05 julho 2019

Preso na própria armadilha - II





Jorge F. Isah



A maioria das pessoas diz confiar em Deus quando não há disposição de entregar-se ao seu senhorio, de dobrar-se à sua vontade, como forma de gratidão por toda a sorte de bênçãos recebidas. Via de regra, afirma-se crer nele, mas entrega-se exclusivamente ao próprio autogoverno, sem o desejo de ser guiada e dirigida pelo Criador. 

Boa parte das teologias e filosofias existentes afirmam a soberania do homem sobre si, chegando ao ponto de a vontade humana se sobrepor à vontade divina. Há uma clara inversão de valores na qual a vontade humana tem de ser preservada e, em seu favor, a vontade divina deve estar sujeita, submissa. E a desculpa sempre é a mesma: Deus, em sua soberania, entregou ao homem os seus desígnios, de tal forma que Deus não pode ser Deus se o homem não quiser (a ideia equivocada do livre-arbítrio; quase sempre significa independência de Deus). Em outras palavras, a vontade divina, no fim das contas, dependerá sempre da vontade humana para se manifestar, do contrário, ela é suprimida, prevalecendo a da criatura em detrimento a do Criador. 

Como o homem é supostamente livre, em sua natureza e vontade, ele se utiliza dessa liberdade para rejeitar o conselho divino, não se entregando ao seu senhorio. O que acontece, na verdade, é que ele não pode fazê-lo, pois sua natureza está em oposição a Deus, e sua vontade é contrária à de Deus. Não é uma questão de escolha, mas de não poder escolher o bem, o certo, o que agradaria ao Senhor. Para complicar ainda mais esse contexto, o homem que diz conhecer a Deus, não conhece a sua vontade, e sem conhecer a sua vontade, como poderia conhece-lo? E se a vontade divina está expressa em sua palavra revelada, a Bíblia, a qual o homem natural não está afeito, ou em completo desinteresse, como pode conhece-lo? Através de uma imagem formulada em sua mente e alheia à verdade? Por indução? Ou intuição? 

Por isso, o homem que diz conhecer a Deus não o conhece, antes criou para si mesmo um espantalho, um ídolo, no qual diz acreditar e confiar, sem se questionar sobre o real estado em que se encontra, de estar sendo pego em sua própria armadilha, cujo laço a apertá-lo foi colocado e puxado por ele mesmo.

Nesse aspecto, o homem é livre, em seu desejo de autodestruição. 


25 junho 2019

Sermão em Josué 1.5-6: Jamais te abandonarei!






Jorge F. Isah



“ Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei.
Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria” (Josué 1.5-6)


INTRODUÇÃO:

- Nunca houve uma geração tão confiante em si mesma, na autossuficiência, e independência de Deus, do que esta, neste século. Contudo, nunca se viu pessoas tão fracas também. Que se desmoronam como uma torre de açúcar em meio a chuva. São facilmente abaladas, e o desespero, acompanhado de doenças psíquicas, parece a marca mais visível deste tempo.
- As pessoas acreditam, de uma forma geral, no próprio poder, cuidado, mas, também, nos poderes “sobrenaturais” do dinheiro, do poder, da imagem, como se estas coisas pudessem realmente ser o sustento e auxílio nos dias ruins.
- Em Hebreus 13.5, lemos: “Seja a vossa vida livre do amor ao dinheiro”.
- Sabemos que o amor ao dinheiro é perdição e pecado. O dinheiro, em si mesmo, não é mau ou bom; o uso que fazemos dele pode ser para o bem ou para o mal.
- Acontece que algumas pessoas acreditam estarem seguras pelo que têm ou possuem, confiando que estarão livres de males, sofrimentos e dores pela fortuna ou poder obtido.
-Por outro lado, esquecem-se de que essas coisas, quando postas na condição de garantir a segurança e o bem-estar, podem ser a causa de muitos males.
- Milionários e poderosos são sequestrados e mortos.
- São roubados e mortos.
- Acabam por gastar boa parte do seu dinheiro em jogos, drogas e orgias, além usarem outra boa parte na defesa do patrimônio e da vida. Mas ainda assim, morrem, como todo homem.
- E não há dinheiro que subsista diante das traições, estupidez ou a autoconfiança. Todas essas coisas ruem e caem por terra com a morte, com as perdas.
- O mundo clama por segurança, assim como clama por justiça, acreditando possível alcança-las pelo engenho e pela capacidade humana, alheio a Deus e seus preceitos, esquecendo-se de que o mesmo homem é a causa da insegurança e da injustiça.


MOISÉS, HOMEM PODEROSO POR DEUS

- Por outro lado, Deus é capaz de estabelecer homens poderosos, como o caso de Moisés. O relato do capítulo 34 de Deuteronômio, não deixa dúvidas quanto ao homem que ele foi, poderosamente capacitado pelo Deus de poder.
- A força e o poder de Moisés emanavam de Deus. Moisés sabia disso, não se auto exaltava ou gloriava-se do quanto fez, antes buscava servir a Deus, ansiando pela intimidade com ele.
- Quando Moisés desceu do monte Horebe, refletindo no rosto a glória de Deus, o povo não pode olhar para ele. Foi preciso cobri-lo com um pano até que a glória divina, e seu brilho esfuziante, se dissipasse.

- Ler e explicar Dt. 34:

“1. ENTÃO subiu Moisés das campinas de Moabe ao monte Nebo, ao cume de Pisga, que está em frente a Jericó e o Senhor mostrou-lhe toda a terra desde Gileade até Dã;
2. E todo Naftali, e a terra de Efraim, e Manassés e toda a terra de Judá, até ao mar ocidental;
3. E o sul, e a campina do vale de Jericó, a cidade das palmeiras, até Zoar.
4. E disse-lhe o Senhor: Esta é a terra que jurei a Abraão, Isaque, e Jacó, dizendo: À tua descendência a darei; eu te faço vê-la com os teus olhos, porém lá não passarás.
5. Assim morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme a palavra do Senhor.
6. E o sepultou num vale, na terra de Moabe, em frente de Bete-Peor; e ninguém soube até hoje o lugar da sua sepultura.
7. Era Moisés da idade de cento e vinte anos quando morreu; os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu o seu vigor.
8. E os filhos de Israel prantearam a Moisés trinta dias, nas campinas de Moabe; e os dias do pranto no luto de Moisés se cumpriram.
9. E Josué, filho de Num, foi cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés tinha posto sobre ele as suas mãos; assim os filhos de Israel lhe deram ouvidos, e fizeram como o Senhor ordenara a Moisés.
10. E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face;
11. Nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e toda a sua terra.
12. E em toda a mão forte, e em todo o grande espanto, que praticou Moisés aos olhos de todo o Israel.”


- Josué, homem cheio do Espírito de Deus, sucedeu a Moisés, liderando Israel. Igualmente, um homem cheio de fé, confiando nas promessas do Senhor.



AS PROMESSAS DADAS A MOISÉS SE CUMPREM

- Deus promete cumprir em Josué as promessas dadas a Moisés: 

“23.Também o Senhor, de diante de vós, lançará fora todas estas nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas do que vós.
24. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental, será o vosso termo.” (Dt 11.23-24)

- Josué 1.1-4:

“E SUCEDEU depois da morte de Moisés, servo do Senhor, que o Senhor falou a Josué, filho de Num, servo de Moisés, dizendo:
2. Moisés, meu servo, é morto; levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel.
3. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu disse a Moisés.
4. Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o vosso termo.“

- A promessa de Deus a Josué é a de que, assim como ele cuidou de Moisés, cuidaria dele também.



“NINGUÉM TE PODERÁ RESISTIR”

- Ex 3.11-14:

11.“Então Moisés disse a Deus: Quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel?
12. E disse: Certamente eu serei contigo; e isto te será por sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado este povo do Egito, servireis a Deus neste monte.
13. Então disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?
14. E disse Deus a Moisés: eu sou o que sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: eu sou me enviou a vós.”

- Deus prometeu estar sempre com Moisés, cuidando dele;
- Moisés não confiou em si mesmo; demonstrou humildade; como líder poderia exigir que os israelenses o ouvissem de qualquer maneira. Ele não se preocupou com a forma como ele viu Deus, mas como o próprio Deus se apresentou a ele, levando-o não segundo o seu parecer e vontade, mas segundo a vontade divina, e na forma como Deus quis ser conhecido.
- O “Deus de vossos pais”, aquele que se apresentou a Abraão, Isaque e Jacó, o mesmo Deus que sempre cuidou de Israel, e agora continuará cuidando.
- Se antes era conhecido como o Deus dos patriarcas, agora queria ser identificado pelo que era: o poderoso “Eu Sou”, aquele que não foi, nem será, mas sempre é. O Deus imutável e soberano, diante do qual a nação israelita deveria se curvar e adorar.
- Moisés não questionou a Deus. Não tentou encontrar uma maneira mais adequada de apresentá-lo ao povo. Ele simplesmente ouviu-o, declarando-o aos seus conterrâneos tal como se identificou.
- Assim como o Senhor disse a Moisés “Certamente eu serei contigo”, ele repetiu a mesma promessa a Josué, e se cumpriria na vida do discípulo de Moisés: “assim serei contigo”.
- Essa deveria ser a certeza na vida de Josué. E como a viu cumprida na vida de Moisés, pois foi testemunha ocular do cuidado divina para com o seu mestre, assim ele estava seguro de que a promessa seria realidade em sua vida.
- Por fé, ele e Moisés creram na promessa e colocaram-se completamente nas mãos de Deus.

- É o que nos revela Hb 11.24-34:

“24. Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó,
25. Escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado;
26. Tendo por maiores riquezas o vitupério, de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa.
27. Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.
28. Pela fé celebrou a páscoa e a aspersão do sangue, para que o destruidor dos primogênitos lhes não tocasse.
29. Pela fé passaram o Mar Vermelho, como por terra seca; o que intentando os egípcios, se afogaram.
30. Pela fé caíram os muros de Jericó, sendo rodeados durante sete dias.
31. Pela fé Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias.
32. E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas,
33. Os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões,
34. Apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos.”


“ESTAREI CONTIGO”

- Deus não disse a Josué que ele teria uma vida confortável, segura, sem percalços e livre de problemas. Ao dizer que estaria com ele não estava assegurando-o de uma vida de tranquilidade plácida, de bem-estar e afortunada. Não no sentido mormente conhecido de riquezas e conforto materiais.
- Afirmando estar com ele, não o desamparando, nem o abandonando, Deus garantia que mesmo diante das lutas, aflições e angústias da vida, Josué seria próspero e vitorioso.
- Sim, porque a vitória não é apenas aquilo que vemos ou tocamos, mas a expectação, a esperança do porvir.
- A vitória é termos a presença e o cuidado de Deus em nossas vidas. Seja nas lutas, provações, incertezas, injustiças e perseguições.
- Os profetas foram mortos, mas esperaram no Senhor.
- Os apóstolos foram mortos, mas esperaram no Senhor.
- Cristo morreu, esperando no Senhor.
- Os santos morreram, esperando no Senhor.
- Porque a promessa é: não te abandonarei!
- Não somente a Josué ou Moisés ou Paulo, mas também para todos nós.
- Esta promessa é válida para todos os crentes, em todos os tempos, de sorte que não podemos negligenciá-la, deixando de crer, e esperar, no zelo dedicado do Senhor.


NADA NOS SEPARA DO AMOR DE CRISTO

- A exortação de Deus para Josué é “esforça-te e tem bom ânimo”!
- Também o foi a Moisés.
- Nos é feita agora, não importa o que você esteja passando. Não importa o sofrimento que tenha. As lutas pelas quais atravessa. A injustiça, e até mesmo o desânimo, que o leva as vezes a dizer: “Por que eu, Senhor?”
- A dúvida na maioria das vezes no soterra, nos joga mais fundo no desânimo, no sofrimento, na angústia. Ela de nada serve para nós, para o nosso bem. É apenas instrumento de destruição, de afastamento de Deus, de incredulidade.
- Entretanto, a promessa do Senhor é clara: nada pode nos afastar do amor de Cristo!
- Pense bem, agarre-se a esta promessa. Novamente: nada nos afastará do amor de Cristo! É impossível. Mesmo quando estamos no chão, nocauteados, prostrados, sem vislumbrar um amanhã vitorioso.
- Mas lembre-se: o que Deus promete, cumpre! Assim como Moisés provou, e também Josué, também provamos e provaremos sempre do cuidado e zelo de Deus para conosco.

- Romanos 8.31-39:

“31. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
32. Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?
33. Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.
34. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e o que também intercede por nós.
35. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
36. Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro.
37. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou.
38. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir,
39. Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”

- Citar o caso do Pr. Richard Wurbrand, de como foi preso injustamente, apenas por amor a Cristo, ele e tantos cristãos lançados nas masmorras do regime comunista na Romênia, por 14 anos, privado da sua liberdade, da sua dignidade, torturado, vivendo miseravelmente com outros irmãos, vendo-os perecer cruelmente pelas mãos dos seus algozes, jamais negou o Senhor, e manteve-se ativo, de tal forma que, entre os soldados, alguns se converteram.
- Assim como Paulo fez entre os soldados romanos.
- Assim como, neste momento, irmãos chineses, norte-coreanos, entre outros, têm suas igrejas destruídas, são presos, torturados e mortos por um único motivo: não são capazes de negar o amor que Cristo devotou-lhes, e como o seu Senhor, sofrem perseguições, ofensas e injúrias, na esperança viva de estarem sempre sobre os cuidados de Deus.
- Nos países islâmicos, ser cristão é sentença de humilhação e morte. Mas os que são de Cristo, não o negam, e entregam a própria vida em louvor e culto e adoração.


CONCLUSÃO

- Pode parecer um conto-de-fadas, estórias da carochinha, mas os relatos dos mártires, antigos e modernos, estão aí, para não me deixar mentir.
- Você pode dizer, mas essa não é a minha realidade. Há outros tipos de lutas e perseguições, sejam no trabalho, na escola, na comunidade, na minha própria casa, que me parecem insuportáveis.
- Sei que é mais fácil citar os grandes exemplos, daqueles homens e mulheres e crianças abnegadas que entregaram tudo, inclusive a própria vida, por amor do Senhor.

- Mas até que ponto estamos preparados para entregar um centésimo da nossa vida? Um décimo da nossa vida? Podemos abrir mão de algumas horas, de algumas distrações, de alguma diversão, descanso ou de outras coisas que consideramos importantes, deixando-as, ainda que momentaneamente, para servir a Cristo? Como o próprio Senhor disse: 


“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.
Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” (Lc 9.23-24)


- Não estamos nos tornando em vítimas de nós mesmos? Ao deixamos que os problemas e aflições, as vezes não tão agudos, nos afaste de Deus, e nos arraste para a autopiedade?

- A incredulidade é isso, é olharmos para nós mesmos, e esquecer-nos de olhar para Deus. A incredulidade é quando não há mais ninguém além de nós mesmos.
- Algo verdadeiro é de não podemos encontrar solução que nos faça vencer (não uma vitória momentânea e fugaz) sem olharmos fixo para Cristo, e nele depositarmos não somente a esperança de tempos gloriosos, mas também de que as agruras e sofrimentos são a glória, não minha ou sua, mas de Deus.
- Então, não importa o momento no qual esteja vivendo, pelo qual esteja passando, se suas lutas parecem maiores do que a sua força, pois certamente o homem sucumbirá, mais cedo ou tarde, à sua fraqueza, não desanime ou entregue-se à descrença. Mantenha-se firme na fé, peça ao Senhor para aumenta-la, para auxiliá-lo e fortalece-lo, pois Deus é o único capaz de cuidar de nós, muito melhor do que nós mesmos podemos.  
- Deixe o Senhor guia-lo ao triunfo, apenas não desanime, persista em crer; assim como Moisés e Josué, homens pelos quais Deus fez maravilhas, a vitória não acontecerá mas já aconteceu, naquela cruz, há mais de 2.000 anos, quando Cristo levou sobre si as nossas dores, pecados e mortes, o amor venceu! Contra tudo e todos! O amor venceu!... O amor venceu!
- Para terminar, um pequeno trecho escrito por Santo Agostinho, sobre o Deus que devemos amar, e crer, e confiar:

“Amo somente a ti, sigo somente a ti, busco somente a ti, estou disposto a servir somente a ti e desejo estar sob a tua jurisdição, porque somente tu governas com justiça. Manda e ordena o que quiseres, mas sana e abre meus ouvidos para ouvir tuas palavras; sana e abre meus olhos para enxergar os teus acenos. Afasta de mim a ignorância para que eu te reconheça. Dize-me para onde devo voltar-me para ver-te e espero fazer tudo o que mandares. Suplico-te: recebe teu fugitivo, Senhor e Pai clementíssimo; já sofri muito; já servi demais aos teus inimigos, os quais sujeitas sob teus pés; por muito tempo fui ludibriado por falácias. Recebe-me, que sou teu escravo fugindo deles, que me receberam, estranho a eles, quando eu fugia de ti. Sinto em mim que devo voltar a ti. Abrase tua porta para mim, que estou batendo. Ensina-me como chegar a ti. Nada mais tenho que a vontade. Nada mais sei senão que se deve desprezar as coisas passageiras e transitórias e procurar o que é certo e eterno. Faço-o, Pai, porque é a única coisa que sei; porém, ignoro como chegar a ti. Ensina-me, mostra-me, oferece-me as provisões para a viagem. Se é com a fé que te encontram os que se refugiam em ti, dá-me fé; se é com a força, dá-me força; se é com a ciência, dá-me ciência. Aumenta em mim a fé, aumenta a esperança, aumenta o amor. Ó admirável e singular bondade tua!" (Solilóquios, página 19)

- O Senhor nos abençoe, hoje e sempre!


Notas: 1) Para ouvir o áudio da pregação, clique em Tabernáculo Batista Bíblico


04 junho 2019

Desgarrados - Eda Nagayama







Jorge F. Isah


Uma leitura difícil, sofrível e cáustica... 

Assim que me senti ao ler o livro da Eda Nagayama . Sinceramente, ele é ruim e mal escrito. Não há qualquer tentativa de se criar empatia com o leitor; apenas o desenrolar sinuoso de uma teia de clichês na qual ele pode se ver preso, sem saber ao certo como foi.

É um livro frio, diria, gélido. Uma narrativa truncada, sem beleza, mutilada por excessivos “pontos finais”. Falta musicalidade, verve, e uma história convincente, e personagens reais, a despeito da tentativa de se passar “uma realidade”. Quer ser verossímil pela sisudez narrativa, demonstrado falta de apuro e sensibilidade. Não há profundidade, elaboração, esmero, apenas frases [muitas desconectadas] jogadas de lá para cá, entrecortadas, assassinadas por uma necessidade de forma, como uma serra amputando uma perna sadia. Sem que haja um real sentido, uma apropriação. A não ser enfadar por um conceito, que se afasta, em muito, de uma boa história contada... Talvez, por isso, a escolha do título do livro...

“Desgarrados" não passa disto: apenas um estilo, muito desinteressante, discorrido em 128 páginas. E só!

PS: Interrompi a leitura um pouco antes da metade do livro. E achei que fui muito além do que deveria. Não gosto de suspender nada até que esteja concluído. Entretanto, as vezes é necessário matar algumas leituras, devolvendo o livro à estante, para não sucumbirmos nelas.


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Avaliação: (*)

Eda Nagayama
Cosac & Naify
128 Páginas

Sinopse: 

"Uma mulher evangélica perde a fé e, ovelha desgarrada, sai em busca de respostas para sua vida. Com uma linguagem poderosa e original, feita de fragmentos de frases, Nagayama confere tensão incomum à narrativa, expondo as emoções mais íntimas com inusitada intensidade."

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04 maio 2019

Defesa de João Calvino ao texto "O Pecado que Cristo não Levou"¹









Jorge F. Isah



      Escrevi uma postagem, "O pecado que Cristo não levou", há alguns anos, que causou um certa discussão quanto à natureza humana de Cristo, se ela é eterna ou temporal. Muitos atribuíram, ao que vos escreve, a pecha de herege por defender uma natureza humana eterna em Cristo. Deixarei o link, abaixo, para o caro leitor inteirar-se do assunto e dos comentários a respeito da "querela". 

      Em minha defesa, gostaria de destacar o entendimento de um "grande": João Calvino. Explico: quando escrevi o texto não havia começado a leitura das Institutas, o que aconteceu alguns meses depois. O trecho que transcreverei, li-o mais alguns meses depois, e qual a minha surpresa quando, ao ler o Reformador, deparei-me com o mesmo pensamento que delineei em meu texto? Evidente que não o faço com a maestria, o gênio e a capacidade de Calvino, mas, em linhas gerais, o que disse está em conformidade com o que ele escreveu. 
        Pois, se não é idêntica à que defendi na postagem: "O pecado que Cristo não levou", publicado no Kálamos, parece, em princípio, confirmar o que eu digo e que causou a rejeição da maioria dos comentários. Até agora, por mais que eu leia e releia o que eu e os comentadores escrevemos, não consigo entender a dificuldade em se reconhecer a singularidade da humanidade de Cristo. Mas vamos ao que Calvino tem a dizer, ou melhor, disse:

"Pois se temos fé nas Escrituras que eloqüentemente proclamam que por fim em Cristo se revelou plenamente a graça e a humanidade do Senhor [Tt 2.13], derramada a opulência de sua misericórdia [2Tm 1.9; Tt 3.4], consumada a reconciliação de Deus e dos homens [2Co 5.18], não nutramos dúvida de que muito mais benigna se exibe diante de nós a clemência do Pai celestial, a qual não foi cortadanem apoucada" (Institutas, Livro IV, pg. 4).

      Fui acusado, em vários comentários, de ser dualista e de defender uma separação forte entre corpo e alma. Como sou um "pé-rapado" teológico ou um "João-ninguém" se preferirem, acabei de ler a posição de um "grande", João Calvino, a qual transcrevo. Antes, deixo a pergunta: alguém se atreveria a chamar o Reformador de dualista?

"Contudo, entre leitores piedosos será bastante um simples lembrete. Ora, se a alma não fosse algo essenciado, distinto do corpo, a Escritura não ensinaria que habitamos casas de barro e que na morte migramos do tabernáculo da carne, despojamo-nos do que é corruptível para que, por fim, no último dia recebamos a recompensa, em conformidade com o que, enquanto no corpo, cada um praticou. Ora, por certo que essas referências, e semelhantes a essas, que ocorrem com freqüência, não só distinguem claramente a alma do corpo, mas ainda lhe transfere o designativo homem, indicando ser ela a parte principal. Ora, quando Paulo exorta os fiéis [2Co 7.1] a que se purifiquem de toda impureza da carne e do espírito, ele enuncia duas partes nas quais reside a sordidez do pecado. Também Pedro, chamando a Cristo “pastor e bispo das almas” [1Pe 2.25], teria falado improcedentemente, se não existissem almas em relação às quais desempenhasse este ofício. Nem seria procedente, a não ser que as almas tivessem essência própria, o fato de que fala acerca da eterna salvação das almas, e que ordena purificar as almas, e que desejos depravados militam contra a alma [1Pe 1.9; 2.11]; de igual modo, o autor da Epístola aos Hebreus [13.17] declara que os pastores velam para que prestem conta de nossas almas. Com o mesmo propósito é o fato de Paulo [2Co 1.23] invocar a Deus por testemunha contra sua própria alma, porquanto ela não se faria ré diante de Deus, se não fosse susceptível à penalidade. Isto expressa-se ainda mais claramente nas palavras de Cristo, quando ele manda que se tema àquele que, após haver matado o corpo, pode lançar a alma na Gehena de fogo [Mt 10.28; Lc 12.5]. Ora, quando o autor da Epístola aos Hebreus distingue Deus dos pais de nossa carne, como sendo o Pai dos espíritos, não poderia ele afirmar de modo mais claro a essência das almas." (Intitutas, Livro I, pg 178)

        Deixo, novamente, o texto original para a apreciação dos interessados em lê-lo. E indico fortemente a leitura das Institutas da Religião Cristã, de João Calvino. 

Nota: 1- É óbvio a brincadeira com o título. Calvino jamais leu o meu texto; e mesmo que o tivesse, não há garantia de aprovação. Então, por favor, não entendam como presunção, mas somente uma "graça" com o famoso reformador. 


11 abril 2019

Moby Dick: Muito mais do que uma aventura



Jorge F. Isah


Em meio a outras leituras, ainda lendo "A Baleia. Estou na metade final do livro, mais ou menos o seu último quarto.

Muitos acham se tratar de um livro de aventuras, o que não é mentira; mas considera-lo apenas como tal é não compreender toda a trama intrincada e, muitas vezes trabalhosa, que é decifrar a escrita de Melville. Ela transcende em muito esta ideia. Há de tudo um pouco, metafísica, religião, psicologia, historia, biologia, ódio, vingança, amizade, e tudo o mais que faz um grande romance, e muitas descrições em detalhes minuciosíssimos. 

É um livraço; mas não é leitura para todos. Há momentos em que, não raro, se pensa em desistir ou pular trechos inteiros (como as descrições sobre a natureza dos cachalotes ou barcos). Muitas vezes percebi-me perguntando: por que o autor está dando essas descrições? E, um pouco mais adiante, compreender que era necessário, pois Melville queria que "víssemos" claramente tudo o que ele via, e não escapássemos ao seu realismo e à verdade da sua narrativa, entrando nela como um partícipe, não como um mero espectador ou leitor. De certa forma, o domínio e o conhecimento de cada particularidade da história, por menor que seja, conferi-lhe autoridade e factualidade, e nos faz cúmplices da narrativa. Não sei se foi esta exatamente a sua intenção, mas pareceu-me claro como objetivo, e parte do estilo a desenrolar-se nas centenas de páginas.

Certo é que abandonar livro tão precioso será um dissabor para o bom leitor, ainda que ele não o perceba, se optar pela interrupção. Neste caso, tem de se ter persistência e insistência, para alcançar a recompensa. E ela não tarda em chegar; e chegará, para deleite e satisfação daqueles que não querem apenas uma aventura marítima, mas um mergulho na alma e nos conflitos humanos, naturais e sobrenaturais. 




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DADOS TÉCNICOS:

Título: Moby Dick

Autor: Hermann Melville

Editora: Landmark (Edição Bilíngue) 

No. de Páginas: 528

Avaliação: (****)




SINOPSE DA EDITORA:


"Moby Dick” foi escrito pelo escritor norte-americano Herman Melville e publicado originalmente em três fascículos com o título “A Baleia”, em Londres, em 1851, e ainda no mesmo ano em Nova York em edição integral. Somente a partir de sua segunda edição que ganha seu título definitivo, “Moby Dick”. 

A obra foi inicialmente mal-recebida pela crítica literária, assim como pelo público, mas com o passar do tempo tornou-se uma das mais respeitadas obras da literatura em língua inglesa. Inspirado pelas experiências pessoais do autor e por outros acontecimentos que marcaram o período, Moby Dick representa, além de uma complexa narrativa de ação, uma profunda reflexão sobre o confronto entre o homem e a natureza, ou segundo alguns especialistas, entre o homem e o Criador, reforçada pela ‘universalidade’ dos tripulantes do navio “Pequod”, o que sugere uma representação da Humanidade. Obra de profundo simbolismo..."


25 março 2019

A Saga Brasileira





JORGE F. ISAH



  Diante do lodaçal moral e político em que o pais está submerso (um círculo vicioso sem fim que persiste há mais de um século), penso que o fechamento do Congresso Nacional e a convocação de eleições gerais¹ (com um número não superior a 250 eleitos, entre senadores e deputados), no prazo máximo de 3 meses, seria a melhor saída, ainda que paliativa; sem as urnas eletrônicas da Smartmatic, claro!

  Contudo, seria pedir demais, pois estamos sempre à procura do "jeitinho" para acomodar, da melhor maneira, a falta de consciência dos nossos próprios pecados, dos insistentes equívocos aos quais nos habituamos, e dos quais não achamos possível prescindir, como um sinal da desordem na alma brasilis, que via de regra é de todo homem, mas em nós parece hiperbolizado, no exagero da imoralidade. Com o agravante de se ter boa parte dos "cleptocratas" reeleitos, em um novo pleito; e aquela ideia do círculo sem fim se perpetua "ad infinitum". Parece uma sina, um karma, uma maldição, mas é apenas a natureza tupiniquim, desembestada e frouxa, sem um freio a contê-la.

  Enquanto a maioria se preocupa com os detalhes, poucos vão realmente ao cerne do problema: estamos onde estamos por lutarmos cega e obstinadamente pelo mal, mesmo considerando-o um bem pessoal². Acabamos por nos esquecer de que toda ação gera uma reação; e de que o bem desejado ardentemente para si mesmo, mas quase nunca para o outro, volta-se na forma mais nefasta de autodestruição. Por isso, o Cristo nos diz:

"Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo". (Mateus 22,37-39)

 Se queremos mudanças, que comecem, primeiro, em nós, a partir da visão correta da realidade, da realidade individual, na qual, quase sempre, nos vemos como vítimas ou pobres-coitados, quando somos, também, agentes do caos, do estado de coisas a persistir e insistir em sua rota de destruição e injustiças. De nada adiantam as manifestações públicas, as passeatas, os comícios, nem mesmo o voto; nem exigir que as autoridades nos sirvam ao invés de serem servidas, se não temos qualquer disposição para o "serviço", desejando apenas a "revolução" para, cada um dos revolucionários, se dar bem. É o engano de todos os enganos. Como está escrito: 

"E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará" (2 Co 9:6)³

  Queremos receber sem dar; queremos justiça sem sermos justos; queremos igualdade quando esperamos privilégios; a paz quando estamos em guerra; direitos quando não reconhecemos os deveres; e assim vamos, cada um chorando e se lamentando da dor, se se aperceber que a causa não está além do próprio nariz. 

  Por isso, reafirmo: sem o amor e o temor (reverência) a Deus, e o amor ao próximo, cavamos palmos a mais na própria sepultura. E qualquer culto que professemos, será apenas idolatria e alguns graus centígrados a mais no fogo que nos espera. 


Nota: 1) Sei que não existe prescrição constitucional para isso; mas já que a realidade do país é implacável com o bem, e tolerante com o mal, sonhar é o que me resta...

2) É evidente que existem exceções, e não estou tratando de regra ou unanimidade em minhas afirmações, mas há de se convir que a maior parte dos brasileiros, se não está alinhada com o mal (e me refiro ao mal moral; a clara incitação ao desenfreado culto ao pecado, em que tanto Deus, como o próximo, são desprezados), é coparticipante, se não ativamente, mas na passividade, consentindo. Como também está escrito: 
"Os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem (Rm 1:32).

3) Paulo está a falar do sustento e manutenção da obra de Deus, através dos recursos que disponibilizamos através dos dízimos e ofertas (se quiser saber a minha opinião sobre o dízimo, clique neste Link e leia)


20 março 2019

A Mulher no Escuro - Dashiell Hammett





JORGE F. ISAH


  Este é mais um livro no estilo "noir", com elementos típicos: protagonista "macho alpha", ex-presidiário, acusado injustamente, perseguido por bandidos e policiais; mulher linda, desejada, não-disponível e com tendências a participar do crime organizado, circundada por cafetões, larápios e bandidos pés-de-chinelo, resumindo, uma "femme fatale" típica; polícia inepta e corrupta, displicente e venal; um enredo óbvio, quase banal, sem psicologismos e profundidade na construção dos personagens; um final feliz ou quase feliz; linguagem crua, beirando ao vulgar. Temos então, "A mulher no escuro".

  Dashiell Hammett escreveu um livro bom, dentre os que já li: “O Falcão Maltês”. Tudo o que descrevi acima está presente lá, em menor proporção, mas está lá. A diferença é que os personagens são melhores construídos, delineados, e em maior número; a trama tem a complexidade necessária para que ocorram reviravoltas e surpresas de verdade, em que as amarras são devidamente atadas. "O Falcão Maltês" é um noir “intermediário”, enquanto "A mulher no Escuro" seria de “entrada”, se pudermos transpor o universo dos smartphones  para a literatura, algo equivalente a comparar um Motorola novo com um Positivo ou Alcatel usado.

  Especificamente, “A Mulher no Escuro”, não é um livro detestável, mas está longe de ser mediano. Ficaria entre o ruim e o regular, algo para se ler e esquecer; pude mesmo sentir um certo tédio em parte da leitura, e um desinteresse em outra boa parte (para um enredo que está entre a novela e o conto, é muito desanimador, e pouco empolgante, em suas mirradas páginas). A história não convence, ao menos, não me convenceu, especialmente pela forçosa “áurea” de bonzinhos imputada aos bandidos “pobres” ou inexpressivos, como se fossem bandidos de mentirinha, ao passo que os verdadeiros estão nos altos escalões, entre os ricos e abastados, entre as autoridades e governantes. Aqueles praticam o crime por necessidade, estes pelo amor ao poder, a ganância e a maldade (como se qualquer crime não tivesse o mal e a cobiça como incitadores). No “Falcão Maltês” este viés sociológico não se evidencia ou é posto às claras, enquanto, por aqui, é escancarado, explícito. 

 Para culminar, um final “previsivelmente previsível”, anunciado ainda no primeiro capítulo. 

 Por essas e outras, prefiro os livros do Raymond Chandler ou David Goodis, quando o gênero é noir americano. 

 De resto, poderia concluir que, “A mulher no escuro”, é uma sombra distanciando-se, e distanciando-se, cada vez no limiar do esquecimento.


                                                  *******

DESCRIÇÃO


Título: "A Mulher no Escuro"

Autor: Dashiell Hammett


Páginas: 104


SINOPSE DA EDITORA

"Numa noite escura, uma jovem mulher surge do nada, assustada e ferida, buscando refúgio em uma casa isolada. O homem que ali mora a acolhe, mas ele não está preparado para lidar com a misteriosa desconhecida, nem com os homens que a perseguem."


13 março 2019

Um pouco de justiça social




Jorge F. Isah


  Andei lendo por aí que a “esquerda” tem muito a dizer sobre injustiça social. Realmente, ela tem mesmo: justificar porquê em nome da justiça social comete-se cada vez mais injustiça, ao invés de minimizá-la. Na verdade, eles precisam abandonar o "dizer", o discurso ideológico, e ver se fazem algo na prática, de fato.

  O problema, na maioria das vezes, está centrado na questão econômica, a utopia de uma sociedade igualitária onde todos tem tudo do mesmo: uma casa igual, um carro igual, a mesma comida nas mesas, as mesmas roupas, entre outras "provas" de igualdade. Ora, isso já foi tentado no bloco soviético, na Europa, na China, em Cuba, e nunca funcionou, e jamais funcionará. A igualdade a partir da equiparação econômica é o embuste e a "pegadinha" dos dois últimos séculos. A prova está na elite burocrática desses países, onde um grupo diminuto detém o poder e os privilégios econômicos (mansões, casas de veraneio, carros importados, viagens ao Ocidente, dinheiro em paraísos fiscais, roupas de grifes, comidas suntuosas e nababescas, entre outros), enquanto a população é obrigada a rações alimentares, roupas padronizadas e baratas, casas sem conforto (em alguns casos, mais de uma família morando debaixo do mesmo teto), carroças motorizadas, serviços públicos deficitários... A ideia de se ter acesso a todos os bens modernos, ainda que eles não cumpram com os anseios de "modernidade" (conforto, funcionalidade), traz a ilusão de uma "conquista e justiça social", quando as filas quilométricas do pão ou do combustível, e dividir o banheiro com os vizinhos, demonstram o contrário.  

  Quanto ao argumento de que a “direita” não se preocupa com a "injustiça social" e deveria fazê-lo politicamente, saliento que o objetivo do Estado não é paparicar grupo(s) ou indivíduo(s) mas sustentar a ordem institucional e legal de maneira que todos possam alcançar, pelo esforço e mérito próprio, seus objetivos, ao invés de distribuir privilégios aqui e acolá (normalmente aos alinhados ideologicamente com o governo), enquanto distribui migalhas à população, que não tem a contrapartida daquilo que lhe é tomado na forma de impostos e tributos. Sim, a carga tributária brasileira é uma das maiores do mundo, e o retorno ou a devolução em forma de organização e proteção da sociedade, especialmente, é negligenciada, abandonando o cidadão ao "deus-dará". Se não há segurança, o que dizer da saúde, educação, saneamento básico, infraestrutura essencial? Tem-se burocracia, burocracia, ineficiência, descaso e uma "casta" estatal repleta de privilégios e benesses distribuídas com o suor do contribuinte, seja empresarial ou individual. Mas esta é outra discussão. A questão aqui é o "engajamento social" e a reparação da injustiça, se é possível. No mundo ordenado pela "Queda", pelo pecado, e a rejeição, cada vez maior, do Deus bíblico, como esperar que movimentos, grupos e governos possam realizar a justiça social se a desconhecem? Apenas presumindo conhecê-la a partir da corrupção da alma, que fatalmente adulterará o sentido verdadeiro de justiça? Sem conhecer a Deus e sua vontade é possível entender o cerne da justiça e como alcançá-la? Por isso a necessidade premente da igreja arregaçar as mangas, sair do seu sono e conforto, e ser instrumento para se alcançar a justiça real, legítima, íntegra e moral, segundo a única fonte justa, o próprio Deus. 

  Biblicamente, a responsabilidade de cuidar do próximo, dada pelo Senhor, é à igreja e não as forças seculares, de maneira que há um desvirtuamento de propósitos quando a igreja transfere a sua prerrogativa bíblica, ou seu mandato, para um Estado não-bíblico. De alguma maneira, a igreja perdeu, no decorrer das últimas décadas a sua prerrogativa de cuidar do próximo espiritual e material, suprindo as necessidades e urgências da vida. Infelizmente, o projeto de muitos é apenas individual e organizacional: o crescimento, o endinheiramento, a relevância política, o jogo de interesses. O próximo passou a ser apenas um número e uma estatística no balanço de muitas igrejas. 

  Ah, apenas para não haver confusão, assim como na parábola do Bom Samaritano, há um dever individual de cada cristão no auxílio ao próximo, realizando-se concomitantemente com a sua participação na obra eclesial. Uma coisa não exclui a outra. A missão principal da igreja não é construir colégios, emissoras de tv e rádio, mas, sobretudo, a proclamação do evangelho e o auxílio e sustento aos doentes e necessitados (velhos, órfãos, etc). Negar esta prerrogativa é negar o papel de igreja e o evangelho. E não ser o instrumento divino neste mundo. 

PS: Como “esquerda”, eu quis englobar os marxistas de forma geral, progressistas e socialistas em particular.
E, por direita, grupos conservadores em geral, e cristãos em particular.


02 março 2019

O Demônio na Cidade Branca





Jorge F. Isah


   Foi o primeiro livro de Erik Larson que li. A impressão, no geral, foi boa, pois ele descreve em detalhes os eventos históricos da "Grande Feira Mundial de Chicago", em 1893, concomitantemente com os ataques do primeiro serial killer americano, H.H. Homes, na mesma Chicago, e na mesma época.
  
  Primeiramente, ressalto a profusão de citações, a extensa bibliografia apontada, e fotografias que me pareceram oriundas de um trabalho historiógrafo dispendioso, acurado e detalhista. 

  Em segundo lugar, a narrativa se assemelha muito com os romances-históricos, em voga nas últimas décadas. A diferença é que a obra se mostra claramente histórica, mas escrita em uma linguagem cativante, simples, íntima, onde as várias fases da feira (e da vida de seus realizadores), e de Holmes, se intercalam, favorecendo a leitura, tornando-a leve, didática, e mantendo um certo clima de suspense “noir”. Podemos encontrar as lutas, desejos, frustrações, rivalidades, cooperação, traições, e tudo o mais que se pode ler em qualquer drama. Com isto, não estou dizendo que Larson desejou escrever um romance, não o é, ainda que se assemelhe em muitos pontos. Entretanto, ele se utilizou da linguagem "romancesca" para trazer leveza e criar empatia com o leitor. Ponto para ele. 

   Ao traçar um paralelo entre a Feira, Holmes e seus crimes, faz com que coisas diametralmente díspares, como a criação de um evento suntuoso e monumental, de caráter e apelo global, com a destruição provocada pelo “gênio” diabólico de Holmes. Alguém pode dizer que, em algum aspecto, o Serial Killer também era um criador, ao planejar e pôr em prática seus projetos criminosos. Bem, não entendo assim, e reputo Holmes como um homem com algumas habilidades e magnetismo pessoal, mas apenas usando-os para a destruição, inclusive pessoal; e se para destruir é necessário "criar" algo, essa criação não passa de meios para a destruição, e não pode ser incluída no rol daqueles que constroem a beleza do nada, como é o caso dos grandes arquitetos David Burnham e F. L. Olmsted, entre outros, os gênios por trás da Feira de Chicago.

   Se imaginarmos que a Feira abriu espaço para as maiores inovações tecnológicas, muitas das quais se tornariam imprescindíveis na sociedade moderna, como a eletricidade; tubos de vácuo elétricos iluminados por correntes sem fio; o telautógrafo (uma espécie de fax-simile primitivo); esteiras rolantes; o rádio e transmissões por ondas elétricas; equipamentos sonoros elétricos; a roda-gigante (criada para rivalizar com a Torre Eiffel, a principal atração da Feira de Paris, em 1889); cientistas ilustres como Tesla, Edison, Bell, Gray; mais de 2 km quadrados de área iluminada, com réplica monumental de pirâmide, transatlântico, colunas grego-romanas, tudo abarcado com o que de mais inovador e futurista a eletricidade poderia embarcar e proporcionar à época, temos um evento monumental e fascinante. 

   Os visitantes das mais de 200 instalações se deslumbraram com a gigantesca, inusitada e profética demonstração do que viria a acontecer nas próximas décadas, em termos tecnológicos, e a beleza incomum que os idealizadores da Feira ergueram e revelaram ao mundo. Chicago foi, durante a Feira Mundial, a antevisão do futuro naquele presente. 

  Portanto, não dá para dizer o mesmo de Holmes, um psicopata, frio, dissimulado e covarde (inspirador de outros tantos malignos homens). Holmes era a antítese de Burnham e seus colegas; e, certamente por isso, Larson colocou-os lado a lado na narrativa; como uma amostra ou lembrança, ou melhor, um alerta, de que se existe criatividade construtiva, existe o labor para o mal e a deficiência. Neste sentido, Holmes foi um "criador" incompleto, negativo, cruel, fraco. Sem forças e talento para produzir o bem, contentou-se em destruir; e, durante o seu julgamento, tentou se passar por vítima, utilizando-se do delírio intelectual (presente em muitos acadêmicos e cientistas modernos), a fim de suprimir a realidade, distorcendo-a, na vã tentativa de enganar, se possível, alguns quanto à sua verdadeira imagem: um homem maldito, desgraçado!

   Larson poderia ter reduzido em algumas dezenas de páginas a sua história, talvez não se entregando tanto a detalhes técnicos mais pormenorizados. Entendo, contudo, que lhe pareceu necessário, a fim de se poder aquilatar, um século depois, a grandiosidade e dispêndio criativo, econômico e de esforço, a fim de construir a Feira das feiras, a World’s Columbian Exposition, revelando a genialidade e o empreendedorismo humano.

   Quanto a Holmes, aproveitando-se da ingenuidade e boa-fé das pessoas, utilizando-se do seu carisma para torturar e assassinar gente comum, colocou-o no rol dos maiores infames da humanidade e da história. De forma que, em meio ao brilho inventivo da arquitetura, física, engenharia, e tantos obstáculos ultrapassados pela engenhosidade humana, temos a figura nefasta e torpe do primeiro serial killer e sua odiosa, e não menos feia e aterradora, "criação", fazendo jus ao título do livro. 

Recomendado.


                                       ******

ESPECIFICAÇÕES: 

Título: O Demônio na Cidade Branca
Autor: Erik Larson
Editora Intrínseca
448 Páginas
Avaliação: ***


SINOPSE DA EDITORA: 

"No final do século XIX os Estados Unidos eram uma nação jovem e orgulhosa, ávida por afirmar seu lugar entre as maiores potências mundiais. Nesse contexto, a Feira de Chicago de 1893 teve papel fundamental: com o objetivo de apresentar a maior e mais impressionante exposição de inovações científicas e tecnológicas já idealizada, coube ao arquiteto Daniel Burnham, famoso por projetar alguns dos edifícios mais conhecidos do mundo, a difícil tarefa de transformar uma área desolada em um lugar de magnífica beleza: a Cidade Branca. Reunindo as mais importantes mentes da época, Burnham enfrentou o mau clima, tragédias e o tempo escasso para construir a enorme estrutura da feira. 

A poucas quadras dali, outro homem igualmente determinado, H. H. Holmes, estava às voltas com mais uma obra grandiosa, um prédio estranho e complexo. Nomeado Hotel da Feira Mundial, o lugar era na verdade um palácio de tortura, para o qual Holmes atraiu dezenas, talvez centenas de pessoas. Autor de crimes inimagináveis, ele ficou conhecido como possivelmente o primeiro serial killer da história americana.

Separados, os feitos de Burnham e Holmes são fascinantes por si só. Examinadas juntas, porém, suas histórias se tornam ainda mais impressionantes e oferecem uma poderosa metáfora das forças opostas que fizeram do século XX ao mesmo tempo um período de avanços monumentais e de crueldades imensuráveis.

Combinando uma pesquisa meticulosa com a narrativa envolvente que lhe é característica, Erik Larson escreveu um suspense arrebatador, que se torna ainda mais assustador por retratar acontecimentos reais.

Premiado com um Edgar Award e finalista do National Book Award, O demônio na Cidade Branca foi publicado pela primeira vez no Brasil em 2005 e agora é relançado pela Intrínseca.

Os direitos cinematográficos do livro foram adquiridos por Leonardo DiCaprio, que divulgou planos de interpretar ele próprio o assassino H. H. Holmes."

“Uma história real mais bizarra do que qualquer obra de ficção.” The New York Times


















22 fevereiro 2019

O Abandono da Fé




Jorge F. Isah


     Judas falando de incredulidade (que não é somente não crer em Deus ou não professar o Cristianismo, mas não reconhecer a autoridade divina em sua vida, a do incrédulo, e não se sujeitar a ela, o que pode acontecer com muitos cristãos nominais), justiça e castigo. Um alerta que ele deu para a igreja da sua época, que provavelmente abandonou este ensino, mas para todos os cristãos em todos os tempos:

"Mas quero lembrar-vos, como a quem já uma vez soube isto, que, havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os que não creram;
E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia;
Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno.
E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades"
(Judas 1:5-8)


Nota: Pintura "A conversão de São Paulo", de Caravaggio.

18 fevereiro 2019

A Cidadela - A. J. Cronin





Jorge F. Isah


    A primeira vez que ouvi falar de A. J. Cronin foi na minha adolescência (talvez eu tivesse entre 13 e 14 anos), no final dos anos 70, em uma série de T.V. que eu simplesmente adorava, “Os Waltons”. Havia um personagem, John “Boy”, vivido pelo ótimo, e nem sempre compreendido, “Richard Thomas”, com o qual eu me identificava grandemente, pelo mesmo desejo que ele tinha de se tornar em um escritor de ficção. Num dado momento em que ele havia se decidido a sair da fazenda onde morava, no interior dos EUA, para tentar a carreira jornalística em uma cidade grande (não me lembro agora qual era a cidade; afinal, se passaram quase 40 anos), ele citou A. J. Cronin, não somente por admirá-lo com autor, mas por desejar ser como ele, ao menos, escrever como ele. Nessa época, eu me aventurava , engatinhando, à literatura menos adolescente e mais adulta: já lia Dostoievski, Sartre, Machado de Assis, Gide, Hemingway, sem entender muito aquele universo, mas desejando vive-lo por meio dos livros. Não havia abandonado de todo Dumas, Verne e Twain (devo ter lido Tom Sawyer umas 15 vezes, no mínimo), mas havia uma transição natural entre estes e aqueles autores.

    Pois bem, passados quase 40 anos, somente agora pude ler A. J. Cronin e o seu mais famoso romance, “A Cidadela”. E o que dizer dele? Primeiro, gostei muito. Não é um romance genial, o que poucos são, mas é muito, muito bom. O estilo de Cronin é envolvente, daqueles em que você é fisgado já no início, pela disputa entre o bem e o mal, o moral e o imoral, o ético e o antiético, mas sobretudo por uma linguagem ao mesmo tempo simples e muito bem elaborada. Vá lá, alguém pode dizer que o romance é uma colcha de clichês, e de que a vida não é dicotômica como muitos autores defendem em suas obras. Mas “A Cidadela” está longe, muito longe, de ser uma teia de chavões ou estereótipos. Os personagens são reais, vívidos, com suas incongruências, lutas, dúvidas, certezas, idealismos e convicções. Cronin não descreveu um mundo em preto e branco, sem tons cinzas, pelo contrário, há nevoeiros, clarões, trevas e todos os elementos necessários para fazê-lo um grande romance, como de fato é. 

    O pano de fundo é a medicina, seus valores científicos ou não, dogmáticos ou não, ideológicos ou não, éticos ou não, morais ou não. É uma crítica feroz à medicina que vive, se sustenta e fomenta o mal, a doença, a dependência existencial do homem aos “senhores” de jalecos brancos, e que muitas vezes sequer sabem da existência de uma verdadeira medicina, aquela que se pode chamar de “medicina do bem ou da saúde”. Há críticas ao academicismo, à indústria dos diplomas, à medicina como um negócio qualquer, vulgar, cobiçoso, pelo desejo imoderado de fama e fortuna. Os conflitos são muitos entre médicos, pacientes, associações médicas, tribunais, e um esquema ou estratégia ou sistema que tornam os médicos em meros prescritores de remédios (atendendo os anseios da indústria farmacêutica, às comissões médicas, e a obrigatoriedade de se manter o paciente incurado, e recluso à servidão clínica); onde o bem quase nunca é um desejo, e o mal uma necessidade.

   Cronin, ele mesmo um médico formado, descreve com maestria como o idealismo profissional do recém-formado Andrew Manson, com seus títulos e honrarias, se transforma, rebaixando o humanismo em exploração e farsa, num farsante, abandonando o juramento de Hipócrates para se tornar em um mesquinho acumulador de dinheiro, por meio da trapaça e vigarice. Como apóstolo Paulo disse: “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.10). Muitos acham que o dinheiro é o mal supremo, mas não é. Em si mesmo, o dinheiro é algo inanimado, sem vontade e poder de decisão, não podendo ser o mal, a priori. Entretanto, o amor a ele, possível naquele que deseja e toma decisões, o é! Por isso, é preciso que Andrew perca quase tudo para voltar ao que era, e fazer o caminho de volta, começar de novo.

    Ao entregar-se a si mesmo, aos seus desejos mais sórdidos, sem que a consciência cauterizada o acordasse, ele certificava-se de que as escolhas só seriam realmente boas se a razão delas fosse, exclusivamente, o seu bem-estar financeiro e a sua projeção profissional, na Londres da década de 20. Não havia lugar para princípios morais, éticos, humanistas. Apenas o desejo de enriquecer de qualquer modo, à custa até mesmo do sofrimento e da dor alheia.

   Pois, é com maestria que Cronin descreve a perda do caminho, o enveredar-se nos desvios, e a retomada ao anseio original de Andrew, em que sua alma se viu morta por causa da sua cobiça e inveja, e foi renovada pelo amor à vida, e o sentido primeiro de servir ao invés de ser servido. Há uma nítida mensagem cristã por trás de toda a trama, contrapondo-se ao ceticismo do personagem principal, um obstinado antirreligioso, que, na sua imoralidade, imagina-se moral pela completa ausência de moralidade e religiosidade. Ou seja, a justificação dos seus atos antiéticos e imorais encontra respaldo na negação da ética e da moral. Para se autojustificar, não pode haver fundamentos para a justiça, quando a injustiça é o desejo a se realizar.

  O relativismo do século XX, em suas mais nefastas proposições, tornam irresponsáveis aqueles que deveriam, de alguma maneira, como ministros de Deus (juízes, governantes, médicos, professores, pais, etc), serem os guardiões da vida e não os proponentes da morte. 
Cronin revela o dilema que existe no homem desde o Éden, a escolha da vontade, e seus desdobramentos na vida daquele que escolhe, mas também daqueles mais próximos.

  É um livro no qual o autor poderia se perder completamente, fazendo-o um pastiche de uma denúncia, um panfleto inócuo, ou uma simples “rede de intrigas”, como muitos outros livros foram escritos e o são em profusão, na atualidade. Mas Cronin soube leva-lo à quase perfeição, senão de uma sinfonia, ao menos, de uma fuga. 

  Leitura recomendada.



                                   *****


SINOPSE DA EDITORA:

"Romance que consagrou Cronin no mundo literário. A cidadela marcou época ao ser transformado em filme por King Vidor. O escocês Archibald Joseph Cronin era médico e membro do Royal College of Physicians. respeitada associação da classe médica no Reino Unido. O autor descreve as condições de trabalho do início do século XX e relata de um modo estarrecedor as dificuldades e tragédias ocorridas nas minas de carvão inglesas. O protagonista é o jovem médico Andrew Manson. que inicia sua prática profissional numa pequena aldeia do País de Gales. Drineffy. Dr. Manson dedica-se de forma intensa aos seus doentes. pondo em prática todo o idealismo de um jovem médico. Casa-se com a professora Christine Barlow. e mais tarde o casal parte para Londres. Na cidade grande. Andrew entra em contato com a classe médica conceituada que atende exclusivamente aos mais ricos. O texto de Cronin evidencia o drama das escolhas éticas na prática da medicina. Um tema ainda muito atual: o confronto entre integridade profissional e as tentações materialistas."


INFORMAÇÕES: 

Autor: A. J. Cronin
Editora: Editora Best Seller
532 Páginas