Jorge F. Isah
A maioria das pessoas diz confiar em Deus quando não há disposição de entregar-se ao seu senhorio, de dobrar-se à sua vontade, como forma de gratidão por toda a sorte de bênçãos recebidas. Via de regra, afirma-se crer nele, mas entrega-se exclusivamente ao próprio autogoverno, sem o desejo de ser guiada e dirigida pelo Criador.
Boa parte das teologias e filosofias existentes afirmam a soberania do homem sobre si, chegando ao ponto de a vontade humana se sobrepor à vontade divina. Há uma clara inversão de valores na qual a vontade humana tem de ser preservada e, em seu favor, a vontade divina deve estar sujeita, submissa. E a desculpa sempre é a mesma: Deus, em sua soberania, entregou ao homem os seus desígnios, de tal forma que Deus não pode ser Deus se o homem não quiser (a ideia equivocada do livre-arbítrio; quase sempre significa independência de Deus). Em outras palavras, a vontade divina, no fim das contas, dependerá sempre da vontade humana para se manifestar, do contrário, ela é suprimida, prevalecendo a da criatura em detrimento a do Criador.
Como o homem é supostamente livre, em sua natureza e vontade, ele se utiliza dessa liberdade para rejeitar o conselho divino, não se entregando ao seu senhorio. O que acontece, na verdade, é que ele não pode fazê-lo, pois sua natureza está em oposição a Deus, e sua vontade é contrária à de Deus. Não é uma questão de escolha, mas de não poder escolher o bem, o certo, o que agradaria ao Senhor. Para complicar ainda mais esse contexto, o homem que diz conhecer a Deus, não conhece a sua vontade, e sem conhecer a sua vontade, como poderia conhece-lo? E se a vontade divina está expressa em sua palavra revelada, a Bíblia, a qual o homem natural não está afeito, ou em completo desinteresse, como pode conhece-lo? Através de uma imagem formulada em sua mente e alheia à verdade? Por indução? Ou intuição?
Por isso, o homem que diz conhecer a Deus não o conhece, antes criou para si mesmo um espantalho, um ídolo, no qual diz acreditar e confiar, sem se questionar sobre o real estado em que se encontra, de estar sendo pego em sua própria armadilha, cujo laço a apertá-lo foi colocado e puxado por ele mesmo.
Nesse aspecto, o homem é livre, em seu desejo de autodestruição.
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