20 novembro 2025

Submissão - Michel Houellebecq

 




Jorge F. Isah

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Li este livro em 2016, mas, diante das guerras atuais, especialmente o embate entre os grupos terroristas do Hamas, Hezbollah e outros, financiados pelo Irã contra Israel, resolvi aprofundar-me mais em “Submissão” (que em árabe significa Islã), o livro que trata exatamente da invasão muçulmana à França e o fim iminente do que poderia se chamar Ocidente nas próximas décadas.

O autor, Houellebecq, já foi acusado de praticamente tudo e, até mesmo, de ao fazer literatura com nítido viés de aversão e rejeição às pautas humanitárias, ganhar milhares de euros e dólares. A intenção seria causar terror, preconceito e perseguição aos inocentes e bem-intencionados islamitas.

Muitos torcem o nariz, outros o consideram frouxo em suas denúncias, e ainda há aqueles que o têm como porta-voz da derrocada europeia atual.

Gosto de literatura e não me importo se existem fatores à direita ou à esquerda, desde que escrita com apuro e qualidade. Ao revelar os problemas e caminhos que o Ocidente está a trilhar, ela se torna ainda mais necessária e ampla. E o multiculturalismo, com todos os equívocos (e mínimos acertos), seja na Europa, América ou Brasil, é um assunto sobre o qual deveríamos nos debruçar e analisar sem os clichês e paixões nos quais o pensamento moderno se habituou e estagnou.

Por mais que o considere um romance atual, pois trata da invasão cultural e, por que não, militar, algo que já foi decantado e alardeado há décadas por grandes intelectuais como Theodore Dalrymple, Roger Scruton, Olavo de Carvalho, entre outros, nunca é demais escrever sobre o assunto.

Por mais que trate do domínio islâmico no Velho Continente, os atentados, estupros, linchamentos e a implantação da Sharia na Inglaterra, França e Alemanha sejam uma realidade.

Por mais que fale da vitória de um partido, a Fraternidade Muçulmana (aliada ao Partido Socialista Francês), assumindo o poder político do país e rapidamente mudando a legislação e aplicando as suas leis.

Por mais que ele discuta algumas ideias em meio a uma descrença e niilismo do personagem principal, François, que se vê rapidamente cooptado pela liderança muçulmana; ainda assim, o livro de Houellebecq, apesar da propaganda alardeada de escritor polêmico, me pareceu aquém das expectativas.

Em meio às críticas de ser ultradireitista, chocante, divisionista, xenófobo, controverso etc., pela mídia esquerdista/liberal, suas alianças e intenções nada morais, e por aqueles que veem mas fingem não ver, esperava algo do tipo um desnudar, um escancarar da "colonização" islâmica na França, revelando suas táticas, violência e o nítido interesse de destruir a civilização ocidental, com a chancela de muitos cidadãos europeus. Em parte, a narrativa obteve êxito.

Contaminados por discursos década após década, o cidadão comum, e mesmo um “intelectual” tal qual François (leciona na Universidade de Paris, através do benefício de bolsas, e nunca teve um emprego de verdade), não é de se estranhar o escândalo e protestos gerados pelo livro. Anestesiados, não conseguem ver além do próprio nariz, enquanto ateiam fogo em si mesmos, na sua cultura e história.

Certa vez, vi a declaração de um ex-militar israelense (e aqui a razão de aprofundar o assunto de “Submissão”) de que, enquanto os muçulmanos querem o domínio, controle e conquista do Ocidente, o liberal cheio de "não me toques" e higiênico quer eleição, e será por ela que o Islã ganhará seus novos territórios. Alguém duvida? Várias cidades espalhadas na América e Europa têm o seu quinhão de governantes oriundos do Islã. A implosão se dá de dentro para fora, seja em metrôs, aviões, prédios ou nas urnas. A democracia tão venerada, frágil e ineficiente, é a mesma a suicidar-se ao dar lugar à teocracia.

François, após ser defenestrado da cadeira na universidade, foi cooptado em troca de se “converter” ao Islã, ganhando três vezes mais do que antes. E assim, boa parte da intelligentsia está disposta a se “sacrificar” por si mesma.

São também os mesmos progressistas que defendem o terror do Islã, encobrem os seus pecados mais hediondos, os crimes mais abomináveis, e demonizam Israel que, como a França de Houellebecq, é democrata e morrerá com a corda que pôs no próprio pescoço. É claro que não estou a falar de escatologia ou do Israel de Deus, mas analisando os fatos friamente. E eles estão aí para todos verem. Basta querer. E é nesse aspecto, ao descrever o protagonista como o homem moderno sem padrão, sem limites, sem domínio, sem sentido, que o autor se sobressai. François é a derrocada do Ocidente; o homem não somente dominado pelo poder político, mas pela própria fraqueza, imoralidade, maleabilidade para aceitar ou fazer vistas grossas ao mal. Isso vale para todos nós que repetimos diariamente a frase atribuída a Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Por essas e outras, não me simpatizo em nada com o liberalismo e o seu viés mais radical, o libertarianismo, que visa apenas o sucesso e conquista material, achando que um governo economicamente menos interventor é a solução de todos os problemas, enquanto “pregam” o relativismo moral e o fim dos padrões culturais, religiosos e tradicionais. O que recebem com uma mão acabam por dar com as duas. Tudo é "menos Estado", como se o entrave fossem as leis e não o tipo de leis, e cada um pudesse viver a seu bel-prazer, desde que não se prejudique ninguém... Tá, cara-pálida! Quando o despertador vai tocar?!... Acham que tudo se resolve com o voto, mas, e a qualidade desse voto?

Para resumir, basta uma olhada ao redor e ver onde o relativismo e os votos nos fizeram chegar; muito mais rápido do que alguém, em sã consciência, pudesse imaginar.

François é este homem: vazio, oco, como T. S. Eliot escreveu em seu famoso poema. Um “maria-vai-com-as-outras”, desde que lhe sejam concedidas algumas vantagens. E se vender bem é, no final das contas, a melhor jogada. Com isso, em seu niilismo, multiculturalismo, relativismo, anticristianismo e tudo o mais de fétido que a modernidade construiu, ele se “converte” ao Islã, pensando no gordo salário e nas mulheres com quem se casará. Não é difícil imaginá-lo a rezar o “salat”... submisso e conformado.

Ao terminar a leitura, fiquei me perguntando se aquela descrição e alerta resultariam em um abrir de olhos do leitor: sinceramente, fiquei em dúvida.

Os mais otimistas o viram como um promotor de ideias e, como tal, achei-as, em algum sentido, perdidas em sua própria denúncia. Como um livro polêmico (talvez para a sociedade pós-cristã e ocidental, como a francesa, mas ainda distante da brasileira), pareceu-me quase inofensivo em sua denúncia escandalosa.

Na verdade, não gostei mesmo da narrativa; ela se desenvolve meio sôfrega e não me cativou na maior parte do tempo. Chego a concluir que é um livro mal escrito, não é uma porcaria, evidente, mas está longe dos grandes autores e clássicos. Pareceu-me frio, distante, mas entre o frio e o morno, que não é uma coisa nem outra, é preferível a contenção da geladeira. Esperava mais, sobretudo pela crítica favorável ao estilo e prosa de Houellebecq, e também sobre o enredo proposto.

No final das contas, talvez se eu não tivesse ouvido falar tanto de "Submissão", sem uma expectativa de que leria uma obra incomum, muito superior ao que se tem escrito mundo afora, seria possível o livro me agradar mais. A propaganda, neste caso, não funcionou a contento.

Resumindo: "Submissão" não é um livro ruim, longe disso, mas não é tudo o que dizem. Ele abarca muitos elementos existenciais, culturais e políticos que levam à reflexão. Porém, ficou um gostinho de "quero mais", que o autor pode corresponder em sua próxima obra ou, quem sabe, em uma releitura.


Avaliação: (★★★)

Título: Submissão
Autor: Michel Houellebecq
Editora: Alfaguara
Páginas: 256


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