10 outubro 2008

ABORTO & ELEIÇÃO












Por Jorge Fernandes

Deus nos fala de muitas formas; e nesta semana, Ele reforçou em meu coração dois conceitos bíblicos. Um sobre a nossa natureza, e outro sobre a Sua divina e perfeita natureza. Lendo o livro "E Agora, Como Viveremos", dos apologetas Charles Colson & Nancy Pearsey (CPAD), deparei-me com a narrativa de um obstetra americano, o Dr. Bernard Nathanson, o qual durante as décadas de 1960 e 1970, supervisionou mais de 60.000 abortos na clínica CRASH em NY (um nome, no mínimo, sugestivo para o local onde Nathason praticou assassinatos, inclusive, dois dos seus próprios filhos). Para ele, os fetos eram seres impessoais, dependentes completamente da vontade de suas "mamães", as quais detinham o"direito" de eliminá-los ou não. Assim, juntamente com grupos feministas e pró-abortos, fomentou a aprovação de leis que permitissem o extermínio em massa de bebês nos EUA.

Em 1973, tornou-se chefe da unidade de perinatologia do St. Luke's Hospital Center, passando a cuidar das mães e dos bebês (embora continuasse a praticar abortos). Sua função era monitorar os fetos eletronicamente, e tratar dos recém-nascidos doentes.

A ultrasonografia, lançada recentemente, era o que de mais moderno havia para se acompanhar o desenvolvimento do feto; e ele assistiu às imagens, pela primeira vez, juntamente com um grupo de residentes reunidos ao redor de uma paciente grávida. Durante o exame, ele percebeu que a sua mente abandonou o termo feto em favor do termo bebê. Tudo o que aprendera na faculdade de medicina fundiu-se às imagens na tela, e impactou a consciência de Nathanson, convencendo-o de que a vida humana existia no ventre desde o começo da gravidez (depois de apenas doze semanas, nenhum novo desenvolvimento anatômico ocorre no bebê; ele simplesmente fica maior e mais capaz de sustentar a vida fora do útero).

Em 1979, finalmente, decidiu não realizar mais abortos, qualquer que fosse a justificativa (ele ainda acreditava que o aborto, em casos especiais, era legítimo). Publicou livros, documentários, e realizou palestras contra o aborto, tornando-se um defensor da vida, o que lhe valeu a inimizade e o desprezo dos seus mais diletos aliados no passado.

Em 1989, após procurar alívio para sua alma em quase tudo: casas maravilhosas, carros da moda, esposas que exibia como se fossem troféus, adegas de vinho, cavalos, livros de auto-ajuda, terapia, drogas e misticismo, ele se converteu a Jesus Cristo [O Dr. Nathanson escreveu: "Eu estava morando com a suserania dos demônios do pecado, obviamente dedicando-me a tudo que estivesse vinculado ao aparente carnaval sem fim dos prazeres, a festa que nunca termina (como os demônios fazem acreditar)"].

Ao ler o seu testemunho, veio-me à mente Efésios 2:1: "E (Deus) vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados"; e, novamente, percebi o quão miseráveis e malditos somos, incapazes de nos achegar a Deus, e colaborar com a nossa salvação. Um pecador como Nathanson, como eu, como você, está morto em seus pecados, MORTO! Paulo diz em Efésios 2.3: "Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também"; harmonizando-se com as palavras de Cristo: "Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados" (Jo 8.24). A única recompensa que fazemos jus é ao INFERNO, à punição de sermos condenados eternamente ao lago de fogo.

Mas aprouve a Deus, pela Sua graça, amor e misericórdia, nos resgatar das garras do maligno, e nos transportar para o Seu Reino de glória. Ele diz: "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro" (Is 43.25); e ainda: "Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26.28); enquanto Paulo conclui: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8-9).

Portanto, a cada dia, devemos nos convencer da nossa condição amoral, pecadora e dissoluta diante do Deus Santo; e reconhecer que, ainda assim, Ele nos derrama a Sua graça, perdoando-nos, redimindo-nos, limpando-nos, regenerando-nos, tenha eu matado milhares de bebês indefesos ou não, pois, todos carecemos da salvação que somente há em Cristo Jesus nosso Senhor: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã" (Is 1.18).

Que a salvação dada pelo Senhor Jesus Cristo, a qual não temos mérito algum, o faça exultar, glorificando a Deus por tê-lo elegido antes da fundação do mundo (Ef. 1.4), assim como fez ao Dr. Nathanson.

Somente Ele é capaz de transformar um assassino em santo, pois, "isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece" (Rm 9.16).

Texto escrito em 05/01/2008, publicado no extinto periódico "O Enviado".

04 outubro 2008

A MORTE DA MORTE








Por Jorge Fernandes


Como adepto do existencialismo, vivi três meses de completa rejeição à idéia de Deus. Lá pelos meus dezenove anos, após “desviar-me” da igreja batista à qual era membro desde os dezesseis, vi-me seduzido pelo mundo, pela liberdade do mundo (livre para a devassidão), pela imoralidade, e o prazer carnal que ela trazia. A idéia de Deus que eu ouvira nas pregações, leituras bíblicas, e do testemunho de crentes fiéis não podia conviver com o meu novo estilo de vida, portanto, a primeira coisa a fazer era “matar” Deus, para não ter a consciência afligida, nem ninguém a cobrá-la.
E o que no princípio tornou-se uma festança, esbaldando-me em cada esquina, leviana e dissolutamente, foi dando lugar à dor, ao vazio e a desesperança. A mente, ao insurgir-se contra Deus, somente é capaz de ferir-se... desiludida, confusa, colide-se com o natural, e não é capaz de encontrar alívio em mais nada, apenas na própria dor. A mente flagela-se, dilacera-se, esmaga-se, não se aceita; incapaz de curvar-se, engendra saltos ainda mais profundos, e o que lhe resta é a própria autodestruição. O suicídio torna-se o alívio derradeiro: a suprema escolha ilógica do indivíduo, porque viver é por demais desalentador, é um esforço sobre-humano.
Como não há verdade objetiva nem absoluta, o existencialista sofre, angustia-se, revolve-se na existência frouxa da paixão, que, maquinalmente, o mergulha no poço da incerteza, ou na fuga à nulidade, à completa ignorância de si mesmo, do seu semelhante e do mundo.
Via-me como os personagens dos desenhos Looney Tunes que, invariavelmente, precipitavam-se no abismo ao serem perseguidos ou ao perseguirem alguém. Sequer percebiam o chão fugir-lhes sob os pés, e quando davam por si, estavam em queda-livre, de encontro à realidade, dura como o chão era para o Coiote, e quebravam a cara. A perseguição do Coiote ao ingênuo mas rápido Bip-Bip era irreal. Porém, o existencialismo despreza os outros, ridicularizá-os, ri-se deles enquanto chora convulsivamente diante do espelho... sem esperança... é patético.
Mesmo envolto em trevas, não me foi possível suportar o ateísmo [também os demônios crêem que há um só Deus, e estremecem (Tg 2.19)]. Porém, eu não queria abrir mão da imoralidade, da pretensa liberdade que me levava, única e exclusivamente, ao pecado, e a sugestionar e induzir outros incautos ao pecado [alguns nem tão incautos... outros, apenas a esperar um empurrãozinho]. Então, adeqüei-me ao deísmo, a idéia de que Deus não estava nem aí para a sua criação; como afirmei tolamente inúmeras vezes: “Deus fica no céu, e eu aqui! Ele não me incomoda, eu não mexo com Ele!”. Era o cúmulo da arrogância, da blasfêmia, da rebeldia contra Deus. Era a minha natureza caída opondo-se desavergonhadamente a Ele... Menos de um ano após a minha saída da igreja, eu acreditava em um deus impessoal, não cria no diabo, nem no inferno, e sentia-me confortado em saber que, no fim das contas, esse deus salvaria a todos, não condenaria ninguém, e que haveria um paraíso, mesmo eu sendo o que era, fazendo o que fazia. Mas esse aparente conforto não trouxe paz, porque a verdadeira paz, a paz interior, somente Cristo é capaz de propiciá-la [Jo 14.27]. Pelo contrário, quanto mais eu tentava fugir da idéia da morte, mais era atacado por ela, e as noites só eram possíveis após doses cavalares de álcool. De certa forma, mantinha-me anestesiado à noite, e anestesiava-me durante o dia, na espera da tarde chegar, e poder enfim embriagar-me novamente.
O que ficou claro nesses vinte anos, é que a aparente trégua entre mim e Deus não me trouxe tranqüilidade. Ao manter a distância, afastando-me mais e mais d’Ele, sobreveio-me uma dor crônica, infligindo-me tormentos, abrindo feridas que não foram curadas, mesmo com todos os paliativos filosóficos, estéticos e sentimentais administrados. Coube-me buscá-los, aplicá-los, desfrutar de momentâneo alento, e rejeitá-los por sua ineficiência... são quando as frustrações tornam o viver um flagelo, algo insuportável. O tempo passa, os métodos também, e ao olhar-se para si mesmo, vê-se apenas o fracasso. Então, a morte que fustigava, revela-se como a amiga mais próxima, aquela que nos revelará exatamente o que somos, da maneira mais temível, dura e impiedosa: “és pó e em pó te tornarás” [Gn 3.19]. Segue-se a loucura as vezes, a apatia as vezes, a irresponsabilidade, ou a negação outras vezes... como se possível fosse abandonar a vida, apagá-la completamente, como se jamais tivesse existido.
Então, quando tudo parecia perdido, Deus, do qual mantínhamos uma grande distância, encurta-a, aproximando-nos d’Ele. Não há como explicar... Imediatamente, somos içados do fundo do abismo. Instantaneamente, toda a treva se faz luz; toda tormenta se torna em bonança; toda aflição se torna em alegria... uma alegria inconcebível e surpreendente, tão magnífica que nos lança ao chão, e de joelhos, choramos o arrependimento pela rebeldia, pela afronta à santidade de Deus, clamando pelo Seu perdão. Cristo, o justo que morreu pelos injustos, para levar-nos a Deus [1Pe 3.18], é a fonte de toda essa transformação. Num átimo, sabemos o que somos; sabemos quem é Deus, e o que Ele começa a promover em nós pelo poder regenerador do Espírito Santo: antes mortos, agora vivos! Antes, andando segundo o curso deste mundo, em ofensas e pecados, éramos filhos da desobediência [Ef 2.2]; agora, pela misericórdia de Deus, pelo Seu muito amor com que nos amou, deu-nos vida em Cristo nosso Senhor [Ef 2.4-5]. Antes, fazendo a vontade da carne, na imoralidade (porque todo ato que não glorifica a Deus é pecado), éramos filhos da ira; agora, ao recebermos a Cristo, crendo no Seu santo nome, pelo Seu poder, somos feitos filhos de Deus, “os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” [Jo 1.12-13]. É indizível... e resta-nos somente quedar admirados, e render-nos gratos diante da intervenção pródiga que nos libertou dos laços da morte, fruto da graça e misericórdia do nosso Senhor, pois éramos arredios e andávamos dispersos, e Cristo nos reuniu em um só corpo, como filhos de Deus [Jo 11.52].
Então, a nossa mente rebelde, que em toda altivez se levantava contra o conhecimento de Deus, pelo Seu poder, foi levada cativa à obediência de Cristo [2Co 10.5], o qual levou cativo o cativeiro, para que Deus habitasse entre nós [Sl 68.18]. Porque somos novas criaturas, “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” [2Co 5.17]... Sonho? Delírio?... Não! Mas fé! Não uma fé humana, claudicante, flutuante, como “nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva” [2Pe 2.17]. Não. É uma fé viva, sobrenatural, que provém de Deus, sendo Sua doação a nós [Ef 2.8]; pois, “a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo. Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” [1Tm 1.14-45].
A morte já não exerce mais o seu domínio, pois passamos da morte para vida, pela vida que Cristo nos deu na Sua morte.

29 setembro 2008

CABER











Por Jorge Fernandes

Frio,
Pés em modorra,
O silêncio,
A contemplar as pás girar.
Latido,
Revolve as tripas,
O sentido,
A latejar as pontas dos dedos.
Risco,
Lança-se ao desperdício,
O sonido,
A empilhar calafrios.
Rude,
Fustiga a pedra solta,
O sólido,
A fragmentar-se no moedor.
Freio,
Pedágio em terra estéril,
O sino,
A roer o osso.
Livre,
Rende-se à dor infinita,
O sono,
A fatigar em penas.
Inferno,
Não é apenas o torpor dos delírios.

25 setembro 2008

NÃO SOIS DAS MINHAS OVELHAS

Comentário João 10.22-42








Por Jorge Fernandes Isah

A segunda seção do cap. 10 é a ratificação, o complemento de tudo o que foi apresentado na primeira seção (1-21). Novamente, estamos diante da incredulidade dos judeus, os quais resistem tenazmente em negar Cristo como Messias e Deus; acercando-se d’Ele, inquirindo-O irreverentes e céticos (v. 24). A resposta do Senhor é direta, mostrando-lhes o quão cegos estão diante de todos os prodígios que realizou, os quais testemunham a Sua filiação com o Pai, como Messias e Deus.

Diante da descrença dos seus inquiridores, fruto da arrogância que revela a ruína de todo o sistema religioso judaico, no qual os seus olhos são mantidos fechados para a Verdade das Escrituras, Ele expõe-lhes frontalmente o estado de perdição e condenação em que se encontram:
“Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito” (v. 26).

É interessante como para o homem natural a Verdade jamais penetrará nos ouvidos moucos e nos corações impenitentes, por mais que se repita, a menos que o Espírito Santo aja regenerando, dando o novo nascimento a eles, tornando o natural em espiritual. E a prova é que Jesus, por diversas vezes, afirmou aos judeus tanto a própria divindade (Jo 5.36), como a própria condenação deles (Jo 5.37-43); os quais permaneceram duros e céticos, inflexíveis em sua impiedade.


Outro ponto é que, caso quisesse, Cristo poderia abrir-lhes os ouvidos, curar-lhes os corações e mentes, tornando-os ovelhas do Seu aprisco. Mas por que não o fez? Porque eles não eram do Seu rebanho:
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (v.27-28). Quão maravilhosa é a salvação! Como ela é totalmente de Deus, para que nenhuma carne se glorie, e apenas Ele seja exaltado! Como o Senhor é poderoso em misericórdia e graça para salvar e sustentar a salvação de Suas ovelhas. Ele as conhece. O Senhor não conhecerá as Suas ovelhas, mas Ele já as conhece, e dá-lhes a vida eterna: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9). Não é uma possibilidade, veja bem, mas uma certeza. Cristo não nos dá a possibilidade de sermos salvos, de virmos a ser salvos num determinado momento ou de continuarmos perdidos eternamente. Não! Cristo nos salva e nos mantêm salvos, “porque todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6.37). A obra é toda e completamente d’Ele. Por isso, o Senhor lançava-lhes em rosto a condenação de suas almas, a perdição eterna, a qual é definitiva também, não havendo possibilidade de se reverter: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27).

Ao assegurar a salvação, Cristo mostra a união que há entre o Pai e o Filho, de como são um (v.30): Ele e o Pai, ambos, garantem a salvação; estamos seguros nas mãos de Deus Pai e Deus Filho; ninguém nem nada nos arrebatará delas.


Porém, diante de tudo o que o Senhor diz à assistência judaica, os seus corações endurecem-se ainda mais, não lhes sendo suficiente acusá-lo de blasfêmia, mas matá-lo (v.31-33). Tomam em pedras para lhe atirarem, como fizeram em Jo 8.59. O que os levou a essa atitude? Os judeus, erroneamente, acreditavam que Jesus blasfemava contra Deus, ao fazer-se como Ele, portanto, em cumprimento a Lv 24.16, caber-lhe-ia a punição de morte.



Muitos dizem que Jesus Cristo jamais se proclamou Deus. O que, no mínimo, é uma mentira grosseira. Iludem-se crendo que Ele não passa de um iluminado, um mestre, um guru, contudo, à luz das Escrituras, é flagrante e patente a Sua condição de Segunda Pessoa da Trindade, o Deus Filho. Cristo possui todos os atributos de Deus: onisciência, onipresença, onipotência; Ele é justo (1Pe 3.18), santo (Hb 7.26), sem pecado (Hb 4.15)... e somente Ele é capaz de dar-nos a salvação (Jn 2.9; At 4.12; Rm 1.16; 2Ti 2.10; )*.

Há ainda de se entender que o Senhor veio cumprir a profecia de Isaías 53, onde o Cristo é descrito como o “Servo Sofredor”, o qual veio cumprir fiel e plenamente a vontade do Pai (Jo 6.38), culminando com o Seu sacrifício salvífico na cruz do Calvário, e três dias após, a Sua gloriosa ressurreição.
Em resposta à acusação de blasfemo, o Senhor lança-lhes ao rosto o próprio ceticismo com que o indagam, citando a lei:
“Vos sois deuses” (Sl 82.6); “pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada, aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?” (v.34-35). O significado do Salmo 82.6 não é o de equiparar-nos a deuses. Não somos deuses, nem o seremos. A alusão é feita ao próprio Deus como o juiz supremo, o qual está sobre tudo e todos, e que estabeleceu juizes, magistrados, no meio do Seu povo a fim de julgar com justiça os conflitos entre os homens (Dt 1.16-17). Portanto, Cristo imputa aos seus inquiridores a sentença de que, ao acusá-lO, o fazem injustamente, pois aparentam cumprir a lei ao querer matá-lo com pedras, porém, descumprem a própria lei ao julgá-lO injustamente, por desejar condenar o inocente, e, agindo assim, pecam contra o próprio Deus.

Cristo, de acusado, torna-se juiz daqueles homens, ao apontar-lhes incisivamente os seus pecados; porque, como disse:
“Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia” (Jo 12.48). Portanto, a lei que os judeus usavam para acusá-lO é a mesma que os condenará, pois, ao invés de buscar a justiça, agem segundo o seu coração endurecido, distorcendo a Verdade com o propósito de alcançar os seus perversos e ímpios intentos.

Ao confrontá-los com as obras que realizou, das quais eram testemunhas, e por intermédio delas conheceriam que o Pai está no Filho, e o Filho no Pai, revelando-lhes a unidade de Deus, e de que Cristo é Deus (v.38-39), e de que, ninguém a não ser Ele poderia realizar as obras que são de Deus; os judeus procuraram matá-lO. E a obstinação dos seus corações em agir iniquamente, confirma Marcos 4.12:
“Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados”. Em João 12.40, Jesus cita Isaias 6.10: “Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure”.
A soberania de Deus sujeita todas as coisas a Ele. Nada lhe escapa, e tudo lhE é submisso. Os judeus, como muitos hoje, estão cegos, surdos e em profundas trevas; inflexíveis em seus pecados, teimosos em sua rebeldia, trazendo sobre si a ira vindoura e a condenação eterna ao inferno.


Porém, àqueles aos quais o Filho revelou o Pai, pois
“ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27), esses creram n’Ele (v.42), receberam a salvação, e participarão da Sua eterna glória.
Como Pedro disse:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19)... Porque é chegado o Reino dos Céus (Mt 3.2).

* Sobre a divindade de Cristo ler http://tabernaculobatista.blogspot.com/2008/09/cristo-deus.html

20 setembro 2008

VOCÊ ESTÁ MORTO?

















Por Jorge Fernandes Isah
 
A morte é inevitável. Todos morrerão um dia, a menos que, antes o nosso Senhor volte em glória para unir-se à Sua igreja. Enquanto isso, não damos muita importância a ela, ou fingimos não dar, mas sentimo-la rondar-nos. Sua presença é constante, seja nos noticiários, nos filmes, livros, no trabalho, nas ruas, na mente...

Às vezes é alardeada pelas sirenes, pelas multidões nos velórios, pelas páginas dos jornais, pelos gritos de desespero... Outras vezes, uma manchinha de sangue na calçada, uma lágrima furtiva, ou um aperto silencioso no coração impedem que ela passe despercebida... Em alguns casos, ocorre anônima sem que alguém note, sem que haja um nome, e mesmo um corpo.

A morte pode vir súbita como num acidente, ou prolongada por uma doença dolorosa; pode nos atingir prematuramente, mesmo no ventre materno, como muito avançada em idade; não escolhe sexo nem cor, peso nem altura, fortes nem débeis, ricos nem pobres; acomete tanto na terra, no ar, ou mar... quase alcançou os tripulantes da Apolo XIII, em pleno espaço sideral.

Ela está a rondar solerte, pairando sobre nossas cabeças, pronta para decepá-las. Pode vir como uma brisa prolongada, ou como uma borrasca instantânea, mas, invariavelmente, não será precedida por uma festa ou alegria [mesmo contida] do candidato a morto; e revelará aos vivos a transitoriedade da vida.

Por falar em vida, o que ela é? [esquecendo-nos um pouco da morte]. Podemos defini-la como existência, animação, tempo, estilo ou um modo de se subsistir. Mas em todas essas definições ou alusões temos um estado finito, efêmero, no qual ela estará sujeita à temporalidade, o que levará muitos a crer apenas na sua materialidade, numa realidade exclusivamente terrena; e esta conclusão nem mesmo é uma ínfima fração da verdade.
 
Definição precisa [ainda que amarga] nos deu um homem sobre a vida terrena: “Os meus dias são mais velozes do que a laçadeira do tecelão, e acabam-se, sem esperança. Lembra-te de que a minha vida é como o vento” [Jó 7.6-7]. Moíses concluiu: “Passamos os nossos anos como um conto que se conta” [Sl 90.9]... “Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece” [Tg 4.14]. Portanto, a vida é algo fácil de perder, pode nos ser tirada a qualquer momento, ainda que a julguemos segura, e esforcemo-nos em propiciá-la. O alento de sustentá-la nunca será suficiente, mesmo que o dispensemos diligentemente... Diante da mais sutil ameaça, a angústia sobrevirá, pois o fim de todas as coisas é a morte: “Que homem há, que viva, e não veja a morte? Livrará ele a sua alma do poder da sepultura?” [Sl 89.48].
 
Mesmo a vida, num determinado momento, se sujeita a ela...
 
Não quero trazer-lhe tristeza, nem angústia, nem apressar o que talvez demore ainda muito tempo a acontecer. Ao tocar neste assunto, quero falar é da esperança e da certeza que nem mesmo ela, a morte, é capaz de destruir.
 
A Bíblia afirma que o último inimigo ao qual o Senhor Jesus derrotaria seria a morte [1Co 15.26] , “porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés” [v.27].
 
Como homem, Cristo padeceu e morreu na cruz do Calvário, para expiar os nossos pecados, e nos dar vida eterna; “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” [Rm 6.23]. Cristo morreu para que tivéssemos vida, não apenas por alguns anos ou décadas, mas por toda a eternidade.
 
Por Sua graça e misericórdia substituiu-nos, recebendo a ira divina que nos seria destinada; “porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” [1Co 15.21-22].
 
Ao terceiro dia, Ele ressuscitou, e então, o jugo da morte não mais prevaleceria sobre o Seu corpo; Ele venceu-a: “tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele” [Rm 6.9].
 
Assim todo o que reconhece o Seu sacrifício na cruz herdará a vida, e jamais morrerá, porque a primeira morte é física, mas a segunda morte é a completa e eterna separação de Deus, quando os que se mantiveram rebeldes a Ele serão lançados no lago de fogo inextinguível, ou seja, a morte definitiva, inexorável. Cristo, através da Sua morte, deu-nos a vida, a qual nem mesmo o tempo será capaz de destruir, porque, como disse, “se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte” [Jo 8.51], “não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” [Jo 5.24].
 
Portanto, não há o que temer, antes, ansiar o momento em que encontraremos o nosso Senhor e Salvador, como Paulo disse ao referir-se à própria morte: “tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” [Fl 12.3].
 
Deus é o protetor da vida; devemos depositá-la em Suas mãos, o qual é fiel para conservá-la, “porque eu sei em quem tenho crido [Cristo], e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” [2Tm 1.12], quando O vislumbraremos face a face, “porque assim como é o veremos” [1Jo 3.2]. Porquanto, os efeitos dos nossos inimigos, o pecado e a morte, foram anulados por Jesus Cristo, tragados por Sua vitória [1Co 15.54].
 
Então, a morte torna-se inofensiva diante da gloriosa vida que Deus nos concede; não a todos, mas para os que confessarem Cristo, pois, “qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus” [Mt 10.33]; porque “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" [Jo 14.6].
 
Sem Cristo, você já está morto!

11 setembro 2008

100% SOBERANO

Comentário de João 10.1-21












Por Jorge Fernandes

Diante da dureza dos corações e da incredulidade do povo judeu, Cristo revela-lhes que somente há um pastor, o qual é Ele. Não há outro. Muitos se dizem pastores... há mesmo uma idéia relativista de que todos os caminhos levam a Deus. Mas somente um caminho pode levar o homem a Deus: Cristo nosso Senhor (Jo 14.6). O Senhor aponta o sistema religioso judaico como os falsos pastores, lobos na verdade, o qual foi contaminado por filosofias, tradições e o legalismo, tornando-o um sistema corrompido em que, supostamente, o esforço do homem em cumprir certas regras garantir-lhe-ia a salvação.
Em contraste a esse esquema extrabíblico e que glorifica o homem, os patriarcas e profetas depositavam as suas almas em Deus, creditando a Ele, por Sua graça e misericórdia, o poder de serem salvos e alegrarem-se na salvação que vinha apenas do Senhor (Sl 18.2, 35.9, 118.14; Is 61.10).
Portanto, Jesus Cristo é o único pastor, o qual me faz deitar em verdes pastos, e guia-me mansamente a águas tranqüilas, refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça (Sl 23.2-3).
É surpreendente como o apóstolo João deixa clara a atividade, a ação positiva do Senhor, e a nossa passividade. Ovelhas são animais que carecem de extremos cuidados. Se não tiverem uma atenção especial, tornam-se presas fáceis do inimigo. Logo, necessitam de um pastor. O qual está disposto a morrer por elas; se preciso for, dar a vida por elas. Cristo morreu por seu rebanho. Ele não morreu pelo rebanho do vizinho, nem por todas as ovelhas do mundo, mas exclusivamente por Suas ovelhas, as quais O seguem porque conhecem a Sua voz. Por isso, Ele se proclama o bom Pastor, aquele que conhece as Suas ovelhas, e delas é conhecido. “Como o pastor busca o seu rebanho... assim buscarei as minhas ovelhas; e livrá-las-ei de todos os lugares por onde andam espalhadas” (Ez 34.12). A ação de buscar as ovelhas é totalmente do Senhor, e não a nossa de ir até Ele, o que evidencia claramente a Sua soberania em escolher aqueles que farão parte do Seu rebanho, porque “o Senhor conhece os que são seus” (2Tm 2.19).
A idéia de que Cristo morreu por todos é enganosa. Se Ele morreu por todos, então todos são ovelhas do Seu rebanho, portanto, ninguém se perderá. Isso é universalismo, é heresia, e se opõe flagrantemente às Escrituras, que não afirmam que todos serão salvos, antes que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 20.16, 22.14).
Cristo disse que o Seu rebanho não era formado exclusivamente de judeus, mas de outras ovelhas que ainda não faziam parte do Seu aprisco. Novamente a ação é completa do Senhor, porque “também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (v.16). Fica claro que Jesus não veio exclusivamente para os judeus, mas também para os gentios, pois, “vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto. Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito” (Ef. 2.17-18); não vindo apenas para a nação de Israel, mas também para os gentios, “para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (Jo 11.52).
Não há meio-termo naquilo que Jesus diz. Ele não cogita algo “provável” que pode vir a ser improvável, nem faz conjecturas, nem deixa ao ouvinte qualquer dúvida sobre o que diz; sempre encontramos n’Ele a certeza de que tudo dito se cumprirá, porque é completa e totalmente a Verdade. Por que tudo o que se realizará depende exclusivamente da Sua vontade, e a vontade de Deus não é um mero desejo que pode ou não se concretizar, que está dependente das circunstâncias; e esses “reveses” poderiam frustrá-lo. Ao contrário, o Deus Eterno e Único é quem faz as circunstâncias para que os Seus eternos decretos sucedam-se tal qual os planejou. Então, não há como algo ou alguém (mesmo uma criatura poderosa como satanás) malograr os desígnios divinos, porque “bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” (Jó 42.2).
Cristo revela-nos que ao servir o Pai e os Seus eleitos, o faz livremente, assim Ele quer: “porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou” (v. 17,18). Claramente o Senhor diz que o poder de dá-la e tomá-la lhE pertence (v. 18), portanto, não resta dúvida quanto ao cumprir-se fielmente Seus propósitos: Cristo é 100% soberano, como Senhor que é.
Jesus se dirige claramente ao grupo de escolhidos, os quais chama de amigos: “ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelo seus amigos” (Jo 15.13). Ele não o faz pelos seus inimigos, mas aos amigos, ainda que temporalmente o amigo não saiba sê-lo, mas o Senhor o sabe antes da fundação do mundo, quando desde sempre somos feitos Seus amigos.
Outra evidência é de que Deus Pai e Deus Filho são um, e a salvação é dada àqueles que são entregues a Cristo pelo Pai: “Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós” (Jo 17.11).
Da mesma forma que os judeus questionavam a Jesus àquela época (alguns o achavam louco ou endemoniado), hoje, igualmente, muitos pregam e crêem em um senhor menor, que nem sempre é Deus, ficando à mercê da vontade caída e frágil do homem. Esses proponentes do “deus menor” se apegam ferrenhos à necessidade de liberdade plena e completa para que a responsabilidade humana seja “funcional”. Para que o homem seja condenado é necessário que tenha o famigerado livre-arbítrio, o qual é tão poderoso em si que o próprio Deus se curvaria à sua autoridade, se fosse possível. A justiça está no próprio homem e não em Cristo que é quem nos justifica; “porque, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia” (Jó 9.15); porque “ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (Is.53.12).
Não crer na soberania plena de Deus, a qual é claramente exposta em João 10.1-21, é desmerece-lO, menosprezá-lO, é torna-lO frágil, omisso, dependente e submisso à vontade humana (ainda que o seja apenas em nossa mente); porque o Senhor não pode ser guiado ou impelido a se conformar ao nosso desejo; o fim de tudo não é Deus seguir os nossos conselhos, mas levar “cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” (2Co 10.5); porque “o conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração” (Sl 33.11).
Aquele sem entendimento louva a si mesmo, mede-se a si mesmo fora da medida, e não segundo a reta medida que Deus deu; a qual é: “aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (2Co 10.17).

04 setembro 2008

DESCONTINUIDADE RADICAL*












Por Jorge Fernandes Isah


Há uma tese que defende a distinção extremada entre o Deus do AT e o Deus do NT, chamada Descontinuidade Radical, a qual despreza o AT como Escritura divinamente inspirada, a reputar Deus como um ser “irado” em contraste com o Deus do NT, o qual é “complacente”, quase um cúmplice do homem. Este é um conceito distorcido, herético e diabólico, que leva à incredulidade e a fé em um deus irreal, distorcido, utópico e feito à imagem do homem; e o grande problema é exatamente este: querer explicá-lO através dos nossos olhos, da nossa mente e dos nossos corações caídos e enganosos.
Desqualificar o AT como parte do Cânon, não crendo na sua inspiração divina, inerrância e infalibilidade, a fim de amoldar Deus segundo os conceitos e percepção errados do homem é excluir o que não se enquadra à mente, pensamentos e suposições nitidamente corrompidos. Portanto, parte das Escrituras (no caso o AT) devem ser negadas para que o homem e sua filosofia sejam confirmados. É uma impostura, um blefe, um sofisma que lança em densas trevas os seus defensores, afastando-os cada vez mais da verdade do Evangelho.
O AT é parte das Escrituras juntamente com o NT, e disso, ninguém pode duvidar sem incorrer em blasfêmia contra o Espírito Santo, que é o seu autor.
Numa clara inversão de valores o pecado do homem é transferido para Deus, lançando-se sobre Ele a culpa exclusivamente humana. É uma espécie de auto-absolvição-condenatória, em que os perfeitos desígnios de Deus são impossíveis de se realizar diante da “justiça” e do conceito erroneamente humano do bem e do mal. Se fossemos capazes de discernir entre o bem e o mal naturalmente, porque Deus nos daria a Lei Moral? Por ela, Ele estabeleceu o padrão de certo e errado, de justo e injusto, de bem e mal, de moral e imoral.
Ainda assim, com todos os alertas, baseados em uma falsa justiça, pecamos ao desobedecê-lO. Como então podemos questionar as ações de Deus? Ao que Paulo diz: "Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?" (Rm 9.20).
Baseiam o seu “deus” no amor que dizem Cristo ter, não o amor real e eterno que o Senhor tem, mas um amor conivente, condescendente, preso e afeito à vontade do homem. Este tipo de amor tão alardeado e propalado entre os cristãos em nossos dias não é o amor de Deus revelado nas Escrituras, antes é extra-bíblico e claramente enganoso, um artifício maligno de satanás, que o vem repetindo de tempos em tempos nas mentes e corações incautos. Pois afirmam que Deus seria incapaz de fomentar a destruição, a matança e o extermínio dos povos inimigos de Israel (por conseguinte, inimigos de Deus, visto que Israel era o Seu povo eleito), como fez com os cananeus, os amorreus, os amalequitas... Então, os relatos veterotestamentários não são condizentes com a “imagem” que fazem de Deus, logo, o AT não é parte do Cânon divino.
Por outro lado, apegam-se a um tipo de amor que as Escrituras não revelam. Cristo é corporalmente a plenitude, a completude de Deus (Cl 2.9), portanto, Ele é amor, mas é igualmente, santidade, justiça, retidão... Senão,vejamos:
1) Não foi com a autoridade e santidade de Deus que Jesus condenou Cafarnaum ao afirmar: "E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje" (Mt 11.23)? E o que pode ser pior? O extermínio físico dos cananeus e outros povos, ou a condenação eterna ao inferno?
2) Paulo diz a Timóteo que Jesus julgará o mundo: “Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino” (2Ti 4.1).
3) Quando necessário, Cristo usou de sua autoridade divina para julgar os fariseus e sacerdotes: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.33).
4) Igualmente, Ele agiu conforme os Seus atributos de santidade e justiça ao irar-se contra os mercadores no templo: “E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas” (Mt 21.12).
Dizer que Cristo revelou-se apenas em amor é mentira, é distorcer a Bíblia. Porque Cristo é a 2a. pessoa da Trindade Santa, e, portanto, igualmente justo, reto, santo e inimigo do pecado tanto quanto o Pai e o Espírito Santo. Quando voltar, Cristo não voltará como servo sofredor, mas como Juiz, Senhor, Rei e Guerreiro, o qual aniquilará definitivamente o mal, o pecado e todos os rebeldes que se utilizam indevidamente do amor de Cristo para tentar torná-lO cúmplice dos seus pecados.
Deus não age como o homem, nem tem as limitações do homem, portanto, ainda que não entendamos (muitas vezes porque queremos fazer Deus igual a nós), a Sua justiça e santidade podem ser percebidas ainda que na "aparente" injustiça do massacre dos povos inimigos de Israel (e porque não, no próprio sofrimento do povo de Israel). Afinal, não são elas conseqüências do pecado e da rebeldia contra o Todo-Poderoso? As quais faz-se necessário julgá-las? Pode o pecado ficar impune? Sem castigo? E o castigo ao pecador impenitente não denota a santidade e justiça de Deus, e o amor por Si mesmo e por Seus eleitos?
Por isso, Ele deu o Seu Filho Amado para expiação dos pecados do Seu povo, dos Seus eleitos, para que sobre eles não viesse a condenação.
Infelizmente, a visão distorcida do homem faz de Deus um ser suscetível, impotente, frágil diante do pecado, da desobediência, do diabo e da vontade humana. Segundo eles, Deus somente pode ir aonde o pecado, o diabo e a rebeldia do homem não chegaram. Ali, a Sua soberania pára, e dá lugar à ação dessas criaturas. Como explicar, então textos como Dt 32.39-43 e Is 45.7?
Jamais podemos olhar-nos e, através da nossa imagem, do que vemos em nós, de nós mesmos, explicar a Deus. Antes, é Ele quem nos define, explica, transforma, e um dia, nos manifestará como é em plenitude, em glória; porque, pela revelação das Escrituras, todos os atos de Deus são bons, justos, santos e retos, mesmo os que não entendemos, aceitamos ou julgamos maus, pois "quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos" (Rm 11.33).
A falta de humildade, de se reconhecer o quanto somos imperfeitos, e a necessidade de nos justificar perante Deus, cria esse "mar" de distorções, de enganos e mentiras. Bastaria ao homem reconhecer em Deus aquilo que Ele nos revelou de Si no Cânon. E se não o aceito, jamais conhecerei ao Deus Único, Vivo e Eterno.
A falta do conhecimento bíblico e de Deus leva o incauto a julgar que Deus não é "páreo" para as convicções humanistas e liberais, como se a filosofia pudesse anular o que Ele é; e ao invés de julgar o homem em sua pecaminosidade, volta-se contra Deus e sua Palavra, julgando-O a partir de falsas e frágeis premissas, sem reverenciá-lO e glorificá-lO como o Deus revelado nas Escrituras (e naquilo que Ele quis nos revelar).
O discurso é restritivo, pois apresenta apenas um dos atributos de Deus: o amor. Mas e a justiça, santidade, retidão...? E a aversão ao pecado? E a necessidade de se condenar o pecador?
Posso afirmar que o adepto da “descontinuidade radical” é alguém que flerta com a apostasia, a heresia; é um lobo em pele de cordeiro com sua pretensa bondade, pois, não há outro termo para se referir a quem questiona, despreza e incita vergonhosa e fraudulentamente a rejeição ao AT, à Palavra de Deus: "Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor" (2Co 6.17).


*Síntese dos meus comentários ao livro "Deus mandou matar?" em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/08/deus-mandou-matar.html

25 agosto 2008

RÓTULO

Por Jorge Fernandes

O rótulo é algo inevitável para o homem que precisa se identificar e identificar aos outros, sendo muito mais uma definição estética que moral. E entre os evangélicos há tantos dísticos que ficamos perdidos; muitos deles apenas estéticos, e alguns nem tão morais. Por exemplo, a questão da salvação é algo moralmente distorcida em nossos dias. Prega-se que o homem pode "aceitar" a Cristo, e o mesmo que O aceitou pode"rejeita"-lO, como se fosse o escolher brócolis no almoço e filé no jantar. Não se pode tratar Deus como um tubérculo ou leguminosa acomodados no freezer, o qual retira-se e coloca-se quando e onde quiser. Jesus disse: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” [Jo 15.16].

A causa de muitas profissões de fé falsas é a idéia errada de que posso aceitar e depois rejeitar a Cristo, e mais à frente aceita-lO novamente, e caso não queira mais, desprezá-lO quantas vezes quiser até que venha a “recebe”-lO, se houver tempo. Não é algo definitivo, nem mesmo é uma hipótese de definição, é efêmero e vacilante, podendo suceder-se por inúmeras vezes. Esse tipo de salvação é moralmente bíblico? Ele pertence à categoria do nascer de novo ao qual o Senhor Jesus afirmou ser necessário para se ver o reino de Deus? [Jo 3.3].

Ao depender de mim, da minha vontade e, especialmente, dos "métodos" para se"convencer" alguém de que uma vida com Cristo é o melhor, a minha salvação seria moral? Como pode um homem caído, separado de Deus em seus pecados ser moralmente apto para se reconciliar com o Senhor santo e justo? “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” [1Co 2.14].

Ao aceitá-lO, sou o agente moral, e, portanto, habilitado a estabelecer a comunhão com o Todo-Poderoso, o qual é passivo, dependente da minha vontade? E ao aceitá-lO e rejeitá-lO diversas vezes sou moral ou amoral? Responda-me: é realmente melhor ser um cristão? Já imaginou os sacrifícios, os obstáculos, as renúncias que temos de fazer num mundo que odeia a Deus e que apela tão baixamente para o que de pior existe em nós? Se é tão bom ser crente, porque não o fomos antes? Porque somente agora e não um ano atrás? O que mudou em minhas convicções e natureza que me motivaram a aceitar Cristo e servi-lO? Porque “decidi-me” pelo Deus bíblico, ao invés de permanecer com o deus genérico, popularizado, mistificado e comercializado por tantas religiões e sistemas filosóficos?

O Deus bíblico, verdadeiro e único não pode ser passivo. Ele não fica de braços cruzados esperando as coisas acontecerem, alheias à Sua vontade, sem intervir direta e propositadamente, visto ser o Agente, o Autor de toda a criação, Aquele que atua na história, que determina todos os atos no universo [Ex 33.19; Is 14.24;27; Rm 9.15], os quais foram estabelecidos soberanamente antes da fundação do mundo. Portanto, o Deus bíblico não pode ser rejeitado impunemente. Não pode ser desprezado sem que aquele que o desprezou sofra as conseqüências do seu ato. O Deus bíblico não reconhece o homem como seu filho se ele permanecer "amoldado" à sua natureza pecaminosa. Para isso, é necessário que o nosso ser seja transformado, que esse homem renasça em Cristo, e pela ação do Espírito Santo, o caráter do Senhor seja implantado, pouco a pouco. Assim, regenerados, somos então capacitados a reconciliar-nos com Deus, ou a “aceitá-lO”; não sendo mais passivos no pecado, mas ativos em santidade. Sem isso, somos criaturas rebeldes, incomunicáveis com o Altíssimo, destinados à Sua ira, a perecer eternamente, sem jamais ser filhos e templo do Espírito Santo. Então, não é uma questão de escolha, mas de QUEM escolhe, e Deus escolhe, “Para que nenhuma carne se glorie perante ele” [1Co 1.29].

Se sou eleito de Deus, Ele jamais permitirá que eu me perca novamente, que eu volte ao reino de trevas, ao mundo caído de Satanás. Esta é a Sua promessa aos Seus escolhidos, porque “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”, disse Jesus [Jo 6.37].

O arminianismo, e o seu pai, o pelagianismo, são a razão do vai-e-vem sem fim nas cadeiras das igrejas, onde os crentes de hoje serão incrédulos amanhã, podendo novamente ser crentes, e por fim, apostatarem tempos depois; visto que a salvação é como uma partida de pingue-pongue; e não consigo imaginar-me disputando um jogo em pé de igualdade com o Todo-Poderoso, Criador, Salvador e Senhor, e ainda por cima, derrotá-lO. A salvação passa a ser uma pilhéria, e o Senhor motivo de escárnio, tais as possibilidades de variações quanto ao estado de salvo e perdido, quanto a uma insegurança que denota a fragilidade de um deus criado na mente corrupta e insana do homem... que nada tem a ver com o Deus Tri-uno, poderoso e Senhor de todo o universo.

É possível que esse homem que crê deter o poder de "eleger" a Deus tenha a certeza da salvação? Visto que não há nada que a assegure, apenas e tão somente a vontade do próprio homem? O qual é fraco, volúvel, obstinado em sua pecaminosidade, bastando apenas o mudar para se perder outra vez? Ele pode afirmar-se salvo, se ele mesmo não o sabe nem tem certeza se o será?

O homem deu um tiro no pé! Ao supor-se detentor de um poder que não possui. É ilusório, terrível, maligno. Pois nos dá uma sensação de liberdade irreal, impossível de nos levar a decidir por Deus, na medida em que ela é incapaz e inadequada de nos levar a escolhê-lO; pois o livre-arbítrio pressupõe o homem tanto bom como mau, contrapondo-se ao ensinamento bíblico, o qual assevera ser o homem essencialmente mau; “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” [Rm 3.23]; “não há justo, nem um sequer” [Mq 7.2; Rm 3.10]; e “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” [Jr 13.23]... Logo, o homem encontra-se completamente incapacitado de vencer o seu pecado.

A presunção é de que, se fazemos coisas boas e ruins, escolhas boas e ruins, elas indicam que sou capaz de eleger a Deus (pois rejeita-lO já o faço naturalmente, de manhã à noite); e de que esta escolha é não influenciada por alguma força, seja ela exterior ou interior; de que é isenta de causalidade, neutra, o que é utópico, pois somos sempre tomados por algum poder... a liberdade morreu no Éden com Adão e Eva, e estaremos sob o domínio de satanás até que o poder máximo do Senhor restaure-nos, e a liberdade seja finalmente ressuscitada.

Ainda que não possamos "ganhar" ninguém para Cristo, pois esse papel cabe ao Espírito Santo, o qual dá o convencimento ao homem do pecado, da necessidade de arrependimento, e a compreensão da obra salvadora do Filho de Deus, não podemos nos escusar de levar o Evangelho aos perdidos [Mt 28.19-20]. É uma ordem expressa do Senhor, não sendo condicional, mas imperativa. Como instrumentos, Deus nos usará para alcançá-los, não nos cabendo questionar os Seus sábios métodos, mas certificar-nos de obedecê-lO prontamente.

E, para que não reste dúvidas quanto à minha posição, creio na doutrina da Eleição do homem por Deus, e de que Deus escolhe quem salvará; é uma obra completa d’Ele, na qual somos como barro nas mãos do oleiro [Rm 9.21], em vista de sermos incapazes de “escolher” salvar-nos; pois jamais o homem escolheria a salvação se Deus não o movesse a ela... É uma discussão que se arrasta há séculos, mas a Bíblia é clara quanto ao assunto: a eleição é de Deus, e não do homem! Como acertadamente disse o profeta: “Do Senhor vem a salvação” [Jn 2.9], pois a glória é somente e completamente d’Ele...

Ah... ia me esquecendo... quanto ao rótulo, podem chamar-me monergista.

19 agosto 2008

PECADO











Por Jorge Fernandes

O pecado arromba a porta,
Empurra-me ao abismo,
À sua beira, sinto que não preciso cair,
Mas as trevas profundas,
E no prazer ignominioso,
Lanço-me à desolação;
Sei que sofrerei,
Sei-me odioso,
Não devia permiti-lo,
Desprezo ao meu Senhor,
Ao alertar-me, dá-me não escolher o mal,
Fico a ruminar a idéia,
E como num cabo-de-guerra,
Vejo-me a puxar e tracionado,
Atraído pelo desvio,
Ainda embatendo-me,
Já derrotado.

Ao seduzir a ofensa,
Persuade-me a falsa promessa,
Domina-me,
E a convicção de cair vítima do erro,
Faz-me tenaz em obtê-lo.
Não é mais uma luta...
A dúvida cedeu ao vigor abjeto,
Hesitação virou crença,
Quando, é a questão,
Se agora ou em qual momento,
Detalhe sórdido a prolongar a queda.

Demônios riem-se,
Esfregam as mãos,
É só o tempo,
De apertar-me o laço,
Para que o folguedo comece
No inferno.

O delírio num flash,
Tenho as mãos sujas,
Os pés olhos e um coração podre,
Lodaçal a impregnar a pele,
Pragas erguem ninhos nos cabelos.

Quero chorar,
Rasgar-me num grito,
A madrugada a esconder-me,
Qual meliante furtivo,
Socar-me à parede,
E ver que nada disso mitiga a dor,
Ou faz renascer a alma morta.

Careço de perdão,
Eu mesmo não o faria,
Então de joelhos,
Curvo-me envergonhado,
Triste,
Pela tentação a rondar solerte;
Então clamo,
Orando ao meu Senhor,
Que se compadeça,
Apiede-se de mim,
Livre-me da culpa,
Que carrego como constipação.

E somente Ele,
O Rei da graça,
Ouve-me...
As dívidas liquidadas,
Pois o resgate,
Ele pagou
Na cruz.

15 agosto 2008

ZUMBIS INTELECTUAIS











Por Jorge Fernandes

Em poucos anos de conversão, tenho ouvido muitos crentes dizerem-se avessos à teologia. O argumento mais usual, distorcido e surreal é afirmar que a “letra mata e o espírito vivifica” [2Co 3.6], abrindo espaço para todo o tipo de sandice dita espiritual que abunda nas igrejas [Paulo alude claramente à impossibilidade de salvação pela lei, pela letra, a qual é capaz de trazer apenas a condenação ao homem, visto que a lei não salva, mas revela-nos o nosso pecado e nos dá a condenação. Somente a obra consumada de Cristo pode livrar-nos do inferno. Portanto, o versículo não é uma proibição para se estudar as Escrituras].

O pouco convívio com a Bíblia, a falta de senso crítico, e o estímulo que muitos líderes imprimem à experiência pessoal, a qual ganhou uma relevância ímpar em nossos dias, acentuada pela ignorância teológica dos seus defensores, levam os crentes, de uma forma geral, a negligenciar o zelo que os irmãos de Beréia tinham [At 17.11], e a uma espécie de torpor espiritual que os faz aceitar de bom grado tudo o que lhes é proposto sem examinar as Escrituras, conduzindo à morte da razão. No pouco ou nenhum conhecimento da Palavra eles são abatidos pelas armas que satanás lhes dá, as quais julgam provir do Senhor mas nem remotamente percebem que ao puxar o gatilho tornam-se alvos de si mesmos.

O conhecimento de Deus passou a ser subjetivo e cada um pode tê-lo a seu modo, facilitado pela completa alienação doutrinária; amoldando-o a qualquer recipiente blasfemo, herético e diabólico.

Parece-me que os crentes estão meio que perdidos; são tantos os ataques do inimigo [e o seu desejo é a destruição da igreja, visto que o Senhor Jesus morreu por ela], são tantas as suas artimanhas, que os crentes não têm idéia do que seja uma vida cristã [a base que se tem dado aos crentes é muito frágil, e “ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11). Não se prega a Bíblia expositivamente (2Ti 4.2-3); é psicologismo pra cá, humanismo pra lá, e individualismo por todos os lados; não se estimula os crentes a ler teologia, a ler livros que os levem à santidade, a aprofundar-se nas doutrinas; e muito porcamente dizem que as Escrituras são a única regra de fé. Mas como isso é possível sem conhecê-la, sem entendê-la?].

Parte disso é culpa dos acadêmicos [muitos deles inconvertidos e educados em seminários e faculdades nitidamente opositores do Evangelho], que tratam o estudo da Bíblia com mais frieza do que um legista disseca um cadáver; é como um labirinto onde se tem a certeza de que jamais se sairá dali; visto que o homem cada vez mais está preocupado com a sua glória pessoal, “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21); “e, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm” (Rm 1.28); pois, “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4.4).

Então, prefiro autores que conciliam doutrina com doxologia, ao estilo de Lloyd-Jones, John Owen, Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, Arthur Pink, John Piper, John McArthur... Guardadas as devidas proporções, eles tentam repetir o que Paulo fazia divinamente inspirado: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas Cristo Jesus, o Senhor” (2Co 4.5); “para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Ti 3.17). Enquanto isso, os Warrens, Malafaias, Cavalcantis, Mclarens, Hinns e Yansens da vida ganham cada vez mais espaço nas livrarias, nas estantes, e em mentes loucas, porque o que eles fazem é meio que anestesiar a consciência, um inibidor que impede as pessoas de pensarem como crentes, os quais devem ter a mente de Cristo [1Co 2.16], transformados pelo Evangelho; e não mantidos em coma pelo humanismo/secularismo/místico com que são tratados, tornando-as em zumbis intelectuais, em natimortos espirituais. Na vaidade das suas mentes, “entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração... se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza” [Ef 4.18-19].

Só há um antídoto: a leitura diária, devocional e reverente da Palavra em espírito de oração; porque “toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” [2Ti 3.16], e a “tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre" [Sl 119.160]; sabendo que os pensamentos de Deus são mais altos do que os nossos, e os Seus caminhos são mais altos do que os nossos [Is 55.9]; “porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas, glória, pois, a ele eternamente. Amém” [Rm 11.34-36].

Então, não nos furtemos a “conhecer os mistérios do reino de Deus”, o qual nos é dado pela revelação das Sagradas Escrituras, mas aos outros é dado “por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam” (Lc 8.10).

08 agosto 2008

EM SEUS PASSOS









Por Jorge Fernandes

Se há um Evangelho verdadeiro sendo pregado, esse é o que leva à perseguição, à prisão, à morte, ao desprezo [2Tm 3.12]. Não era assim com o Senhor? E com os apóstolos? E na igreja primitiva? O mundo não quer saber da Verdade, ao contrário, ele quer eliminá-la, destruí-la. E a culpa é nossa, ao nos esquivarmos de realizar a missão delegada por Jesus, preocupados apenas e tão somente com o nosso “umbigo”. Até quando?
Venho pensando muito nisso ultimamente. E tenho orado para que Deus não permita que nos tornemos em “crentes secretos”, que pouco ou nada da nossa vida revele a quem servimos. Podemos ir à falência? Ser expulso da escola? Perder o emprego? Abandonados pela família? Desprezados pelos vizinhos? Ir à prisão? Como Cristo disse: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á” [Mt 10.38-39].
Falta vergar-nos diante de Deus. Quantas vezes fingimo-nos de surdos ao Espírito Santo? E deixamos a condição de discípulos? De assumir o lugar na igreja, em casa, no trabalho? Sendo omissos, quando Deus quer que ajamos ao invés de nos confortar com a nossa eleição?... Sei que é difícil... Passo boa parte do dia me questionando se estou mesmo servindo a Deus ou se estou apenas brincando de cristianismo. Aflige-me ver o quanto estou preocupado com as coisas do mundo, com a minha própria vida, e quase nada com o Reino de Deus. Mas oro ao Senhor para que Ele me transforme, me capacite, me dirija no cumprimento da Sua santa vontade; e a testemunhar verdadeiramente o Seu amor, graça e misericórdia para com esse mundo perdido [mesmo sabendo que nem TODOS são o alvo do Evangelho].
É uma encruzilhada, e o caminho a seguir não é florido, nem asfaltado, nem tem barracas distribuindo água de coco grátis; mas o Senhor nos fará ultrapassá-lo, e conheceremos o Seu amor, e quem nos ver ali saberá que O amamos, por isso O servimos. Como Paulo afirmou: “O viver é Cristo, e o morrer ganho” [Fp 1.21].
Reli recentemente a passagem em Lucas 5:1-8, em que o Senhor mandou que Pedro e os pescadores lançassem suas redes no mar quando o fizeram a noite toda e nada pescaram. Após voltarem do local, onde Cristo os ordenou ir, com as redes lotadas de peixes, lemos: "E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador". Não pude deixar de chorar, porque percebi que Pedro, um simplório, um iletrado, compreendeu e entendeu o que talvez levemos a vida inteira e ainda assim não compreendamos: o quanto Deus é santo [e somente Ele é santo], o quanto somos miseráveis pecadores, e o quanto devemos nos humilhar diante d’Ele. Ali Pedro se rendeu à santidade de Jesus, submisso adorando-O, porque entendera, naquele momento, que havia um abismo separando-o de Deus; e de que sem Ele, Pedro não seria absolutamente nada além de um reles pecador.
Fico pensando que muitos de nós, ainda que salvos, seremos envergonhados diante da santidade e glória de Deus. Não falo da nossa pequenez diante da grandiosidade do Senhor, mas daquilo que poderíamos fazer, o qual Deus nos capacitou a fazer e não fazemos em rebeldia.
Fico a imaginar que a salvação é algo sublime, que só podia vir do Senhor, mas mais fantástico do que a salvação é o próprio Deus. E não honrá-lO é triste; ao se abrir mão das coisas santas e desprezar as coisas simples que não realizamos por puro descaso.
Se ao invés do cuidado excessivo conosco lembrarmos do essencial, pregar a Cristo crucificado [1Co 2.2], o qual, ainda que fosse Filho, aprendeu a obediência, e veio a ser a causa da salvação a todos que lhe obedecem [Hb 5.8-9]; o disfarce cairia, e o Senhor seria revelado em nós pelo Espírito Santo, e ainda que em meio às tribulações e lutas, participaríamos da Sua glória, pois somos chamados a seguir os passos de Cristo, e a jamais cair.

06 agosto 2008

RENASCERE












Por Jorge Fernandes

Estive sozinho e abandonado,
Vivendo em conflitos,
Lágrimas corriam secas dos olhos
Dia após dia sem enxugá-las.
Havia um grito sem êxito,
O fôlego que se havia extinto,
As forças a se esvair,
E correr, apenas um exercício à força.
Dias tão escuros como a noite,
Noites, a aflição de lugares sombrios;
O corpo sonâmbulo,
E a mente a disputar uma última batalha,
Quase sem fim.
O inimigo alentado,
Eu, fustigado,
O desespero: a porta onde se entra e não sai,
A debater-me,
Como o naufrago em águas bravias;
Acorrentado às tentações,
A julgar tangível a liberdade
Que não alcanço,
E a ninguém posso tomar.
O fio último a escorrer pelo ralo...
Há anos tomado pela ilusão,
De que sentara no trono,
Quando na sarjeta só há plebeus.

A fúria dá lugar à paz,
O desânimo, esvaece,
A aflição não perscruta rijamente,
A tristeza não subsiste à graça,
E mesmo nos intervalos,
Sou impedido de cair.
Porque a luz veio-me ao encontro,
A dar o que jamais tive;
Na verdade fui acolhido,
E o Senhor livrou-me do caos.

Resgatou-me,
E a eternidade se fez hoje.

31 julho 2008

O ÚNICO SACRIFÍCIO








Por Jorge Fernandes

Ao me converter, Deus colocou em meu coração o desejo de ler a Bíblia integralmente, começando por Gênesis, claro! Ao caminhar por suas páginas, descobri a soberania, a graça, o amor de Deus para com os homens, o que não O impediu de julgar povos, tribos e indivíduos rebeldes a Si. Contudo, ao atingir o livro de Levítico entristeci-me por todos aqueles sacrifícios (fruto da minha ignorância e imaturidade espirituais), e o que muitos julgam fazer parte do "mar de sangue" do Antigo Testamento (igualmente fruto da ignorância e cegueira espiritual alheias). Foi difícil lê-lo e entender o porquê de tudo aquilo, ainda que Deus já tivesse colocado no meu coração que aquelas páginas eram fruto da Sua sabedoria, e como tal, eu deveria crer na sua urgência.

Em Levítico, vemos a providência de Deus para o Seu povo, a misericórdia com que Ele nos deu o escape, ainda que para isso o Seu Filho Amado tivesse de padecer em nosso lugar, para não sermos condenados à perdição eterna. E esta é a maior prova do Seu amor.

Hoje, passados três anos, estou novamente lendo o terceiro livro da Bíblia, e maravilhando-me. Ao invés de provar a "crueldade", vejo a manifestação da graça e misericórdia de Deus. Em suas páginas, a descrição detalhada dos sacrifícios de animais a fim de que sacerdotes, indivíduos e o povo de Israel expiassem os pecados, levá-nos até a crucificação do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade Santa. O ritual de purificação era um prenúncio, um sinal, a indicar o que ocorreria quando o eterno Filho de Deus encarnasse, se fazendo homem igual a nós e, na cruz do Calvário, nos substituisse pagando os nossos pecados e reconciliando-nos com Deus [2Co 5.18-21]. O sangue dos animais ali derramado significava o sangue imaculado do Senhor que se verteria por nós. Aqueles animais, primogênitos e perfeitos em sua natureza (macho, sem manchas ou defeitos) anunciavam o Cristo, o unigênito Filho de Deus, perfeito e sem pecado [Hb 7.26], que por Seu muito amor, fez-se iniquidade para que os Seus eleitos fossem salvos.

Ao escolher o animal conforme Lv 1.2-3, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, numa simbologia a qual o animal "recebia" os pecados dele, e então, era sacrificado, e os sacerdotes aspergiam o sangue da vítima em redor do altar para expiação dos pecados. Parece cruel e injusto um inocente, ainda que seja um animal, ser morto para que os pecados do homem fossem purgados... Mas não foi o que aconteceu com o Senhor? Sendo Deus, eterno, puro, santo e justo, Cristo fez-se como nós, e escolheu padecer na cruz para que tivéssemos a vida eterna [Fl 2.6-8]. Não é injusto?... Não! Pois assim aprouve a Deus fazer [Is 53.10]. Era necessário que a nossa iniquidade, os nossos pecados, a desobediência e a afronta a Ele fossem pagas. E como não fomos capazes de cumpri-la, Ele decidiu fazê-lo por nós [Jo 10.17]. Há algo mais maravilhoso? Saber que mesmo imerecidamente, ainda que sejamos iníquos, que não possuamos nada com o qual Deus se alegre, merecendo a condenação eterna no fogo do inferno, somos feitos justos por Ele, justificados eternamente pelo sangue derramado do Cordeiro no Calvário! Que Deus maravilhoso! Que grande libertação! Glória eterna ao Senhor!

As religiões pagãs sacrificam seus filhos. Milhões de bêbes foram mortos e ainda são em favor dos seus deuses; esposas foram sacrificadas juntamente com seus maridos mortos; virgens foram ofertadas para aplacar suas "iras"; velhos, doentes e aleijados encontraram a morte para afugentar os "maus espíritos" e as consequências de tudo o que eles representavam... Em meio as densas trevas que satanás impos a esses povos, eles continuaram e continuam sob a ira de Deus, e se tornaram apenas em assassinos frios e cruéis; pois a ignorância que os conservou não servirá de desculpa para os seus crimes diante do Tribunal de Cristo.

Mas Deus não escolheu sacrifícios e sacrificados para Si [Hb 10.8]. Ele mesmo se fez sacrifício por nós, imolando-se a Si mesmo em favor dos Seus escolhidos. Ele não quis nada de nós, antes nos deu tudo. Não exigiu nada, e nem esperou que fóssemos capazes de atender a alguma exigência, pelo contrário, "E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" [Rm 8.30] ; capacitando-nos pelo Espírito Santo a crer, sermos fiéis, e instrumentos para a realização da Sua boa obra no mundo. Nem quis nossos corpos autoflagelados, nem autopenitentes, nem que "pagássemos promessas" a fim de agradá-lO, nem o cumprimento de qualquer ritual, nem peregrinações e romarias, nada, absolutamente nada! Porque? Simplesmente por que não há algo que possamos fazer que Cristo não fez. Nem há nada que agrade mais ao Pai que Cristo não tenha feito. Se Ele, o Filho Amado, cumpriu todas as exigências da justiça divina, como melhorar o que já é perfeito? Se pensamos em fazê-lo, desmerecemos a obra consumada do Senhor Jesus, e queremos nos fazer iguais a Ele, e estamos condenados, porque jamais alcançaremos a salvação por mérito próprio. Antes, devemos nos rejubilar pelo que o Senhor fez em nosso favor, quando éramos inimigos de Deus [Ef 2.5;Cl 1.21]. Os sacrifícios não são mais necessários [Hb 7.27], pois o próprio Deus se encarregou de fazê-lo em nosso lugar [Ef 5.2]. Cristo nos substituiu, pagando a dívida que tínhamos para com Deus e a Sua justiça. Somos livres, e estamos livres unicamente pela Sua graça e amor.

Se você, como eu no passado, não compreendia os sacrifícios de animais em Levítico, saiba que os pagãos o achariam simples em demasia para os seus padrões de impiedade, e saiba que isso é fruto da corrupção da alma; e de que somente através da obediência, da subserviência e da entrega total de nossas vidas ao Senhor, encontraremos finalmente a paz, reconciliando-nos com o Princípe da Paz [Is 9.6], Rei dos reis e Senhor dos senhores [1Tm 6.15]. Pois não é necessário mais nenhum sacrifício, porque Cristo é o único holocausto que satisfez a Deus [Hb 10.12]... agora há somente o gozo de saber que Ele jamais se lembrará dos meus pecados e iniquidades... e desfrutar da Sua glória e salvação eternas.

25 julho 2008

AVIVAMENTO








Por Jorge Fernandes

É um tema morto entre nós cristãos hoje. Quase ninguém fala de avivamento, ou, quando o fazem, referem-se a um suposto “avivamento”, o qual não é nada mais nada menos do que uma espécie de coceira nos pés, nas mãos e nos quadris dos freqüentadores de igrejas "calientes". Toca-se a rumba, rock, samba ou forró, gritam-se aleluias num frenesi à moda dos doidivanos, em altíssimos decibéis, e pronto! O que poderia chamar-se tranquilamente de “baderna”, adquire a corruptela de “louvor”; e muitos o confundem com avivamento.
Dizem que o Brasil está em meio a um avivamento; que há uma “onda brazilis”; que a igreja nunca cresceu tanto em um país como aqui e agora, onde o número de evangélicos ultrapassou os 30 milhões; as igrejas e seus grandes templos estão cheios, onde o "povo de Deus" aplaude, pula, grita, rosna, late, rola pelo chão, e está afeito a tantas outras esquisitices ditas do "Espírito", que somente alguém cegado por satanás seria incapaz de reconhecer esse grande evento. Não é assim... “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” [Os 4.6]. O quê, e em quê, a igreja cristã tem influenciado o país? Qual o testemunho que esse "avivamento" tem levado para os descrentes? Tem havido arrependimento, temos nos desviado do pecado, e honrado o nome do Senhor? Há uma busca pelo servir a Deus e ao próximo, ou pela satisfação egoísta e pessoal dos prazeres mundanos? Pois, “os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera" [Mc 4.19].
Essa é, mais ou menos, a contribuição de Charles Finney. Ao construir o pragmatismo na igreja [a igreja de resultados a “ la Ricky Warren”], ele criou todo um sistema de apelo humanista, e de rejeição aos princípios bíblicos; onde, para que algo seja verdadeiro, tem de dar certo, tem de funcionar [no sentido mais primitivo que o homem conceber]. Por isso, a pregação tem de ser emotiva, a música sentimentalóide, as luzes hipnóticas, banners com frases estimulantes... um ritmo quase como os dos comícios políticos, ou seja, tudo a fim de agradar e satisfazer a carne, permeado por técnicas de psicologia e auto-indução. Então, o que se vê hoje são crentes “nominais” invandido templos à procura de distração para as suas consciências; e comoção, êxtase para os sentidos; uma cartaxe onde extravasar as emoções, desopilar, é o mesmo que fãs fazem em shows musicais, "raves", em orgias, ou em grupos de auto-ajuda; cujo objetivo é trazer um bem estar momentâneo, um alívio imediato, ao invés de arrependimento, perdão, reconciliação com Deus, e o novo nascimento em Cristo.
Onde houve avivamento, a sociedade foi mudada, sobretudo, porque os crentes refletiam uma vida cristã, nas quais as pessoas olhavam-nos e via revelado neles o caráter de Cristo; “para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” [Cl 1.10]. Havia o desejo de servir a Deus, de reverenciá-lO com suas próprias vidas, não apenas com palavras, porque um homem somente poderá refletir a Cristo exteriormente se o seu brilho vier do coração. Mas a maioria, como o Senhor disse, “se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” [Is 29.13]. Hoje, quase não se dá para distinguir um crente de um não-crente, a não ser aos domingos, quando estamos com nossas Bíblias, empunhando-as como a um adorno, e assim, desonrando ainda mais o evangelho, pois “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” [Rm . 2.24].
Infelizmente, não creio num avivamento no Brasil. Estamos anos-luz do viver e testemunhar os princípios bíblicos [a sociedade manifesta, irrefutavelmente, o desprezo para com Deus, e agoniza, sofre e faz sofrer] preocupados em demasia conosco para que isso aconteça. Creio, porém, no avivamento de uma igreja, de um grupo de igrejas, num local específico, onde aqueles que buscam verdadeiramente a face do Senhor serão cheios do Espírito Santo, abundando no amor, graça e misericórdia de Cristo, servindo-O. A história mostra que os avivamentos são isolados, e ocorrem em determinadas regiões ou grupos, como os puritanos na Inglaterra do Sec. XVII, ou os EUA, de Jonathan Edwards, no Sec. XVIII.
Contudo, devemos orar para que Deus, na sua misericórdia, avive a nossa igreja [primeiro, a nós e à nossa congregação], e, sobretudo, que tenhamos uma vida cristã, obediente aos princípios bíblicos, em amor para com todos [crentes ou não], em oração constante, para que a misericórdia e a graça do Senhor se manifestem em nós, como Ele disse: “Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” [Jo 11.40]; e, Paulo: “portanto, quer... façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” [1Co 10.31].

24 julho 2008

CULPADO

Por Jorge Fernandes

O pão a seu pai;
O grão à terra;
Vida e morte;
O campo se pesa;
Recolha-se os filhos;
A boca a comer,
Fartar-se do que não juntou,
Antes do sol se pôr.

Desce ao seu lugar em roupas novas,
O coração lacerado,
O choro como lavoura sem sega,
Nada sobra,
Nem se buscou,
Diante dele o silêncio,
O ai! de dor é quase um alívio.

A palavra amorfa caída entre o vazio da manhã,
O pouco da velhice restou,
Esteve conosco no pedaço desarraigado,
O desastre lhe coube,
Em vestes rasgadas no corpo sem perdão,
Se ausentou,
E não o tenho visto até agora.