02 janeiro 2010

Perdas e Ganhos

 













Por Jorge Fernandes Isah 

Quase todo mundo se dispõe a fazer um balanço de fim-de-ano.  Mesmo que irrefletidamente, muitas conclusões são tiradas, e de forma geral, consideramos o ano produtivo se houve algum “ganho” substancial em nossa vida, seja financeira, profissional, acadêmica, familiar... Por outro lado, tem-se a impressão de “perda” quando há um revés e nos endividamos, somos demitidos, vamos mal na faculdade, ou existem sérios problemas em casa, seja a morte, a doença ou desequilíbrios gerais. É sempre assim. E para afogar as tristezas ou comemorar a esperança de futuras conquistas, enche-se a cara e a pança de muita bebida e comida, os ouvidos de música (invariavelmente, de péssimo gosto), o ambiente de gritos e foguetes ensurdecedores. Poucos se submetem ao silêncio, à reflexão, a oração e agradecimentos.

No exato momento em que escrevo este texto, há uma disputa açular entre os meus vizinhos, para ver quem tem o som mais potente, o pior gosto musical e a maior falta de educação. Tudo neste mundo tem sido muito barulhento, espalhafatoso, brutal e detidamente sem escrúpulos; ao ponto em que boa parte da igreja evangélica se rendeu aos apelos seculares, seja com carros de som e suas centenas de decibéis propagandeando esse ou aquele culto libertador, esse ou aquele pastor curador, esse ou aquele show abençoador, essa ou aquela promessa sedutora... ou a chacota nas rádios, tvs, e a impudência de muitos púlpitos. A maioria deles não passaria pelo Código de Defesa do Consumidor, e seria facilmente enquadrado nos casos de propaganda enganosa. Promete-se o céu quando se vende o inferno e as mais abissais masmorras...

Mas o assunto é outro. 

Na verdade, como todo mundo, decidi fazer um balanço da minha vida. Não no crepuscular e já defunto 2009. Mas no primeiro dia de 2010. E onde cheguei?

Apesar de virar a noite em oração, em leituras bíblicas, em entoar hinos do Cantor Cristão, sinto que é muito pouco. É claro que não estou a desmerecer a comunhão com Deus pela oração, nem o conhecimento da Sua vontade pela Escritura, nem de louvá-lO pelo hinário. Não é isso. Acontece que Deus tem sido demasiadamente misericordioso para comigo, ao ponto em que tenho percebido o crescimento intelectual e racional através da Bíblia, ainda que apenas esteja engatinhando [1]. Sei que pela ação do Espírito Santo tanto o conhecimento divino como a Sua vontade têm sido revelados. Não por algum mérito ou esforço pessoal, mas, como disse, pela exclusiva e infinita misericórdia e bondade divinas.

Do ponto de vista teórico, Deus tem me capacitado a entender e compreender a verdade, como opera e os propósitos que alcançará infalivelmente. Porém, fiz-me a seguinte pergunta: estou mais semelhante a Cristo? O quanto de Cristo foi acrescido a mim, para parecer mais com Ele e menos comigo? A resposta foi: ainda que tendo a mente de Cristo, falta-me muito, mas muito mesmo para, um dia, ser conformado à Sua imagem. O que me trouxe inicialmente esmorecimento e tristeza... vergonha mesmo, pois, espiritualmente, sinto-me estagnado, inerte, sem produzir os frutos necessários a glorificá-lO através da minha vida. 

Falei de Cristo para as pessoas? Sim. Aconselhei crentes e incrédulos segundo a Sua palavra? Sim. Orei por muitos? Sim. Distribui Bíblias e livros? Sim. Amei, servi, fui paciente, auxiliei? Sim, claro que sim! Então, porque me sinto frustrado? Não seria porque a maior parte do tempo estava envolvido com os meus problemas, comigo mesmo e não tive tempo ou não quis orar? E acabei por orar muito menos do que podia e devia? Não tive tempo ou não quis meditar na Escritura, e acabei por negligenciá-la? Não tive tempo ou não quis visitar um enfermo, e acabei por esquecê-lo? Olhei para aquele homem ou mulher que necessitavam do Evangelho, e silenciei-me? Não levei esperança a quem precisava de esperança, e egoisticamente guardei-a para mim? Por timidez, medo ou vergonha não intervim e refutei os ignorantemente blasfemos? Por esses e outros motivos não fui neste dia e no ano nada mais do que um covarde, acomodado em minha fé, em minha salvação, acreditando estupidamente que essa é a vontade de Deus. Mas não é, “porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29]

O que Deus quer é que eu viva como um eleito, como co-herdeiro de Cristo, e a segurança seja para mim o estímulo ao trabalho e não uma espécie de aposentadoria prematura [2Pe 1.10]. Se o crente negligenciar a sua eleição, ele não é um escolhido; pois dele se espera coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, porque Deus não é injusto para se esquecer da obra e do trabalho realizado por amor do Seu nome [Hb 6.12].

Sei que não depende dos meus esforços eu ser como Cristo, no sentido de que efetivamente não posso produzir uma nova natureza e semelhança com o meu Senhor, porém, isso não me exime de desejar sê-lo, e imitá-lo, cumprindo assim a vontade de Deus, tornando meu o que é dEle [Ef 5.1]

Não é um desabafo, mas uma constatação. Nem tampouco uma demonstração de auto-indulgência, mas a certeza de que em mim não há nada que agrade a Deus, pois com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” [Rm 7.18]. Exatamente porque o bem somente se concretizará na minha vida pelo poder de Deus operando em mim, e não por alguma possibilidade de produzi-lo por meios próprios, seja pela vontade, seja por algum dom ou exercício. Se Deus não o fizer, nada que eu faça resultará no bem. Foi assim que o Senhor disse a Paulo: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” [2Co 12.9a]. Ao que o apóstolo respondeu: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” [2Co 12.9b].

Tudo em nossas vidas é sempre obra de Deus. Não importa se eu quero, faço ou desejo, porque Deus é o que opera tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade [Fp 2.13]. Contudo, alheio à questão da liberdade, eu tenho de querer, desejar e fazer, senão serei responsabilizado por minha desobediência em não querer, não desejar, não fazer. No final, o que importa é isso: viver segundo a vontade de Deus [1Pe 4.2], gerado pela palavra da verdade, para ser as primícias das suas criaturas [Tg 1.18],  aperfeiçoando-me em toda a boa obra, operando em mim “o que perante ele é agradável por Cristo Jesus” [Hb 13.21].

Portanto, quero continuar a ler, meditar e aprender nas Escrituras, “segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus” [2Tm 1.1], pedindo para ser cheio do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para andar “dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus... dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz” [Cl 1.9-10, 12]; para ser o homem perfeito em Cristo, assim como Cristo é perfeito e nos tem por cumprimento da Sua promessa: “quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” [1Jo 3.2 b].

Neste ano, mais do que nunca, que eu possa considerar todas as coisas como perdas para ganhar a Cristo [Fp 3.7].

Nota: 1- Não podia esquecer de agradecer pela vida dos autores de obras impressas e virtuais, bem como a muitos irmãos e amigos que têm sido auxiliadores no conhecimento de Deus, Sua obra e vontade. Não é possível citar um a um, mas o bom  Deus conhece aqueles que o amam, "sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer" [Ef 6.8].

13 comentários:

  1. Prezado irmão Jorge,
    Você muito bem abordou sobre esse balanço. Existem aquelas perdas que são positivas e são nessas perdas que deveríamos nos concentrar. Aquelas que engrandecem a Cristo, que nos introduzem em um melhor conhecimento do Pai e que nos fazem serví-lo melhor, essas sim são boas perdas. Com certeza estas perdas gerarão ganhos expressivos em avanços espirituais e para obra. Que percamos do mais do mundo, mais dos modelos escravizadores da mente e metodologias expúrias e ganhemos mais de Cristo.
    Tenha um 2010 transbordante do conhecimento da vontade do Pai.
    Um abraço
    Em Cristo

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  2. Belíssima reflexão, Jorge.
    Eu gosto muito de ser propositivo em meus textos lá no blog. Porém inicio o ano em meio a duas postagens e um comentário "resposta". Embora considere importante combater a ignorância, sinto-me infeliz com uma oposição tão pouco producente como esta. Isto me faz sentir como aquele "criador de casos" de que já fui acusado. Isto é realmente triste para mim.
    Não, não me arrependo de dizer tudo que já disse. Nem de enfrentar oposição. Não é isso. É apenas que isso obscurece (ou parece obscurecer) qualquer fruto de minha jornada cristã.
    E assim como você, embora eu perceba em mim frutos verdadeiros e a imagem de Cristo sendo forjada por Deus em mim, percebo-me distante demais desta mesma imagem.
    Tomo então suas palavras como minhas e faço desta sua postagem minha oração!
    Deus o abençoe!
    Em Cristo,
    Roberto

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  3. Pr. Luiz Fernando,

    O Evangelho para o eleito, ao meu ver, é um só: ser conformado à imagem de Cristo, já que fomos predestinados para isso (Rm 8.29}. E a grande esperança e certeza é a de, ainda que não sejamos como Ele é, certamente seremos, pois Deus cumprirá em nós aquilo que nos prometeu por amor do Seu nome. É algo inevitável, e que se realizará infalivelmente. Por isso, perder os favores do mundo, suas ilusões e falsas promessas para ganhar a Cristo, resultará em sermos feitos dia após dia mais semelhantes a Ele, cumprindo a vontade do Pai.

    Estejamos cheios do desejo de ser cada vez mais semelhantes ao nosso Senhor.

    Obrigado pelo comentário do amigo e irmão.

    Grande abraço, e um 2010 repleto da graça de Deus.

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  4. Roberto,

    a verdade causa incômodo e resistência exatamente naqueles que a temem. Como disse no seu blog, a questão é muito mais do que desonestidade intelectual, é, sobretudo, desonestidade espiritual. Esta coordena e submete aquela às falsas premissas e, por conseguinte, leva às mentiras e enganos.

    As vezes temos de ser duros, não porque queremos "tripudiar" sobre os outros, mas porque a verdade não admite qualquer concessão, especialmente ao subterfúgio. O amor a Cristo exige que não se contemporize com nada que vá além ou aquém do Evangelho. É parte da nossa missão de servi-lO integralmente.

    Tenho para mim que aqueles que se consideram "acima de qualquer suspeita", não se entendem realmente como miseráveis e servos inúteis, estão distantes de reconhecer o quanto precisam orar e desejar serem conformados à imagem de Cristo.

    E, como o meu pastor, Luiz Carlos Tibúrcio me disse, a insatisfação do crente consigo mesmo é fruto exatamente da ação de Deus em nossas vidas, e do crescimento intelectual e espiritual que Ele nos proporciona.

    Se não formos capaz de reconhecer em nós mesmos as criatuas miseráveis e inúteis que somos, não reconheceremos em Deus o Senhor soberano, perfeito e santo que Ele é. E aí, o Evangelho é como semente lançada na terra seca e estéril: não produzira frutos dignos de louvor e honra ao nosso Senhor.

    Grande abraço ao irmão, do qual já me considero amigo, certo de que, daqui para a frente, teremos toda a eternidade para testemunhar a maravilhosa obra que Deus realiza em nossas vidas.

    Cristo o abençoe e a sua família imensamente!

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  5. Hê irmão...como vai? beijos a todos. Parece que esqueco de vocês mas não.Fico feliz de saber como está s sua fé. Dei o seu exemplo para o Helvecinho um dia desses. Desculpe a ligeira controvércia no blog do Pr. Luiz Fernando. Dê pessoalmente um abraço a ele. Mas creio que, mesmo sem concordar, você compreendeu as minhas colocações. O fim é o mesmo, que as pessoas conheçam ao Senhor nosso Deus, saibam do seu amor e reconheçam o seu poder. Afinal, nós os que cremos , somos incompletos em muitas coisas e erramos em muitas áreas no que concerne a obra de Deus. Em provérbios: "Assim como uma faca amola outra faca, assim um homem ao rosorto do outro homem", numa tradução livre. Um abraço.

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  6. Caro irmão Jorge, postei comentários no blog do Pr. Luiz Fernando, postei outro comentário no seu blog e agora anuncio, graças a você, uma nova postagem nomeu blog, que inaugurado ano passdo só tinha uma postagem. Pretendia fazer algo maduro e bem pensado e que fosse verdadeiramente útil e espiritualmente abençoador. Espero a sua visita e o eu parecer e se puder um acompanhamento diário. A sua opinião e participação serão muito importantes.

    O endereço é esse:

    http://mensagemdopregador.blogspot.com

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  7. Helvécio,

    finalmente, depois de um longo inverno, você se dispôs a comentar no meu blog, ainda que não tenha comentado especificamente sobre algum texto. Mas já é um começo (rsrs)...

    Quanto ao debate no blog do pr. Luiz Fernando, é assim mesmo. As idéias existem para ser apresentadas, corroboradas, ou refutadas. Coloquei claramente o que entendo: a primazia do Evangelho sobre qualquer outra coisa, mesmo que sejam milagres.

    Cristo tinha a preocupação premente de, primeiro, pregar o Evangelho, depois, realizar milagres, ou as duas coisas concomitantes. Jamais houve algum milagre sem a palavra. O que muitos "milagreiros" fazem é pregar outro evangelho, o antievangelho, e dar espetáculos. Não há a preocupação com o pecado, o arrpendimento, o juízo, o inferno, a condenação, nem mesmo Cristo é apresentado como Deus soberano, Senhor e Criador de todas as coisas e Juiz do mundo, o qual salvou muitos, mas condenará também outro tanto ou mais.

    Quanto ao seu blog, farei outra visita, e espero que escreva periodcamente, com regularidade, para trocarmos idéias e uma ou outra farpa (rsrs).

    Grande abraço ao irmão e amigo, bem como à Rose, o Helvecinho e Jô.

    Cristo os abençoe!

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  8. Obrigado pela visita ao meu blog, espero contar sempre com você como seguidor ( puxa que honra! legal mesmo ) Está amadurecendo a cada postagem e acho que a idéia é torná-lo evangelístico principalmente. Queria dizer uma coisa. Que sempre senti em relaçao a seu blog: sempre foi estéticamente bonito e está cada vez melhor. Os meus parabéns principalmente pela beleza das imagens escolhidas a cada postagem. Excepcionais! Não só embelezam gráficamente o blog como complementam cada reflexão apresentada. Deus o abençoe! Um grande abraço em Cristo.

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  9. Helvécio,

    Não acredito na máxima que diz: "uma imagem vale mais do que mil palavras", mas creio que elas podem complementar e auxiliar no entendimento daquilo que se quer dizer. Por isso, procuro imagens que tenham algo a ver com o texto. Nem sempre é possível, mas sempre que possível, procuro unir uma ao outro.

    Obrigado pelos elogios. Boa parte deles se devem à generosidade com que o irmão Tiago Vieira do Internautas Cristãos tem me dispensado. Algumas mudanças no layout são "culpa" dele.

    Como sou meio conservador quanto a muitos "pinduricalhos" no blog, procuro colocar apenas o estritamente necessário.

    Espero que continue firme no blog recém-iniciado. Vi que já tem muitas postagens. Lerei-as no fim-de-semana.

    Que bom que finalmente decidiu-se a fazer um blog evangelístico. Sua vinda irá aumentar ainda mais o nível na blogosfera. E é disso que precisamos; e é essa uma das nossas obrigações como cristãos: proclamar a verdade, Cristo e o Evangelho.

    Grande abraço ao amigo e irmão.

    Cristo o abençoe!

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  10. "persiste em ler..." 1 timóteo 4.13a.

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  11. Natan,

    persistamos, até aquele grande dia.

    Abraços.

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  12. Jorge, meu caro irmão,

    Deixei lá no "internautas cristãos" um comentário a esta postagem, mas quero também comentá-la aqui.

    O meu comentário é muito semelhante ao do Roberto: tenho absoluta certeza de uma real proximidade com Cristo; minha vida apresenta mudanças claras, as quais entendo como frutos do espírito, porém, ao mesmo tempo, assaltam-me dúvidas. Sim, sou absolutamente sincero em afirmar isso: tenho dúvidas! Em muitos momentos vejo algo ainda da "velha critura" e isso me entristece sobremaneira. A única coisa boa que vejo, mesmo nessas dúvidas negativas a respeito das minhas convicções cristãs é que "agora estou vendo", aceito consciente e humildemente essas limitações, o que considero marco inicial para a mudança: a consciência do erro.

    Tenho observado você, os seus textos, seus comentários, a humildade inerente à sua pessoa, proveniente do resgate em Cristo e vejo-o como um exemplo a seguir (pelos frutos apreendidos).

    Enxergo claramente os meus defeitos vendo as suas qualidades aparentes. E isso alegra-me e entristece ao mesmo tempo. Alegra-me por ver um irmão transformado, redimido, resgatado; e entristece-me por saber que o meu caminho é longo, que as dúvidas ainda me assaltarão e que o processo é gradual. Eu gostaria que fosse imediato. Gostaria de ter a humildade sua e de muitos outros irmãos que conheço ( sem qualquer inveja, mas reconhecimento puro dos próprios defeitos e limitações cristãs). E hei de reconhecer que muitas vezes as coisas não dão certo, se conduzem erradamente por minha culpa, por ainda não ter atingido a santidade necessária.

    É isso meu amigo e irmão. Parabéns por estar trilhando o caminho de Cristo. Continue assim, para que possamos olhá-lo e tê-lo como exemplo nesse maravilhoso aprendizado em busca de uma verdadeira comunhão com Cristo, para honra e glória do Senhor.

    NEle,

    Ricardo

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  13. Ricardo,

    sei que devemos imitar a Cristo, mas, como escrevi em outro texto (Autofilia), Paulo disse:"Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” [1Co 4.16].

    É nosso dever servir de exemplo aos irmãos, e mesmo ao mundo, sabendo que somente assim estaremos sendo aperfeiçoados no Senhor.

    Vou-lhe fazer uma confissão: sempre fui orgulhoso, arrogante, vaidoso, e me considerando superior aos outros. Foi preciso Deus trabalhar a minha vida por anos, humilhando-me e revelando-me o que eu realmente era (e ainda sou, um pouco menos, mas ainda faz parte de mim). Na verdade, como estava cego, era incapaz de ver a minha condição, e quanto mais descia, mais a minha soberba crescia (mostrando o quanto a mente e o coração inconversos podem ser irracionais). Até aquele glorioso dia em que o Senhor me colocou aos seus pés, e vi minha pequenez e insignificância, e vi o quanto era um miserável pecador. Mas ainda assim havia um quê de soberba, e ela foi transferida para os ímpios.
    Tolamente me considerava melhor do que eles, por ter a Cristo e eles não. Isso não é uma mentira; estamos na condição de co-herdeiros de Cristo, de filhos adotivos do Altíssimo em Cristo, não por mérito algum nosso, mas exclusivamente por Ele, o nosso Senhor.
    Então, o Espírito Santo me mostrou mais uma vez a minha baixeza, e o quanto estava enganado. Aqueles que ainda hoje encontram-se na sarjeta espiritual e moral refletem exatamente o estado em que me encontrava cinco anos atrás. Eu também vim de lá, e por anos a fio me mantive ali, cego, sujo, nu, miserável. Por que então a soberba? A mesma condição em que eles estão, estive por mais tempo que muitos deles.
    O fato é que, sem o Senhor, não somos nada, e não fizemos por merecer a graça divina. Ela nos alcançou quando éramos inimigos do Senhor e sérios candidatos ao fogo do inferno.
    Quanto aos elogios, reputo-os como generosidade e bondade do irmão, assim como de outros irmãos. Não os mereço, e não é falsa modéstia, é que não mereço mesmo por tudo o que disse acima (e por tantos pecados e imperfeições que carrego comigo).
    Mas não se esqueça também que nada disso é isolado; dependemos uns dos outros, e todos dependemos de Cristo. Tanto o irmão, o qual começo a travar uma amizade agora, quanto tantos outros irmãos, são exemplos para mim, naquilo em que imitam a Cristo. Então, vejo a imagem do Senhor refletida em cada um, sabendo que Ele está incansavelmente a realizar a Sua boa obra.
    Quanto à tristeza pelos nossos pecados, isso também é obra do Senhor produzindo frutos em nossas vidas, frutos dignos de arrependimento para a Sua honra e glória.
    No fim das contas, tudo é por Cristo, para Cristo e em Cristo, sem o qual não seríamos nada além de criaturas a caminho da perdição eterna.
    Toda a glória portanto seja para Ele! Sabendo que naquele dia em que O veremos face a face, já seremos semelhantes a Ele.

    Grande abraço no Senhor, meu amigo e irmão!

    Cristo o abençoe imensamente!

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