Jorge Fernandes Isah
Quando a gente deve entender que a enfermidade é porque Deus a determina, ou porque é obra de satanás?
Como distinguir uma enfermidade física de uma enfermidade produzida por satanás?
O primeiro ponto a ser elencado é de que a doença, pela ótica do Israel antigo, era o sinal de o doente estar em pecado, ou sobre ele recair a maldição divina.
Essa ideia antiga ainda ganha contornos modernos através da teologia da prosperidade, que fez uma leitura equivocada e distorcida do Antigo Testamento. Em várias culturas ou religiões, esse conceito também é sustentado, muito mais pela ignorância quanto à natureza humana e quanto à revelação divina, o que as colocam no rol das crendices, das superstições, sem que nelas haja qualquer verdade. O exemplo de Eliseu é emblemático, o qual foi consumido por uma doença, levando-o à morte [2Rs 13.14, 20].
Então, o que podemos dizer, de Eliseu? Dele ser um homem sem fé? Um depravado?
A Bíblia nos diz que Deus, através dele, operou muitos milagres e, para mim, há somente um homem na Escritura a realizar mais feitos do que ele: Cristo, o Filho de Deus! Então, dizer que o Senhor não estava com ele, de que era um homem amaldiçoado, ou outra bobagem qualquer, simplesmente revela o desconhecimento e a rejeição da verdade, e o apego ao engano.
Há o caso de Isaque que, cego na velhice, não podia distinguir entre os seus dois filhos, Esaú e Jacó, sendo enganado por este e sua esposa, no caso da primogenitura devida a Esaú, de quem Deus não se agradava. [Gn 27].
Não se pode esquecer dos casos de Paulo, Epafrodito, Timóteo e Trófimo, servos e ministros de Deus que sofreram enfermidades, dos quais não se pode alegar falta de fé ou uma vida amaldiçoada por causa de pecados.
Acontece de muitas vezes nos esquecermos do que somos e do que nos tornamos. Como seres caídos e contaminados pelo pecado, demos causa à desordem no universo, o qual foi criado ordeiramente por Deus mas, com a Queda, no Éden, todo o Cosmos entrou em colapso, desequilibrou-se e a degeneração [ao contrário do que darwinistas insistem em afirmar] passou de nós a toda a criação. Assim, onde não havia a morte, ela veio a existir; onde não havia a dor, ela sobreveio; onde não havia doenças, elas fizeram-se presentes. Logo, o que não se pode negar é de que a doença, assim como a morte, é consequência direta do pecado, não necessariamente de um ato pecaminoso, mas daquele que tomou conta da nossa natureza, tornando-a em corruptiva [essa a verdadeira maldição: a de se rebelar contra a vontade e a lei divina, trazendo para o homem toda a sorte de infortúnios; tornando-nos enfermos de corpo e alma]. É ela que nos faz corromper, dia a dia, ano a ano, e acabará por nos levar à morte física.
Alguém pode dizer que estou errado, pois a morte de muitos é consequência da velhice e não de alguma doença específica. Ao qual pergunto: não seria a velhice uma doença? Que nos consome silenciosamente até a completa ruína física? E esta é apenas uma das consequências do pecado, a degradação de toda a criação.
Desta forma, parece-me claro o fato das doenças não terem por causa ou origem apenas o diabo ou as maldições, mas algo que, dentro do padrão natural pós-Éden, podemos dizer ser inerente à nossa natureza; não somente nossa, mas de todos os seres da Criação, sejam animais, vegetais e até mesmo minerais. Tudo se corrompe como parte da herança maldita de Adão e, como tal, dentro desse contexto deve ser encarada, na maioria das vezes, como algo natural, no sentido de que todos, sem exceção, estão sujeitos.
Contudo, existem pecados originados por satanás?
A resposta é sim. O exemplo mais famoso é o do justo Jó, como nos diz o Senhor: "Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal" [Jó 1.1]. Porém, satanás, pediu a Deus para tocar na sua carne, argumentando que, se Deus tocasse nos seus ossos, na sua carne, veria o quanto Jó blasfemaria contra ele. Ao que o Senhor respondeu: "Eis que ele está na tua mão; porém guarda a sua vida" [Jó 2.4-6].
A resposta é sim. O exemplo mais famoso é o do justo Jó, como nos diz o Senhor: "Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal" [Jó 1.1]. Porém, satanás, pediu a Deus para tocar na sua carne, argumentando que, se Deus tocasse nos seus ossos, na sua carne, veria o quanto Jó blasfemaria contra ele. Ao que o Senhor respondeu: "Eis que ele está na tua mão; porém guarda a sua vida" [Jó 2.4-6].
A partir deste texto, podemos entender duas coisas:
1) Satanás tem poder para tocar na nossa pele, carne e ossos e produzir doenças; inclusive ser instrumento divino na disciplina do crente ou na levado do incrédulo à fé em Cristo [vide 1 Coríntios 5:1-13].
2) Ele pode tocar a tal ponto de nos levar à morte. Por isso Deus o alertou para "guardar" a vida de Jó, ou seja, não matá-lo.
Em Lucas 13:10-13, lemos: "E ensinava no sábado, numa das sinagogas. E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se. E, vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade. E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus". Claramente temos a referência a uma doença cuja origem provinha de um espírito de enfermidade, um demônio.
No entanto, não é raro encontrar casos de cura na Escritura, em que não existe qualquer referência ao inimigo e seus asseclas, e que podem ser consideradas como "doenças naturais", cuja origem está ligada à própria degradação humana. Sabemos que certas deficiências de vitaminas e sais minerais provocam doenças; de que o uso e, em alguns casos o abuso, de substâncias tóxicas geram doenças; bactérias, vírus e outros organismos microcelulares também foram corrompidos pelo pecado no Éden, e podem invadir o corpo, adoecendo-o ou matando-o; o sedentarismo pode provocar, na maioria das pessoas, graves problemas de saúde, mas é-se possível também que o homem gere em si mesmo doenças psicossomáticas, que são aquelas doenças cuja origem está na mente. É o caso de alguém sentir dor, quando o seu corpo não apresenta nenhum sintoma de enfermidade. Ou seja, o homem cria para si mesmo um mal que de fato não existe, mas que o consome, destruindo-o, caso o problema mental não seja curado. Penso, também, que pecados não assumidos podem se tornar em doenças, e de que o arrependimento e o voltar-se a Cristo é a única solução.
Fica, contudo, uma questão: até que ponto o diabo pode intervir na vida humana?
Creio ser possível até o ponto em que Deus o autoriza a fazê-lo; por mais que o delírio ou a imaginação humana tenda a crer no diabo como um ser autônomo [assim como reputa-se a si mesmo], definitivamente, perpassado em toda a Escritura, ele não o é. No caso de Jó, as tragédias e doenças que lhe acometeram tinham um propósito específico, o qual não era provar alguma coisa a satanás (como alguns crentes imaginam, ser possível dar satisfação ou responder-lhe por seus atos), mas fazer com que Jó viesse a conhecer verdadeiramente o seu Senhor, como ele mesmo proclamou: "Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido. Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza." [Jó 42.2-6].
No caso da mulher encurvada, o propósito, ao meu ver, indica aos judeus, e também a nós, que Cristo tem poder sobre tudo e todos, inclusive satanás e seus demônios. Aquela doença teve por fim glorificar a Cristo, fazer com que os seus adversários se envergonhassem, e que o povo se alegrasse e o glorificasse por seus feitos. Exemplos como estes trazem, para todos os crentes hoje, a esperança de que, por mais dores e sofrimento padeçamos, temos um Senhor Todo-poderoso, capaz de nos trazer o alívio, mesmo na doença. Muitas vezes ele não se reflete na cura de um mal, que pode até mesmo destruir o nosso corpo, mas sabemos que a nossa alma está segura, e de que nada, nem a mais cruel enfermidade nos separará do seu amor. Como Paulo disse: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" [Rm 8:36-39].
No fim-das-contas, isso é o que importa; saber que somos de Deus e de que a doença é algo inerente à nossa natureza, porém, quando estivermos na eternidade, nem ela, nem a morte, exercerão qualquer influência sobre nós. Tal qual o pecado, elas serão definitivamente destruídas pelo Senhor; e, talvez, nos reste a lembrança daqueles momentos de tristeza, de angústia, de dor, momentos de comoção, levando-nos a ter as lágrimas enxugadas por Cristo, e sabendo, desde já, que até mesmo a aflição cumpriu o seu papel de nos aproximar ainda mais do Senhor, a fim de receber o seu consolo; para, mesmo na fraqueza, saber que o poder divino se acentua, e nos faz fortes, mesmo que o corpo esmoreça.
Ensino cristalino. Infelizmente, como vemos tantas pessoas que sofrem não por doenças, mas atormentadas debaixo de falsos ensinos que as induzem a entender que seus males são sempre de origem demoníaca. Nada como a sã doutrina para dar a verdadeira libertação!
ResponderExcluirObrigado, pastor!
ResponderExcluirSim, é verdade. Li algo de Agostinho, não me recordo onde, em que ele descreve a liberdade como o encontro com o sumo-bem, que é Deus. No sentido de Agostinho, não existe liberdade fora do bem, pois a liberdade busca o bem; o mal é a corrupção do bem; logo, os escravos (que em nenhum sentido são livres, já que a "liberdade" da vontade está presa à natureza pecaminosa), por mais que se esforcem, continuarão prisioneiros. Somente Cristo e sua palavra podem fazer o homem livre, no sentido mais profundo e expressivo do termo.
E o que sou ou sei é fruto do muito que aprendi com o Senhor e com irmãos sábios e fiéis que ele me deu.
Grande abraço.
Graça e paz Jorge.
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Profundo no estudo e coerente nas palavras.
Que o Senhor continue lhe abençoando para nos abençoar.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira
Grande, Pr. Silas!
ResponderExcluirMuito obrigado!
Tudo é por Deus, para ele, e por ele. Então, se eu o abençoe daqui, o irmão é uma bênção daí, não só a mim, mas a muitos e muitos irmãos!
Que o Filho Amado nos una cada vez mais em seu infinito e santo amor!
Grande e forte abraço!