Por Jorge Fernandes Isah
Áudio - Parte 1:
Áudio - Parte 2:
Áudio - Parte 3:
Para a tristeza da igreja, o dom que muitos dizem hoje ser de
profecia nada mais é do que uma forma sincrética ou supersticiosa de
adivinhação, como se fosse uma cartomante que não lê cartas, uma
quiromante que não lê mãos, um oráculo que não vê o futuro em uma bola de
cristal, ou um necromante que não consulta os mortos, podendo ser
praticamente qualquer outra forma de adivinhação: búzios, agulhas,
horóscopo, tarô, etc. Normalmente, os membros de uma igreja procuram o
"profeta" assim como um místico procura qualquer um dos seus "oráculos".
E é esse tipo de "profecia" que tem subsistido na igreja, atualmente.
Na ânsia de não confiarem o seu futuro a Deus, muitos crentes correm até
o "profeta" para saberem o que lhes reservará o futuro, demonstrando um
grau não somente de falta de fé, mas de incredulidade e desconhecimento
de Deus como o provedor, aquele que por sua providência cuidará dos
seus como ninguém é capaz de cuidar. Se isso não é uma forma
supersticiosa e pagã de se apoderar e utilizar de um instrumento divino
de revelação, não sei o que mais pode ser.
Na verdade, o próprio Deus tem nos alertado sobre os
cuidados com falsos profetas e falsas profecias, pois há um volume
grande de versículos na Bíblia que nos exortam quanto à essa prática
maligna. Mas, sobretudo, o cristão deve se afastar, fugir mesmo, de
qualquer tipo de curiosidade em decifrar o seu futuro pessoal, por meio
das vaticinações:
"Quando
entrares na terra que o SENHOR teu Deus te der, não aprenderás a fazer
conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem
faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem
prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem quem
consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os
mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por
estas abominações o SENHOR teu Deus os lança fora de diante de ti." [Dt 18:9-12].
Há
de se entender que o profeta tinha um papel muito claro, o de proclamar
uma mensagem em nome de Deus [no AT, designada pela palavra "nabi"; no
NT, por "propheteia"]. Esta função tem uma responsabilidade esmagadora,
por isso, muitas vezes, ele era reconhecido como aquele que transmitiria
ao povo uma mensagem que lhe pesaria sobre a alma até que fosse
pronunciada. Os pagãos envolvem a profecia em um mistério e normalmente
estão atreladas a métodos humanos, sinais e presságios, que também
podem ser cartas, búzios, e outros tantos artefatos, e até mesmo na
elaboração de técnicas com o fim de se aperfeiçoá-la, como provam várias
formas de ocultismo, onde esse e outros conhecimentos são ensinados e
descritos em seus mínimos detalhes a fim de que o processo seja
compartilhado entre os adeptos, e até mesmo aperfeiçoado em sua
execução.
Ao contrário deles, o verdadeiro profeta recebia a mensagem
diretamente de Deus, sem que houvesse uma "escola de profetas", ou a
utilização de quaisquer meios humanos para se alcançá-la. Outro detalhe,
é que os pronunciamentos não tinham o objetivo de revelar algo
individual e que fosse relevante apenas para uma pessoa. Até mesmo
aquelas que podem ser chamadas de "particulares" tinham o intento de
revelar algo ao coletivo, à nação de Israel ou à igreja, como as que
demonstravam o futuro de reis e, por conseguinte, de seu reinado e
súditos, sempre estritamente ligadas ao relacionamento divino, positiva
ou negativamente, na obediência ou na rebeldia. É claro que jamais
podemos esquecer-nos das que anunciavam o "Messias", Cristo, revelando
aquele que viria, para cumprir a missão específica de salvar o povo de
Deus. As profecias divinas estão intrinsecamente ligadas ao conhecimento
de Deus e sua obra, como a realidade do seu senhorio sobre os homens,
sejam bons ou maus, e efetivamente o seu reino, soberano e eterno.
Pedro
nos adverte que "sabendo primeiramente isto: que
nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.
Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum,
mas os
homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" [2Pe
1:20-21]. O que ele diz? Duas coisas: primeiro, que nenhuma profecia
pode vir senão de Deus e inspirada por ele. Qualquer outra forma de
profecia, em si mesma, já não o é, pois descumpre este critério que a
define como tal. A segunda é que o apóstolo exorta a não interpretar a
profecia como algo pessoal e particular, pois é outro equívoco. Usá-las
de maneira errada, dando-lhe uma significação individual, que se aplique
estritamente ao intérprete é tirá-las do contexto e objetivo primeiro, o
qual é a vontade de Deus. Também não se pode entendê-la exclusivamente,
como algo a parte do escopo de doutrinas fundamentadas no decorrer da
história eclesiástica. É assim que surgem as heresias: pega-se um texto
bíblico e força-o a dizer o que ele não diz. Por isso, a importância de
todos os santos, em todos os tempos, que dispuseram e formalizaram,
guiados pelo Espírito Santo, o que chamamos de doutrina cristã.
Desprezar o trabalho e esforço desses irmãos é ignorar e não reconhecer a
soberania de Deus na sua igreja, e não tê-la como um corpo que é, cuja
cabeça é Cristo.
Outro
ponto, que distingue o verdadeiro do falso profeta, é o fato de que a
mensagem entregue pelo Espírito de Deus se cumpria, infalivelmente, ao
contrário daquele que apenas diz falar em nome de Deus:
"Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei
as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe
ordenar.
E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele. Porém
o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome,
que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros
deuses, esse profeta morrerá. E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o SENHOR não falou? Quando
o profeta falar em nome do SENHOR, e essa palavra não se cumprir, nem
suceder assim; esta é palavra que o SENHOR não falou; com soberba a
falou aquele profeta; não tenhas temor dele." [Dt 18:18-22].
Um
exemplo de falsas profecias são aquelas realizadas por Joseph Smith,
mórmon, Ellen White, adventista, e Charles T. Russel, testemunha de
Jeová, que afirmaram receber de Deus mensagens datando, com exatidão, a
segunda vinda do Senhor Jesus, o que não aconteceu, e os fez reverem as
datas, postergando-as e, novamente, o Senhor não retornou. Quanto a
isso, o próprio Senhor nos mostra a ilegalidade, mas também a
ignorância, de tais "homens de Deus":
"Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas
unicamente meu Pai.
E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do
homem.
Porquanto,
assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e
davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca,
E não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos,
assim será também a vinda do Filho do homem.
Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro;
Estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. Vigiai,
pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor.
Mas
considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite
havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa.
Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há
de vir à hora em que não penseis" [Mt 24:36-44].
A
advertência é clara e explícita, mas esses homens e mulheres
negligenciaram-na, levando muitos a segui-los e a propagarem seus erros,
tornando a fé uma espécie de loteria, só que uma loteria onde ninguém
ganha. Não satisfeitos, eles insistiram em vários ensinamentos
doutrinários que contradizem e desdizem a Bíblia, como a Trindade, a
expiação de Cristo, salvação, e muitas outras coisas que tornam essas
igrejas em seitas, e sua doutrina em heresia, que apelam a um tipo de
cristianismo anticristão e bíblico.
A Bíblia exorta-nos a ter cuidado e prudência, a examinar
tudo e reter o bem, e nos avisa de que muitos falsos profetas surgirão,
e, por isso, não devemos crer a todo espírito, mas prová-los, se
procedem de Deus [1Jo 4.1]. Mas, e as mensagens que pagãos e certos
"cristãos" recebem e se realizam? Como explicá-las? Isso prova que elas
são verdadeiramente de Deus?
Entraremos em uma questão bastante delicada, e que pode
trazer desconforto para alguns irmãos. Porém, não devemos refugar o
estudo da questão, com pena de sermos negligentes naquilo que Deus nos
deu a entender e a praticar, como cristãos que não tomam o leite
falsificado, mas estão fundamentados na verdade. Alguém pode dizer que
estou a chamar de mentirosos os que acreditam em profetas, ao molde
escriturístico, para os dias de hoje. Na verdade, este é o lado negativo
da afirmação de que eles estão circunscritos aos tempos remotos e
históricos em que Deus entregou aos homens a sua revelação especial e,
como tal, ela foi concluída. Muitos se especializaram na mentira, no
engano, para obterem proveito próprio, seja de forma monetária, em
poder, em glória, ou qualquer outra motivação. Há porém aqueles que são
enganados e se deixam enganar, e que não podem ser considerados
mentirosos, pois acreditam piamente no que dizem, como se fosse a
revelação direta de Deus. Esses são ignorantes, desconhecem a verdade,
mas nem por isso deixam de ser responsáveis pelo próprio erro.
É o que a Escritura nos mostra, pois, como à época de
Paulo, hoje muitos se especializaram em adivinhações, em previsões do
futuro, e a isso chamam profecia. Mas, será? Em Atos 16, a partir do
verso 16, encontramos uma serva que dava muitos lucros aos seus senhores
adivinhando. Certamente ela dava lucro porque, se não todas, ela
acertava algumas das suas previsões. E o que fez Paulo? Após muitos
dias, perturbado, ele expulsou dela o espírito adivinhador, causando a
ira dos senhores que viram o seu lucro evaporar-se. Então, por que crer,
agora, que Deus modificou o dom de profecia, tornando-o em uma mera
previsão do futuro? E de feições gerais para a utilidade da igreja
transformou-a em um caráter estritamente individual?
Já vimos, quanto aos dons de cura, fé e operar
maravilhas, que esses homens viveram num período específico, num
contexto histórico em que a palavra de Deus escrita ainda não havia sido
concluída, e de que esses sinais serviam para testificar que a mensagem
entregue por eles era divina. A prova está no fato de não vermos
sinais, hoje em dia, como aqueles executados por profetas e apóstolos,
sem contar os ainda mais especiais realizados por Cristo. Logo, um dos
motivos para a profecia, senão o mais importante, não mais existe, já
que o cânon está fechado e qualquer coisa que se acrescente ou se retire
dele é maldito.
Vimos também que profecias de cunho pessoal ou
particular não existem, ao menos da parte de Deus, e de que os falsos
profetas têm por objetivo desconstruir e contradizer a verdade do
Evangelho. De certa forma, esse papel coube inicialmente à serpente, no
Éden, que "reinterpretou" ou interpretou equivocadamente. Ainda que
agisse dolosamente, ela traduziu, ao seu modo, o que Deus teria dito e
não disse, a fim de que Adão e Eva caíssem em sua lábia e ardil. O falso
profeta é um imitador barato, que aparenta ser verdadeiro, mas que é
contrário à verdade, odiando-a.
Mais um ponto, é que os profetas atuais, em sua maioria, são
exaltados e populares, ao contrário dos antigos e verdadeiros profetas.
Há de se entender que o homem, de forma geral, é avesso à verdade, e
uma presa fácil para os enganos produzidos por emoções e sensações. Da
mesma forma, o pragmatismo, a ideia de que se determinada coisa funciona
e dá certo é verdadeiro, domina o pensamento anti-intelectual dos
nossos dias. E com o sucesso deles, com os seus "sinais", uma gama
grande de heresias tem subsistido em muitas igrejas e movimentos que se
dizem cristãos. E muito disso tudo tem como fruto as falsas profecias,
os acréscimos à Palavra que são pregados e defendidos exatamente por
aqueles que se autointitulam como milagreiros e homens de poder.
A verdade é que Deus nos ordena a tomar cuidado, e não
sermos incautos, com os falsos profetas: "Acautelai-vos, porém dos
falsos profetas,que vêm até vós vestidos com ovelhas, mas,
interiormente, são lobos devoradores" [Mt 7.15], e ainda, outra vez:
"Acautelai-vos, que ninguém vos engane; porque muitos virão em meu nome,
dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos...
E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas
aquele que perseverar até ao fim será salvo" [Mt 24:4-5,11-13]. Especialmente devemos ter uma atenção especial com os sinais, porque
eles, ao invés de remeterem para Cristo, acabam por apontar para outro
caminho, o qual é o de destruição. Foi o que Paulo disse ao jovem Timóteo: "Mas o Espírito Santo expressamente diz que nos últimos tempos
apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a
doutrinas de demônios. Pela hipocrisia de homens que falam mentiras,
tendo cauterizada a sua própria consciência" [1Tm 4.1-2].
Então, podemos assegurar que muitos deles são servos de satanás, e
de que o próprio satanás produziria, pela mão de seus escravos, milagres
e prodígios a fim de que confirmassem sua mensagem espúria e maligna.
Senão, vejamos: "E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará
pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;
A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o
poder, e sinais e prodígios de mentira,
E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não
receberam o amor da verdade para se salvarem.
E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a
mentira;
Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes
tiveram prazer na iniquidade." [2Ts 2:8-12].
Em outro
trecho, o apóstolo se refere ao fato de muitos obreiros se
transfigurarem em apóstolos de Cristo, quando na verdade não o são:
"Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos,
transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o
próprio Satanás se transfigura em anjo de luz; não é muito, pois, que os
seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais
será conforme as suas obras" [2Co 11:13-15]. Paulo fala daqueles que,
vestindo-se de servos de Cristo são, na verdade, ministros de satanás
para, na igreja, corromper a doutrina, a paz, a fé e a verdade, sendo,
portanto, inimigos do Senhor e do Evangelho. Eles combatem a verdade e
todo aquele que a proclama, assim como faziam na igreja primitiva, além
de, invariavelmente buscarem a glória para si, para seus feitos, como
convém àquele que é escravo da sua própria corrupção e deixa-se levar à
perdição, mas não antes de levarem muitos consigo.
Com isso, estou a dizer que as profecias atuais cumprem
propósitos distintos das antigas profecias, as do período em que a
revelação especial estava sendo escrita, e que não são trazer algo novo
de Deus, mas exatamente se opor àquilo que ele mostrou-nos pelas mãos de
homens escolhidos por ele no período em que a Bíblia se formava, cujo
trabalho foi concluído. Além do que, Paulo chama-nos à atenção para o
objetivo da profecia: ser útil à igreja. Ora, se a palavra de Deus está
completa, de que mais a igreja precisa para ser edificada e abençoada?
Nada. Portanto, não há novas profecias, nem novos profetas, no sentido neotestamentário, pois não são mais necessários. O verdadeiro profeta,
hoje, é aquele que proclama o Evangelho tal qual foi entregue pelo
Senhor à igreja: a Bíblia Sagrada. Este é o que fala a palavra de Deus,
revelando aos que não a conhecem a sua santa e bendita vontade, bem como
quem ele é e o que fez e tem feito por nós, e, também, quem somos.
Quando, pois, Isaías [este, um verdadeiro profeta] diz:
"À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é
porque não há luz neles", é assim que também penso: o verdadeiro profeta
é aquele que a proclama, sem acréscimos ou retaliações, e o falso é
aquele que diz ter Deus dado-lhe uma nova revelação.
A estes, devemos resistir. E, em última instância, abandoná-los ao seu próprio engano.
Notas: 1) Recentemente, li um pronunciamento desafiador de um irmão que se autointitula profeta, o qual ouviu do próprio Deus a sua predição. Ele afirmou que tudo o que disse [ligado à economia global, que mergulharia o mundo em uma crise sem precedentes] se cumpriria infalivelmente, e de que todos aqueles "incrédulos" calariam-se quando a tal profecia se realizasse. Muito do que ele disse a própria Bíblia diz; e, outro tanto, os economistas, que não arvoram-se em "ouvir" a voz de Deus, também preveem ou previram. Mas o que mais me surpreendeu foi a atitude provocativa e petulante do profeta ao acusar, e quase amaldiçoar, quem não o levasse a sério de não ter parte com Deus. Parece que ele mesmo se autoconsidera bastante, ao ponto de condenar os céticos, não em Deus, mas nele. Como ele não disse nada de novo, apesar de insistir em afirmar o contrário, penso apenas em um "surto", o que em nada glorifica a Deus nem edifica a igreja. E as profecias modernas têm essas características, diferentemente das proferidas pelos verdadeiros profetas vero e neotestamentários.