21 abril 2018

A Invasão Vertical dos Bárbaros




Jorge F. Isah


Este é o primeiro livro do filósofo Mário Ferreira dos Santos que leio. Tenho o Filosofia Concreta, Lógica e Dialética, alguns "pdfs" de livros fora de catálogo, e estou prestes a comprar o Tratado de Simbólica, porém, nenhum ainda lido. 

Parte do meu "descaso" com o autor se deve ao temor que o prof. Olavo de Carvalho me incutiu quanto à obra, o qual reputá-a como grandiosa e uma das maiores realizadas por um filósofo no séc. XX, e, portanto, também uma obra difícil e profunda; que requer um certo entendimento prévio do muito que se irá ler, para melhor compreendê-lo. Trocando em miúdos, os livros do prof. Mário Ferreira não são para o leitor comum, com pouca bagagem cultural e sem algum conhecimento dos temas por ele abordados. 

Há ainda o fato dele ter escrito muito, deixado um vasto material a ser estudado e organizado, algo que se produziu sem o zelo editoral, sem uma revisão acurada, cujo tempo ele não dispunha. Ele procurou deixar um registro do seu pensamento, acreditando que seus discípulos pudessem, no futuro, realizar o trabalho de elaboração final da sua obra. 

Como sou apenas um iniciante na ciência da filosofia, aceitei prontamente o conselho do prof. Olavo, sabendo de minhas limitações, e de que deveria ser prudente e cauteloso não somente com o trabalho do prof. Mário, mas com o de muitos outros. 

Ao saber da publicação deste livro, interessou-me sobremaneira o título e perceber que se tratava de uma obra mais voltada para os iniciados, aqueles que nunca tiveram um contato direto com ela. O próprio título da coleção, "Abertura Cultural", parece ter o objetivo de "instigar" os interessados no mundo da alta cultura. 

Após ler algumas dezenas de páginas, a impressão que me dá é de que falta alguma coisa. Não sei explicar direito o que seja, talvez uma maior elaboração, desenvolvimento, dos temas abordados, e que se referem exatamente ao fato de o autor descrever o retorno da civilização ocidental ao barbarismo, ao primitivismo e, uma inferência minha, uma volta ao paganismo. Mas isso em nada desqualifica o seu pensamento, pelo contrário, o prof. Mário parece um profeta moderno, que anteviu décadas antes o que vivemos agora não somente no Brasil, mas no mundo globalizado; ou seria apenas a capacidade de perceber e vislumbrar o que já estava diante dos olhos e que a maioria de nós não foi capaz de ver ou não quis ver? Seja por ignorância, cinismo ou canalhice?

O livro foi originalmente publicado em 1967, provavelmente escrito anos antes, e, passados quase meio século, ele é de uma atualidade assustadora. É como se o prof. Mário estivesse vivendo cada minuto no séc XXI e visto em detalhes o que se tornou a humanidade. 

Creio que somente homens capacitados por Deus (sejam crentes ou não, mas sempre instrumentos da vontade e poder divinos), e que busquem interessadamente compreender a verdade e a realidade, podem “antever” o seu tempo. A maioria dos estudiosos se focam no caráter ideológico e metodológico das suas áreas com pouco ou nenhum interesse pelo real. Como a ideologia sempre buscará uma aparência de realidade e verdade, eles estarão submersos e envolvidos com o que se denominou de “segunda-realidade”, que cada vez mais o aprisionará num mundo onde o desconhecimento impera, e isso significa a ignorância em relação a Deus, à humanidade e a si mesmo.

Espero ter aguçar a curiosidade e o interesse dos visitantes em relação à obra do grande filósofo e professor; entretanto, se não o fiz, esqueça-me, e se debruce o mais rápido possível sobre ela. 

Deixo um pequeno aperitivo, do pensamento do prof. Mário Ferreira:

"A VALORIZAÇÃO DA HORDA, DO TRIBALISMO
As multidões desenfreadas nas ruas, que são o caminho para as grandes brutalidades e injustiças, manifestação do primitivismo, mais um exemplo da horda, movidas por paixões, sobretudo o medo, aguçadas pelos exploradores eternos de suas fraquezas, pelos demagogos mais sórdidos, passam a ser exemplos de superioridades humana... Esses movimentos só têm servido para apoiar tiranos e desenvolver a brutalidade organizada, porque o desenfreio das massas nas ruas não pode ser permanente, e exige, desde logo, a imposição da ordem, o que favorece, então, o emprego desmedido da força e o abuso dela, com consequências graves e perniciosas até para aqueles que foram os mais ativos nessas manifestações bárbaras" 
(pg 34/35).


Invasão Vertical dos Bárbaros
Mario Ferreira dos Santos
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