19 julho 2009

"MOVIMENTO: JESUS AMA A TODOS!" É CRISTÃO?














Por Jorge Fernandes Isah

Li na internet que há um novo movimento na praça. Na verdade, esse movimento é uma repaginação de vários outros existentes no decorrer da história cristã. Ele se chama "Movimento: Jesus ama a todos!", cujo texto integral da proposta é o seguinte:

“O verdadeiro sentido de João 3:16: Porque Deus amou os homossexuais, os heterossexuais, os estrupadores, as prostitutas, os políticos, os pegadores, as patricinhas, os ladrões, os assassinos, os "normais", toda a humanidade, de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna." Vamos dar fim ao preconceito! E amar como Jesus amou!” [1].

Primeiro, vamos definir a palavra preconceito, segundo o dicionário Priberan:
Preconceito - Ideia, conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério. Estado de abusão, de cegueira moral. Superstição.

Segundo, qual a relação que há entre o preconceito e o amor de Deus?
Terceiro, o amor de Deus é irrestrito, ou seja, Deus ama realmente a todos os homens? Se ama, porque muitos estarão destinados ao fogo do inferno? Pode Deus amar alguém e ainda assim lançar a Sua ira sobre ele? (1Co 6.9).

Quarto, o fato do autor da cartilha especificar alguns tipos de pecados e excluir outros, não revela um padrão preconceituoso quanto aos demais pecados? Ou não seria uma tentativa de colocar quem pratica os pecados citados como eventuais vítimas, ao contrário dos demais pecadores?

Quinto, a deturpação interpretativa de que Deus amou os homossexuais, os heterossexuais, os estupradores, etc, não está fora do contexto do verso de João 3.16? Não é o caso específico de acréscimo ao texto bíblico, de vício e mau emprego da palavra de Deus a fim de distorcê-la e andar segundo os homens?

Vejamos o texto original:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Onde lemos que Deus amou os pervertidos e pecadores? A inferência do autor não é despropositada diante da Escritura? E isso não poderia ser uma espécie de preconceito para com ela? Ao invés disso, o verso diz:

1) Deus amou o mundo.
2) Deu o seu Filho unigênito ao mundo.
3) Para que todo o que crer no seu Filho não pereça.
4) Para que todo o que crer no seu Filho tenha a vida eterna.

Aqui, a expressão amou o mundo está diretamente ligada com todo o que nele crê (em Cristo). Portanto, definindo o contexto de mundo no verso, ele se refere ao mundo dos que crêem, não ao mundo geral ao qual pertencem todos os homens, excluindo-se, portanto, aqueles que não crêem, os quais, ao invés do amor de Deus, estão sob a Sua ira. Isso é importante porque fica parecendo que Deus ama o pecador. Mas como Ele pode odiar o pecado e amar aquele que comete o pecado? (Cl 3.5-6). A resposta é: somente se esse pecador, no tempo, na história, for santificado na eternidade. Vou explicar. Deus nos elegeu sempre em Cristo, antes da fundação do mundo, para que fossemos santos e irrepreensíveis; “e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5). O que isso quer dizer? Que somos pecadores, e vivemos na carne, numa luta constante na qual Cristo venceu a guerra por nós. Porém, antes do nosso nascimento, muito antes do mundo existir, Deus já nos havia destinado à salvação e santificação por Cristo, ou seja, para Ele já somos santos, sempre fomos santos, lavados no sangue do seu Filho Amado (Rm 8.29). Para Deus já somos como Cristo, ainda que na história isso esteja acontecendo, e para muitos, ainda irá acontecer. Por isso, o verso de João 3.16 não se refere ao mundo genericamente, mas ao mundo dos santos. Reprisando: Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. É evidente, e límpido como água, a sua mensagem. João não fala de todos os pecadores, nem mesmo fala de um pecador, mas fala daqueles que são salvos eternamente por Deus, os alvos da Sua infinita graça e misericórdia, assim como Paulo diz: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós” (Rm 5.8, 8.32). Ao escrever à igreja de Roma, é incontestável que o apóstolo se refere exclusivamente aos santos (não confundir santos com crente nominal), pois o termo nós é uma comparação explícita aos destinatários da carta: “os amados de Deus, chamados santos” (Rm 1.7).

É claro que, no tempo, fomos inimigos de Deus antes da conversão. É claro que, no tempo, somos pecadores, antes e depois da conversão. É claro que, no tempo, éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. É claro que, no tempo, éramos desobedientes e rebeldes a Deus, andando segundo o curso deste mundo. É claro que, no tempo, estávamos mortos em nossas ofensas; mas é fantástico que, no tempo, fomos vivificados juntamente com Cristo (Ef 2.5), o que vale dizer que, antes, muito antes do nosso nascimento, já estávamos vivos quando da morte e ressurreição do Senhor.

A salvação é definitiva, já aconteceu, mesmo para aqueles que, momentaneamente, ainda rejeitam e se opõem a Cristo. Contudo, Deus quis que a reconciliação do homem se desse neste mundo, durante a pouco ou muita vida que cada um de nós tem recebido, para que ficasse revelada ao mundo a Sua graça para com os eleitos (os vasos de misericórdia, segundo Paulo), bem como a Sua ira para com os reprovados (os vasos da ira, segundo Paulo [2]).

Quando vi a foto de um “arco-íris” em que um tipo “andrógino” (na verdade, um homem pervertido por trejeitos femininos), e o texto do manifesto logo abaixo, percebi que, antes do autor combater o preconceito da igreja, deveria anular o preconceito que tem com a Escritura, reverenciando-a como a palavra de Deus (2Tm 3.16); deveria abrir mão do estereótipo libertino e não fazer coro com o mundo, o qual odeia e se opõe a Deus e a igreja.

Ao ver a imagem e ler o texto, evidenciou-se o “conceito formado e sem fundamento sério” dos proponentes de tal movimento. Evidenciou-se a sua “cegueira moral” e, ao defendê-la, blasfemam o nome de Cristo. Em tudo estão enganados, pois buscam algo que não existe, enquanto vivem exatamente aquilo que desejam combater. Como Jesus diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (Jo 14.23). E ainda: “Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em vós" (Jo 8.37). Uma paráfrase a Hebreus 11.6, e que é uma verdade bíblica, seria: sem obediência é impossível agradar a Deus. A santidade é um dom de Deus, mas fruto da obediência que Ele fez nascer em nós. E se ser cristão é ser semelhante a Cristo (2Co 3.18), como posso sê-lo sem obedecer a Deus? (Ap 22.14-15). Apenas com o amor carnal por todos os homens e seus pecados, sendo que Deus abomina tanto um como o outro? E, qual a possibilidade de se amar verdadeiramente o próximo sem amar a Deus? Ou esse amor seria tão corrompido que vemos o próximo caminhar resolutamente ao inferno e não importamos?

A Palavra não é preconceituosa, nem os Seus mandamentos são, pois sem a santificação, ninguém verá a Deus (Hb 12.14). Ou podemos dizer que Paulo escrevia e pregava sem fundamento? “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus” (1Co 9-10). A Bíblia não diz exatamente o contrário do que o manifesto “Jesus ama a todos” promete? O qual chega a ser uma zombaria para com Deus? (Pv 14.9).

Porém, para os santos, a promessa é gloriosa: “mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11). O qual também ressuscitou o Senhor, e nos ressuscitará pelo Seu poder (1Co 6.14). Portanto, Deus amou o mundo, mas somente o mundo dos que crêem em seu Filho Amado. Pregar o Evangelho conforme nos foi entregue por Cristo e os apóstolos não é ser preconceituoso. O preconceito baseia-se em algo infundado, em uma crendice ou supertição e, para o crente, a palavra de Deus é o único fundamento, o seu alicerce. Segui-la, obedecê-la e proclamá-la é demonstrar o verdadeiro amor, não o falso amor que contemporiza os pecados e os pecadores em seu escopo de manterem-se rebeldes ao Criador. No fundo, preconceituosos são os que apelam ao amor de Cristo quando esse amor e Cristo não são baseados na Escritura, mas tão somente uma perversão gerada em suas mentes corrompidas.

No fim, o que importa são os que crêem.

Os que não crêem já estão condenados (Jo 3.18), ainda que se digam cristãos.

Notas: [1] 1) A palavra estuprador foi grafada erroneamente pelo autor da cartilha. 2) Filho, referindo-se a Jesus Cristo, jamais pode ser escrito em minúsculas. Será que isso não revela o descaso para com Deus, e a divinização do homem?
[2] O texto de Paulo é: "E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou? (Rm 9.22-23).

12 julho 2009

EVANGELHO: SALVAÇÃO OU CONDENAÇÃO?










Por Jorge Fernandes Isah

Em recente conversa com o irmão Natan de Oliveira, a qual originou o estudo escatológico que presentemente ele faz em seu blog, deparei-me com os seguintes versículos:
“Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual já antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que já chegou a vós, como também está em todo o mundo; e já vai frutificando, como também entre vós, desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade” (Col 1.5-6). Veio-me a seguinte questão: Quando Paulo diz mundo está se referindo a todo o Mundo?

Sabemos que a palavra mundo tem vários significados na Bíblia. Mas especialmente esse não se parece enquadrar em nenhum deles. Vamos analisar o que nos revelam os versos:

1) A esperança está reservada aos santos;
2) Os santos ouviram a palavra de esperança pela pregação do Evangelho;
3) Que tanto a palavra de verdade como de esperança chegou aos santos de Colossos;
4) Ela também chegou a todo o mundo;
5) Ela vai dando frutos de conversão e santificação, para a glória de Deus.
Se não interpreto equivocadamente, esses são os princípios contidos nos dois versículos aos quais o apóstolo nos leva a contemplar. Porém, quero me deter no item 4: a palavra da verdade, na qual repousa a esperança dos santos, “como também está em todo o mundo”. Analisemos algumas hipóteses para o contexto da expressão mundo:

1) Refere-se a todo o planeta;
2) Refere-se ao mundo conhecido da época;
3) É uma expressão superlativa para designar todos os que ouviram o Evangelho, não necessariamente todos os habitantes do planeta ou da parte conhecida do planeta;
4) Significa tão somente os eleitos, o Corpo de Cristo.

Vamos a outro versículo que auxiliará a argumentação:
“Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro” (Col 1.23).

O que lhe parece quando o apóstolo fala em “toda criatura que há debaixo do céu”?

1) São todas as criaturas que habitam o planeta;
2) São todas as criaturas que habitam o mundo conhecido da época;
3) É uma expressão superlativa para designar todos os que ouviram o Evangelho, não necessariamente todos os habitantes do planeta ou da parte conhecida do planeta;
4) Significa tão somente os eleitos, o Corpo de Cristo.

Atente-se que Paulo escreveu aos colossenses, mas será que o seu objetivo era o de atingir toda a cidade de Colossos ou apenas a Igreja em Colossos? É claro que a carta é dirigida à Igreja e não à cidade, “aos santos e irmãos fiéis em Cristo”(v.2) e não a todos os habitantes. Colossos era uma cidade em declínio à época em que Paulo escreveu essa carta, a qual é um dos quatro escritos que compõem as Epístolas da Prisão. Paulo provavelmente não visitou a cidade nem evangelizou-a diretamente, mas provavelmente alguns dos seus colaboradores participaram na edificação do corpo local, e por isso ele se sentia responsável pessoalmente por ela.

Então, sabendo que Paulo não escreveu para todos os colossenses, mas para os santos em Colossos, não seria correto interpretar que a palavra mundo nos versículos citados não se refere ao mundo todo, a todos os habitantes do planeta, e nem mesmo a todos os habitantes da parte conhecida do planeta?
A próxima opção é a de que o apóstolo se refere apenas aos que ouviram o Evangelho onde ele foi pregado. Não é todo o mundo, nem mesmo o mundo conhecido, mas algumas partes desse mundo conhecido. Ainda assim, não seriam todas as pessoas que habitavam nessas partes, mas apenas as que ouviram o Evangelho. Parece mais plausível e exeqüível. Mas a questão aqui não é do que pode ser executado ou não, do que é eficaz ou não, até porque nada é impossível para Deus (Mt 19.26), mas daquilo que Paulo diz verdadeiramente. E o certo é que, nem todos os que ouviram a pregação converteram-se. Logo, Paulo não pode estar falando dos que apenas ouviram o Evangelho, porque entre eles houve os que mantiveram seus corações impenitentes.

A última opção é de que Paulo ao citar o termo mundo, falou exclusivamente dos santos, da Igreja do Senhor, aqueles que ouviram a pregação da verdade e da esperança, foram regenerados, e tornaram-se membros do Corpo de Cristo, “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). Deus destinou os eleitos a ouvirem a palavra, a terem fé, de que todos seriam salvos, e de que todos fariam parte da Igreja, a qual é o mundo dos vivos, dos salvos em Cristo, e por Cristo. Resumindo: aqueles que Deus, em sua soberania e graça, decretou infalivelmente a salvação por Seu Filho Jesus Cristo, estes ouviram a pregação do Evangelho, foram convertidos e tornados santos.

O termo frutificando no v. 6 relaciona-se com mundo, e o apóstolo o compara com os santos de Colossos. A indicação é de que os eleitos do mundo produziam frutos pela graça de Deus: da fé em Cristo, e do amor para com todos os santos (v.4). Não há porque usar-se o termo frutificando em relação aos incrédulos, mas aqui ele claramente refere-se aos santos de Colossos e aos que frutificam como os santos de Colossos, “desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade”.

Ora, aqueles destinados à incredulidade jamais provarão da graça de Deus, no sentido de salvação e santificação, muito menos da verdade. É o que Paulo faz questão de confirmar ao citar novamente o termo: “Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” (v.10). Quem pode estar incluído neste contexto a não ser os crentes, aqueles regenerados por Cristo? Portanto, toda a relação faz-se entre o Evangelho, a pregação apostólica, a conversão e santidade, e o mundo como o mundo dos santos; ao qual fomos transportados por Deus, tirados da potestade das trevas para o reino do Filho do seu amor, “em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (v. 13-15). Neste contexto, não há lugar para incrédulos nem condenados, somente os salvos por Cristo.

No v. 23, Paulo coloca o Evangelho pregado a toda criatura debaixo do céu, do qual ele foi feito ministro “segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos” (v. 25-26). Novamente, encontramos uma inter-relação entre as palavras toda criatura e santos. O que nos leva a crer que Paulo utilizou-se dos termos mundo e toda criatura não para afirmar que o Evangelho foi pregado a todos que existiam à época, mas para designar que Deus, em sua santa e perfeita sabedoria, tinha destinado a pregação do Evangelho para salvar a todos os eleitos, e de uma forma sobrenatural, eles todos estavam ao alcance dos discípulos e apóstolos de Cristo, quanto ao ouvir a palavra a fim de serem regenerados.

Da mesma forma, no v. 28, Paulo anuncia, admoesta e ensina a todo o homem em toda a sabedoria, “para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo”. Todo o homem aqui significa todas as pessoas existentes? Se assim for, Paulo está a pregar o universalismo, a doutrina de que ninguém será condenado, e de Deus salvará a todos. Mas sabemos que a Bíblia não afirma nem confirma esta heresia, pelo contrário, rejeita-a de capa a capa. Então, o apóstolo somente pode estar a falar, novamente, de todos os eleitos, daqueles que foram destinados à salvação. O que nos leva a outra pergunta:
Qual o propósito do Evangelho? Salvar os escolhidos ou condenar os réprobos?

A Bíblia diz que os réprobos já estão condenados (Jo 3.18). A pregação da palavra apenas agrava ainda mais a situação deles. Como está escrito: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tt 3.10-11). Portanto, a pregação do Evangelho é para que o escolhido tenha confirmada, no tempo, a sua eleição eterna; para que o santo tenha confirmada, no tempo, a sua santidade; para que o salvo tenha confirmada, no tempo, a sua salvação; para que o filho tenha confirmada, no tempo, a sua filiação a Deus, por Cristo nosso Senhor.

Paulo não falava genericamente, como um tolo, mas sabiamente, inspirado pelo Espírito Santo. Logo, ele se refere apenas aos santos, à Igreja, ainda que alguns teimem em acreditar que o Evangelho é para todo o mundo, para todos os homens, e todas as criaturas debaixo do céu*.

*Com isso não quero dizer que o Evangelho não deva ser proclamado a todas as pessoas, em todos os cantos do planeta. Não é isto. Porém, ele surtirá efeito e trará frutos apenas nos corações aos quais Deus escolheu regenerar. Aos demais, a palavra surtirá o seu efeito também, não voltando vazia, mas condenando, segundo o que apraz a Deus (Is 55.11).

04 julho 2009

NASCER OU MORRER















Por Jorge Fernandes


Há um trecho que sempre me chamou a atenção na pregação de João o Batista, quando as multidões vinham ouvi-lo as margens do Jordão, desde Jerusalém e toda a Judéia, para serem batizados (Mt 3.5-6). Em dado momento, ele avista os fariseus e saduceus, e profere: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.7-8). É uma exortação que serve para qualquer um de nós, judeus ou não; é uma pregação dura, mas que também serve a qualquer pecador, revelando-lhe a necessidade de apartar-se do mal e fazer o bem (Sl 37.27). Contudo, em vista de quem a advertência foi dirigida, revelava a intenção dos corações e de seus verdadeiros intentos: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt 3.9). Puxa, esse foi um direto, um verdadeiro “knockdown” que colocaria o tolo mais persistente a beijar a lona. Porque João lançou por terra qualquer expectativa dos fariseus e saduceus de serem herdeiros étnicos do céu. E mais do que isso, implicava em duas outras coisas:

  1. Nem todos são filhos de Deus. Nenhuma filiação religiosa ou étnica pode garantir a filiação divina. Como Paulo disse: “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28-29).
  2. Deus pode fazer o que quiser segundo a Sua vontade, sem precisar do consentimento humano, até mesmo tornar pedras em filhos de Abraão se assim desejasse. Pois, se não fosse pelo Seu poder transformador, quem creria? E quem se converteria?

O que isso quer dizer? Que esses judeus não consideravam a hipótese de arrependimento, em suas mentes corrompidas tinham a certeza de garantia do reino de Deus pela raça. Como mentes irregeneradas, perverteram a aliança e as promessas de Deus, ao seu bel prazer, assim como a lei. João o Batista mostra-lhes a necessidade de regeneração, do novo nascimento, a fim de se tornarem em verdadeiros filhos de Deus. Como o Senhor disse a Nicodemus: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3.3;6-7). Ao que Paulo ecoou o ensino de Cristo: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.7-8).

Da mesma forma que os judeus acreditavam que o povo de Israel não precisava de um novo nascimento, percebe-se, hoje em dia, o mesmo sentimento errôneo de que através de dogmas e filosofias humanas (não se esqueça de que tanto o farisaísmo como o sadoquismo eram filosofias dentro do judaísmo), cristãos se consideram inseridos no reino de Deus, não pelo sacrifício de Cristo na cruz, mas pela tradição de que são herdeiros pelo nascimento, pelos rituais ou pela proteção eclesiástica. Pensemos sinceramente, qual a garantia a Bíblia dá de que, nascendo em um lar cristão, cumprindo os sacramentos cristãos, ou estando em uma igreja, a salvação está assegurada?

Em outra passagem, Cristo confrontou os judeus a conhecerem a verdade, pois a verdade os libertaria (Jo 8.32). Porém, eles se revoltaram contra o Senhor, em suas obscuridades espirituais criam que o fato de serem descendência de Abraão era a garantia de liberdade. Respondeu-lhes Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34). Eles insistiram: "Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, farieis as obras de Abraão... Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou... Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (Jo 8.39;42;44).

Cristo mostrou-lhes como estavam enganados, e viviam uma crença completamente oposta àquilo que Deus havia estabelecido para os seus servos. Ali, Ele deixou claro que a genealogia, a etnia e, porque não, a fé equivocada, em nada assegurava-lhes a salvação. Os judeus invocavam uma justificação por obras, através de si mesmos, dos antepassados, da condição transmitida pela carne. Ao passo que Cristo revelou-lhes a completa loucura de suas mentes, as quais eram incapazes de compreendê-lO: "Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra... porque vos digo a verdade, não me credes" (Jo 8.43;45).

À mente natural, inconversa, não resta mais nada a não ser a morte. Não há vida, nem salvação. Para se ver o reino de Deus é necessário nascer do Espírito: "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1.12-13). Por que, então, alguns ainda negam o novo nascimento? Como se a salvação pudesse ser transmitida de pai para filho, através dos sacramentos, ou pela linhagem de um povo?

Os judeus acreditavam que apenas os estrangeiros e os que pertenciam a outras religiões careciam da conversão. Sairiam de onde estavam (a cultura, etnia ou crença) e seriam transplantados ao judaísmo. Da mesma forma, muitos hoje acreditam que a troca de endereços ou a permanência neles (saindo de uma igreja ou ficando) garantir-lhes-á a segurança do céu. Sem regeneração? Impossível! Nem se adequando ao formalismo religioso, ao cumprir certos rudimentos ritualísticos; mesmo tendo-se convicção intelectual, uma aceitação pela perspectiva meramente religiosa. Porque a vivificação é obra exclusiva do Senhor, a demonstração do Seu poder em resgatar o pecador da morte e da condenação: Porque Deus, "estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.5-6). Esse é o poder que transforma o pecador em santo, o condenado em salvo, a criatura das trevas em filho de Deus; o qual opera independente da vontade humana, do homem querê-lo ou não, de buscá-lo ou não, pois essa prerrogativa é divina, algo que somente o Criador pode realizar, pois "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção" (1Co 15.50).

É preciso nascer de novo, ou morre-se para sempre.


29 junho 2009

NÃO HÁ MURO ONDE SUBIR
















Por Jorge Fernandes

A igreja pode mudar o mundo? Não sei se é possível, na verdade, não creio possível, pois não vejo respaldo bíblico para a afirmação de que a igreja transformará o mundo. Em especial porque, ao contrário, ela vem sendo excessivamente influenciada por ele. De certa forma, as trevas têm ganhado batalhas (não me entendam mal, as trevas jamais vencerão a luz), mas sabemos que a vitória na guerra é de Cristo, e nossa, por Cristo.
Se há algo que podemos fazer é proteger a igreja das sugestões malignas, voltar ao Evangelho, ser novamente luz e sal no mundo. Para que isso aconteça é necessário que se abandone as experiências místicas e sensitivas, a adoração superficial, e a convicção errada de que, qualquer coisa, desde que tenha uma cruz, é cristianismo; de que, qualquer um, desde que seja batizado, é cristão. Enquanto insistir-se em lutar contra o mundo, com as armas do mundo, ele sempre vencerá, ainda que nos dê, em um ou outro round, a falsa idéia de que jogará a toalha, de que está próximo de ser derrotado (entenda que, eternamente, satanás e o mal estão derrotados, mas para nós, a vitoria aconteceu no tempo, e compreenderemos a sua plenitude no Dia do Senhor). Ao usar o armamento alheio, revelamos que as armas celestiais não são as melhores, e acabamos por nos conformar aos métodos e práticas as quais queremos vencer.
Quem pode derrotá-lo? Cristo já o fez na cruz do Calvário, e ao ressuscitar no terceiro dia. Então, se Ele é o nosso general, por que temos de ouvir o inimigo irremediavelmente derrotado? Basicamente porque se abandonou a doutrina e o modo de vida cristão. Não em relação aos dogmas denominacionais de batistas, presbiterianos, assembleianos, mas a essência do Evangelho, a revelação divina nas Escrituras Sagradas, e o entendimento daquilo que Deus nos revelou como a Sua vontade.

ENSINO DA IGREJA
Li recentemente um artigo em que o irmão opunha-se ao ensino pela igreja, no sentido de que esse não é o papel da igreja. É claro que a igreja não ensina, e sim os membros que são qualificados pelo Espírito Santo e designados por ela para tal. Senão, porque Paulo escreveria: “Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1Co 12.27-28 – este e outros grifos são meus). Se a igreja não ensinar as doutrinas bíblicas, como o corpo terá unidade? E para que haveria doutores? “Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?” (1Co 12.17-19). Fico a perguntar se a igreja a qual esse irmão é membro não tem nenhuma doutrina, nem é ensinada a verdade aos neófitos. Pelo que entendi, apenas o Espírito Santo pode ensinar, doutrinar o eleito, e Deus usará a Bíblia como única fonte de ensino. Porém, da mesma forma que foi dado dons diferente aos membros da igreja, todos poderão aprender por si só? E no caso daqueles que são analfabetos? À época da igreja primitiva, e até pouco tempo, uma minoria era capaz de ler. Nesse caso, a palavra foi-lhes lida e pregada, mas será que todos têm a capacidade de entender? E a quem não tem o Espírito (o incrédulo, p. ex.) como chegará ao conhecimento da verdade? Não será por pregação, pelo ensino? Filipe, que não era apóstolo (o irmão diz que o ensino era uma prerrogativa apostólica) ao ser levado ao deserto pelo Espírito não ensinou ao Eunuco? (At. 8.26-39). Mas alguém poderá dizer: “Bem, você faz a defesa do ensino para o incrédulo, que ainda não é parte da igreja, nesse caso, está certo. Mas aos membros do corpo, apenas o Espírito pode ensinar”. Porém a ordem do Senhor é clara: “Fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.19-20).
Isso é preservar a doutrina de Cristo, a qual se dará pelo ensino dos eleitos aos eleitos. Ou Paulo, em suas cartas, faz o quê? Ele não ensina, exorta, orienta? Mas o irmão poderia dizer: “Esse é o ensino dos apóstolos, ninguém mais pode fazê-lo”, mas os apóstolos não são membros do corpo? E eles não ensinaram a outros crentes que ensinaram a outros crentes e, assim, “o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui(Gl 6.6)? Aqui a instrução é prerrogativa humana, e não do Espírito Santo, o qual capacita tanto o instrutor quanto o instruído ao entendimento, de tal forma que o instrutor será recompensado pelo instruído (o que muitos considerarão uma ofensa: a recompensa pecuniária para ensinar), logo, essa instrução não pode ser pelo Espírito, pois, o que poderíamos dar-LHE? (a alusão a bens é claramente material, e mesmo que não fosse, a obediência, o serviço, a adoração e devoção a Deus não são nenhuma forma de "paga" pelo que Ele nos dá).
O mesmo Paulo se qualifica como doutor dos gentios na fé e na verdade” (1Tm 2.7); exorta Timóteo a que mande “estas coisas e ensina-as (1Tm 4.11); de que “se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras” (1Tm 6.3-4); “ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (2Tm 2.24-25) ; “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido (2Tm 3.14).
Não há nenhuma referência ao ensino sobrenatural do Espírito, mas ao ensino humano, segundo o poder divino de capacitar, operar e confirmar a Palavra no coração eleito, revelando-lhe a Sua vontade.
Portanto, a igreja, não como entidade institucional (Vaticano, Concílios, Dioceses, etc), é responsável por aquilo que Cristo lhe deu: o Evangelho, mantendo-o na pureza em que Ele o proclamou, na santidade da revelação escriturística. E isso é realizado através de cada um dos membros do corpo, sob a supervisão e autoridade do Espírito Santo, mas também da igreja, a qual é inspirada por Ele.

VOLTA AO EVANGELHO
Sem a proclamação da doutrina bíblica, como será possível influenciar o mundo?* Sem que os membros sejam ensinados à obediência escriturística, negligenciando-a, haverá vida cristã? Enquanto os alicerces, os fundamentos da doutrina, não estiverem arraigados na igreja (verdades como a Trindade Santa, a Queda, a Depravação Humana, a Expiação Vicária de Cristo, o Arrependimento e a Regeneração do incrédulo, a Santificação... doutrinas que já são realidade na vida do eleito, e não uma promessa futura), está-se a proclamar qualquer outra coisa menos o Evangelho.
É indispensável e urgente voltar-se à pregação expositiva, à prática cristã do estudo bíblico individual e nos lares, à Escola Dominical, para que sejamos instruídos na verdade revelada, capacitados a entendê-la, praticá-la e ensiná-la aos novos e velhos crentes, não a confundindo com a falsa doutrina e o antievangelho. Sem nos esquecer da oração diária e a intercessão por todos, crentes ou não.
O reflexo será o despertar da consciência em Deus, da redenção em Cristo, das promessas que nos aguardam na eternidade, mas, também, uma vida terrena que testemunhe o amor e a graça divinas, através de atitudes que traduzam ao mundo como é a mente de Cristo: fazendo o bem, perdoando as ofensas, confortando os aflitos, suprindo as necessidades do próximo (material e espiritual), não nos conformando com o mundo e a nossa vontade, mas resignados à vontade santa e soberana de Deus.
Assim é que demonstraremos o interesse verdadeiro pelas pessoas e a obediência sincera a Deus. Como diz o ditado: "Palavras são palavras, nada mais que palavras", e se não são acompanhadas por atitude e comportamento que as corroborem, continuarão sendo palavras; ao que o apóstolo exorta-nos: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (1Jo 3.18).
Cristo proclamou o Evangelho, ensinou-o, dando-nos o exemplo de como viver santa, justa e perfeitamente segundo a Sua palavra. Não há meio termo, nem muro, no qual haja neutralidade e se possa subir. Então, onde você está? Em Cristo? No mundo? Se sim, não. Se não, sim. Pois o Senhor é quem definirá: onde Ele estiver, ali o eleito estará.
* Como disse, não me iludo na transformação do mundo secular em cristão, mas piamente acredito que a Igreja influencia-lo-á, tirando das trevas aqueles que Deus predestinou eternamente à luz.

22 junho 2009

FRANKENSTEIN TEOLÓGICO























Por Jorge Fernandes Isah

Há tempos me pergunto por que os crentes insistem em enviar tantas mensagens tolas, despropositadas e contra o Evangelho de Cristo a outros irmãos, e o que é pior, a incrédulos também. Falta-lhes sabedoria? “Não sabeis então discernir este tempo?” (Lc 12.56). Ou ainda não se converteram do seu mau caminho? (Jr 3.19). É possível identificar os motivos. Primeiro, o desconhecer escriturístico. Segundo, o prazer em propalar o mundanismo, afinal, ele aguça a delicadeza e os sentidos da carne. Terceiro, uma vida cristã sem Cristo. Este ponto deveria ser o primeiro, mas coloquei-o em último para abordá-lo detidamente, pois, de certa forma, pode-se falar em dois tipos de vida cristã: a verdadeira, proporcionada pelo novo-nascimento e pela ação do Espírito Santo na vida do convertido, e a falsa, onde há o engano e uma pretensa submissão a Deus. Quer saber sobre o novo-nascimento? Leia o texto “A Morte da Morte”.
Porém, é possível haver uma conversão ao contrário? O pecador aparentemente converte-se a Cristo, batiza-se, participa dos trabalhos na igreja (às vezes torna-se evangelista, diácono, pastor), alcançando a liderança para, sutilmente, corromper o Evangelho? Essa é a capacidade da heresia de se reformular e aproximar da verdade, fazendo com que as diferenças pareçam insignificantes, e o pior é que ela vem acompanhada de um compêndio de justificativas insanas e perigosas, que a torna ainda mais diabólica. O que antes era doutrina bíblica agora não é mais, e o que não era doutrina bíblica transforma-se na própria maldade pelas bocas de seus defensores. Eles acreditam ser possível redefinir as palavras do Senhor: “Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons” (Mt 7.17-18). Nessa linha de raciocínio, seriam capaz de pular da Torre Eiffel em pêlo e sair voando como pássaros. Mas se apenas os morcegos, pássaros e insetos têm o dom natural de voar, é crível uma árvore má dar bons frutos ? Pelo contrário, ela será cortada e lançada no fogo (Mt 7.19); porque é impossível, sem conversão, que o homem natural dê “frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Fp 1.11).
Não contente em ter o inferno, querem dividi-lo com o máximo de irmãos, e num jogo demoníaco, promoverem as obras da carne, “as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl 5.19-21). Mas esquecem-se de que, “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). Crêem plantar para outros a condenação, mas acabam por plantá-la a si mesmos. Assim, com o objetivo de combater a verdade, incitam, pregam e vivem a mentira, enquanto a verdade é desprezada, tornando-a antiquada, obsoleta e irrelevante.
Infelizmente, esses falsos mestres penetram nas igrejas como
crentes estabelecidos, são aceitos pela comunidade cristã, e seus ensinos enganosos espalham-se como erva daninha, cujos objetivos importunos, nocivos e artificiosos intentam trair a credulidade irrefletida da igreja. Sutilmente a heresia contamina as pessoas, pouco a pouco, tornando-a popular exatamente por ser quase a verdade, e se amoldar perfidamente à natureza corrompida e pecaminosa do homem, o qual é incapaz de vê-la, e mesmo os que a vêm, por sua perspicácia, acabam por considerá-la inofensiva ou uma verdade recriada, uma espécie de Frankenstein teológico.
Para eles, existe a verdade sem Deus ou Deus sem a verdade; mas a verdade sem Deus não existe, nem Deus sem a verdade, porque a primeira não passa de abstração, a loucura máxima a que o homem pode atingir, enquanto a segunda é a blasfêmia em sua forma mais virulenta, a treva mais densa em que o homem pode penetrar; porque a verdade para ser real e não uma fantasia leviana, tem de provir de Deus, o qual é a única verdade
(Jo 14.6).
Para eles, a verdade não precisa ser defendida nem proclamada, mas escondida a
sete chaves como um tesouro secreto do qual não se sabe o esconderijo nem se tem o mapa. Graças a Deus por nos dar a Sua revelação, a Bíblia, a qual “é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.16-17).
Para eles, a igreja não precisa da verdade; como Paulo diz, não suportão a sã doutrina,
“mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2Tm 4.3-4). Para que crer na verdade? Se pelo humanismo é possível acomodar o homem no redil das incertezas, incitá-lo ao pecado, à apostasia e ao nominalismo religioso?
Para eles, o que importa é a aparência, a reputação, o sucesso e a covardia de jamais admitir a cumplicidade com o mal, tolerando-o utilitariamente a fim de obter seus interesses pessoais (o Evangelho beneficia o indivíduo, no caso, o escolhido de Deus, mas jamais o indivíduo poderá impedir que os demais eleitos sejam igualmente beneficiados pela palavra), permitindo que todo o tipo de heresia substitua os princípios bíblicos, afastando-se da revelação divina (não são precisas todas as heresias; uma ou duas, e o trabalho estará feito).

Para eles, é fundamental abandonar a objetividade da Palavra e uma vida santa, e substituí-las pela subjetividade, o egoísmo, o individualismo, o sentimentalismo e o hedonismo como filosofias de vida, onde a dissolução e a falsa liberdade os manterá em prisão, indo
“de mal para pior, enganando e sendo enganados” (2Tm 3.13).
Por quê? Qual a finalidade? Ao diluírem a palavra de Deus a fim de torná-la aceitável aos descrentes (muitos falsos mestres não se esquivam de reescrevê-la ao bel prazer dos seus corações perversos), esses líderes buscam a aprovação dos homens, negando a autoridade bíblica, tornando-a o mais agradável possível ao mundo, e com isso rejeita-se toda a verdade escriturística: Cristo, o Espírito Santo, a expiação vicária, a salvação, regeneração, santidade e todo o conjunto de doutrinas cristãs (inclusive a Igreja), pois a negação de qualquer um deles implicará na recusa inevitável do próprio Deus.
Em nome da verdade, todo crente deve lutar contra a heresia e o engano perpetrado por satanás e seus discípulos; porque sempre teremos a segurança pela fé, e como ovelhas ouvimos a voz do Bom Pastor, somos conhecidos dEle, e seguimo-lO, o qual nos dá a vida eterna e nunca haveremos de perecer e ninguém nos arrebatará de Suas mãos (Jo 10.27-28), como a mais indubitável e sublime verdade. Somente Cristo pode nos libertar através do Evangelho; sem Ele tudo é permitido, mas nada possível; sem Ele a condenação é certamente a mais pura verdade.
A heresia é uma conversão contrária, o caminho inverso pelo qual a igreja trilhará ao se afastar da verdade, ao opor-se ao Evangelho, desprezando Cristo, o qual revelou-lhe a própria desobediência:
“O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca. E porque me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” (Lc 6.45-46).
Se crê no Evangelho mas não o proclama, se crê em Cristo como Senhor e Salvador mas não o obedece, se vê a igreja como uma extensão do mundo (e tanto faz um como o outro), se não se preocupa em dar bons frutos, nem com a conversão dos ímpios, cuidado! Abandone as mensagens tolas, psicológicas, de auto-ajuda, despropositadas, sentimentalóides; renuncie a ideologia satânica que o quer preso às armadilhas do mundo, proclamando um reino superior quando está nas profundezas abissais do inferno, mantendo-se perdido em si mesmo como um cão cego e epilético a perseguir o próprio rabo.
Entregue-se à suave palavra de Deus, e não faça pouco caso da sua consolação, arrependa-se, e põe fim aos seus pecados e às suas iniquidades, praticando a justiça
(Dn 4.27).
Ouça o alerta: onde os princípios bíblicos encontram-se corrompidos e demolidos, não sobra muito mais o que destruir.
E você estará morto!