“O mistério é assimilar,
por que Deus se fez homem,
viveu e se ofereceu
aos inimigos?”
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Todo livro é um encontro. Um encontro não meramente com seu autor, mas com todas as vozes, lugares e tempos proporcionados pela narrativa que lemos. E a poesia de Jorge Isah me trouxe ao encontro de inúmeros personagens, sujeitos dispersos, que, senti eu, o autor arrancava de dentro de si. Como se percorrêssemos 20.000 léguas para dentro do mar sem fim desse universo criado pelo autor, mas o capitão tem mão segura e, assim, verso a verso, leva-nos numa cadência existencial que nos coloca diante de nós mesmos.
Encontrei-me com um poeta que, além das narrativas, amadurece e domina a métrica, o ritmo e a rima de forma cada vez mais precisa. Um poeta que desapossa de si sua poesia e nos oferece um encontro conosco também, porque é de nossos vãos e recônditos, da nossa carne e da nossa espera por intervenção divina que nos deparamos com a nossa humanidade. As lutas, os devaneios, as indagações e o desespero dos personagens de Jorge Isah são os mesmos de todos nós. Estamos sempre nos esbarrando com estes sujeitos múltiplos - este vaso que caiu das mãos da criada descuidada e se fez em mil pedaços - e nos surpreendemos ouvindo tantas vozes. Eu me assombrei quando li a voz que também sempre ouço: “Calma, ninguém nunca quer”!
A poesia anseia um dia ver o perfeito face a face e a obra de Isah é uma obra de santidade, pois relembra que a divindade ou, melhor dizendo, o Espírito Santo, é quem reunirá os sujeitos dispersos e nos dará, um dia plenamente, mas, aqui neste front de guerra, a cada dia e todo dia, o ajuntamento necessário e preciso dos nossos cacos, dos nossos pedaços, até que nos olhemos no espelho e possamos ver, em nós, Jesus, o Cristo, completo.
Todavia, ainda seguimos tateando o velho arcano. E os versos são os campos de batalha, porque todo poeta também necessita ser santo. Fugindo da religiosidade, embora se deparando com ela todo dia, o poeta força a palavra como quem força a vida no intuito de recriar a criação. E o que seria do ourives sem sua prata e seu ouro? E o que seria do poeta sem suas palavras? A árdua disputa do poeta contra seu verso se faz necessária, porque fomos chamados para dominar a natureza dos signos e o universo dos significados. É um embate, é mesmo uma guerra de conquista, por isso o verdadeiro poeta sabe que o texto - fruto desse esforço espiritual e físico - é símbolo de sua terra definitiva. Finalizado e dominado no espaço exato da forma, todo poema é para seu autor sua terra prometida: nossa escritura é nossa pátria!
Eu
quero convidar você a ler estas páginas com a reverência necessária - o
respeito pelo sagrado - que nossa geração perdeu, mas que tanto carece, ainda
que não consiga discernir isso na confusão da nossa decadente modernidade.
Fábio Ribas
Livro: Esconderijo de Dias Intangíveis
Autor: Jorge F. Isah
Editora: Kálamos
No. Páginas: 162
Sinopse: "Este livro promove um encontro não meramente com seu autor, mas com todas as vozes, lugares e tempos proporcionados pela narrativa. Os poemas apresentam inúmeros personagens, sujeitos dispersos, que o autor parece arrancar de dentro de si. No mar deste universo criado pelo autor, o capitão tem mão segura, verso a verso conduzindo a uma cadência existencial que coloca o leitor diante de si mesmo."
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