afirmam e desmentem ao mesmo tempo. É muita loucura para a minha cabeça. E me chamam de racionalista, porque eu não aceito a incoerência e as más-formulações que os compatibilistas criam.
Filipe: Eu não vejo problema em dizer que elas aparentemente são contraditórias, pois para a mente humana não há como se ser responsável por algo que foi determinado. Porém, eles pecam no quesito de [talvez] não explicarem que essa responsabilidade humana não está livre da determinação de Deus. Antes dizerem ser um "mistério" do que causar confusão à mente leiga.
Eu: O próprio termo “contradição aparente” é autocontraditório... [rsrs]. E desnecessário... Você leu os meus dois textos sobre o assunto?
Filipe: Não.
Eu: Sabe, o que eles fazem é um desserviço, pois acabam por depor contra a Bíblia e contra Deus. De certa forma, muitos “crentes” que dizem haver contradições na Escritura se baseiam nessas falsas afirmações para respaldar erros que não passam de ignorância e desconhecimento, e até mesmo má-fé de alguns. O homem acaba por reputar a Deus uma falha que não existe nele, mas no próprio homem. E isso é muito perigoso.
Filipe: Você já leu "Em Defesa da Teologia - Gordon Clark"?
Eu: Sim.
Filipe: Muito bom. Bate nos liberais que afirmam ser "bonito" ter-se contradição na Bíblia.
Eu: Clark é Clark!... Toda essa confusão começou com Van Til e os reformados holandeses, há bem pouco tempo, coisa de cem, cento e poucos anos. Até então, não havia essa falsa ideia entre os reformados de que a Bíblia contém paradoxos e contradições. Eu reputo isso como falsa piedade; parecem piedosos, mas escondem uma grande soberba [de não reconhecerem em si mesmos as falhas que apontam haver na Escritura], e ainda são usados por ímpios para se escarnecer de Deus. Mesmo que muitos deles não percebam isso, enquanto em outros está evidente a má-intenção, ao se divertirem e deleitarem com a confusão... Depois vai lá e lê os textos que escrevi [1].
Filipe: Eu não consigo compreender porque aceitar esse "paradoxo" é bonito, sendo que seria muito mais sensato se dobrarem ao fato de que se a Bíblia nos ensina que somos controlados por Ele, não existe "responsabilidade livre", apenas responsabilidade dentro da determinação divina.
Eu: Exato! Ou então dizer: não sei! Mas aí é que falta a humildade de assumir que não se sabe, então se inventa um artifício mal construído, que faz de Deus um deus disposto a nos dar "pegadinhas".
Filipe: Acho que Pedro, em Atos, diz mais ou menos assim: vocês mataram esse homem com a ajuda de homens perversos, mas assim o fizeram por determinação de Deus. Ora, o que custa se dobrar diante dessa verdade e dizer: "Ai de mim, Senhor!"?
Eu: A revelação fala da realidade, não de uma possibilidade. Contradição aparente é um conceito que existe na filosofia, para explicar raciocínios mal-formados que até podem fazer sentido, mas sempre desembocarão em um beco-sem-saída. O trecho ao qual você se refere está em Atos 4.27-28. Ali temos presente a predestinação ou determinação de que Jesus seria morto por judeus, gentios, Pilatos e Caifás. Deus entregou seu Filho à sanha injusta e assassina deles, mas todos eles permaneceram culpados pelo crime que cometeram. É simples. Para quê complicar? Deus ordenou, os homens fizeram, e foram responsabilizados pelo crime cometido. Onde está a liberdade? Não existe. Onde está a contradição? Também não existe.
Filipe: O problema dos compatibilistas não é explicar as passagens que mostram que o homem é "livre", mas sim aquelas que mostram o homem fazendo o que Deus manda fazer e depois punindo-os por isso. É o caso de Davi fazer o senso no povo de Israel. Temos ali três complicações: Deus incita Davi a a realizar o senso; Davi reconhece que errou ao fazer o senso e, por fim, o texto nos diz que foi o diabo que tentou a Davi para fazer o senso. Ora, diante do compatibilismo isso é irrespondível!
Eu: Verdade. Então, eles apelam para o paradoxo ou contradições aparentes: “Valha-me o ‘santo mistério!’" [rsrs].
Filipe: Concordo que o determinismo pode ser visto [e devemos tomar cuidado para não nos tornarmos assim] como algo frio, bruto, sem sentimentos ou algo do tipo, mas antes afirmarmos tal brutalidade do que nos rendermos aos mistérios.
Eu: Certa vez, alguém me disse: mas isso nos faz em marionetes na mão de Deus. E eu respondi: e daí? Qual o problema? O que é melhor, você ser marionete do Deus sábio, santo e perfeito, Criador de todas as coisas, ou ser marionete de uma criatura estúpida, pecadora e imperfeita, como você ou o diabo?
Filipe: Sim, falávamos sobre isso na quinta-feira, em uma reunião que temos. Antes que Ele nos controle [que sabe o que deve fazer] do que nós, vís pecadores nas mãos de um Deus irado.
Eu: Prefiro ser uma marionete nas mãos de Deus, do que um autônomo em minhas próprias mãos sujas, pecaminosas, imperfeitas e injustas.
Filipe: Bah!... Falamos a mesma coisa. Isso traz maldição... rsrss
Eu: Rsrsr... É o Espírito Santo, meu irmão! Voltando ao livro de Agostinho, ele tem tantos furos, mas tantos furos, que o próprio Pelágio, na disputa com Agostinho, se utilizou dos argumentos do livro para se defender da acusação de herege. Depois dê uma chegada no meu blog de livros, acabei de postar um último comentário.
Filipe: Um amigo meu, o Alberto, do blog Eclesia Reformanda - que por sinal está para chegar aqui em casa, me falou que a palavra mistério em grego, sempre tem a conotação de algo que era obscuro e passou a ser revelado, ou seja, se isso de fato estiver correto, não existe mistério no sentido de que não sabemos coisa alguma sobre Deus, mas que já nos foi revelada a sua vontade para nós, não devendo homem algum escusar-se de aceitar a verdade e apelar para o "mistério"... Não li esse livro, não o tenho.... Manda o link, por favor, para eu dar uma olhada.
Eu: O Alberto está certo. Além do fato de que o mistério pode ser algo não revelado também. Mas aí, estou dando a pista da última parte da minha série [rsrs]
Filipe: Claro que não podemos dizer que não há coisa incompreensível na Bíblia - pois seríamos soberanos - mas tem tanta coisa que se apela para o mistério, que me deixa chateado. É um mistério o porquê Deus escolheu alguns e rejeitou outros, contudo, não é mistério o fato de ele fazer isso porque lhe agrada, ponto final.
Eu: Por isso, é melhor dizer: “não sei!” do que ficar inventando sarna para se coçar... Este é um bom exemplo para eu usar na parte final da série sobre “mistério e contradições aparentes”. Obrigado!
Filipe: rsrs... Não esqueça dos créditos.
Eu: Não esquecerei. Colocarei em letras tamanho 2, no fim da página...
Filipe: kkkkk
Eu: Mudando de assunto, você não pensa em escrever um livro?
Filipe: Já pensei e há um ano atrás, mais ou menos,  comecei a rabiscar um assunto, mas parei. Um dia creio que escrevei, sim. E você?
Eu: Já escrevi vários... inéditos! [rsrs]
Filipe: kkkk…
Eu: Alguns amigos acham que eu deveria fazer uma compilação dos meus textos, mas só de pensar no trabalho que vai dar já me sinto cansado; e até dá vontade de parar de escrever... Penso em pegar um tema e desenvolvê-lo a partir dos comentários no meu blog.
Filipe: Sim, é mais fácil.
Eu: Por exemplo, a questão soberania x liberdade do homem... Mas sei lá! Não penso que é o momento. Na verdade, nem sei se haverá um momento. Deixo nas mãos de Deus.
Filipe: Eu gostaria ainda de pregar sobre todo um livro bíblico, compilá-lo e publicá-lo. Mas como sou prolixo, talvez tenha umas 1000 páginas... rsrs.
Eu: É o que eu penso em fazer com as pregações o pr Luiz Carlos Tibúrcio da minha igreja, eu já posto os áudios das suas pregações no blog do T.B.B... Uau! 1.000 página o colocará entre os grandes, definitivamente.
Filipe: Mas devo confessar que sou orgulhoso... Não sei se me faria bem ter um livro.
Eu: Penso em fazer como o Felipe Sabino e montar uma editora, para publicar textos de brasucas. Gente que jamais terá uma editora que os publique... Também sou orgulhoso e vaidoso. Por isso evito até mesmo pensar no assunto. Perguntei porque você escreve bem, e acho que deveria pensar na ideia.
Filipe: Eu gostaria de ter bastante dinheiro para poder publicar boas obras e com um preço muito acessível. Na verdade, se possível, até doar os livros.
Eu: Um dos motivos de eu estar aprendendo inglês é para isso. Há obras que poderiam ser traduzidas para o português e publicadas na web, de domínio público, tipo os Puritanos; e disponibilizá-las gratuitamente para quem quiser ler.
Filipe: Sim, justo.
Eu: Tanto que o meu foco no inglês não é a pronúncia, falar a língua, mas aprender a ler e escrever para poder traduzir textos... Preciso me dedicar mais ao aprendizado.
Filipe: Eu também. Estou me esforçando nesse quesito.
Eu: Quem sabe não seremos sócios nessa empreitada?
Filipe: *Ah, você conhece o fórum puritano [em inglês]?
 eu: Não.
Filipe: http://www.puritanboard.com Pastores, servos e membros de igrejas puritanas [até que ponto, não sei] discutindo sobre questões interessantes.
Eu: Lê-lo ainda é muita areia para o meu caminhão. Mas, quem sabe, muitas viagens não dará para transportar tudo? [rsrs]... Minha esposa e filha chegaram. Vou tomar banho para a gente comer alguma coisa. Depois nos falamos mais, ok!
Filipe:: Tudo bem, Jorge. Grato pela agradável conversa. Estou lendo seu último texto no blog - até onde estou, faço coro com você.
Eu: Quem agradece sou eu! Já que você tocou no assunto, acho que essa conversa vai parar no bate-papo do Kálamos. Foi muito boa!
Filipe: Na verdade, já havia pensado sobre isso que você escreveu.
Eu: Especificamente, sobre o quê você pensou?
Filipe: Sobre essa questão de se afirmar que não existe verdade, sendo que essa negação é uma afirmação em si mesma. A mesma questão se aplica ao relativismo [não o físico, mas o teológico ou filosófico], pois se tudo é relativo, como podem dizer que estou errado?
Eu: Cara, se eu ficar conversando com você, não vou parar nunca! Vai ter assunto bom para discutir assim lá longe!
Filipe:: rsrs.. Não sei de você, mas sou melhor nas palavras via internet. Face a face não sou "bom".
Eu: Penso melhor escrevendo do que falando. Mas sonho melhor do que escrevo...
Filipe: kkkkkkk
Eu: Logo, penso melhor quando sonho... Pena que não me lembro de quase nada quando acordo... Também sou como você, melhor virtualmente do que fisicamente. O prof. Olavo de Carvalho diz que o mundo é virtual, que o factual é apenas uma amostra do virtual, se é que entendi direito.
Filipe: rsrs... Rapaz, o Alberto chegou. Preciso ir! Um abração!
Eu: Manda um abraço para ele! E pergunta se ele gostou do livro que ganhou no Sorteio do Kálamos... Também vou! Na verdade, já devia ter ido! Abração! Fica na paz!
Filipe: Ah, ele falou que gostou muito do livro.
Eu: Beleza! Vai lá, e veja se não come muita pizza, ok!

Nota: [1] Série: Mistério, Paradoxo e Contradições Aparentes - Parte 1 e  2  


INSCREVA-SE E PARTICIPE DO SORTEIO DESTE MÊS!