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Foi
com muita alegria, logo após concluir “Debaixo de um carvalho em Ofra”, saber da
disposição do poeta e irmão, Luiz Libório, em ler e prefaceá-lo.
Tomei
conhecimento desse nobre e talentoso escritor pelos meios mais triviais
possíveis, em nosso tempo: as redes sociais. Por um daqueles “milagres”, raras
vezes disponibilizados pelo Facebook, tive acesso às suas poesias, diga-se de
passagem, são lavras da melhor estirpe (aconselho, a quem ainda não leu,
fazê-lo sem perda de tempo); então, primeiramente conheci a obra, e depois o
seu autor.
Para não deixar esta introdução longa, resumirei a minha sensação e reação ao receber o prefácio, disponibilizado abaixo: senti-me honrado, feliz e, sobretudo, penhorado, pela generosidade, beleza e sensibilidade com a qual analisou o livro. Como costumo dizer aos amigos mais íntimos, tenho certeza de, muitas vezes, a melhor parte dos meus livros serem de “terceiros”, sem nenhuma falsa modéstia. E este é o sentimento ao ler o preâmbulo de Libório. Portanto, sem mais delongas, dou-lhe as suas palavras , antes me dadas, mas que agora são também de você, doadas pela sublimidade de alguém que ama a arte, e tira dela algo não apenas melhor, mas esplêndido.
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O
tempo e seu contrário, a poesia
O
que em nós está fora do tempo? Não sei o que um dicionário diria, se algo ele
pudesse dizer, mas lendo “Debaixo de um Carvalho de Ofra”, livro do caro irmão
Jorge F. Isah, e lendo-o à luz do livro universal de toda a criação
incalculável, o que em nós está fora do tempo é a poesia (isto é: a
eternidade).
Digo
isso porque os poemas que neste livro são temporais apresentam-se tanto ao
relatar algumas personagens sem nome (como a garota de "Suplício de uma
saudade") como outras personagens nomeadas (Rita Hayworth em "tempo
das amoras silvestres", por exemplo). Assim, haver nome, não haver, são
referências que cabem apenas ao lapso de cada momento: à poesia importa que
todos que passam se chamem eternidade.
E,
como se também fosse um nome de personagem, “Debaixo de um Carvalho de Ofra”
relata-nos a ambiguidade de estar no tempo e falar do que está fora. O
carvalho, como sabemos, é uma árvore longeva (pode atingir um milênio de vida)
e sentar-se sob sua sombra para guardar-se do sol forte ao meio-dia é sentar-se
à sombra da eternidade para não ser queimado pelo sol dos dias que passam.
O
posfácio, como integrante da obra, revela-nos outro movimento coerente com a
temporalidade que marca a pele destes poemas: Jorge esteve internado por 36
dias logo antes de terminar este livro, 36 dias esteve separado dos seus amigos
e familiares por conta da proibição de visitas durante a pandemia de Covid-19.
Estar, durante tanto tempo, longe das referências amorosas da vida pode
enlouquecer o tino espiritual de uma pessoa. A não ser que esteja sob a sombra
de um carvalho em Ofra, isto é, sentado à sombra da eternidade.
“Aquele
que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele
confiarei. Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste
perniciosa. Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te
confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel. Não terás medo do terror
de noite nem da seta que voa de dia, nem da peste que anda na escuridão, nem da
mortandade que assola ao meio-dia.”
(Salmos 91:1-6)
Desta
forma, o tempo de angústia trouxe à luz este livro que evidencia, mais do que a
tristeza passada, o cuidado de Deus no momento triste; como se uma saciedade
infinita só pudesse vir de uma necessidade maior, porque conhecemos o valor
daquele que cuida no momento que precisamos desse cuidado.
Se
nunca ficássemos com sede, por exemplo, não conheceríamos o prazer de beber
água depois de horas caminhando. Do mesmo modo, se não tivéssemos problemas,
não conheceríamos o prazer da solução deles e nem a saciedade que há em
agradecer a Deus por isso.
Assim,
esta obra atesta o valor de reconhecermos a grande importância do alimento no
tempo da fome – ou, como dito no poema "O Liame do Regalo", “que é a comida, senão o prato vazio?”
Há
tempos de alegria, há tempos de tristeza; mas a vida, em Cristo, é eterna.
“Na
verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que
me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte
para a vida.” (João 5:24)
Luiz
Guilherme Libório Alves da Silva*
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