13 dezembro 2010

Cristo não é Senhor dos que correm, mas dos quais se compadece




















Por Jorge Fernandes Isah 


Há um trecho na Escritura que sempre me comoveu desde que o li, a primeira vez, logo após a minha conversão. As palavras de Jesus soavam duras demais para os meus ouvidos sensíveis e pouco acostumados com a verdade; e não considerava o caráter justo de Deus, muito menos a sua obra como eficaz, na qual ele veria o fruto do seu trabalho e se satisfaria; o que vale dizer que Cristo considerou a sua obra concluída, acabada e não por terminar, como querem alguns, ainda que inconscientemente [Is 53.11].

A maioria utiliza-no em seu caráter santificador, com perguntas do tipo: Você conhece Jesus?... Você obedece a Deus?... O seu entendimento sobre Cristo é apenas cognitivo?... Quando vai conhecê-lo em seu coração? Ou afirmações parecidas com: Você tem de viver o Evangelho... Não basta crer, pois até os demônios crêem... O seu relacionamento tem de ser pessoal com Deus. E por aí afora...[1]

Não estou dizendo que as perguntas e as afirmativas estão erradas, mas elas falham em compreender algo fundamental e que tem sido relegado a um ponto senão obscuro, ininteligível, para nós; e toda vez que o trecho é comentado ou usado, emprega-mo-lo como se destinado exclusivamente para fariseus, hereges e ímpios; porém há algo muito mais fantástico em sua sentença, algo que me emociona sobremaneira, hoje mais que ontem: o esforço pessoal é irrelevante para Deus, pois importa-lhe tão somente os eleitos, aqueles que escolheu por sua vontade. E ponto final.

Estou a defender o antinomismo? De forma alguma! Acontece que a lei não é objeto de salvação, mas o salvo tem prazer em cumpri-la[2]. Enquanto, para o ímpio, resta obedecer-lha, em seu caráter temporal, para não ser punido, sem que haja qualquer prazer em sujeitar-se. E nem mesmo a lei é o que separa eleitos de réprobos, salvos de condenados, mas a eleição eficaz de Deus, a qual determinou a condição de cada um dos seres humanos; como está escrito: E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo... Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” [Mt 25.33, 34, 41]. Os santos não foram incluídos no Reino por um sistema de recompensa, como uma “bonificação” aos obedientes, um prêmio aos que se mantêm fiéis a Deus; mas o Reino foi criado para os eleitos, os santos, antes da fundação do mundo, como o lugar onde todos os escolhidos reinarão “com toda a sorte de bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” [Ef 1.3]. Por isso, ele nos elegeu antes da Criação, para sermos “santos e irrepreensíveis diante dele em amor” [Ef 1.4]; e “nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” [Ef 1.5-6].

A ação divina não é passiva, do tipo, Deus viu que o homem se salvaria, se santificaria, se esforçaria em entrar no Reino, aceitaria-no e, então, somente então, Deus o predestinaria e o elegeria. Mas que eleição é essa onde o eleito é quem se auto-predestina? Onde o escolhido se auto-escolhe e impõe a sua escolha por seus próprios méritos para aquele que o predestinou? O que vem primeiro, a predestinação ou o esforço do eleito em satisfazê-la, e por isso, ser predestinado? Seria o mesmo que dizer que alguém se afogou antes de entrar na água. A predestinação, por mais que se queira distorcer o seu sentido, tem  somente uma definição, de acordo com o Priberam:

predestinar - (latim praedestino, -are)
v. tr.
1. Eleger desde a eternidade (ex.: afirmou que Deus predestina os justos).
2. Destinar para grandes coisas ou para determinado fim. = eleger
3. Destinar com antecedência


Ora, predestinar é claramente a atitude de destinar antecipadamente, de previamente decidir, e não o ato de antever o que irá acontecer e então determinar que aconteça. E, então, fica a pergunta: quem garantiu que o evento aconteceria? Deus? O homem? O acaso? Forças impessoais? Ou a cooperação mútua dessas forças? O que não entendo é: se Deus viu o que iria acontecer, como algo certo, visto tê-lo previsto, por que o determinaria já que o fato é, em si mesmo, exequível em sua realização, e não dependeu da sua vontade ou decisão para ser observado? Pelo contrário, o fato previsto seria soberanamente livre, impedindo que Deus agisse para mudá-lo, ainda que não fosse do seu agrado. Isso não levaria à conclusão de que esse "Deus" antes de ser pessoal é um "Deus" impessoal? E a presdestinação, assim como a eleição, não passaria de uma piada sem graça, um xiste, que tornaria esse "Deus" num mero espectador, a endossar obrigatoriamente até mesmo o que lhe contrariaria? Em outras palavras, a sua soberania seria uma lenda, e tudo, desde a Criação, teria de ter outra explicação; tudo, na verdade, não poderia vir da vontade desse "Deus", mas de outra força, pois o que ele faz é consentir que cada evento ocorra como visto, e a sua vontade seja adequada a cada evento de tal forma que eles permaneçam imutáveis. A vontade dele se subordinaria à inexorável realização do ato antevisto. Por todos os lados, o que temos aqui não é o Deus bíblico, mas um "Deus" impotente, escravo da visão; um "Deus" transitivo quando a revelação nos apresenta o Deus intransitivo, completo e perfeito em si mesmo. Contudo, estou saindo do foco desta postagem, ainda que este seja um elemento pertinente a ela...

Voltando à vaca-fria, do ponto de vista humano, seria possível se equilibrar em uma corda-bamba, sem pára-quedas, dez mil pés de altitude, com ar rarefeito, rajadas fortes de vento, chuvas, gelo, e a gravidade puxando-o incontinênti para baixo?[3]. Como  manter-se assim, por si só? Quais forças o sustentariam, impedindo-o de despencar em queda-livre? De ser tragado no espaço? Essa é a condição do homem diante do pecado e da condenação; fatalmente será sugado por eles, destruído, se Deus não agir ativamente, em todo o processo, sustentando-o na corda-bamba. Na verdade, ele nos tirou dela, e nos colocou são e salvos no chão, em terra firme, enquanto quem tomou o nosso lugar foi Cristo. E os ímpios? Os que não se esborracharam ainda no chão? Estão precipitados no ar, a espera de juntarem-se aos corpos estatelados no abismo.

Mas, esse não é o trecho em questão, que me comoveu nos últimos anos. Então, qual é?

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” [Mt 7.21]

Bem, a exigência de obediência está evidente, não é? Claro! Somente entrarão nos céus aqueles que fazem a vontade do Pai, certo? Sim. Então, onde está o problema apontado por você? De haver uma leve distorção nesse ensino? Respondendo a mim mesmo, pergunto: quem faz a vontade do Pai? Alguém, entre nós, é capaz disso? Há de se entender que a vontade divina não é uma parte, nem fração ou divisão. Não são peças de um quebra-cabeças que se vai montando; ela é pronta e acabada, não restando o que pôr ou retirar. O Senhor referiu-se a ela como “a vontade”, única, inseparável, não-repartida. Assim, quem se habilita ao Reino dos céus?

Seguindo o esquema soteriológico vigente no presente século, Cristo morreu por todos, e cabe a cada um dentre todos, alcançá-lo por seus próprios meios, como um feito, uma obra pessoal. Segundo esse mesmo sistema, o homem pode conseguir salvar-se mas pode perder-se novamente ao falhar em cumprir a vontade do Pai. Mas não bastaria uma falha para tudo ir por água abaixo? Ou seja, mesmo que Cristo tenha morrido por todos, é possível que ninguém seja salvo, pois o princípio da obediência é a vontade divina como um todo, completa, não uma partícula, não uma seção; visto a salvação vir pela fé em Cristo, mas a fé não ser suficiente, pois se tem de, ainda que seja no ato inicial, alcançá-la pelo esforço individual de aceitar aquilo que está sendo proposto.

O arrependimento não justifica o erro, nem pode anulá-lo. O arrependimento é o agradecimento por, ainda que errando, Deus nos haver perdoado; é o reconhecimento daquilo que fez ao anular a dívida que tínhamos, pelo sacrifício de Cristo na cruz. O arrependimento não pode nos livrar da condenação, por isso, Judas permaneceu condenado em seus pecados, mesmo reconhecendo seus erros. Uma dívida não pode ser paga a menos que seja quitada. Como não nos foi possível remi-la, Jesus tomou o nosso lugar e, "havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz" [Cl 2.14]; perdoando-nos todas as ofensas. Elas foram pagas de uma só vez, pela obediência completa do Filho de Deus, não sendo possível imputar a quem foi perdoado nova condenação. No tribunal de Cristo não há recursos nem apelações, dívida paga, dívida quitada, não há débitos, nem a possibilidade de serem reavidos, cobrados e pagos outra vez. Por isso, Paulo diz que é impossível ao salvo recair e ser novamente renovado para o arrependimento; se tal coisa acontecesse, "de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério" [Hb 6.6]

Voltando ao exemplo do homem em queda-livre, sem pára-quedas, o que pode ele fazer além de esperar por um milagre? Nada. É o caso do homem em relação à sua salvação. Não lhe resta nada a fazer, pois o que foi feito por Cristo é plenamente eficaz, de tal forma que nenhum acréscimo é-lhe permitido, sendo perfeito, e ao perfeito não se adiciona coisa alguma. Porque ele, e somente ele, foi capaz de satisfazer toda a vontade do Pai; de obedecê-la integralmente, sem falhas nem tropeços, equilibrando-se na corda-bamba de ponta a ponta, dominando-se a si mesmo sem inclinar-se para um lado ou outro do abismo. Por isso, tem a autoridade para responder aos réprobos: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” [Mt 7.22-23].

Há alguns aspectos a serem abordados aqui:
    
1)      Ímpios podem ser usados por Deus para fazerem a sua obra, segundo a sua vontade, já que também são servos, como tudo o que foi criado está-lhe sujeito e a servi-lo. Portanto, haverá nessa lista de “desconhecidos do Senhor”, pastores, missionários, teólogos, e mesmo pessoas que, aos olhos humanos e carnais, eram irrepreensíveis, assim como Paulo era entre os judeus [Fp 3.6].
2)      Eles podem fazer muitas coisas, como: profetizar, expulsar demônios e outras maravilhas, mas isso não lhes assegurará a participação no Reino; evidência de que, como disse no início deste texto, Deus não se importa com o nosso esforço pessoal, o qual nada vale se não for como conseqüência dele nos conhecer, predestinar, chamar, justificar e glorificar; verbos que guardam em si ações diretas, ativas de Deus na vida daqueles que destinou a “serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29].
3)      A despeito de tudo o que fizeram, em nome de Cristo, ele lhes dirá abertamente: “Nunca vos conheci”. Essa afirmação guarda um tesouro, não para os desconhecidos, mas para os conhecidos. Dirão alguns que isso é a prova da presciência, da antevisão divina, assim como um vidente vê o futuro, apenas e tão somente, sem poder intervir nele. A palavra “conheci” procede do grego ginosko[4] indicando “ter a ver com”, “conhecer pessoalmente”. Cristo quis dizer que “não tinha nada a ver com aqueles homens”, “que nunca teve nada a ver com eles”, “que os desconhecia”, por isso deviam apartar-se dele. Fica a pergunta: se Cristo morreu por eles, como era possível que não os conhecesse e tivesse um conhecimento pessoal? Em contrapartida, aqueles que “conhece”, têm tudo a ver consigo, são-lhe íntimos, têm uma relação estreita, ao ponto do Pai vê-los por intermédio do Filho, que satisfaz a sua vontade. E a satisfez plenamente na cruz, ao morrer por aqueles que o Pai lhe deu, os quais jamais se perderão e sairão das suas mãos. Cristo morreu por suas ovelhas apenas, não por todas, e ele mesmo se encarregou de agregar as que ainda não estavam em seu aprisco... e elas ouvirão a sua voz, “e haverá um rebanho e um Pastor” [Jo 10.16]. Por isso, Cristo ainda diz: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós... Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” [Jo 15.16, 17.9].

A relação aqui é de posse; somos de Cristo, assim como somos do Pai, o mundo não é de Cristo, no sentido específico da salvação, do ato expiatório do Senhor ser objetivado aos eleitos, e não à humanidade genericamente. Somos de Cristo, pois, por nós, morreu, resgatando-nos com o seu próprio sangue [At 20.28]. A segurança do eleito está nele, o qual nos conhece, e destinou-nos infalivelmente a que o conhecêssemos. Em outras palavras, Cristo nos conhece, e não há a menor chance daqueles que conhece não o conhecê-lo. Por isso, além de revelar a qualidade moral da obediência [no que todos os cristãos concordam], a qual é o padrão para fazer parte do Reino, incontestavelmente o trecho da Escritura reivindica a salvação e a reprovaçao como escolhas diretas de Deus sobre os homens, adquirindo o sentido exato de que a verdade comunicada é esta: “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece... Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” [Rm 9.16, 18].

O que o Paulo quer dizer com isso? Você curou? Ótimo, mas não confie na cura que fez... Profetizou? Não confie em sua profecia... Expulsou demônios? Isso não lhe garante nada... Fez milagres? Cuidado!.. Fez maravilhas? E daí?... Se Deus falou por intermédio de uma jumenta, e usou ímpios como Ciro, Balaão e Judas para realizarem feitos muito maiores do que esses; por que não pode usá-lo? E, mesmo assim, nem o animal ou aqueles homens foram salvos, antes foram condenados, “para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama” [Rm 9.11]. Logo, o que impede Deus de usá-lo na pregação, no evangelismo, no sustento ministerial, e ainda assim condená-lo?

Para concluir, mais duas colocações:

Primeira, como já disse, não estou defendendo nenhum conceito antinomiano, nem de que as exortações da Bíblia para que busquemos a Deus, obedeça-mo-lo, e sejamos santos como ele é santo, são inúteis e incapazes de serem cumpridas. Nada disso! A obediência não é um salvo-conduto para se ingressar no Reino, pelo contrário, se não houver o chamado divino, e Deus não o capacitar a realizar esses e outros feitos para a sua glória, nem mesmo a maior de todas as maravilhas o impedirá de ir para o inferno. Servir a Deus e ser-lhe obediente são consequências e não causas da salvação. O eleito, após a regeneração, deverá buscar, se esforçar, e lutar para, dia após dia, ser transformado à imagem de Cristo, não como algo intrínseco à sua natureza, mas como dádiva do Senhor pela qual somos, nos movemos e existimos. Em outras palavras, se o eleito busca, se esforça e luta para ser como o seu Senhor, é porque Deus opera nele até mesmo nos pensamentos e desejos menos evidenciáveis, de tal forma que se cumpra a promessa de Deus tê-lo elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade... para alcançar a glória de nosso Senhor Jesus Cristo [2Ts 2.13-14].

Segunda, o entendimento da soberania de Deus não é algo que pode ser mudado conforme a nossa conveniência. Algo que sempre me trouxe paz é saber que, mesmo numa eventual não-eleição [como uma hipótese], e sendo condenado ao fogo do inferno, eu daria glória a Deus, bendiria-o, e declararia a todos a sua santidade, perfeição, justiça, mesmo em meio as labaredas eternas, pois a sua vontade irretocável cumprir-se-ia soberanamente.

Com isso, não estou a duvidar da minha salvação e eleição, mas reconhecer que o Senhor permanece o que é e sempre foi, que a sua natureza não pode ser abalada em nenhum aspecto, ainda que o inferno fosse o meu destino. Não está errado reconhecer a justiça e perfeição divinas por nos salvar; mas o fato de não ser salvo, e estar destinado à condenação, não o tornaria injusto, mau ou tirano. Por ser essa a sua vontade e, portanto, santa e perfeita.
Fazendo uma analogia, utilizando-me de um trecho do livro de Jó, Deus permanece Deus a despeito da minha condição e situação, pois "nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor" [Jó 2.21].

Ele entendeu isso. Cabe-nos fazer o mesmo.

Notas: [1] Este texto é a segunda parte, a continuação, ao entitulado “Deus não faz acepção de pessoas”.
[2] Escrevi sobre a lei, dizendo que ela sempre tem o caráter de condenar e jamais salvar em “Lei e Graça: revelação divina”
[3] Analogias não são totalmente eficientes e confiáveis quando relacionadas ao texto bíblico, mas podem nos dar uma idéia do que ela está dizendo, facilitando o entendimento; sendo as analogias falíveis, como falível é o nosso pensamento.
[4] Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, pg 398, Editora Vida Nova

06 dezembro 2010

Lei e Graça: revelação divina












Por Jorge Fernandes Isah

   Qual o objetivo da Lei? [1]
   Salvar? Condenar?
   Há uma terrível confusão entre os cristãos. Muitos acham que a Lei teve, em algum momento da história, o caráter de salvar. Fica a pergunta: quem foi salvo? Houve um homem, apenas um, que fosse salvo por ela? Nenhum. Então, por que veio a Lei? “Foi ordenada por causa das transgressões”, disse Paulo [Gl 3.19], “porque onde não há lei também não há transgressão” [Rm 4.15]. Parece que é mais ou menos isso que não somente os ímpios querem, mas muitos cristãos também. Talvez numa forma inconsciente de antinomia; talvez por desejarem pecar livremente; talvez por descuido ou ignorância; talvez porque o laicismo grite mais alto do que a lei de Deus no coração. Ou seria, meramente, outra forma de soberba dos tempos modernos? Um intelectualismo estereotipado com o intuito de se apresentar como alguém civilizado, progressista e não-retrógrado? O certo é que a lei tem o caráter de revelar o pecado, mas não somente isso, de também puni-lo. Contudo, esse preâmbulo será alvo de outra postagem, o que me interessa agora é responder à pergunta: a Lei pode salvar? Ou Deus deu-lhe vida para que todos fossem julgados e condenados por ela?
   Primeiro, como é de praxe, vamos às definições dos termos:
1)      Lei – A palavra lei foi usada para traduzir o termo hebraico “tora”, que significa instrução ou doutrina, e a palavra grega “nomos”, que significa hábito estabelecido. Em ambos os casos indicam alguma regra ou regulamento imposto sobre o homem ou a natureza por um poder superior. Ao legislador reserva-se o direito de punir toda infração e desobediência.
2)      Lei Natural – É a Lei de Deus gravada nos corações humanos “testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” [Rm 2.15]; ao ponto em que até mesmo os gentios que não têm a lei, ao fazerem naturalmente as coisas que são da lei, para si mesmos são lei [v.14].
3)      Lei Mosaica – Ela se divide em:
a)      Lei Moral – resumida nos Dez Mandamentos, ou Dez Palavras, que regula a relação do homem com Deus e o próximo.
b)      Lei Civil – são aplicações ou amplificações da Lei Moral a casos específicos, detalhando os Dez Mandamentos.
c)      Lei Cerimonial – regulava os ritos relativos ao sacerdócio e aos sacrifícios, o ministério no santuário do Tabernáculo e depois no Templo.
   A lei natural escrita nos corações do homem, quando da Criação, não foi suficiente para que ele não pecasse; de tal maneira que, pela corrupção do homem, foi necessário escrevê-la, literalmente, para lembrar-nos da obrigação que temos diante de Deus.
   Analisemos o caso de Adão: Se não houvesse a lei, a ordem expressa de Deus para não pecar/desobedecer, comendo do fruto da árvore do bem e do mal, ele estaria tranquilamente até hoje no Éden, pois não precisaria da lei para se salvar, já que estava “salvo”. Porém, quando Deus lhe deu o mandamento, ele teve o nítido caráter de revelar o pecado “latente” em Adão; mostrando a sua imperfeição do ponto de vista não da Criação, como algo bom, mas em relação a Deus. Os privilégios dos quais desfrutava, a partir da lei e do pecado [que invariavelmente aconteceria e não havia como não acontecer], perderam-se, e o homem passou a viver como uma miserável criatura. Com ele, o qual era o cabeça da humanidade, toda a Criação caiu, não do seu caráter perfeito, mas da ordem natural, tornando-se em caos [Gn 3.16-19]. O natural se tornou antinatural, e foi preciso que o próprio Deus, na pessoa de Cristo, encarnasse e viesse ao mundo para restabelecer a ordem perdida, primeiro, nos eleitos e, quando da sua segunda vinda, em todo o Cosmos.
                                 Pausa.
   Apenas para evitar confusão, o meu entendimento é de que a ordem lógica das coisas não foi essa, mas antes se deu pelo amor de Deus para com os eleitos e, assim, veio a Criação, a Queda, a Redenção e a Santificação. Deus determinou todas as coisas por causa dos eleitos e, por eles, fez ver ao mundo o seu amor, graça, justiça e glória, ainda que o mundo não possa ver nem entender, mas os que foram chamados exclusivamente por ele a Cristo, o verão como é.
                                Voltando da pausa.
   Portanto, qualquer um que disser que a lei poderia levar à salvação, em alguma hipótese, estará a cometer um grave erro. Ela vem para condenar, revelando o pecado e decretando a punição do infrator, e do ponto de vista pedagógico, levar os eleitos a Cristo, do qual somos completamente dependentes para sermos restaurados. Com isso não estou a dizer que voltaremos à condição de Adão, no Éden, antes da Queda; que para muitos era perfeita, mas perfeita em quê? Ou em relação a quê? Se na primeira oportunidade Adão não exitou em pecar?
   Para a maioria dos cristãos, e mesmo a maioria calvinista, regindo-se pelo pensamento de Agostinho [2], o primeiro homem podia escolher entre pecar e não pecar. Contudo, fica a pergunta: diante da lei, o que se evidenciou na natureza de Adão e em nós? O pecado. Não a possibilidade de rejeitá-lo, nem de se manter puro, incontaminado, mas uma disposição natural para a depravação, para a rebeldia. É o que Paulo parece dizer: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” [Rm 3.19]. Pensem comigo: se Adão não tivesse pecado, a lei o salvaria, mas o salvaria de quê? Qual justiça Adão buscaria na lei? Ela não lhe traria benefício algum, nenhum “extra” se a cumprisse, mas o de manter-se no estado em que se encontrava. “De toda a árvore do jardim comeras livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” [Gn 2.16-17]. A lei veio portanto para salvá-lo? Ou para condená-lo? Qual é o seu papel? Em que Adão foi favorecido? Em nada, porque a Queda era inevitável. A lei veio revelar que Adão [e nós, os quais pecamos juntamente com ele], não podia não pecar, mas certamente pecaria, como pecou. Porque Deus encerrou tudo debaixo do pecado; e guardou-nos debaixo da lei, desde Adão; e encerrou-nos para a fé que havia de se manifestar em Jesus Cristo, para que fôssemos justificados [Gl 3.21-24].
   Assim, Cristo não veio restaurar a perfeição do homem, a qual não havia, mas fazer-lhe perfeito. Primeiro, por imputação, o seu sacrifício já nos fez e tornou-nos perfeitos nele; e segundo, de fato, quando na eternidade, ao contrário do Éden, será impossível ao homem pecar. Cristo veio restaurar a condição inicial do homem antes da lei, quando não havia a possibilidade de pecado, visto não haver o “aio” que estabeleceria e normatizaria uma conduta e prática pecaminosa. Antes da lei, era impossível para Adão pecar. Antes da lei, Adão não teria como cair. Sem a lei, Adão permaneceria em seu estado de pureza “irresponsável”. Sem a lei e seus preceitos, ele era “livre” e não poderia ser acusado de nenhuma transgressão, pois não havia o que transgredir. Mas quando Deus lhe deu uma ordem, e mostrou-lhe o castigo caso desobedecesse a ordem, Adão não pode resistir. Em sua natureza, o pecado ainda não se manifestara, mas estava pronto a se revelar, a se desenvolver, bastando para isso as condições necessárias, o momento propício para tornar público o que estava oculto. A lei, em sua condição explicitamente condenatória, trouxe o pecado à tona, e fez com que todos se tornassem injustificáveis em si mesmos; que a possibilidade de falar por meio das obras fosse silenciada definitivamente; “porque pela lei vem o conhecimento do pecado” [Rm 3.20]. E, por ela, somos feitos pecadores, e indesculpáveis diante de Deus.
   A lei não traz vida para a salvação, mas a morte [Rm 7.9-11]. A lei não justifica, mas acusa. Jamais liberta, mas escraviza [Gl 4.21-31]. A lei poderia absolver alguém, hipoteticamente falando, se todos não fossemos pecadores.  A lei poderia declarar um homem justo, se todos não fossem injustos. A lei promete uma vida impossível, e uma morte evidente. A lei reclama que se olhe a realidade do pecado, e é inadmissível não vê-lo. E por isso é maravilhosa, santa, perfeita, pois sem ela, jamais seria revelado aos eleitos o amor de Deus. Jamais haveria Cristo, homem, e a certeza de um dia sermos como ele. Jamais seríamos perfeitos, mas num estado de falsa perfeição. A lei não nos exalta, mas humilha. Traz sobre todos os ímpios a ira de Deus [Ef 2.3]. Nos coloca em nossos devidos lugares, como carentes, desesperadamente sujeitos à misericórdia, autoridade, graça e poder de Deus. A lei nos põe debaixo da maldição, para sermos resgatados por Cristo, o qual se fez maldição por nós [Gl 3.13].
    Em todos os aspectos da lei, ela não tem como nos salvar, nem alguém pode ser salvo por ela. Se a lei pudesse trazer vida, a justiça teria sido por ela; mas aprouve a Deus nos chamar à vida por seu Filho Amado Jesus Cristo. Por ele, somos feitos santos, e nos fará de fato santos, não porque escolhemos ser santos, mas porque ele nos escolheu santificar; e, uma vez com ele, com ele estaremos para sempre em perfeição e santidade.
    Concluindo, a lei foi criada por Deus para estabelecer e determinar o caráter pecaminoso de nossa alma, do contrário não haveria pecado, pois não haveria transgressão, nem inobservância da lei. O que exclui qualquer possibilidade de justiça e justificação, de tal forma que estaria o homem livre para agir segundo o seu coração, sem impedimento, como um homem sem lei [Rm 7.9].
   Não há nenhuma oferta de “boas novas” na lei, hipotética ou real, que propõe a salvação estando à disposição de todos que aceitassem a tarefa de obedecê-la até à perfeição; especialmente porque, além de Cristo, ninguém mais foi capaz de cumpri-la, logo, não há base para qualquer suposição teológica que corrobore a justificação legal.
   A lei trouxe a justiça ao nos tornar injustos, revelando a justiça de Deus e a necessidade de sermos justificados por ele. Em outras palavras, o que ela revela é o completo desperdício e inutilidade do homem buscar a justiça de Deus na lei, sendo ela mesma a revelar-nos a sua ineficiência para a salvação. Foi o que Paulo disse: “Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus” [Gl 2.19].
  Adão, ainda que não houvesse lei teria de ser regenerado em sua natureza; o que a lei fez foi revelar-lhe, e a todos nós, que os seus caminhos eram maus, e de que carecia de Deus para ser resgatado, transformado, e colocado na trilha dos seus perfeitos e santos caminhos.
  Ficam as perguntas: a lei foi abolida pela graça? Ou ela se revelou na graça?
  Tentarei responder mais à frente. Se Deus quiser.

Notas: [1] Este texto foi escrito previamente há mais de dois meses. Pretendia publicá-lo em seguida à minha exposição da graça, tema dos dois últimos textos, mas optei por antecipá-lo agora. 
[2] Agostinho defendia o que, séculos depois, ficou conhecido como esquema infralapsariano.

22 novembro 2010

Pagando a dívida, e ainda devedor [Comentário a Gl 2.20]













Por Jorge Fernandes Isah

    Gálatas 2.20 é um versículo precioso, poderia dizer, inigualável. Não somente porque foi o versículo da minha conversão [que descrevi no texto O dia em que Cristo me fez], mas porque, de uma forma singular, poder-se-ia resumir a vida cristã ou, ao menos, descrevê-la plenamente. É também o alvo, o de um dia poder dizer: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. São palavras que me acalentam, me dominam, me compungem a encontrar-me nelas. Poderia ser a epígrafe cravada na minha sepultura, porém, muito mais a quero gravada em meu coração. O resumo de tudo o que almejo e quero experimentar. Mais do que isso, ser. E desde aquele momento, decorei-as, como se decora a melodia da mais bela entre todas as canções. Como se ouvisse a sinfonia perfeita, inefável, a síntese do mais puro e santo sentido, ainda que com palavras indizíveis em sua verdade absoluta e extraordinária. Como se estivesse a construir algo que sei impossível, por mim mesmo, construir. De certa forma, invejo a Paulo por ter sido ele e não eu a proferi-las; mas creio que saídas de sua boca, elas têm o som da minha voz, o som da sua voz, o som da voz de todos os santos, daqueles que são um em Cristo, e por ele vivem.
     
       Mas, o que levou o apóstolo a proferi-las?
    
     A mensagem central de Gálatas é a disputa: Lei x Evangelho. Em vários momentos, parece haver o desprezo de Paulo pela lei, como se fosse descartável e não existisse mais nenhum sentido nela. Mas esse não é o caso. Em outra carta, ele diz: "E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” [Rm 7.12]. E, ainda: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei” [Rm 3.31].
    
   O que está em disputa entre Paulo e os judaizantes é a lei como instrumento de salvação. Eles pregavam contra o Evangelho, ao afirmar que era necessário se cumprir toda a lei para salvar-se. Por isso, o apóstolo diz: “Se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” [ 2.21]. Ora, se para ser salvo o crente deveria cumprir toda a lei, qual a razão de Cristo encarnar, padecer, e morrer na cruz? Por isso o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo [2.16]. Desta forma, Paulo constrói a defesa do Evangelho da Graça, sem que haja nenhum tom antinominiano [1] em seu discurso, pelo contrário: “É porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma. Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor” [2.18].

     Se Cristo pagou na cruz a dívida que tínhamos para com Deus, e se está paga, definitivamente paga, o que mais podemos fazer que ele não fez? Fico a imaginar Paulo rindo-se da tolice desses homens, mas entristecendo-se pelo caráter sutil e maligno de distorcerem a fé a fim de enganar incautos, e anular a graça.  Cristo, ao destruir o pecado e seu caráter condenatório sobre os eleitos, não poderia restituí-lo novamente, ao ponto em que seria exigido o cumprimento da lei para a salvação. Se a justiça foi decretada na cruz para os que crêem, se o pecado foi morto, ressuscitá-lo significaria dizer, entre outras coisas, que a obra do Senhor não foi eficaz, e de que, loucamente, ao trazer a justiça, trouxe a injustiça.

  O apóstolo está a condenar aqueles que anteriormente pregavam o Evangelho da graça, para agora viver pela lei, tornando-os em transgressores, porque quem não está morto para a lei, vive para ela, ou seja, vive para a morte, pois pela lei ninguém pode ser justificado perante Deus [3.11],  antes está debaixo da maldição da lei. Ao contrário, quem está morto para a lei, vive para Deus, eternamente. Paulo ensina a teologia correta, a doutrina correta, mas muito mais do que isso.

      Ele disse que estava morto para a lei.

      Que estava crucificado com Cristo.


      Que vivia, não mais ele, mas Cristo.


      Que Cristo o amou, e se entregou a si mesmo por ele.


      Então, o que levou o apóstolo a proferir o verso 2.20?

    A consciência de tudo isso acima, mas, sobretudo, reconhecer que, sem Cristo, nada disso seria possível. Nem mesmo ele, Paulo, seria possível. De uma forma maravilhosa, Paulo reconhecia a completa dependência do Senhor, e a obra fantástica que fez para que ele pudesse reconhecer-se em Cristo. Sem ele, o que seria Paulo? Sem Cristo, o que seria eu? Você? Não haveria esperança, não haveria o perdão, nem a salvação. Apenas a tristeza assoladora de que a condenação era questão de tempo, irremediável, uma maldição a pairar sobre nossas cabeças eternamente. E se eu, antes condenado, agora salvo pelo poder de Deus, o que quereria exaltar em mim mesmo para voltar à destruição? Ou seria possível exaltar-me na ruína? Ou antes, arrependendo-me de mim mesmo para ser um dia como Cristo é? Pois se olharmos para nós, como somos, sem Cristo, não haverá nada além de  condenados sem que seja preciso esperar o castigo, pois estamos já a “curtir”, sobre nós, a ira de Deus. Se olhar para mim, descobrirei apenas que sou miserável, e nu, e cego. Se olhar, e apenas me ver, há um pecador naufragando em pecados. Se sou o futuro, não há futuro; apenas o passado de morte, de sofrimento e angústia. Ao contrário, se vejo Cristo em mim, assim como Paulo o via em si, as coisas mudam de figura. Já não sou mais um condenado, antes justificado. De pecador, a santo. De maldito, a bendito. De desgraçado e vil, a agraciado e amado.

    A teologia de Paulo [2] estava certa. Ela lhe trouxe esperança, certeza, convicção. E abriu-lhe os olhos para a mais surpreendente e inesperada verdade, de que ele já não era mais ele, mas Cristo a viver nele. E trazia no seu corpo as marcas do Senhor [6.17], marcas profundas que não o impediam de se ver como era, de reconhecer o que era, de gloriar-se nas fraquezas para que o poder do Senhor em si habitasse [1Co 12.9].  Porém, antes era necessário que compreendesse e conhecesse isso, para depois sentir; pois, como sentir o que não se conhece ou não compreende? Como alguém desejará o que não conhece?

    Como qualquer homem, ele tinha de nascer, crescer e amadurecer na fé. Mas ninguém nasce por si mesmo; era necessário que fosse gerado por Cristo; que o sangue do Senhor não somente o limpasse dos pecados, mas corresse em suas veias e bombeasse no seu coração a vida. A vida que somente o Senhor poderia dar, e deu, a despeito de todo o desejo de nos apossar dela como se fosse nossa por direito, e não por dádiva, misericordiosa, e graciosamente entregue pelo amor com que Deus nos amou. O caminho nos é mostrado, mas não há nada que nos faça andar nele, se não nos for revelado. Quem não pode ver, como saberá onde andar?

    O certo é que, como João o Batista disse, era necessário que ele diminuísse e Cristo crescesse [Jo 3.30].

      E assim será para todos os que foram crucificados e mortos com Cristo.

     Se ele não viver em nós, a morte viverá.

Nota: [1] Antinomianismo significa “antilei”. É o oposto de legalismo, e como ele, uma heresia. Para os defensores do antinomianismo, o crente não tem de obedecer à lei de Deus, pois Cristo à pregou na cruz. E se a pregou na cruz, está-se livre para viver como quiser, inclusive pecando o quanto quiser; ao ponto de até mesmo distorcerem o sentido de graça, ao afirmar que, quanto mais se peca, mais a graça se manifesta.
[2] Paulo, ao defender magistralmente o Evangelho da graça, afirmando a justificação somente pela fé no sangue derramado de Cristo na cruz, defende também a sua autoridade e ministério contra os falsos-mestres, os detratores que buscavam difamá-lo e desqualificá-lo como apóstolo. E nada mais verdadeiro do que reafirmar que estava morto para si, para viver para Cristo, enquanto aqueles queriam viver por si mesmos.
[3] Aguçado pela conversa com uma querida irmã, lembrei-me que devia um texto sobre Gl 2.20. E, por mais que escreva, sempre serei devedor a Deus por tê-lo dado a mim.
[4] Não entrei muito na questão da impossibilidade da lei como meio de salvação, a qual farei brevemente em outro texto.
  

19 novembro 2010

Manifesto em defesa da liberdade de expressão religiosa

A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado.  Continue a ler

15 novembro 2010

Um pouco de escatologia, vida cristã e esperança














Por Jorge Fernandes Isah

    Este texto é parte de um bate-papo com um irmão que me consultou, por email, sobre algumas questões que achei pertinentes reproduzi-las aqui, com a devida autorização dele; cujo nome será preservador, e o chamarei de Ivan. O questionamento dele virá primeiro, entre “aspas”  e em amarelo, e o meu comentário logo em seguida, em branco.

   “Estou escrevendo esse e-mail para tirar algumas dúvidas sobre Escatologia. Encontrei seu blog, Kálamos, a pouco tempo e gostei muito de muitos artigos. Pude ver que você segue a linha de interpretação pós-milenista referente a Escatologia. É isso mesmo? Ou entendi mal?” 
    Sou um falso pós-milenista [rsrs]. Na verdade, não me defini escatologicamente, por falta de tempo para estudar o assunto. Como fui convertido há exatos 6 anos, tenho preferido estudar assuntos mais urgentes sobre os quais me tenho debruçado e, infelizmente, a questão escatológica vai-se arrastando até quando Deus quiser que se arraste. 
     O que causa a confusão, e não somente a você mas a outros irmãos, é que sou teonomista [até onde estudei], e a teonomia é sempre confundida com dominionismo, reconstrucionismo e pós-milenismo. Sou o que gosto de dizer, um teonomista pessimista. Defendo a aplicação da Lei do AT nos dias de hoje para todos os homens, mas não acredito que isso vá acontecer, exatamente por acreditar que o mundo caminha mesmo para a rejeição e negação de Deus e sua vontade. Mas isso não me impede de lutar, defender, e tentar a todo custo que os crentes entendam a unidade da Escritura e a urgência de se voltar a essa unidade, inclusive na aplicação da Lei, para que o mundo seja mais justo. O fato de eu não crer que a Lei divina será aplicada no mundo, não me impede de lutar para que seja. Por isso, acho que me confundem com pós-milenista, exatamente porque não defendo a apatia, omissão e a "espera" do crente na volta de Cristo, enquanto os ímpios ganham espaço em todas as esferas, a imoralidade e a antiética campeiem, e o cinismo de muitos se eleve à potência máxima, com aquele discurso de querer ver o mundo explodir para que Cristo volte mais rapidamente a reinar.
     Acontece que Cristo reina e nunca deixou de reinar. A Escritura diz que pelo poder de sua palavra sustenta todas as coisas, até mesmo esse mundo caído. E sustentar vai muito além de apenas dar as condições mínimas para que o mundo sobreviva, mas quer dizer controlar todas as coisas, em seus mínimos detalhes. Ajo sem me preocupar com os resultados, da mesma forma que evangelizo sem me preocupar se vão crer ou não, sem me preocupar em quantos crerão na palavra ou não, pois cabe-me apenas proclamar o Evangelho de Cristo crucificado, e o resto, deixo para o Senhor. Não tenho de ser eloquente, articulado, convincente [nada me impede também de sê-lo], mas o meu dever, como servo inútil, é falar de Cristo, nada mais. A obra é do Espírito Santo que dará convencimento, regeneração, fé, e convicção ao novo-nascido.

     “Eu já conheço o site monergismo em português, mas parece que há poucos defensores dessa linha no meio evangélico brasileiro”.
      Conheço muitos irmãos pós-milenistas, mas se há alguém que estuda e defende com unhas e dentes essa visão escatológica é o meu amigo Natan de Oliveira. No blog dele há muitas postagens sobre o assunto, inclusive um estudo sobre Mateus 24. Uma pena ele ter excluído todos os comentários de suas postagens, que poderiam ajudar no entendimento do assunto, mas paciência! Dê uma chegada lá, e se quiser, contate-o por email, o qual está disponível na página principal do "Reflexões Reformadas", para dialogar com ele.

   “Confesso que ainda sou pré-milenista, mas abandonei a linha dispensacionalista, pré-tribulacionista. Eu não consigo ler o Apocalipse ou Tessalonicenses e ver um arrebatamento secreto sete anos antes da vinda de Cristo e acho que essa linha é até anti-semita, pois coloca Israel pra sofrer na tribulação, enquanto os gentios convertidos são tirados. Engraçado é que os dispensacionalistas pregam um grande amor por Israel, mas os separam do corpo de Cristo que é a Igreja. Acho contraditório”.
     Também iniciei no dispensacionalismo, mas sem estudar muito, lendo apenas alguns livros; mas o que me tornou incrédulo nessa doutrina é o fato dela se contrapor a princípios claramente bíblicos, revelando-se antibíblicos em muitos aspectos, e um verdadeiro delírio teológico. Também me simpatizo muito com o pré-milenismo histórico, mas, como disse, ainda não me defini escatalogicamente. Pode parecer estranho um Calvinista, teonomista e pré-milenista, mas é mais ou menos o que sou... Por falar nisso, Gordon Clark também o era.

     “Bom, sou batista, e na minha igreja sou minoria, pois a linha ensinada e crida por aqui é a do pré-milenismo dispensacionalista”.
     Os batistas já há algum tempo se perderam em sua história. Mas graças a Deus há igrejas que estão voltando à fé dos nossos pais, crendo na verdade bíblica chamada Calvinismo. E muitas abandonando o dispensacionalismo, e firmando-se no pré-milenismo histórico ou no amilenismo que fazem parte da nossa tradição.

    “Você deve saber também que circula uma infinidade de informações na web sobre conspirações de grupos como maçonaria, clube billderberg, illuminatis, etc. Há artigos e documentários aos montes sobre tudo isso, como no youtube  por exemplo. E algumas coisas que se passam no mundo parecem indicar algo estranho. A gente ouve falar de aquecimento global, de chip, haarp, de aumento de terremotos e catástrofes climáticas e todo esse movimento na economia e na política mundial. Reunião de países emergentes, de G-8, de G-20, tensão entre Israel e Irã, EUA e China, socialização da América do Sul, etc”.
     Olha, sinceramente, evito esse tipo de assunto. Acho muito alarmista e pouco producente. Não vejo o evangelismo, a caridade e o amor aumentarem por causa dessas preocupações. Então, evito-as o máximo que posso. Ao ponto de não ler revistas, jornais e ver noticiários de tv. Sou quase um ermitão numa metrópole [rsrs]. Uso muito a internet e sou seletivo no que leio. Gosto mais de livros que de periódicos. Há uma linha de pensamento de que a escatologia definirá a nossa visão cristã, e de certa forma, creio ser verdade, não para todos, mas para a maioria. Mas o que acontece mesmo é que se pode ter duas visões, por exemplo, dentro do mesmo sistema:
  1) No dispensacionalismo, o crente pode ter a urgência de pregar o Evangelho, pois, segundo ele, Cristo não voltará antes que a palavra seja ouvida em todos os cantos da terra. Então, a motivação de se evangelizar não é para salvar almas, nem para glorificar o Senhor na obra expiatória e justificadora na cruz, mas para que Cristo volte, de tal forma que a vitória seja assegurada e o alívio esteja garantido. E a ordem para o crente é de proclamar o Evangelho e fazer discípulos em todas as nações, sem se preocupar que isso seja um indicativo de que ele está às portas ou não. De outro lado, pode haver irmãos que abandonarão o evangelismo porque os "sinais" da vinda do Senhor são tão evidentes que se torna desnecessária a proclamação e o fazer discípulos, por uma questão de tempo, e porque outros irmãos já se adiantaram na questão e o processo todo está perto de se concluir.
   2) No pós-milenismo, pode acontecer de irmãos proclamarem o Evangelho para o crescimento do Reino, querendo que ele cresça e se multiplique como o grão de mostarda ou as areias da praia, e assim ele se instale. Mas também pode levar muitos a permanecerem estéreis e inertes quanto ao evangelismo, porque tudo se cumprirá de um jeito ou de outro, trabalhando-se individualmente ou não. Deus realizará a sua obra de qualquer maneira, quer me use ou use outro em meu lugar.
   O que eu acho é que a motivação está errada, pois o evangelismo [e aqui evangelismo não é somente para a salvação, aquela pregação que faz com que as pessoas aceitem Jesus, mas também o discipulado de recém-convertidos e mesmo de irmãos mais "velhos" na fé] deve ser, sobretudo, por amor a Cristo, por amor ao Evangelho, por amor à Verdade, e por amor aos que estão perdidos. Se eu tiver isso imbuído em meu coração, estarei fazendo a coisa certa, da forma certa, quer seja dispensacionalista, “a” ou pós-milenista.

   “Diante de tanta notícia e convulsão social parece fazer sentido o que dizem os pré-milenistas. A última eleição, por exemplo, foi decepcionante pra mim, eu vi a esquerda se agigantar e adquirir mais força. Além disso, constatei que no meio cristão temas que antes nos uniam, hoje nos separam. Me assustei com o aparecimento de crentes que defendem o aborto, a prática homossexual e até acharam que a igreja deveria ser alvo de maior controle do governo mesmo, pois estaria falando demais”.
     Essa é a distorção do Evangelho em muitos redutos ditos cristãos. Como sempre digo, há aqueles que fatiam o Evangelho e pegam o que lhes interessam, como se a Bíblia fosse "self-service", onde se escolhe o que quer e descarta-se o que não se quer. Infelizmente, parece cada vez mais um método a se usar, numa falsa interpretação, que, no final, faz com que a pessoa não tenha nada, pois ter uma parte da palavra e rejeitar o todo é o mesmo que se iludir achando possível escolher aquilo em que se vai crer. A Bíblia é para ser crida, entendida e aceita em sua inteireza, de nada adianta se apropriar de pedaços, frações, pois o entendimento somente é possível pelo todo.
      O que esses irmãos que defendem a imoralidade estão a fazer é desprezar a palavra e o próprio Deus, de uma maneira acintosa, vergonhosa, dissoluta. São anticristãos que se dizem cristãos com o intuito de confundir e enganar os cristãos [se fosse possível].
   As ideologias e os esquemas humanistas aos quais eles são convertidos, e pelos quais têm fé, é que ditam a sua doutrina em um falso deus, em um falso evangelho, em uma falsa igreja, em um falso padrão moral, crendo-se vivos quando estão mortos.

     “Será que sou muito pessimista, estou enxergando problema onde não há? Eu tenho visto o pecado se multiplicar, o afeto das pessoas diminuírem, a irreverência aumentar. Eu acho que essa geração atual é uma das mais irreverentes, basta olhar o que se tornou o culto”.
     Você está certo, meu irmão! Tenho a mesma impressão. Acontece que se olharmos para o passado, veremos que o ciclo atual em que vivemos também aconteceu em outras épocas da história. A Escritura mesmo relata uma série de fases em que Israel estava entre à apostasia, dominados pelo pecado, pela imoralidade, pela idolatria e desfarçatez. Porém, sempre houve, em todos os tempos, aqueles que foram separados pelo Senhor para proclamarem a sua palavra, exortando o povo a voltar ao caminho da verdade, vivendo por e para Deus. O mesmo aconteceu em outras fases do Cristianismo, e está acontecendo agora, contudo, não acho que deva haver pessimismo, pois Deus está no controle de todas as coisas, e o mundo e a história caminharão segundo a sua vontade. Sem cruzar os braços e esperar, mas agindo para que o Evangelho se multiplique, as vidas sejam transformadas, a luz resplandeça em meio às trevas, e para não sermos cínicos a ponto de nos rir com a miséria e a desgraça humana.

    “Uma visão superficial das linhas escatológicas me dá a impressão que o pré-milenismo empolga o estudo do assunto, mas nos deixa apreensivos com os acontecimentos e às vezes nos leva a um estado de preocupação excessiva.
   O amilenismo trás um pouco de paz, mas deixa muitas lacunas, não é profundo. Parece que, com exceção de alguns ortodoxos, os liberais se agradam mais dessa linha.
    Já o pós-milenismo é o menos popular, parece que carrega o esteriótipo do puritanismo que fundou os EUA e que jamais vai ter sucesso novamente, numa sociedade secularista como a nossa. Enche o coração de esperança, mas às vezes esbarra na dura realidade do abandono da fé em países outrora cristãos, como na Europa e na luta contra o pluralismo de idéias que deixa esse mundo muito confuso. 
     Essa questão toda tem me incomodado muito”

     Há um ditado que diz que o futuro a Deus pertence. E ele até poderia ser um versículo bíblico, pois reflete a verdade. Acontece que o tempo e a história como toda a Criação pertencem a Deus, de tal forma que uma folha não cai sem que ele não queira. Então, ficar preocupado com o futuro me parece uma perda de tempo, literalmente, pois, nos impedirá de viver o presente e de ser significativo agora. Acredito que foi mais ou menos isso que o Senhor disse: "Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" [Mt 6.33-34]. 
O importante é saber que Cristo voltará a seu tempo, segundo o que foi determinado eternamente por Deus, nem um segundo a mais, nem um segundo a menos, e resta-nos esperar esse dia glorioso em que nos uniremos para sempre com o nosso Senhor; mas, aqui neste mundo, é-nos ordenado fazer a obra que nos foi dada realizar, como testemunhas vivas de Cristo. As inquietações apenas nos tirarão o foco, do objetivo principal de vivermos como sal e luz no mundo caído, perdido e sem esperança.

    “Como você enxerga as coisas? o que você acha de tudo isso?  Muita gente diz que não faz diferença. Creio que relativamente a salvação não faz, porque ela é pela fé em Cristo somente, mas em meu interior faz diferença, produz sensações diferentes. Por exemplo, se levo muito a sério o que diz o pré-milenismo e as teorias de conspiração, então vejo uma preparação para o anticristo muito próxima e a volta de Jesus também, e aí eu não sinto muita motivação para fazer planos de progresso profissional, casar, ter filhos, pois a expectativa é de tudo ir piorando até Jesus voltar e sua volta é a única alegria”.
     Não se preocupe com o que está à sua volta mais do que é necessário. Viva a sua vida, viva-a na plenitude do Evangelho, na plenitude do Espírito Santo, e garanto que você encontrará paz, esperança e fará planos para a sua vida. E qual o maior de todos os planos? Servir a Deus seja em qual condição, situação, estado em que se encontre. Paulo diz que: "justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo" [Rm 5.1]. Veja bem, temos paz com Deus e por Cristo, ele é a nossa paz. Isso não quer dizer que teremos paz com o mundo, pelo contrário, o Senhor alerta-nos: "Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" [Jo 16.33]. Isso deveria ser mais do que suficiente para tocarmos a obra de Deus, mesmo entre as aflições, porém, crendo que ele é quem nos sustenta e sustentará em tudo. Voltando a Paulo, ele diz: "temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" [Rm 5.2-5]. Como ele ainda diz: "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens" [1Co 15.19].

    “Se abraço o amilenismo, temo cair numa linha mais espiritualizante da Bíblia que abra porta pra que eu me torne relativista na interpretação de outras doutrinas fundamentais.
    Já o pós-milenismo, me proporciona uma esperança de ver o mundo mudar pra melhor, pelo poder do Evangelho, mas isso num prazo longo e de árduo trabalho, num mundo que dá sinais preocupantes no momento. Também abre o horizonte para sonhar mais com família, trabalho, etc. Tendo por ruim apenas a necessidade de passar pela experiência da morte, o que não me agrada, não tenho medo da morte, me incomoda é o que se sente no momento.
O que devo fazer? O que seria saudável?”.
     Acho que já dei algumas diretrizes acima, sem que eu seja provavelmente a melhor pessoa para ajudá-lo. Mas tento aplicar na minha vida aquilo que Deus nos orienta a viver. Não penso muito no futuro, pois nem mesmo sei se estarei nele. Não me impressiono pelo que acontece ao meu redor, ainda que muitas coisas me entristeçam, algumas me aflijam, outras me irritem, e ainda outras me magoem. Sabendo que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito, lanço todas essas coisas sobre o meu Senhor, que é poderoso para me acalmar, me dar alívio e paz. Vejo os exemplos dos santos, Paulo, João, Pedro e tantos outros irmãos que diante das perseguições, tribulações, dúvidas, injustiças e maldades, esperaram naquele que é o único capaz de nos dar a vitória sobre o sofrimento, a morte e a incerteza: Cristo! E, também, saber que temos uma missão aqui, uma obra que Deus realizará através de nós, sem me preocupar com sinais, com a descrença, com a imoralidade e com a aparente derrota que se faz inevitável [o arrebatamento pré-tribulacionista me parece um "jeitinho" de garantir uma derrota menos vergonhosa para a igreja, como se ela não fosse capaz de lutar, nem mesmo sobreviver em meio à luta]; realmente, isso tudo pouco importa para definir aquilo que tenho de fazer, e aquilo que ainda não fiz. Somos mais do que vencedores na morte à qual somos entregues todo o dia, e como ovelhas que vão para o matadouro, por aquele que nos amou [Rm 8.36-37].
    O que posso lhe dizer ao final? Deixo Paulo falar: "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor" [1Co 15.58]... e, assim, possamos sempre ter gozo nele, em qualquer situação, como nos foi ordenado: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos" [Fp 4.4].

     "Desculpe se estiver incomodando. Mas, gostaria muito que, se você pudesse, estivesse me esclarecendo essas coisas. A grande maioria não se preocupa mais com a verdade, estou falando infelizmente da igreja. Eu quero entender corretamente, acho importante. 
     Aguardo sua resposta, se você puder e quiser.
    Um abraço.
    Ivan".
    Meu irmão, escreva sempre que quiser. Será um prazer conversar consigo.
    Grande abraço!
    Cristo o abençoe!