06 março 2015

Pequena reflexão sobre a 'injustiça social'"



Por Jorge Fernandes Isah


Andei lendo por aí, que a esquerda tem muito a dizer sobre injustiça social. Realmente, ela tem mesmo: justificar o porquê de, em nome da justiça social, cometer-se cada vez mais injustiça, ao invés de minimizá-la. Na verdade, eles precisam abandonar o "dizer", o discurso ideológico, e ver se fazem algo na prática, de fato. Um dos graves problemas da ideologia é colocar o homem no "mundo da lua", fora da realidade, como se o teletransportasse até um mundo mágico e irreal, aos moldes de Alice no País das Maravilhas. E, com isso, ele nunca entenderá o mundo real, e sonhará com um mundo utópico e impossível, onde acreditará fielmente (uma fé cega, diga-se de passagem) em contribuir com a injustiça aumentando-a sensivelmente. 

Quanto ao argumento de que a direita não se preocupa com a "injustiça social" e deveria fazê-lo politicamente, saliento que o objetivo do Estado não é paparicar grupo(s) ou indivíduo(s), mas sustentar a ordem institucional e legal de maneira que todos possam alcançar, pelo esforço e mérito próprios, seus objetivos, ao invés de distribuir privilégios aqui e acolá (normalmente aos alinhados ideologicamente com o governo). Acredito que a liberdade de mercado e o empreendedorismo são as melhores formas de se gerar "justiça social", seja lá o que isso represente, pois onde há uma economia forte e produtiva os níveis de pobreza e miséria são baixos, e onde cada vez mais há a mão forte do Estado, normalmente limitando a iniciativa privada e cobrando altos impostos, a proporção de pobreza e miséria aumenta em relação ao maior nível de intervencionismo. Um Estado menos interventor (e se levarmos em consideração que o governo administra mal e porcamente os recursos, a maioria dele servindo aos interesses do próprio governo) produz uma sociedade mais "justa", não no sentido de uma justiça igualitária, onde todos serão contemplados com os mesmos benefícios (algo utópico e irreal servindo apenas à manutenção hegemônica da ideologia, no caso, a marxista), mas onde as possibilidades do cidadão sair da indigência econômica são realmente factíveis. A história prova-o; e a mais recente... nem é preciso falar. 

Um detalhe: biblicamente, a responsabilidade de cuidar do próximo, dada pelo Senhor, foi à igreja e não as forças seculares, de maneira que há um desvirtuamento de propósitos quando a igreja transfere a sua prerrogativa bíblica para um Estado não-bíblico. É uma delegação invalidada pois está posto na incapacidade e desautorização da igreja em fazê-lo. Qualquer tentativa nesse sentido é desrespeitosa, negligente e insubordinada. Não compete à igreja subdelegar o que lhe foi expressamente incumbido pelo Senhor. Se uma igreja age assim, está em flagrante pecado. 

Ah!, apenas para não haver confusão, assim como na parábola do Bom Samaritano, há um dever individual de cada cristão no auxílio ao próximo, realizando-se concomitantemente com a sua participação na obra eclesial. Uma coisa não exclui a outra, e ambas fazem parte do mandato cristão.

Um comentário:

  1. Boa reflexão.
    Se a opção pelo parlamentarismo tivesse vencido quando tivemos oportunidade de escolher, o PT não estaria exercendo esse presidencialismo imperial. Um dos grandes, senão o maior responsável pela derrota da proposta parlamentarista foi o Sr. Lula da Silva, que provou ser um homem pusilâmine, sem verdadeiras convicções e marionete dos truculentos de seu partido - dentre eles, com certeza, José Dirceu. Lula se afirmava parlamentarista e estava engajado na campanha a favor. De repente, por pressão do partido, deu uma guinada e passou a fazer campanha pelo presidencialismo - junto com Brizola.
    Como disse Caio Fábio, se o sistema de governo no Brasil fosse o parlamentarismo existente em Israel, o governo do PT, logo após as denúncias do mensalão, ou agora, do petrolão, não sobreviveria por seis meses.
    Esse presidencialismo do Brasil é imperial porque ele pode ter - e sempre teve - forte influência no Judiciário e no Legislativo.
    Deveríamos ter um parlamentarismo com total e plena independência entre os poderes, o só existe no discurso neste presidencialismo imperial nosso.
    Penso em um parlamentarismo com a eleição de três ministros, de preferência de partidos diferentes: o ministro executivo (a versão do tradicional primeiro ministro); o ministro judiciário (um Ministro da Justiça sem qualquer vínculo partidário-ideológico com o Executivo) e um ministro coordenador do Legislativo, de preferência, também sem qualquer vínculo ideológico-partidário com os outros dois. A cada dois anos elegeríamos um deles e cada um teria 4 anos de mandato.
    O arremedo de democracia que temos é muito vulnerável às manipulações do Executivo sobre o Judiciário e sobre o Legislativo. O atual aparelhamento ou pelo menos tentativa de aparelhamento do Executivo sobre os demais poderes é prova cabal disto.
    Quanto ao papel da igreja, concordo. Contudo, o foco intenso em construção de templos, na formação de patrimônio e geração de empregos eclesiásticos impossibilita a efetiva mobilização do povo e da liderança cristã nesse sentido. Infelizmente, as igrejas até formam associações assistenciais visando obter parcerias com o poder público para receber verbas. Fui pastor de um presbitério que fundou um pequeno hospital com equipamentos doados por norte-americanos. Uma associação foi formada, mas com tão pouco foco que a Prefeitura da cidade (Campos, comandada há anos pela família Garorinho) acabou por absorver tudo para si. No mesmo presbitério, fui pastor de uma igreja que era e ainda é "mantenedora", de uma creche em um bairro de pessoas carentes, através de uma associação fundada especificamente par isto. Na verdade, a manutenção depende dos convênios com o poder público - prefeitura e governo federal. No orçamento da igreja não ia um centavo sequer para a obra. A participação de poucos indivíduos dentre os membros da igreja depende de que se tornem sócios e deem suas contribuições mensais que, se somadas, não conseguem pagar as contas de água e energia.
    Em minha humilde opinião, a igreja é quase nada diaconal. O foco é quase somente no espiritual, no teológico e em missões nacionais e transculturais sempre distantes da igreja local. E, infelizmente, as lutas personalistas e a política eclesiástica quase sempre contamina tais focos.
    Penso que precisamos não de nova reforma, mas de completa restauração do tabernáculo de Davi. Com melhor foco diaconal, mas sem contaminação ideológica tipo missão integral.

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