17 fevereiro 2009

ESCONDERIJO



Por Jorge Fernandes

Folhas ao vento, cinzas ocultas na terra enlodada,
A memória zomba as palavras escondidas ao inimigo,
Depois que se cala, os dentes exibem restos de carne não comida,
O rosto esconde-se entre culpas e pecados do passado,
Sinais herdados, coisas amargas a consumir a causa justa.
Como a traça roí a roupa e não teme a morte,
Vagueia-se pelo deserto, na desordem dos caminhos reticentes,
Em sombras confiscadas pelas trevas,
Onde não há quem solte, nem há quem prenda, apenas a vida dá lugar à morte.
Quando cai o sono, adormece a cama,
A alma buscaria as veredas bucólicas, a repousar sob os álamos,
Mas desvia-se por entre os ossos aflitos, suporta o castigo contemplativo,
Em que a noite visita os moídos, inclina-se sobre os fortes, reparte o dia,
Porque a dor é o mensageiro dos perdidos, o pão o resgate da carne,
O pó a resposta ao acordo desfeito, o fôlego último a pelejar na guerra perdida;
Há o leão a saciar-se com a fome, e os trovões a sussurrar o dilatar dos céus.
O vento traz os dias, raios a colorir os rostos secretos,
Gotas de orvalho endurecem-se na superfície congelada,
Ferro a esculpir a rocha, cascas de árvores arrancadas à unha,
O espírito afugentou a momentânea alegria, e não mudará as coisas indesejadas.
Ao redor, o que não me pertence faz parte de mim,
Espalha-se a raiva onde estava confiada, pronta a perseguir o pecado,
Passo a passo, lado a lado, a sentença é o pretexto à rebeldia,
Sem forças não há protesto que dure,
Fica-se a replicar às vezes, mão posta à boca,
Porque a vida é o esconderijo da morte.

04 fevereiro 2009

COMENTÁRIO A JÓ 1.1-12









Por Jorge Fernandes Isah

      O livro inicia notificando-nos que Jó habitava a terra de Uz, assim chamada por causa da tribo aramaica cujo nome derivava de um dos “Uz” da Bíblia: 1) O filho mais velho de Naor (Gn 22.21); 2) O neto de Seir (Gn 36.28); ou 3) O filho de Arã (Gn 10.23). Provavelmente, situava-se no deserto da Arábia ou da Síria, a leste da Palestina; alguns indicando-a em Edom.
               Em seguida, lê-se: “e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal” (v.1). É uma assertiva valorosa que a Escritura faz de Jó, o que nos leva a meditar: ele esforçava-se para ser assim, ou Deus operava, capacitando-o?

               Certamente Jó se esforçava, mas mediante Deus produzir nele o esforço. No fim, Jó era sustentado por Deus para pensar e agir como justo, “porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fl 2.13). O seu caráter era conseqüência da vontade e daquilo que Deus produzia nele, o que, porém, não impede a Bíblia de exortar-nos à retidão: “aparta-te do mal, e faze o bem; procura a paz, e segue-a” (Sl 34.14); de denunciar-nos: “não há um justo, nem um sequer, não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3.10-12); e declarar que somente Deus “cria em mim... um coração puro, e renova em mim um espírito reto” (Sl 51.10).

                Como a analogia que o Natan* sugeriu:
“‘Jorge, você leu o meu livro e o personagem Jó que eu escrevi? O que achou? É um personagem justo, reto, íntegro...’. Assim, os méritos do caráter do personagem são do autor, e não da criação”.

                De outra forma, como Deus poderia assegurar a integridade do caráter de Jó? E de que se apartaria do mal? Se fosse “livre” no sentido de “escolher” ser justo e reto ou não (como querem os arminianos), essa liberdade poderia mudar com o tempo, e mesmo que não mudasse, como Deus teria a certeza de que Jó manter-se-ia fiel? Já que não depende da ação de Deus, mas da vontade do homem? Isso derruba qualquer idéia de soberania divina.

                Alguns dirão que a presciência garante a Deus a certeza do futuro. Mas se a presciência é antevisão do futuro, e esse futuro está sob a volição ou arbítrio do homem, que poderá alterá-lo a seu bel-prazer, como Deus terá certeza de que ele efetivamente ocorrerá? Só há uma resposta: o futuro precisa ser infalível; e Deus garantir que se cumprirá inevitavelmente, certificando-se de que cada etapa realize-se infalivelmente, de acordo com o Seu plano eterno. Tanto o desígnio geral como os mínimos detalhes serão assegurados por Deus de tal forma que não se frustrarão, então, o pensamento, a vontade e as ações humanas estão dentro do escopo da soberania divina, a qual Paulo diz: “conforme o propósito daquele (Deus) que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11); “porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28).

               Portanto, da perspectiva humana, a decisão é do homem, mas ela não é livre, pois produziu-se pela vontade soberana de Deus. Jó era o que Deus queria que fosse, da mesma forma que somos em Cristo o que Deus quer que sejamos, “com o fim de sermos para louvor da sua glória” (Ef 1.12).


         Em seguida, somos avisados de que Jó era um homem próspero, “maior de todos os do oriente” (v.3). Tinha dez filhos, sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas, além de servos e outros bens (v.2-3), o que faria dele um milionário, na atualidade. Apesar de todas as posses, ele não se rendia ao orgulho e vaidade humanas, antes sabia que tudo o que possuía provinha do Senhor. Diferente do Pai, os filhos banqueteavam-se numa espécie de “rodízio festeiro” em suas casas (v.4), e não demonstravam o mesmo zelo para com Deus, o que levava Jó a encarregar-se de, decorrido o turno de dias de seus banquetes, oferecer “holocaustos segundo o número de todos eles” (v. 5). O seu temor era de que os filhos pecassem e, portanto, afrontassem a Deus; incumbia-se então de aplacar a ira do Senhor sobre a sua casa. E essa atitude era contínua, mostrando não somente a reverência, mas a necessidade de obediência e da busca constante de santidade diante de Deus, que lhe abençoava com toda a sorte de bênçãos.

              Porém, “num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles” (v.6). Parece que o Senhor convocou os seus anjos, incluindo o próprio diabo, para um concílio. Há a dúvida se satanás foi um “penetra” na reunião. Mas pelo relato no verso 2.1, ele era constantemente chamado à presença de Deus, para uma espécie de “prestação de contas”. Quanto a ser um filho de Deus, parece haver uma distinção entre ele e os demais anjos, porque o advérbio “também” denota que satanás veio “entre” os filhos de Deus, sem sê-lo, como uma criatura discordante, diferente dos demais anjos.

              A pergunta que o Todo-Poderoso faz-lhe mostra que era esperado: “Donde vens?”. Deus parece desconhecer o trajeto e a atividade do diabo, mas há de se entender que a narrativa bíblica é voltada a uma perspectiva humana, e se não houvesse a indagação, jamais saberíamos o que satanás fazia. Ao que respondeu: “De rodear a terra, e passear por ela” (v.7). O dito é verdade, mas a mente maquiavélica do inimigo quer induzir-nos ao erro de pensar que ele estava a flanar pela terra despreocupadamente, como um turista fortuito. Não é isso. Satanás anda pelo globo com claros objetivos: Incitar-nos ao pecado como fez com Davi (1Cr 21.1, 1Jo 3.8); Acusar-nos diante de Deus como fez com Jó (Jó 1.9-11; 2.4); Praticar o mal (Jó 2.7); Opor-se ao homem como fez com Josué (Zc 3.2); Tentar-nos como fez com Jesus (Mt 4.1, Mc 1.13, Lc 4.2, Ap 2.10) e Pedro (Lc 22.31); Prender-nos a doenças (Lc 13.16); Transfigurar-se em anjo de luz (2Co 11.14); Mentir (Jo 8.44), e levar-nos à mentira como fez com Ananias (At 5.3); Enganar, e combater toda a justiça (At 13.10); Armar ciladas (Ef 6.11); Matar (Hb 2.14); e outras obras malignas que o espaço não permite descrevê-las.

              Se há alguma dúvida quanto à atuação do diabo, basta meditar na interrogação de Deus: “Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (v. 8). O diabo sabia das qualidades de Jó, pois ele não as invalidou ou refutou-as, porém, justificou-as como sendo fruto de toda a bondade de Deus, e que somente subsistiam por causa das bênçãos recebidas (v.10). Assim, ele reputava o zelo de Jó aos bens materiais, à prosperidade material, a qual explicaria cabalmente a sua fidelidade comodista. Em seu papel acusador, satanás questionou o temor do servo para com o Senhor (v.9), fazendo-o de maneira limitada, já que a sua única base era espreitar a Jó como seu adversário, bramando como um leão a fim de tragá-lo (1Pe 5.8); sem que lhe fosse dado conhecer o seu coração. Portanto, satanás tem um poder restrito, e apenas a idéia do que o Criador a efeito faz-lhe conhecido.


        Como ignorante da verdade bíblica (igual à maioria dos homens), satanás não reconhece a soberania de Deus, pois julga ser capaz de Jó cair da graça e blasfemar “contra ti na tua face” (v.11). Somente o controle divino sobre todo o processo da vida de Jó pode permiti-lO confiar na sua integridade moral e espiritual. Assim, sabendo que ao final tudo ocorreria conforme a Sua vontade, Deus estendeu a Sua mão, e tocou em tudo quanto Jó tinha, aceitando o desafio diabólico: “Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão” (v.12).

            Há duas implicações no verso 11: 1) Satanás diz a Deus que “estende a tua mão e toca-lhe em tudo quanto tem”, revelando que o mal provém de Deus, e de que Ele determina o mal através da ação subordinada do diabo. Deus planeja, deseja e ordena que satanás tire tudo de Jó, mas é o diabo quem tira, ao desejar, no íntimo, a sua ruína. Existe uma coordenação de vontades que culminará com Jó perdendo tudo o que possui.

             2) Satanás tem a certeza de que o servo blasfemará contra Deus, demonstrando que, tanto não crê na soberania divina, como desconhece o coração de Jó. O erro do diabo é o mesmo de muitos homens: duvidar de Deus, e ignorá-lO. Portanto, no decorrer da narrativa, o diabo literalmente “quebrará a cara”, será desmascarado, e sofrerá nova e flagrante derrota.

             Igualmente, há duas inquietações no verso 12: 1) Deus entrega ao diabo tudo quanto Jó tem. Significa que Ele deixou o controle para o inimigo? Não. Seria o mesmo que afirmar, como os teístas relacionais, que Deus “abriu” mão da Sua soberania. Mas, por quê? Para deixar de ser Deus? É possível Deus deixar de ser o que é? E o fazendo, não se tornaria em outra coisa, menor que Deus? O teísmo-aberto é tão ilógico, insano e antibíblico que não requer maiores considerações. Assim, o que ocorre é Deus autorizar o diabo a agir segundo a Sua vontade.

            2) Satanás é um anjo (ainda que caído), e como tal, um mensageiro, não de boas novas, mas de destruição. Há confusão quanto a se distinguir o papel do diabo na história. Muitos acreditam que ele é o oponente, uma força que se contrapõe a Deus. E isso é dualismo, antibíblico. Mas o que a Escritura nos revela é que satanás não passa de um servo (como dizia Lutero, “o capacho de Deus”), o qual executa rigorosamente o que o Senhor planejou. Na verdade, ele é o nosso inimigo, não o inimigo de Deus; que se quisesse, já o teria destruído, bem como a nós e ao universo. Se não o fez, é porque não foi a Sua vontade; e a Sua vontade é de que tanto o diabo, como o homem e o mundo subsistam pelo Seu poder. Talvez esta seja a parte menos tolerável, que mais incomode, mas a qual devemos nos render: saber que o diabo existe, vive e se move pelo poder soberano de Deus.

            Como instrumento divino, ele é uma espécie de operário encarregado de cumprir as ordens do construtor, ou um procurador com poderes limitados e específicos outorgados por Deus para agir em Seu nome. De qualquer forma, mesmo que não haja consenso nessa questão, é claro, notório e incontestável o servilismo do diabo a Deus.

             Logo, ao receber suas ordens, restou-lhe somente cumpri-las, e “saiu da presença do Senhor” (v.12).


*O Natan é o tutor do blog “Reflexões Reformadas”, com o qual tenho examinado a questão da soberania de Deus; sem que ele subscreva as minhas opiniões.

31 janeiro 2009

CATENA















Por Jorge Fernandes

Construir notas sinfônicas... no silêncio,
Pintar a vida à óleo... na tragédia,
Erigir torres ao céu... nas profundezas,
Tocar as nuvens... no calabouço,
Esculpir a realidade... no delírio,
Eternizar a história num flash, na escuridão dos fatos,
Imortalizar a morte, trazer à vida os defuntos,
Fazer das letras sonhos, contar os grãos de areia na ampulheta,
Traçar retas que se encontram, e linhas que se fundem.
O homem... pela arte.

Desenhar plantas nas paredes,
Colar estrelas e luas no teto,
Tatuar a pele, tingir cabelos,
Mudar as formas do corpo,
Injetar anfetaminas na mente,
Plantar a melhor planta,
Colher o melhor fruto,
Criar o sapato ideal para pés tortos,
Levar à perfeição o existente,
Quando a perfeição caiu no Éden.
E o homem morreu... por um desejo.

A bomba que destrói,
O remédio que não cura,
O desprezo que não envergonha,
O cuidado que se despreza,
A mão que molesta,
O porrete que se estende,
A mordida que dilacera,
A frieza que acomete.
É o homem morto... no desejo.

Desejo de ser deus,
De alcançar as alturas,
De voar com as aves,
Cantar com os pássaros,
Nadar contra a correnteza,
Sem esperar a morte nas cabeceiras.
O homem sem lugar... no desejo.

A angústia cria,
A dor cria,
A falta cria,
O medo cria,
A mentira cria,
E o mal se refestela... no homem morto,
No desejo do cadáver que não pode querer, nem criar.

Porque onde Deus não está, não há substituto,
Nem como substituí-lO.
O vazio não se preenche, a despeito do esforço.
Resta apenas o vácuo,
E o homem insurge-se a nada, preso à própria rebeldia.

24 janeiro 2009

CARTA A UM PASTOR ABERTO AO TEÍSMO RELACIONAL














Por Jorge Fernandes

Sinceramente, não gosto da sua "teologia relacional", pois não há traços bíblicos nela mas essencialmente humanísticos, travestidos de cristianismo simplesmente pelo (pouco) hábito de citar Cristo, diferentemente da forma que cita, em profusão, os filósofos existencialistas e teólogos modernosos adeptos do marxismo/teologia da libertação (e Deus nem mesmo chega a ser uma inferência, visto que a sua base doutrinária é antropocêntrica). A sua arrogância e desprezo para com as outras "teologias", em especial à ortodoxia (e o tom pejorativo e muitas vezes jocoso com que as repele; o mesmo tom pelo qual se julga perseguido), mostra o quão distante está do amor de Cristo que diz buscar. Não há como ser igual a Cristo, excluíndo-O; não há como segui-lO sem negar a si mesmo e tomar a sua cruz; nem pregar o Seu Evangelho sem crer que é a infalível palavra de Deus.
Creio que o grande erro dos cristãos liberais (?), dos modernos e pós-modernos evangelicalismos é o desprezo pelas coisas de Deus, o desprezo pela Sua Palavra, é não aceitar a Sua imutabilidade, e crer que Ele se parece conosco, ou podemos ser como Ele. A menos que nos despojemos da nossa natureza (inclusive intelectual: "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?" - 1Co 1.18-20), e oremos pedindo-lhE que o caráter do Seu Filho seja forjado em nós, do contrário, não estaremos de forma alguma servindo-O como é o Seu desejo. Biblicamente, é possivel Cristo viver em mim sem que a minha natureza morra? (2Co 5.17; Gl.2:20). Não. Para que Cristo viva é preciso eu estar sepultado, e então, seja ressuscitado e tornado participante da vida eterna pelo Filho de Deus.
Entristece-me ver em que estágio um pastor se encontra e pode encontrar-se, como lobo cruel a não poupar o rebanho (Atos 20.29 - e são muitos os que estão doentes, infectados pelo vírus diabólico da negação da Palavra de Deus). Não intento desmerecê-lo mas alertá-lo no amor do Senhor (sei que pareço pretensioso; mas é no amor de Jesus Cristo que lhe escrevo, ainda que não creia, ainda que não o aceite); suas aflições, inquirições e dúvidas apenas subsistem no homem natural, não em Deus ou na Sua Palavra, a qual é a ÚNICA VERDADE, bastando que se creia ("o que não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece" - Rm 9.16). O seu agir está muito próximo de uma zombaria, desrespeito e irreverência para com Ele. Se olhasse mais para o Senhor e menos para si mesmo, creio que a grande maioria (desculpe a redundância) dos seus problemas e dilemas estariam resolvidos. Quando o homem quer se fazer diferente ao buscar os "louros" para si, achando que pode tirar de Deus a glória que lhE pertence, tece uma teia na qual a presa é o próprio homem. Quando não O aceitamos como Ele é, revelado nas Escrituras, e conjecturamos sobre Sua vontade, caráter e pessoa humanisticamente, usando critérios extrabíblicos (muitas vezes blasfemos, céticos e místicos), erramos duplamente: ao não reconhecê-lO através da Sua revelação (especialmente em Cristo e Sua obra salvadora e redentora), e ao não considerá-lO o Criador soberano, reto, santo e justo que é, e que desta forma revelou-Se nas Escrituras. Então vive-se nessa roda, um círculo maligno que o levará à perdição, a criar um deus factual, tangível... um molde de gesso, capaz de se quebrar à simples pressão dos dedos.
Orei muitas vezes por você, pedindo a Deus que lhe revelasse a Sua santa vontade, que os seus olhos fossem abertos para a Verdade; contudo, cada vez mais o vejo obstinado em salvaguardar os seus interesses (ainda que mascarados, pretensamente solidários, éticos, morais e justos; mas que levam ao engano, à crença em um deus fora da Escritura, um deus revelado pela nossa natureza débil, inconstante, pecadora e maléfica), e a expô-los de forma virulenta, ainda que com disfarces líricos e poéticos; uma estampa aparentemente bonita para algo efêmero, mas ainda assim, extremamente nocivo, perigosamente letal. Pense no que diz Paulo em Romanos 1:24-25: "Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém!".
A quem sirvo? Ao Criador Eterno e Senhor da história? Ou à criatura (ao forjar um deus à imagem e semelhança do homem caído)?
Que Deus tenha misericórdia de você, e leve-o ao arrependimento.
Originalmente publicado em http://apologhetica.blogspot.com/2008/08/carta-um-pastor-aberto-ao-tesmo.html
Texto original minimanente alterado.

17 janeiro 2009

MENTIRAS ABSOLUTAS









Por Jorge Fernandes

Não desenvolverei uma exposição sobre liberalismo x fundamentalismo. Há artigos e livros que praticamente esgotam a questão, e indicarei as seguintes fontes:
1) Cristianismo e Liberalismo, J. Gresham Machen; cujos comentários estão em
http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/11/cristianismo-e-liberalismo.html
2) Com Vergonha do Evangelho, John MacArthur Jr; cujos comentários estão em
http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/08/com-vergonha-do-evangelho.html
3) A Guerra Pela Verdade, John MacArthur Jr.; cujos comentários estão em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/09/guerra-pela-verdade.html
4) Os Fundamentos – R. A. Torrey (editor); cujo comentário está em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/02/os-fundamentos.html
5) Áudios do Pr. Augustus Nicodemus, disponíveis no site Monergismo em
http://www.monergismo.com/textos/sermoes_audio/augustus_sermao_origem_fundamentalismo_liberalismo.htm http://www.monergismo.com/textos/sermoes_audio/augustus_sermao_avaliacao_fundamentalismo.htm
Dito isto, quero ater-me a uma questão similar às duas vertentes, ainda que distintas na forma, porém não na essência.
O liberalismo prima pela descrença no Deus bíblico e na revelação divina das Escrituras (a descrença pode ser em maior ou menor grau, mas sempre será descrença), não encarando-os de forma literal, mas compreendendo-os à luz (ou trevas) da cultura, dos costumes e do pensamento humano.
Para o liberal, a Bíblia não é a verdade absoluta nem para a atualidade nem para os povos à época em que foi escrita; devendo ser estudada dentro do contexto cultural daquele período histórico, a fim de que a sua mensagem seja adequada e válida. Desta forma, temos de adaptá-la aos nossos dias, ao contexto atual, para que tenha relevância na modernidade.
Para o liberal, afirmações sobre Deus e o homem reveladas nas Escrituras somente serão entendidas como verdades se suscetíveis ao crivo racional, aprovadas pela experiência e comprovadas pelo empirismo.
A finalidade é alcançar a descrença total no Deus bíblico, e na revelação bíblica. Os milagres, o nascimento virginal de Cristo, a Queda e o pecado da humanidade em Adão, a expiação vicária do Senhor Jesus, a Sua ressurreição, a condenação eterna e o inferno, tomam nova forma se expostos pela mente liberal, o que se pode chamar de "mentiras absolutas". Por conseguinte, se a revelação de Deus não é a verdade absoluta, o próprio Deus também não o é. E o que se vê é um cristianismo amorfo e adulterado, criado à imagem e semelhança da mente pecaminosa do homem.
Enfim, o ponto central é: combater a idéia do pecado, e de que o homem não tem de afastar-se dele. Assim, o liberal poderá conviver tranquilamente com suas transgressões sem culpa, sem arrependimento, sem a idéia da condenação, porque o Deus justo, reto e santo não se enquadra no protótipo do deus liberal. Tudo muito bem aprovado e comprovado pelas ciências humanistas, pela alma corrompida do homem rebelde.
Então, no “cristianismo liberal” (sic) não há a autoridade de Deus nem das Escrituras, mas do homem; um produto típico da mente em seu estado natural de deterioração.
Por outro lado, o fundamentalismo assume várias formas, algumas nem tão fundamentalistas, outras extremamente legalistas, onde há uma corrupção e descrença iguais às do liberal. Explico: tanto no liberalismo como no fundamentalismo legalista o importante é o homem, não Deus. Ou seja, qualquer coisa pode ser chamada de cristianismo, mesmo que Cristo não seja a sua autoridade, e não haja pontos inegociáveis, a não ser a salvação do homem pelo próprio homem, e o caráter condescendente e indulgente em seus desvios.
O fundamentalismo clássico ergueu-se sobre cinco princípios bíblicos, em oposição ao ceticismo liberal:
1 - Inerrância das Escrituras: inspiração verbal-plenária da Escritura;
2 - Nascimento Virginal de Cristo: Jesus foi gerado pelo Espírito Santo; 3 - Expiação Vicária de Cristo: Cristo morreu pelos [em lugar de os] pecadores; 4 - Ressurreição Corpórea e Segunda Vinda de Cristo: Cristo está vivo e voltará; 5 - Historicidade dos Milagres: todos os milagres relatados na Bíblia são efetivamente fatos históricos.
O cristão bíblico é e sempre será um fundamentalista clássico ou histórico, ainda que não assuma o termo, dado à sua conotação pejorativa “plantada” pelos liberais, o qual muitos querem evitar.
Porém, há um tipo de fundamentalismo que prima pelo legalismo ou farisaísmo. Podem ser chamados de xiitas, radicais, ultra ou supra fundamentais. Eles não se misturam, no sentido de aversão a qualquer cristão que não se enquadre aos seus padrões religiosos. Note-se que não estou a falar dos padrões bíblicos, mas dos padrões religiosos que eles defendem. Esse tipo de fundamentalismo é uma perversão do cristianismo tal qual o liberalismo. Eles se consideram a “nata” dos cristãos, os verdadeiros e únicos cristãos e, portanto, são os “comissionados” por Deus para o patrulhamento teológico. Algo como os auditores ou fiscais encarregados de expurgar e banir qualquer irmão ou igreja que não se adequa às suas diretrizes (com exceção das mortes, se parecem muito com os inquisidores romanistas). Acabam por investir-se como promotores e juízes, absolvendo ou condenando ao céu e ao inferno segundo a sua conveniência doutrinária. É um postulado com o qual Deus não nos revestiu, mas que teimam em assumir.
Então, dirigem sua artilharia contra quem discordar de apenas um dos seus dogmas; e a salvação já não depende da graça de Deus nem do sacrifício expiatório de Cristo, mas do seguir suas regras, parâmetros ou norma reguladora, ou seja, o farisaísmo.
Os liberais contemporizam os pecados alheios a fim de se verem absolvidos em seus próprios pecados. Os fundamentalistas radicais esquecem-se dos seus pecados, e de que foram pagos por Cristo na cruz do Calvário (caso sejam eleitos), e ficam, hipocritamente, à espreita do pecado alheio. Abandonam a si mesmos em prol de uma sentença nula; e esquecem-se de que, cada um de nós está nas mãos do Senhor supremo de todo o universo, e de que o pecado do homicídio é tanto pecado como a mentira, a soberba ou a farsa.
Se um assassino como Stalin, Hitler ou Fidel fosse regenerado e restaurado pelo sangue do Senhor Jesus Cristo, ainda que carregando a culpa por milhões de mortes, estaria salvo e viveria por toda a eternidade diante do trono de Deus.
Em contrapartida, se um ermitão ou monge que não praticou nenhum ato amoral ou pecaminoso contra o seu próximo morrer rejeitando a Cristo, estará irremediavelmente condenado ao fogo do inferno. Portanto, não nos cabe julgar os homens quanto à salvação ou perdição, visto que esse julgamento cabe única e exclusivamente a Deus, o eterno e supremo Juiz (o contrário é fazer-se de Deus, e pretender tirar-lhE a glória que somente a Ele pertence).
Cabe-nos tão somente julgar os atos e atitudes humanas, se elas estão em conformidade com a Palavra de Deus ou não, nada mais do que isso, para não incorrermos em pecado.
Tanto os liberais como os fundamentalistas radicais partem da mesma premissa: a negação de Deus; e acabam por ser filhos do mesmo pai: o diabo. Seus esforços são humanos, são seus próprios salvadores, e brincam de deus, cada um a seu modo.
Infelizmente, se não forem ovelhas do Bom Pastor, será o mesmo que brincar com fogo, e se queimarão... literalmente.

10 janeiro 2009

LIBERALISMO CRISTÃO?!!!











Por Jorge Fernandes

Duas reflexões sobre o liberalismo "cristão":

1) O liberalismo, em maior ou menor grau, é sempre um movimento que visa "reescrever" a fé cristã, desacreditando-a, substituindo os seus fundamentos pelo racionalismo, pela ciência, pelo ceticismo.
O pontapé inicial começa com a negação da inspiração divina, da infalibilidade e inerrância das Escrituras Sagradas, com o único objetivo de demolir a fé cristã.
Iniciado com o iluminismo e o racionalismo, cresceu com a alta crítica, amadurecendo (ou seria apodrecendo?) com a segmentação pós-modernista, do evangelho social, do humanismo, da teologia relacional, negra, da mulher, e outros conceitos que estão contaminando igrejas e denominações, os quais, invariavelmente, desprezam a Bíblia e todos os pressupostos cristãos, como a soberania de Deus, a divindade de Cristo, Seu sacrifício substitutivo e expiatório, a doutrina do pecado original, da natureza corrompida do homem, da Trindade... e não poderia ser diferente, pois o que fazem é recriar uma espécie de "monstrengo" teológico, o anti-evangelho de Cristo.
O "cristão liberal" não conseguia (e consegue) crer em nada além do que os seus olhos vêem. O seu estado é sempre uma flutuação entre a descrença sutil e a descrença radical (mas sempre descrença); ele não é um crente (e somente o será pela graça do Senhor), pois busca Deus dentro de si mesmo e no mundo natural (imanência), sem jamais encontrá-lO; ou com nenhuma expectativa de vir a encontrá-lO; ou atingirá o ápice do ceticismo: a negação completa de Deus.
Assim, o liberal não reconhece a autoridade divina, portanto, não se sujeitando a ela, e se submetendo à sua própria autoridade através do empirismo e da ciência natural.
Tudo isso tem um só objetivo: rejeitar a Lei Moral, e entregar o homem à sua própria dissolução e pecaminosidade.

2) Os teólogos liberais fazem um exercício, no mínimo, intricado: discutem cristianismo não com base nas Escrituras, mas mantendo-se em meio a vários pontos de vista (muitos conflitantes, outros irrelevantes). É como o cego em meio ao tiroteio. Provavelmente uma bala o acertará sem que ele saiba de onde veio.
O que se vê é um discurso distendido de qualquer envolvimento com a revelação divina; é como o paciente acometido de AVC e que percebe o seu lado esquerdo paralisado, esquecido, sem que responda ao estímulo mental. Assim é a mente de um liberal, ele crê estar ligado às Escrituras mas, no fundo, o único estímulo que recebe e com o qual interage é consigo mesmo, jamais com Deus.
Entre divagações, delírios e loucura, num intelectualismo estéril e letal, afasta-se mais e mais de Cristo e do Seu Evangelho.
Para o liberal a fé é um mero detalhe, talvez, por isso, ele seja mortalmente cético, e queira o tempo todo reinterpretar o Evangelho nas ondas confusas e caóticas da incerteza, da incredulidade, do falso cristianismo.

Extraído dos comentários ao livro “Teologia Contemporânea”, disponível em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/10/teologia-contempornea.html

04 janeiro 2009

NEM UM NEM OUTRO... É POSSÍVEL?













Por Jorge Fernandes Isah


Há um grupo de teólogos e discípulos que se diz nem arminiano nem calvinista, e se considera fora do escopo de qualquer dessas linhas teológicas. Levando-se em conta que, ou se glorifica a Deus crendo na Sua plena e total soberania (o que não pode ser uma soberania compartilhada), ou no homem e sua suposta liberdade, mesmo que seja de forma parcial; não há outra definição: ou se é calvinista ou arminiano, não existe outra classificação, apenas variações do mesmo princípio, ou como popularmente se diz, variações do mesmo tema.


O “novo” teólogo sequer estudou minimante os dois sistemas, e diz discordar mais pelo que não leu do que pelo efetivamente leu a respeito. Ainda assim, está convicto de não pertencer nem a um nem a outro grupo. Mas qual a base para afirmação tão inconsistente? A incoerência é uma delas. A soberba, outra. A vaidade exclusivista complementa o quadro, aliada à fraude. Porque assumir-se arminiano ou calvinista apenas o tornará mais um entre tantos, ao passo que afastar-se de ambos o colocará em uma posição aparentemente destacada, pelo menos aos olhos dos incautos e ignorantes. Alardear os erros alheios é mais fácil de se encobrir os próprios erros, e essa é a cortina de retalhos que utilizam para dissimular o próprio dolo.


O calvinismo está calcado em 5 pontos1:


1) Total Depravação;
2) Eleição Incondicional;
3) Expiação Limitada;
4) Graça Irresistível;
5) Perseverança dos Santos.

Se há discordância em apenas um dos pontos não se é calvinista, é-se arminiano (acho que foi McGregor Wright em seu “A Soberania Banida”2 que disse: o calvinista de 04 pontos é um arminiano inconsistente).


O que pode acontecer é do “arminiano inconsistente” não assumir a pecha de arminiano. Agindo assim, ele não abdicará do seu “exclusivismo”, e poderá atirar pedras no telhado alheio, tanto de um como do outro, sem se ver comprometido. Estará livre para criticar a tudo e todos sem qualquer base bíblica, coerente e lógica, pois seus fundamentos são exclusivamente pecaminosos (interesses a serviço do pecado).

É cômodo jogar com as pessoas, com as idéias, e manter-se distante num estado de expectação acintosa, tal qual o pirotécnico ateia faísca à lona e vê o "circo pegar fogo". Como se fosse um deus, colocar-se acima do bem e do mal, impondo regras e normas que ele mesmo recusa, enquanto observa seus subalternos debaterem-se esterilmente.

A principal forma de se conseguir isso é acusar de erro, indistintamente, toda e qualquer pessoa ou grupo que não pactue 100% com seus ideais (os quais nem ele mesmo sabe quais são, e por definição, o que há é apenas a rejeição aos conceitos alheios), e rechaçá-los totalmente. A obediência cega é o seu alicerce (ainda que fincada na areia), depois a edifica com paus, palha e feno, os quais são: forjar fatos, distorcer conceitos, subverter a verdade. Cabe-nos a defesa da fé, e refutar qualquer posição arrogantemente tola e descabida; e distinguir os fundamentos bíblicos dos espiritual e humanamente falhos.

Uma coisa é ser ignorante, desconhecer a doutrina cristã, outra é a desonestidade em que alguns se colocam como sábios mas são loucos, enredados pelo próprio desejo de serem admirados e venerados pelos homens por suas posições e atitudes pretensamente livres de qualquer influência (por si só, uma máxima arminiana). Eles enganam e iludem para manterem-se intocados, e suas idéias rotas e desvairadas permanecerem de pé, mesmo que não passem de um cadáver preso à parede por longos rebites.

Ao desprezar todos os sistemas, crêem descobrir a “roda”, quando o que fazem é repetir o erro de muitos teólogos que viveram séculos antes dele. Mas o pior é manter presos à ignorância uma legião de “súditos” devotados e cegos. Por isso, não querem se aprofundar na questão, nem entendê-la, basta deixar tudo do jeito que está, porque assim é mais fácil controlar e manter domesticado o rebanho de ovelhas perdidas.

Então, não nos iludamos com a pretensa sabedoria desses homens, pois eles são obscuros e querem manter nas trevas o maior número possível de pessoas. Para elas, infelizmente, manter-se-ão cativas mesmo na morte... eterna.


1- Para maior explicação dos pontos, ler texto em http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/joao_calvino_5pontos_silverio.htm
2- O comentário ao livro A Soberania Banida pode ser lido em http://kiestoulendo.blogspot.com/2008/05/soberania-banida.html
3- O fato de considerar o arminianismo heresia não implica na perdição de todos. Creio que há arminianos sinceros, mas errados doutrinariamente. Até porque a salvação é inteiramente de Deus, e Ele escolhe quem será salvo ou não.

01 janeiro 2009

FATAL











Por Jorge Fernandes

Gravemente pecou;
Chorou as lágrimas solitárias na noite inimiga,
A festa era porta fechada onde habitava a aflição,
E os suspiros desolados do errante repousavam nos caminhos tortuosos e devastados,
Onde o socorro não alcança, onde o fim não é lembrado.
As mãos folheavam o álbum, os retratos de tempos antigos,
O papel exaurido e as cores desbotadas pareciam zombar da ruína em que se tornou.
Gravemente pecou;
O pão, a nudez, o ouro no pescoço, a beldade, eram o troco da alma declinada,
Os ossos esmagados, a carne enfermada não podia mais comprar,
Nem mesmo adubar a grama, nem afastar a cerca ao redor.
A armadilha presa aos pés, avalanche sobre a cabeça,
Velhos mortos desatavam águas dos olhos, jovens convocavam a derrota na última batalha,
Vestir-se de trapos enquanto as luzes expiravam sorrateiras,
E a treva revolvia as entranhas como o fogo consome a lenha úmida.
Gravemente pecou;
A semente rejeitou a terra,
Mães arrastaram filhos pelas ruas,
A boca cuspiu fora os dentes,
No assobio, cabeças meneadas chocaram-se com muros,
E não se podia escapar da última palavra: a loucura não sara.
Multiplicou-se a ira de Deus,
Deu solenes gritos ao ver o lugar destruir-se,
Gemeu diante do esforço vão de quebrar os grilhões,
Devorou o dia pensando na noite, entrou por onde jamais sairia,
Guiou-se como alvo às flechas, fez um prato fundo de areia e lodo,
Escondeu os ouvidos da sinfonia como se esmigalhasse o único troféu.
Gravemente pecou;
A vida pulverizada como metal limado,
Esperar razão quando sobrevêm amarguras,
Põe a língua no pó, persiga as nuvens no céu,
Não se deixe fugir da morte, e ponha-a a salvo depressa,
Pois o castigo espreita, prestes a abater a caça implacavelmente.
Polir o lixo, a culpa não pode ser aplacada com uma desculpa.
Gravemente pecou;
Desviou-se, fugiu, andou lentamente erradio, perseguiu ciladas,
A pele presa aos ossos como cão vadio, sem dono,
Foi-lhe posto o último fôlego, o negrume a vaguear como cego tocando o vazio,
Debaixo da sombra viu covas enfileiradas, nunca mais se morará ali,
Serviu-se o alimento, e água suficiente para acabar com a sede,
Porém, contaminado pelos seus pecados, cumpridos os seus dias,
Consumiu-se no fim como a descobrir uma recompensa... que não chegou.
Gravemente pecou.

26 dezembro 2008

O HOMEM É UM FANTOCHE?








Por Jorge Fernandes

Não, o homem não é um fantoche de Deus, mas se fosse, não haveria problema algum; de certa forma até seria preferível, pois assim a certeza de agradá-lO estaria assegurada em 100%. Igualmente, não há capacidade no homem de escolher entre o bem e o mal sem que Deus o regenere, transformando a sua natureza caída, e “assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.7). Como está escrito em Ezequiel 36.26: “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne”; portanto, se Deus não transformar o coração de pedra em carne, ele continuará e sempre será um coração impossível de reconhecer que o bem é tudo o que procede de Deus. O homem é pecador porque quer, a sua natureza assim o quer, e será santo somente se Deus quiser. Sem o novo-nascimento, sem a transformação que somente Ele opera no ímpio, nada de salvação nem santidade; permanece-se morto em delitos e pecados.
A eleição e predestinação é a realidade da escolha de Deus e não a realidade do homem, pois esse homem, realmente, escolherá sempre pecar. O problema é que, visto alguns serem aparentemente boas pessoas (não furtam, mentem, difamam, falam palavrões, se prostituem... ajudam ao próximo, fazem caridades, como os espíritas e filantropos), isso nos leva a crer que foram capazes de escolher o bem. Porém, qualquer coisa que não seja para a glória de Deus é pecado, mesmo as aparentes boas ações (já que provêm unicamente do esforço próprio, com o objetivo de se alcançar uma vantagem pessoal, um prêmio), mas quando fizer algo, não faça “para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt 6.5).
Engana-se quem acha que eles escolheram ser bons. Essa bondade foi controlada e decretada eternamente pelo Senhor, e assim o homem permanece indesculpável diante dEle, impossibilitado de reivindicar qualquer mérito por algo que Deus produziu e forjou nele. Por isso, Cristo diz àqueles que não o confessam como Salvador: “se não crerdes que EU SOU, morrereis em vossos pecados” (Jo 8.24)... mesmo não fazendo o mal, mesmo fazendo o bem. O pecado é algo muito diferente de atitudes boas e más. O pecado afronta a Deus, é rebeldia, inimizade para com Ele, é não admiti-lO como Senhor; e não será a doação de alimentos, atravessar velhinhas na rua, ou adotar uma criança abandonada que o aproximará. O erro está em não professar como verdadeira a obra expiatória de Cristo, o Seu sacrifício na cruz do Calvário para a remissão dos pecados; sem Jesus, nada feito! Ser bom (o que não implica em santidade; e todo aquele que se aproxima do Todo-Poderoso tem de ser santo), envolver-se em causas humanitárias, ou ser um religioso praticante, não é o passaporte para a vida eterna. É necessário muito mais do que isso...
Primeiro, ser um eleito de Deus, porque não é o homem quem escolhe, mas Ele. Segundo, Deus operará no homem, pelo poder do Espírito Santo, o novo-nascimento, e o converterá infalivelmente, tornando-o nova criatura em Cristo, o qual será Senhor e Salvador, por Sua obra completamente consumada na cruz. Isso é graça, algo imerecido, mas recebido porque Deus quis dá-la, e torná-lo filho adotivo, co-herdeiro de Cristo. Isso é misericórdia, pois, apesar de merecer a condenação no Inferno, poupou e absolveu-o do castigo eterno. Terceiro, com a mente de Jesus, é-se atraído a Ele, à Sua oferta de sacrifício, ao Seu perdão, ao arrepender-se dos pecados, a lamentar a vida dissoluta e bárbara em que esteve, a entristecer-se por have-lO desprezado.
Portanto, com a mente corrompida, com a velha natureza, não é possível sujeitar-se ao senhorio de Cristo. Somente quem tem o novo-nascimento é capaz de tê-lO como Senhor, porque é impossível ao homem resistir às maravilhas de Deus, tanto a Sua graça, misericórdia, autoridade, poder e amor. É como o caso do filho cativo por seqüestradores, e que vê o pai entrar pela porta de repente, correndo para os seus braços a fim de libertá-lo. Será que o filho o rejeitará? (o exemplo é tosco, e está muito aquém do que Cristo faz). Então, fique tranqüilo, não somos títeres mas filhos escolhidos por Deus a participar da Sua eterna glória; porém, se você não confessou Jesus Cristo como Salvador da sua vida, comece a arrancar os cabelos, porque é impossível ao homem “ir” a Deus sem que Ele opere o desejo, a restauração, e um coração segundo o coração do Seu Filho Amado.
Apesar de que seria melhor tanto para você como eu sermos fantoches, não foi assim que Deus quis; e quem pode questionar os preceitos e decisões do Senhor? Como disse: “agindo eu, quem o impedirá?” (Is 43.13). Cabe-nos obedecê-lO e proclamar o Evangelho da Graça. É dever, mesmo sabendo que a maioria permanecerá cauterizada, condenada, “pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece... Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (Rm 9.16;18).
Deus é soberano em tudo, seja na salvação ou no homem. E isso é imutável, como o próprio Deus.

19 dezembro 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 12.1-11










Por Jorge Fernandes Isah

Como disse anteriormente, Jesus retornou a Betânia seis dias antes da páscoa, encontrando-se com Lázaro, Marta e Maria, os quais juntamente com o Senhor e Seus discípulos participaram de uma ceia (v.1-2).


Maria tomou um arrátel de ungüento de nardo puro, caríssimo, “ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento” (v.3). Há uma discussão se Maria era uma prostituta, e mesmo se seria Maria Madalena, conforme parece indicar Lucas 7.37-38 (Creio que as duas passagens são diferentes, e não se referem à mesma pessoa). Não vou entrar no mérito da questão, até porque não é isso o que de mais importante nos é revelado (na verdade, é irrelevante). O fato é que tanto Maria como os outros convivas eram pecadores, independente se seus pecados eram públicos ou secretos. Para Deus não há acepção de pessoas (Rm 2.11), no sentido de que todos somos pecadores e, portanto, não merecemos privilégio especial, “porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados” (Rm 2.12).

Porém, “para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Rm 9.23), sobre uns Ele derramou a Sua graça salvando-os, porque “isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9.16); e sobre outros, reservou-lhes a Sua ira; “e que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição”? (Rm 9.22).

Em meio à assistência Maria se humilhou diante do Senhor, exaltando-O, e atraindo sobre si a injusta indignação dos convidados, os quais consideravam desperdício aquela atitude de lavar os pés de Jesus com perfume (Mc 14.4), que leva-nos a traçar um paralelo com a cena em que o Mestre lava os pés dos Seus discípulos (Jo 13.12). Ali, Ele se humilha diante deles, mas mais do que isso, Ele honra-os ao dar-lhes o exemplo “para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Ou não é uma honra seguir os passos do Senhor?

O Seu objetivo é mostrar-nos que o cristianismo não é uma competição nem um campeonato dos melhores, pelo contrário, todos somos miseráveis pecadores, escória, e se há algo de bom em nós, é obra exclusiva de Deus que a operou. Somos todos membros do mesmo corpo, e de que nenhum membro é maior do que o outro. Paulo faz uma analogia fantástica da Igreja com o corpo, e em certo ponto, diz: Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis... E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; e os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra” (1Co 12.18; 22-23). Não é o que nos revela o ato de Cristo? Se como Deus e Senhor, “vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo 13.14), “para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros” (1Co 12.25).

As duas cenas dos pés lavados parecem díspares, apesar de terem semelhanças. Porém, em ambas há um só objetivo: a glória de Cristo! Maria ao lavar os pés do Senhor, adora-O, revelando-nos a Sua divindade, e o lugar de honra que lhE é merecido. Quando Jesus lava os pés dos discípulos, em humildade, mostra-nos o perfeito grau de obediência que tem para com o Pai, e de como veio para servi-lO, cumprindo-se assim os eternos decretos de Deus. Portanto, não há incompatibilidade de propósitos, antes eles se complementam, manifestando a natureza santa de Cristo; o qual sendo Deus “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.7-8).

Então, eis que surge a oposição na forma de Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, que disse: “Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?” (v.5). O apóstolo João encarrega-se de explicar o motivo de sua atitude: “Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (v.6).

Como já vimos, não foi apenas Judas que se indignou, mas alguns outros também (Mc 14.4). Judas tinha os seus motivos escusos e torpes, e os outros? O que os motivava?... A completa ignorância acerca de Deus; pois não tinham a menor idéia do que Maria fazia, de como aquela atitude era o agradecimento, reconhecimento, louvor e glorificação do Senhor. Eles estavam tão presos aos seus interesses, à sua humanidade caída, que não podiam ver um milímetro além dos olhos; suas almas estavam acorrentadas e cegadas ao pecado, restava-lhes apenas a indignação, por não ser-lhes possível ver além do valor pecuniário do perfume. É o homem em sua essência, pequeno, miserável, diante da grandiosidade de Deus. Porém Maria o soube; e Jesus garantiu que o seu ato fosse documentado e passado às sucessivas gerações como testemunho de uma boa obra, do seu amor: “onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua” (Mt 26.13). 


Por outro lado, evidencia-se a hipocrisia dos indignados, os quais esperavam fazer o bem com algo que não lhes pertencia e não lhes custara nada. Em seu estúpido juízo, esperavam a aquiescência do Mestre, mas o que ouviram foi a Sua reprovação, uma ducha de água fria: “Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes” (v. 7-8)*. Provavelmente, a compaixão deles para com os miseráveis resumia-se em frases de efeito e no imediatismo farisaico de acusar o próximo, senão, porque Jesus diria: “podeis fazer-lhes bem (aos pobres), quando quiserdes” (Mc 14.7)?

Judas, após ouvir a repreensão de Cristo, foi ter com os principais dos sacerdotes para lho entregar” (Mc 14.10); “e eles lhe pesaram trinta moedas de prata” (Mt 26.15). Essa era a vontade do ladrão, roubar o que não lhe pertencia, mas nesse caso, nem ele nem ninguém poderia tomar a vida do Senhor.

Ao saber onde Cristo estava, muitos judeus foram até Ele, e também para ver a Lázaro, “porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus” (v.11), por isso, os líderes religiosos “tomaram deliberação para matar também a Lázaro” (v.10).

O contraste entre a gratidão e amor de Maria com a pusilanimidade e ódio de Judas é notório no relato de João e nos evangelhos sinóticos; mas tudo meticulosamente planejado por Deus, tanto o bem como o mal, para que Cristo, quando for levantado da terra, atraia todos a Si (Jo 12.32)... e seja glorificado.

*Maria ao chorar aos pés do Senhor e perfumá-los, antecipa, de certa forma, o sacrifício e a morte de Cristo na cruz.

11 dezembro 2008

COMENTÁRIO A JOÃO 11.47-57










Por Jorge Fernandes

Após ressuscitar a Lázaro (11.43), converter muitos a Si (11.45) e de, novamente, ser alvo da intriga dos judeus (11.46), Jesus não aparece no conjunto final do capítulo 11. Ouve-se falar dEle, e sabemos que está retirado no deserto junto com os Seus discípulos, na cidade de Efraim (v.54), distante 20 km de Jerusalém; enquanto os fariseus e os sacerdotes maquinavam contra a Sua vida. Mas Ele retornará a Betânia, visto que seis dias antes da páscoa encontrou-se com Lázaro, Marta e Maria numa ceia (12.1-2), e os judeus aguardavam a páscoa para prendê-lO em Jerusalém.
O que salta-nos aos olhos é a campanha perpetrada pelos sacerdotes e fariseus, movida a inveja e ódio, em resposta às obras divinas que o Senhor operou. Pois esses sinais testificavam que Jesus era o Messias, o Filho de Deus, do qual os profetas falaram.
Aliás, Cristo denunciava como obras das trevas toda a estrutura religiosa, tradicional e humana do judaísmo, atacando diretamente a hipocrisia dos escribas e fariseus (Mt 23.13.39), ao ponto de considerá-los “serpentes, raças de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.33). O Senhor pronuncia vários “Ais”, indicando os motivos pelos quais os líderes judeus seriam julgados. Para piorar ainda mais a situação deles, peremptoriamente, Jesus afirmou que alguns gentios seriam os que, no juízo, condená-los-iam pelos seus testemunhos: os ninivitas, “porque se arrependeram com a pregação de Jonas” (Mt 12.41), e a rainha do sul, “porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é maior do que Salomão (Mt 12.42).
Mateus 12.45 culmina com uma sentença terrível para os judeus, os quais são comparados com uma casa que, desocupada, varrida e adornada, recebe o espírito imundo e outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que o primeiro. Assim acontecerá também a esta geração má”. Note-se que esta profecia refere-se à morte de Cristo na cruz do Calvário, a qual é obra máxima da maldade humana, tanto nossa como dos judeus, mas para a sua infelicidade, foram eles que a consumaram, matando o Santo e o Justo (At 3.14-15); e assim, esse ato se tornou pior do que os anteriores.
Os sacerdotes e fariseus formaram o conselho de que não há como deter Jesus, porque Ele faz muitos sinais, “se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação” (v. 47-48). É evidente a preocupação dos líderes judeus com as suas posições e a possibilidade de perdê-las caso os romanos considerassem Jesus um revolucionário. Ainda que sob o jugo de Roma, eles não tencionavam privar-se do pouco que ainda lhes restava: uma nação escravizada, esfacelada, miserável mas orgulhosa, e que de certa forma pertencia-lhes, ao menos naquilo que os romanos concediam dar-lhes. Por isso Jesus tinha de morrer pois, além de tudo, Ele apontava para a corrupção deles: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mt 23.13).
Caifás argumentou que “convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação” (v.50). Inconscientemente, o sumo sacerdote profetizou que Cristo “devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (v.51-52). Como o apóstolo João explicitou, o Senhor não morreu por todos, e aqui a nação representa o povo de Deus, tanto judeus como gentios, mas somente aqueles que são membros do corpo de Cristo (a Igreja, o Israel de Deus), pois reunirá os que andavam dispersos. Portanto a morte de Cristo não foi de caráter universal, no sentido de que todos poderiam apropriar-se dela e serem salvos. Ele morreu pelos Seus eleitos espalhados pela terra em todas as épocas, dos quais afirmou: “rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9), e “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (Jo 6.44).
Pedro escrevendo à Igreja de Cristo: “vós sois geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Um pouco antes diz: “Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido... E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1Pe 2.6;8). Note que a palavra “eleita” no v. 6, relaciona-se com a palavra “destinados” no v. 8, indicando que a “geração eleita, o sacerdócio real, a nacão santa, o povo adquirido” (adquirido tem o significado de comprado pelo sangue de Cristo) foi escolhido por Deus, assim como aqueles que tropeçam na pedra principal “também foram destinados” (aqui no sentido de reservados, designados). Tanto eleitos quanto destinados contém a idéia de determinação antecipada, ou seja, Deus determinou os eleitos, os que seriam o Seu povo adquirido, como determinou os condenados, aqueles que foram destinados ao tropeço, à desobediência.
Da mesma forma, a morte de Cristo na cruz não foi algo acidental, mas igualmente determinado na eternidade, meticulosamente planejado, segundo o perfeito decreto de Deus. Por isso, desde aquele dia, a sentença de morte de Jesus foi promulgada (v.53). E correu entre os judeus a ordem para que, “se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o prenderem” (v. 57), já que todos esperavam que Cristo subisse da região de Efraim para Jerusalém, antes da páscoa, para celebrar os rituais de purificação (v.54-55). Não havia melhor oportunidade de prendê-lo, o que de fato aconteceu pela aleivosia diabólica de Judas Iscariotes; porém, não porque o Senhor estivesse indefeso, pois como disse: “pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26.53); mas porque assim Cristo o quis: “dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo 10.17-18).
Na Sua morte, morremos com ele; e na Sua ressurreição, “segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança” (1Pe 1.3):
A vida eterna.

Leia o comentário a João 11.17-46 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-joo-1117-46.html e João 11.1-16 em http://kalamo.blogspot.com/2008/11/comentrio-de-joo-111-16.html