Por Jorge Fernandes Isah
Nas aulas anteriores, vimos que os dons espetaculares ou apostólicos ou da segunda-bênção ou miraculosos foram específicos e circunscritos a um determinado momento histórico, o período da Igreja Primitiva, e tinha por objetivo revelar a Pessoa do Senhor Jesus, sua obra, ressurreição e "validar" a mensagem e o ministério apostólico, e, por fim, sancionar o cânon, a Escritura Sagrada, que ainda não estava concluída, do ponto de vista formal.
Analisamos que a ideia de um "segundo batismo" do
Espírito Santo se baseia em um texto que nada tem a ver com isso, o qual é
Mateus 3:11, e que para se crer em um "batismo de fogo" como os
pentecostais e carismáticos estão convencidos, é preciso fazer-se uma ginástica e
tanto, um malabarismo, forçando e excluindo o contexto dos 10 versos
anteriores para se concluir que João, o Batista, está a falar de outro
batismo no Espírito Santo.
Na pregação do último domingo, o Pr. Luiz Carlos, dando
continuidade ao estudo do livro de Atos 19:2-7, abordou também a
questão dos dons sobrenaturais, clarificando e trazendo novos elementos
para o entendimento de que esses dons foram restritos àquele período e
não mais são necessários atualmente.
Por isso, vamos proceder a um
estudo dos capítulos 12, 13 e 14 de 1 Coríntios, onde Paulo fala acerca
dos dons espirituais. E entenderemos a motivação que levou o apóstolo a
escrever aos Coríntios sobre a necessidade que eles tinham de
compreender, e não manterem-se ignorantes, quanto à função e ação dos
dons na igreja.
Primeiramente, ele alerta para o desconhecimento, da igreja
de Corinto, quanto ao uso dos dons espirituais. Ao dizer não querer que
os irmãos sejam ignorantes, ele acusou-os de não terem o conhecimento
adequado no uso dos dons, e de que a forma como o faziam não era correta. Já, no início, Paulo os chama a humildade,
revelando que eram gentios, não incluídos inicialmente no Pacto, e
guiados aos ídolos mudos [v.2]. Provavelmente, eles se sentiam, de
alguma maneira, superiores e, talvez, até mesmo sobre os judeus, por
causa dos dons, ou sobre aqueles que não tinham esses dons, e o apóstolo
trata de mostrar-lhes o que eram, como viviam, e de que agora suas vidas
eram outras, transformadas pelo poder de Cristo e pela mensagem do
Evangelho, não podendo então se entregarem ao pecado da arrogância e
superioridade espiritual. Não vejo outro motivo para Paulo deixar tão
clara a condição na qual os coríntios haviam vivido a maior parte de
suas vidas, e de que, agora, chamados ao Cristianismo, se exaltariam,
fazendo-se superiores, por causa dos dons que Deus lhes entregara e que
era para benefício de toda a igreja, e não para a vaidade e glória
pessoais.
Por isso, ele alerta sobre a necessidade deles
compreenderem e entenderem que "ninguém que fala pelo Espírito de Deus
diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão
pelo Espírito Santo" [v.3]. É possível que eles desprezassem irmãos que
reconheciam Cristo como Senhor, mas não exerciam nenhum dom
sobrenatural.
Então, ele fala da diversidade de dons, em que Deus os
distribuiu generosamente à igreja, contudo, um só era o o Espírito que
os distribuía [v.4]. Paulo está a dizer que nenhum dom é superior ao
outro, no sentido de que um deles é "menos" de Deus que o outro, ou o
outro é "mais" de Deus do que o primeiro. Paulo percebeu uma certa
vaidade nos irmãos que, tal qual acontecera com eles em relação ao
apóstolo, Apolo, Pedro e Jesus, provavelmente se vangloriavam do dom que
tinham, desprezando o dom alheio. Assim, aquele que falava em línguas
se considerava maior, mais espiritual, e o que falava duas ou três
línguas se considerava ainda maior e mais espiritual. O que Paulo está
dizendo à igreja é que todos os dons são iguais, desde que para a
edificação da igreja, e todos procedem do mesmo Deus; de forma que
aquele que não tem um dom espetacular, por exemplo, falar em línguas ou
profetizar, é também movido pelo Espírito, o qual o usa como e quando
quer, operando tudo em todos, de forma que a manifestação é dada a cada
um, para o que for útil [v.4-7].
Um parênteses: a forma de que Paulo se utiliza nos versos
4-6, falando que o Espírito é o mesmo, O Senhor é o mesmo, e Deus opera
tudo em todos, dá a medida de unidade e diversidade, tanto na Trindade,
como no Corpo de Cristo. De forma que temos personalidades distintas, o
Espírito Santo, Cristo e o Pai mas que são um. Assim também é a igreja,
onde há muitos membros, e muitos dons distribuídos a esses membros, mas
um só corpo. E a esta unidade diversa, ou diversidade unitária, que
muitas vezes é tão enigmática, de difícil compreensão, que não devemos
esquecer, e lembrarmo-nos de que sem a cabeça, Cristo, o corpo não
sobreviveria; estamos unidos a ele, e é por ele que se manifesta cada um
dos membros, segundo o poder divino de operar.
Muitos contemporâneos alegam que não crer nos dons
sobrenaturais é o mesmo que limitar a Deus, e Deus não pode ser
aprisionado. É verdade, mas lembremos que Deus é imutável, mas a
imutabilidade divina não quer dizer que ele está estático, imóvel; pelo
contrário, Deus está agindo neste momento em cada uma das menores
partículas existentes no Cosmos, pois sem a sua ação, nem mesmo essas
partículas, muitas invisíveis e desconhecidas ao homem, sobreviveria.
Portanto, Deus é um agente ativo em toda a sua obra, contudo, penso que
devolver a pergunta ao inquiridor o deixaria também em situação
desconfortável, pois, o fato de confundir imutabilidade com inoperância,
não pode significar que ao não "remover" certos fatos e acontecimentos
como as pragas do Egito operadas através de Moisés, o milagre de
multiplicar azeite e pão através de Elias, o Sol parar e o abrir do
Jordão através de Eliseu, fatos que não mais aconteceram e que não se mantiveram nos dias atuais, não seria o
mesmo que engessá-lo? Ou seja, por que Deus não opera mais milagres e feitos como esses? Estaríamos acusando-o de estaticidade? E, se esses milagres não persistiram, no decorrer da
história, por que os feitos dos apóstolos persistiriam? A resposta é
simples, Deus tem um propósito para todas as coisas, e cada uma delas
acontecerá dentro do propósito divino. A continuidade dos dons
sobrenaturais após o séc. I é algo que não tem propósito, pois o poder
de Deus se manifesta de maneira diferente, através da proclamação do
Evangelho de Cristo pela igreja, pela reverência e obediência à sua
santa palavra. Os mesmos motivos que justificariam, ao ver dos pentecostais e carismáticos, a atualidade dos dons apostólicos, têm de ser também para corroborar que o Sol pare, o Mar Vermelho se abra, e a água seja transformada em vinho. Do contrário, ambos não concorrem para o fim desejado, e são improcedentes.
Continuando, Paulo descreve os dons dados à igreja pelo Espírito Santo:
1) Palavra de Sabedoria;
2) Palavra de Ciência;
3) Fé;
4) Dons de cura;
5) Operação de maravilhas;
6) Profecia;
7) Discernir espíritos;
8) Variedade de línguas;
9) Interpretação de línguas.
Há ainda outras duas listas formuladas pelo apóstolo que são:
- Em Romanos 12:6-8:
- Em Romanos 12:6-8:
1) Profecia;
2) Ministério;
3) Ensino;
4) Exortação;
5) Repartir;
6) Presidir;
7) Misericórdia.
- Em Efésios 4:11:
1) Apóstolos;
2) Profetas;
3) Evangelistas;
4) Pastores
5) Doutores
Nestas
listas, temos dons miraculosos ou extraordinários e dons que não são
miraculosos ou ordinários. Elas têm o objetivo de mostrar que a lista de
1Coríntios não é a definitiva mas ilustrativa, sendo, ao meu ver, uma
relação necessária e especifica para que os coríntios compreendessem que
Deus age de muitas formas, e de que apenas uma forma, como eles
supunham, não trazia a compreensão necessária acerca de como Deus se
manifestava.
Portanto, entendamos o que sejam esses dons, mais detidamente, a partir da próxima aula.
Notas: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2 - Para entender mais sobre o assunto, ouça e baixe o áudio em Aula 74 - Dons III.MP3
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