23 novembro 2012

Materialismo: um salto de fé














Por Jorge Fernandes Isah

Sempre entendi que um darwinista baseia todas as suas convicções e conceitos não na ciência, muito menos na comprovação científica ou empirismo, mas na falsa premissa da não existência de Deus.

O que os move não é o conhecimento científico, nem as descobertas que "poderiam" apontar para a não existência de Deus, mas o contrário, eles direcionam e acomodam a ciência para dentro do seu escopo filosófico, o qual se evidencia metodologicamente corrompido pela forma como se manipulam, burlam, gerenciam as informações a fim de se ratificar o pressuposto filosófico da não existência de Deus.

A ciência torna-se apenas o veículo para a corroboração da crença na descrença; o meio pelo qual eles dão vazão aos seus pressupostos através da falsa idéia de que estão à procura da razão e da verdade; quando a ciência transforma-se no meio de propagação doutrinária, a despeito do seu apelo pseudo-racional querer excluir a fé, quando, na verdade, ela está arraigada na fé. É o discurso panfletário idealizando-se anti-panfletário, como se fosse possível condenar o proselitismo religioso usando-se do proselitismo para difundir o materialismo, uma nova religião tão ou mais radical como nenhuma outra já foi.

No fundo, o cético faz da ciência e de si mesmo os seus "deuses"; esses são os elementos forjadores da cosmovisão materialista, e ao rejeitarem o Criador simplesmente o substituem por Suas criaturas [sim, a ciência não é criação humana, mas parte da criação divina, assim como o homem]. É o que Paulo alerta: "Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos... Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém" [Rm 1.22, 25]. Na verdade, esse trecho da Escritura explica muito bem o que acontece atualmente: o homem se entregando à pregação, ao discurso, em favor do autonomismo, e assim excluí-se o teocentrismo para, em seu lugar, erguer altares antropocêntricos.

Em suas argumentações e sofismas, os crédulos ateus utilizam-se do fato da ciência não ser neutra para contaminá-la com sua filosofia naturalista, e assim dizer que agem em neutralidade. Parecendo racionais são levianos, e forçam até a exaustão o rótulo de inconsistentes, místicos e preconceituosos aos outros crédulos [em especial, os cristãos] quando suas concepções estão viciadas exatamente pela inconsistência, pelo misticismo, preconceitos e uma metodologia completamente corrompida. Verdadeiramente os naturalistas não estão a serviço da ciência, mas servem-se dela para atingir seus objetivos; usam-na como "ambiente" para disseminar e estabelecer seus dogmas. Em sua maioria são tão fundamentalistas como os fundamentalistas que atacam e execram, pois não estão dispostos ao diálogo, mas à doutrinação mais agressiva que se possa estabelecer e exercitar, e ela começa pelo pressuposto de desqualificar e rejeitar qualquer premissa que não seja igual a "Deus não existe" [não que haja algum benefício em dialogar com eles, pois se encontram de tal maneira presos em seu círculo vicioso que a menor hipótese de liberdade intelectual parecem-lhes pior do que o ferrolho a prender-lhes pés e mãos].

Afinal, quem é mais crédulo? O crente ou o ateu?

É interessante que o "novo ateísmo"[1] proclama a liberdade do homem de todas as formas de opressão religiosa, e o faça direcionando-o explicitamente ao materialismo filosófico, como única e última opção. Ou seja, prega-se uma "libertação", mas essa libertação somente existirá se o liberto tornar-se ateu. Não é interessante? Quer dizer que para se ser livre o homem somente o será se a liberdade o levar ao âmago do sistema ateísta? E até onde será possível ir em defesa dessa liberdade? Como reagirão diante daqueles que se recusarem  a aceitá-la? Os neo-ateístas não estarão revivendo tudo aquilo que dizem combater, mas que é bem possível repetir em nome da sua fé? Ao final, o que teremos serão homens enjaulados, sem sequer uma réstia de luz.


Esse método se assemelha, ou melhor, é idêntico ao discurso marxista. Ao livrar o homem do capitalismo, fatalmente a única opção passa a ser o comunismo. O homem é livre para escolher o comunismo, e tão somente ele; e, chegando lá, estará invariavelmente aprisionado ao sistema, sem nenhuma chance de volta ou outra opção de escolha. A menos que se auto-imploda por ineficiência ou fragilidade, por sua própria inexiquilidade. Em nada é diferente da liberdade que bois e porcos têm no "corredor da morte" em direção ao matadouro. Não há escolha nem salvação. Essa é a liberdade do ateísmo e do marxismo... Mais uma mentira vergonhosa, em que o homem está preso pela suposta liberdade de querer se manter preso.


Por exemplo, Richard Dawkins[2] propõe a mesma libertação comunista: a de aprisionar o homem no ateísmo, no materialismo. E somente estando-se ali ele será, no seu conceito esdrúxulo, livre. Mas livre de quê? De algum tipo de fé? De algum tipo de sistema autoritário e despótico? De algum tipo de jogo onde as cartas estejam marcadas? E depois nos chamam de burros, de cegos. Ou querem enganar a quem além de si mesmos? Como esses homens podem conviver com tanta incoerência e ilogicidade? Somente a desonestidade intelectual como resposta. Ou seria uma fé equivocada? Ao ponto em que o "neo-ateísmo" esforça-se em excluir a história da própria História?


O modelo que desejam para a sociedade é, basicamente, o modelo marxista implementado na extinta URSS por Lenin e Stalin, na China por Mao, em Cuba por Fidel, no Camboja por Pol Pot, e em tantos outros lugares; é o mesmo projetado pelo ateísmo moderno: para aniquilar a idéia de Deus é preciso exterminar o homem, ao não permitir que ele pense, racionalize, mas tenha seus pensamentos reduzidos a um padrão de indiferença, onde todos estarão confinados a um modelo unificado de comportamento e expressão: a submissão cega. Milhões de pessoas sentiram na pele a ideologia marxista, o controle do Estado sobre a sociedade e o indivíduo; a impossibilidade de se "escapar" com vida desse sistema a não ser rendendo-se incondicionalmente; ser controlado completamente pelas forças de "libertação", ou seja, fazer do homem uma simples máquina a serviço da vontade burocrática. Isso é fruto de um irracionalismo voluntário, da falta de discernimento analítico, o aniquilamento do senso crítico, da razão, tornando homens em manadas de idiotas.


O Estado não serve, precisa ser servido em sua voracidade perversa; o Estado não admite Deus, mas quer se fazer um; o Estado não pretende ter cidadãos, mas escravos; não aceita nada menos do que o seu ideal maníaco de onipotência e onipresença. Da mesma forma, o gene egoísta é a nova desculpa para que o Estado controle, domine e subjugue o homem. E a desculpa é sempre a mesma escandalosa mentira: assim é melhor!... Mas para quem?


A loucura doentia do neo-ateísmo, que simplesmente revive conceitos experimentados e fracassados à exaustão, como se fossem novidade, é ser essencialmente aquilo que diz combater. Será que os novos ateus pretendem reescrever a História, ou ficarão apenas na idade média, em especial no período negro da inquisição? Se o falso cristianismo existe e é injusto, há contudo o verdadeiro cristianismo, o qual é justo. Mas o que dizer do marxismo? Que nada mais é do que o materialismo levado às últimas consequências? O naturalismo em sua expressão mais virulenta e odiosa? Em qual lugar houve justiça? Ele apenas promoveu e ainda promove a injustiça em sua sanha destrutiva, em sua descrença em Deus e nos valores cristãos. Ateísmo e marxismo são irmãos siameses a serviço do mesmo senhor: o diabo!


E como tal, não prescinde a fé, mas vive por ela... equivocadamente, diga-se de passagem, posta num ídolo de barro.


Nota: [1] Novo ateísmo ou antiteísmo é a oposição ativa ao teísmo, ao ponto em que não basta rejeitar a Deus, mas lutar para o extermínio de qualquer crença divina, pois, assim o mundo seria muito melhor. Ou seja, eles crêem que não crendo tudo caminhará para a perfeição, mas, além da crença em si mesmo e em suas idéias, o que têm de concreto?
[2] Clinton Richard Dawkins é o maior expoente do neo-ateísmo na atualidade. Ele conclama os ateus a "sairem do armário" e ir à luta contra as religiões e seus deuses, e militarem por um mundo melhor, onde não há espaço para as religiões. 
[3] Este texto tem como ponto de partida o "Bate-Papo com André Venâncio" e os vários comentários à postagem, e a leitura do ótimo livro "Cartas para Dawkins", da Editora Monergismo.
[4] Para o título, utilizei-me de uma expressão do filósofo e teólogo dinamarquês, considerado o pai do existencialismo, Soren Kierkegaard, "o salto da fé", o qual para ele a fé é uma aposta, uma aventura arrojada, um mergulho no desconhecido, um salto arriscado, em que a fé se opõe à razão, de tal forma que são mutuamente exclusivas. Acredito que o darwinismo é mais ou menos isso: uma fé-cega a lançar o homem na treva mais densa que a mente humana pode conceber. 
[5] Texto originalmente publicado aqui mesmo, no Kálamos, em 27/09/2010

15 comentários:

  1. Caro irmão Jorge,

    sem ressalvas,digo algo que você ainda não ouviu: "excelente texto".

    Muito bom, preciso e didático.


    Um abraço.

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  2. Jorge,

    Belo texto. Com a pena apologética que lhe é sempre peculiar.

    Magistral!

    Graça e Paz
    Mizael Reis

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  3. Irmão Jorge,

    Há um tempo atrás, postei uma mensagem no monergismo sobre o assunto dos “ateus”. Como tem tudo a ver com o texto do irmão, postarei aqui um trecho do mesmo, em forma de comentário:

    ontem eu estava pensando em algo bem seriamente.

    Dizemos sempre que queremos ter uma visão bíblica de tudo. TUDO MESMO. E sabemos que essa é a visão verdadeira de mundo. E querer isso é bom.

    O problema, é que constantemente pensamos diferente da Palavra, e nem nos tocamos disso. Eu creio que um verdadeiro homem/mulher de Deus tem que ter uma cosmovisão bíblica de mundo o mais perto de 100% possível.

    Esses dias ví uma pregação do Paul Washer onde fala sobre OS ATEUS que chocou meu modo de vê-los. Espero que edifiquem os irmãos, pois pode mudar nosso modo de abordá-los e conviver com eles. Peço aos irmãos muita atenção e reflexão. Aqui está o trecho transcrito:

    "É impossível entrar em um debate com um 'ateu'. É impossível. Porque? Porque não existe tal coisa como um 'ateu'. Os ateus não existem. A Bíblia não reconhece o 'ateu'. Se Ela nos diz que "todos os homens conhecem a Deus" (Romanos 1.20 e 21), todos os homens sabem não somente que há um Deus, eles sabem quem é! E também todos os homens tem uma idéia de como é a Vontade desse Deus. Versículo 18 (de Rm 1) de novo. Escutem o que diz: "Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.". Eles TEM a Verdade! Que Verdade têm? Versiculo 21 "Porquanto, tendo conhecido a Deus"...

    Não diz que "sabem que há um deus", diz que eles conhecem quem é o Deus Verdadeiro. Em um debate, NUNCA é um problema com o intelecto. É um problema com a vontade. Quanto sabe o homem acerca do Deus verdadeiro? Ele sabe o suficiente para odiá-Lo. Quanto sabe o homem acerca da Vontade de Deus? Ele sabe o suficiente para lutar contra ela.

    Quando estou falando, às vezes, nas universidades, e um ateu se apresenta, ele diz "sou ateu", e eu digo "Não. Não é. Você sabe quem é Deus, e Ele escreveu isso em seu coração. Seu problema não é um problema de intelecto, é um problema da vontade. Você sabe quem é Deus, mas você O odeia."
    "E porque?" diz o ateu. "Porque Odeio a Deus?"
    "Bem, porque Ele é Bom. Você odeia a Deus porque Ele é bom."
    "Mas como vou odiar a Deus simplesmente porque Ele é bom?"
    "Porque você é mau. E os maus odeiam aos bons"

    Não existem ateus! A Bíblia não os reconhece!

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  4. Oi, Neto!

    Que bom tê-lo por aqui, é uma honra.

    Quanto ao texto do Paul Washer, concordo com o que ele disse. Na verdade o ateu é um idólatra que adora a outro "deus" ou "deuses" e não ao Deus verdadeiro.

    Mas a Bíblia dá um nome para eles sim, tolos: "Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não há ninguém que faça o bem" [Sl 14.1].

    Portanto, "ateus" são, sobretudo, tolos e idólatras.

    Obrigado por seu comentário e visita.

    Cristo o abençoe!

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  5. Muito bom irmão Neto...

    Um abraço a todos.

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  6. Eu que fico honrado em ser bem recebido.

    Como o P. W. disse, tudo é uma questão de vontade, não de intelecto. Bateu totalmente com a sua afirmação de que eles usam a ciencia para tentar provar seus pressupostos (vontade), e não pare chegarem honestamente à verdade (intelecto).

    Um abraço, Deus abençoe.

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  7. Graça e paz Jorge,
    parabéns por mais esse excelente texto.
    Há um livro muito interessante do Norman Geisler e Frank Turek a começar pelo título que diz: "Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu". Eu achei fantástico o título desse livro pois ele nos mostra que para ser ateu o indivíduo tem que ter muita fé, e como você falou, uma fé que não tem respaudo em nada, é a famosa fé na fé. Te falo uma coisa para ser ateu o cara tem ser muito crente (rs).
    Fique na Paz!
    Pr. Silas

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  8. Pr. Silas,

    não li o livro do Geisler, mas concordo com o título, e provavelmente concordarei com o conteúdo. Não é muito difícil provar que os "ateus" tenham fé. Basta verificar as bases em que eles afirmam a não existência de Deus.

    Mas, nem mesmo estou pensando em convencê-los disso, mas de convencer os crentes de que não há superioridade no materialismo/naturalismo. O que há é a concordância do mundo, e isso é natural tendo-se em vista as mentes caídas que o geraram.

    De qualquer forma, o que me preocupa são cristãos se aliarem ao pensamento materialista, ao ponto de criarem uma aberração como o teísmo-evolucionista. Que claramente se opõe à Escritura, de tal forma que não houve outra forma a não ser alegorizar Gen 1 a 11, e assim adequá-lo ao pensamento "científico" dos nossos dias.

    Abraços.

    Cristo o abençoe!

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  9. Excelente texto!!! Ao lê-lo, me passou pela cabeça a idéia de que sempre que o homem tenta tirar Deus de Seu trono e trancafiá-lO em alguma tumba distante, nunca é por um desejo de viver sem Deus, mas tão somente com o objetivo de colocar um outro "deus" em Seu lugar. Digo, ele não quer o Deus santo e justo das Escrituras, mas um outro "deus" que não seja tão exigente e acoberte todas as suas malcriações; ele quer uma força impessoal que alivie sua consciência, nem que esta força esteja nele mesmo.

    Veja o caso do Marxismo: ele não quer apenas tirar Deus de Seu trono, mas colocar um outro "deus" lá, a saber o deus Estado. O ateísmo, em geral, também também não faz outra coisa que não seja defender o seu "deus", ou melhor, "deusa". A razão é uma deusa muito exigente, tudo que não for empírico é grande ofensa, principalmente algo como Revelação. No final das contas tudo o que a deusa razão tem para oferecer é "auto-adoração", ao passar uma falsa idéia de intelectualismo e auto-suficiência. O próprio darwinismo, com todas as suas incoerências, só é aceito nos círculos acadêmicos ateístas, pelo fato de ser a unica esperança que eles possuem de conceber algum tipo de origem aparte de Deus.

    Ateísmo não é a descrença em Deus, mas a crença num outro "deus".

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  10. Nelson [EDG],

    Por tudo e em tudo que escreveu, tem o meu endosso total.
    Parabéns por seu comentário; que daria uma boa postagem.

    Abraços

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  11. Meu caro amigo,

    Como conciliar teu texto:


    Porque, como disse, o pecado afetou o
    homem por completo, mas ele age na parte imaterial primeiramente, e o
    corpo é tão somente o veículo pelo qual ela se manifestará. O corpo, por
    si só, não decide pecar. A alma é que impulsionará o corpo,
    controlando-o, ordenando-o para o pecado. A alma é que precisa de
    regeneração, de ser vivificada; é ela que se encontra morta, separada de
    Deus. O corpo, enquanto suas funções biológicas não cessarem,
    permanecerá vivo, ainda que a alma esteja morta.

    Com Mateus 26:41

    Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.

    Obrigado pela atenção,

    Desvech

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