13 dezembro 2018

Prólogo do livro "A Distração do Pecado"






O embrião para a realização deste livro foram as aulas ministradas na Escola Dominical do Tabernáculo Batista Bíblico, e, durante quase um ano, analisamos cada um dos versos da carta de Judas, sobre os quais nos debruçamos e meditamos com o objetivo de nos dobrarmos à verdade de suas poucas páginas. No princípio, inadvertidamente, cogitei uma análise em quatro ou seis aulas, no máximo, mas a riqueza e a profundidade do texto levaram-nos a dispender oito vezes mais o prazo inicialmente estimado.
        Em uma série de estudos, fomos impulsionados a compreender a gravidade do momento vivido pela igreja de Cristo à época do epistológrafo, crise pela qual a igreja passa, na atualidade, em proporções talvez maiores, já que grande parte dos inimigos de Cristo encontram-se dentro dela, como o joio aguardando para ser arrancado. Os exemplos bíblicos servem-nos como alerta, exortação e repreensão, para rechaçarmos os constantes ataques inimigos, não nos entregando às suas artimanhas açuladas, preservando a sã doutrina, o temor e reverência a Deus, apegando-nos à verdade, repelindo a incitação desonesta à rebeldia, à contemporização com o pecado e ao cultivo do mal.
        Portanto não espere um livro onde você se perderá em meio as dúvidas; não escrevi nada novo, mas repeti o que a igreja tem defendido por séculos; não espere afagos e adulações, porque Judas, como emissário de Cristo, exortou a igreja com asserção, como prova do verdadeiro amor, límpido e vigoroso, não dando lugar à lisonja interesseira; levando incautos a confundir o bem com o mal, o certo e o errado, descristianizando mentes e corações para depois abandoná-los na miséria absoluta, levando-os ao servilismo e penúria da alma, aprisionada nas correntes diabólicas. Pelo contrário, este livro é cristocêntrico, não trata de um Deus genérico, impessoal e distante do homem, mas do Deus encarnado, pessoal, cuja honra e glória satisfaz mais ao Pai e ao Espírito, as demais pessoas da Trindade, do que o louvor dispensado a elas mesmas.
        Não espere, também, um discurso liberal, heterodoxo, antropocêntrico, no qual o homem é a “estrela”, enquanto Cristo é um mero coadjuvante, um nome a agregar distração. Se nada for aproveitado nesta obra, oro para que ao menos o leitor compreenda a excelência de Cristo, sua sublime majestade, completa divindade, completa humanidade, esplendor e glória, num grau de superioridade mais que elevada, somente possível para quem, como ele, compartilha a deidade
em unidade com o Pai e o Espírito Santo; isto é chamado de Cristocentrismo[1]. Se nada mais ficar, que fique isso; do contrário, este livro não terá significado, nem propósito.
        Não espere nada bombástico, original, em uma busca doentia pelo ineditismo, o qual leva muitos autores e livros para além do limite permitido pela sã doutrina, cruzando perigosamente a linha divisória entre o santo e o profano, entre o bíblico e o pagão, entre o louvável e o desprezível. Não tive a menor pretensão de ser inovador, mas de apenas ordenar as ideias e tudo apreendido em minha caminhada com os santos, a fim de, através de Judas, alertar a igreja quanto às várias investidas dos inimigos no intento de solapar, de tornar ineficiente a igreja, fazendo-a um apêndice mais higiênico da podridão mundana; controlando-a com suas acusações, inverdades e coerção, num esquema de manipulação visando a fazê-la um arremedo de si mesma e de secularizá-la a todo custo e sob todos os aspectos da (des)ordenação da civilização moderna. Em um século controlado pela ideologia e pelo combate à verdade; onde o anticristianismo é a faceta mais perversa e injusta da capitulação do bem.
        Tentei escrever de forma simples, sem rebuscar ou empreender um trabalho hermético, sem qualquer pretensão de construir uma obra acadêmica, mas de disponibilizar a qualquer um o texto com vistas a edificar e exortar a igreja, muitas vezes perdida entre o secularismo institucionalizado e um apego a uma tradição mais formal que espiritual, mais moralista que moral, mais centrada nas concepções humanas do que na verdade, na essência da fé, o próprio Deus. Busquei passar uma imagem clara daquilo que me propus a fazer, mesmo que, em alguns momentos, não tenha a convicção de tê-lo alcançado, no que espero contar com a compreensão do leitor. De maneira geral, foi um misto de gozo e angústia intentar o exercício de trazer à luz o que existia apenas em esboços e linhas mal delineadas.
        Entretanto, devo ressaltar que nem todo o material, constante nestas páginas, é exclusivo das lições apresentadas no T.B.B.; há uma boa parte de trechos escritos “a posteriori”, alguns pensamentos “a priori”, e reflexões complementares acrescentadas ao corpo inicial, à medida que a obra tomava forma, como consequência necessária da sua redação; proveniente, em caráter único, das minhas considerações sobre os diversos temas propostos, não existindo qualquer comprometimento da liderança e membros do T.B.B. nas conclusões e no produto final apresentado, sendo, portanto, de minha inteira responsabilidade o que se vos apresenta.  
        Contudo, não poderia deixar de agradecer a cada um dos contribuintes e corresponsáveis diretos no arremate desta obra, não necessariamente no que se encontra expresso, mas através das participações frequentes nas aulas, em conversas ocasionais e indicações de textos e obras. Seria injusto se, em especial, não creditasse ao pastor Luiz Carlos Tibúrcio, irmão e amigo, o estímulo necessário para desenvolver este plano, ao convencer-me, sete anos atrás, a aceitar a incumbência de tornar-me professor. Com ele, também, tenho aprendido muito, ainda que algumas coisas me sejam incompreensíveis no momento, por conta de minhas próprias deficiências, ressaltando a sua paciência insistente em não abandonar-me; e, ainda, ao amor e auxílio fraternal da igreja, sem os quais não se alcança qualquer conhecimento espiritual, nem experiencial, da autêntica vida cristã, somente possíveis no corpo local, pela união promovida por Cristo, de fazer para si um povo e de levá-lo à comunhão íntima com seu Santo Espírito. Como sempre digo, não há divergências, nem algum problema, que não seja dissolvido pelo amor do Senhor, o qual nos une e nos mantém unidos.
        É com grande alegria que entrego estas páginas ao leitor. Durante mais um ano, após o término letivo, estive envolvido com este projeto de agrupar, acrescentar e burilar os esboços servidos de aulas; algo por completo inusitado para mim, havendo um determinado momento no qual considerei quase impossível concluí-lo, dada a insatisfação com uma ou outra parte do texto, mas que, pelo favor divino, foi possível chegar a termo, e um desejo, por fim, realizado. Vê-lo, agora finalizado, é a demonstração da graça e bondade divina para comigo.
Oro, do fundo do meu coração, para o Senhor utilizar este instrumento na edificação da sua santa igreja, e para a sua honra, porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos”[2]; e a Cristo seja dado todo o louvor e glória, eternamente!




[1] Cristocentrismo é a designação para “Cristo no centro de tudo”. Não há ortodoxia e ortopraxia sem se considerar profundamente isso. Quando o Filho diz que ninguém vem ao Pai senão por ele, está definindo algumas coisas: o crente vem ao Pai porque vem a Cristo, e ambos são um, uma unidade com o Espírito. Segundo, agradou ao Pai e ao Espírito Santo serem glorificados no Filho, de maneira tal que é impossível a glória de Deus sem que seja dada a glória a Cristo, exclusiva e primeiramente; a glória divina passa, necessariamente, pela glorificação de Cristo. Terceiro, como consequência, qualquer tentativa de se glorificar a Deus, por outros meios, é rejeitada. Quarto, e é rejeitada pelo simples fato de que, como pecadores é impossível agradarmos a Deus, então, nossas ações, pensamentos, orações e ofertas são santificadas pelo Filho, e sendo por ele santificadas, agradarão, finalmente, ao Pai.
[2] Atos dos Apóstolos, 17.28


Compre o livro AQUI

23 novembro 2018

LANÇAMENTO DO LIVRO "A DISTRAÇÃO DO PECADO", E PROMOÇÃO BLACK FRIDAY - KÁLAMOS







Jorge F. Isah


        É com muita alegria que anuncio o lançamento do meu primeiro livro teológico, "A Distração do Pecado", cujo subtítulo é: "Um estudo sobre a igreja, com base na Carta de Judas". Ele tem 454 páginas, no formato ebook, e está disponível na gigante Amazon.

Veja a capa do livro, abaixo:



         Amigo leitor, você pode adquiri-lo em formato ebook ou físico, AQUI, ou visitando o site da Kálamos Editora

         Os nossos livros encontram-se em promoção na Black Friday até a próxima segunda-feira, dia 26. Não perca a chance de conhecer o nosso catálogo (ainda diminuto), e aproveitar os descontos de até 50%. 

         Compre também o meu segundo livro de poemas, "Arpeggios Insulares", que está com preço super-promocional. 

         Um grande e forte abraço!

         Cristo o(a) abençoe, ricamente!









22 outubro 2018

SUMMA TEMPORUM









Jorge F. Isah


            Na foto acima, um dos poemas constantes no meu recém-lançado livro "Arpeggios Insulares", que poderá ser adquirido no site da Amazon.com.br, pelo link https://amzn.to/2x5mg2H, no valor de R$ 5,99, ou se você é assinante do Kindle Unlimited, baixe-o gratuitamente. 

            Em breve, novo livro será lançado, inaugurando a seção de teologia da Kálamos Editora. Visite-nos, e leia alguns trechos do livro, clicando AQUI!



29 agosto 2018

PRÉ-VENDA DO LIVRO "ARPEGGIOS INSULARES"



Jorge F. Isah

        É com muita alegria que venho trazer notícias para os leitores do "Kálamos", em especial a de que criamos uma Editora, "Kálamos Editora" (não podia ser diferente, e ter outro nome), e um site para divulgar os seus produtos (livros, especificamente), que ainda está em construção. O endereço é: 


           
           Temos um novo "logo", também: 


        E o desejo de, em breve, se Deus quiser, publicar novos autores além do "velho" aqui. 
          Por falar em livros, e é a segunda razão desta postagem, está em pré-venda o meu segundo volume de poesias, "Arpeggios Insulares", comercializado pela Amazon. Para você se direcionar para a página de venda na Amazon, basta clicar na capa, abaixo, comprando-o, e me ajudar na publicidade (se assim lhe aprouver):


         se tiver dificuldades no direcionamento, deixarei o link, abaixo, que pode ser copiado no seu navegador, ou bastando clicar nele, para ser direcionado à compra: 


         Em breve, acontecerá novidades, como a publicação, para fins de Outubro, ou início de Novembro, do meu primeiro livro teológico, que já tem título, capa, e está em fase final de edição. Bem como o recebimento de originais de terceiros  para eventual publicação; o que espero aconteça em meados de 2019, se assim o Senhor o quiser. 
           Espero que tenham gostado da atualização, e me perdoem a não publicação de novos textos, por aqui, nos últimos meses. Retornarei à normalidade no blog, ainda este ano. 
            No mais, um forte abraço a todos!
            Cristo o(a) abençoe!
            

17 maio 2018

Sermão em Mateus 22.34-40: O amor a Deus e ao próximo




Ir. Francisco Rodrigues





        Mensagem realizada ontem, 16.05.2018, no Tabernáculo Batista Bíblico, pelo irmão Francisco Rodrigues, com base em Mateus 22.

        O bom Deus use-a para a sua edificação e crescimento. 

        Soli Deo Gloria!




16 maio 2018

NOVO SORTEIO DE LIVROS EM PARCERIA COM O NAPEC




REGRAS


● SORTEIO DUPLO DE LIVROS ●

Participe agora mesmo do sorteio e chame seus amigos!!! Participe! 

"Notas da Xícara Maluca" de N.D. Wilson 

"A Cosmovisão Sexual Cristã" de P. Andrew Sandlin

1. Curta as página de Kálamos, Editora Monergismoe NAPEC Apologética e Cosmovisão Cristã no Facebook;
2. Marque 3 amigos nos comentários; 
3. Compartilhe este post em seu perfil público.

Conheça os livros:
:: https://editoramonergismo.com.br/collections/cosmovisao-e-cultura/products/notas-da-xicara-maluca

:: https://editoramonergismo.com.br/products/a-cosmovisao-sexual-crista

Resultado em 16 de junho de 2018 
Serão dois contemplados, cada um com um livro.

Siga e curta as páginas:
- NAPEC Apologética e Cosmovisão Cristã
- Kálamos
- Editora Monergismo




21 abril 2018

A Invasão Vertical dos Bárbaros




Jorge F. Isah


Este é o primeiro livro do filósofo Mário Ferreira dos Santos que leio. Tenho o Filosofia Concreta, Lógica e Dialética, alguns "pdfs" de livros fora de catálogo, e estou prestes a comprar o Tratado de Simbólica, porém, nenhum ainda lido. 

Parte do meu "descaso" com o autor se deve ao temor que o prof. Olavo de Carvalho me incutiu quanto à obra, o qual reputá-a como grandiosa e uma das maiores realizadas por um filósofo no séc. XX, e, portanto, também uma obra difícil e profunda; que requer um certo entendimento prévio do muito que se irá ler, para melhor compreendê-lo. Trocando em miúdos, os livros do prof. Mário Ferreira não são para o leitor comum, com pouca bagagem cultural e sem algum conhecimento dos temas por ele abordados. 

Há ainda o fato dele ter escrito muito, deixado um vasto material a ser estudado e organizado, algo que se produziu sem o zelo editoral, sem uma revisão acurada, cujo tempo ele não dispunha. Ele procurou deixar um registro do seu pensamento, acreditando que seus discípulos pudessem, no futuro, realizar o trabalho de elaboração final da sua obra. 

Como sou apenas um iniciante na ciência da filosofia, aceitei prontamente o conselho do prof. Olavo, sabendo de minhas limitações, e de que deveria ser prudente e cauteloso não somente com o trabalho do prof. Mário, mas com o de muitos outros. 

Ao saber da publicação deste livro, interessou-me sobremaneira o título e perceber que se tratava de uma obra mais voltada para os iniciados, aqueles que nunca tiveram um contato direto com ela. O próprio título da coleção, "Abertura Cultural", parece ter o objetivo de "instigar" os interessados no mundo da alta cultura. 

Após ler algumas dezenas de páginas, a impressão que me dá é de que falta alguma coisa. Não sei explicar direito o que seja, talvez uma maior elaboração, desenvolvimento, dos temas abordados, e que se referem exatamente ao fato de o autor descrever o retorno da civilização ocidental ao barbarismo, ao primitivismo e, uma inferência minha, uma volta ao paganismo. Mas isso em nada desqualifica o seu pensamento, pelo contrário, o prof. Mário parece um profeta moderno, que anteviu décadas antes o que vivemos agora não somente no Brasil, mas no mundo globalizado; ou seria apenas a capacidade de perceber e vislumbrar o que já estava diante dos olhos e que a maioria de nós não foi capaz de ver ou não quis ver? Seja por ignorância, cinismo ou canalhice?

O livro foi originalmente publicado em 1967, provavelmente escrito anos antes, e, passados quase meio século, ele é de uma atualidade assustadora. É como se o prof. Mário estivesse vivendo cada minuto no séc XXI e visto em detalhes o que se tornou a humanidade. 

Creio que somente homens capacitados por Deus (sejam crentes ou não, mas sempre instrumentos da vontade e poder divinos), e que busquem interessadamente compreender a verdade e a realidade, podem “antever” o seu tempo. A maioria dos estudiosos se focam no caráter ideológico e metodológico das suas áreas com pouco ou nenhum interesse pelo real. Como a ideologia sempre buscará uma aparência de realidade e verdade, eles estarão submersos e envolvidos com o que se denominou de “segunda-realidade”, que cada vez mais o aprisionará num mundo onde o desconhecimento impera, e isso significa a ignorância em relação a Deus, à humanidade e a si mesmo.

Espero ter aguçar a curiosidade e o interesse dos visitantes em relação à obra do grande filósofo e professor; entretanto, se não o fiz, esqueça-me, e se debruce o mais rápido possível sobre ela. 

Deixo um pequeno aperitivo, do pensamento do prof. Mário Ferreira:

"A VALORIZAÇÃO DA HORDA, DO TRIBALISMO
As multidões desenfreadas nas ruas, que são o caminho para as grandes brutalidades e injustiças, manifestação do primitivismo, mais um exemplo da horda, movidas por paixões, sobretudo o medo, aguçadas pelos exploradores eternos de suas fraquezas, pelos demagogos mais sórdidos, passam a ser exemplos de superioridades humana... Esses movimentos só têm servido para apoiar tiranos e desenvolver a brutalidade organizada, porque o desenfreio das massas nas ruas não pode ser permanente, e exige, desde logo, a imposição da ordem, o que favorece, então, o emprego desmedido da força e o abuso dela, com consequências graves e perniciosas até para aqueles que foram os mais ativos nessas manifestações bárbaras" 
(pg 34/35).


Invasão Vertical dos Bárbaros
Mario Ferreira dos Santos
É Realizações
168 Páginas
Recomendado


11 abril 2018

Sermão em Mateus 10.34: A paz em lugar da espada





Jorge F. Isah






“Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”



INTRODUÇÃO

Ao lermos este verso pela primeira vez, e isoladamente, ele nos traz um certo estranhamento e a impressão de que contradiz outras afirmações bíblicas.

É preciso entende-lo à luz da unidade textual das Escrituras, e sob a iluminação do Espírito Santo. 

Muitos, porém, de maneira precipitada e simplista, apreendem dele aquilo que não diz, colocando nele significados que jamais foram intenção do autor, como aqueles que deduzem estar o Senhor a falar de uma guerra em defesa da fé onde o cristão pode se utilizar de todos os meios, inclusive a força e violência, para que ela prevaleça. 

A ideia de que o crente não é um “bobo”, nem deve ser feito de “palhaço” pelos outros, de que é possível revidar na mesma medida em que se é agredido, tem ganhado contornos de verdade e quase infalibilidade entre os cristãos, nos últimos tempos. 

Entendem que Jesus está a validar e respaldar um tipo de belicosidade “santa”, na qual a defesa da fé está diretamente ligada à defesa de Deus, e como qualquer ataque ao Criador deve ser rechaçado, até mesmo a morte do ímpio é desejável (que desagrada a Deus – Ez 18.23), no sentido de que estamos em uma guerra santa, e o cristão não deve se sujeitar à tirania e morticínio provocado por seus inimigos. 

Seria esse então o bom combate ao qual Paulo se refere em 2 Tm 4.7? Matar o maior número possível de opositores?

Deve-se levar a defesa da fé até as últimas consequências, mesmo que seja a destruição do semelhante?

É o que veremos, a seguir. 


DEUS É PAZ

Em vários trechos das Escrituras temos a afirmação de que Deus é paz. Semelhantemente, a igreja se cumprimenta com “a paz do Senhor”, sabendo que se desejamos ao irmão a paz de Cristo é porque ela somente pode provir daquele que a é em essência. 

Paulo nos apresenta alguns versos que confirmam esta afirmação: 

“Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.” (1Co 14.33)


“E o Deus de paz seja com todos vós. Amém.” (Rm 15.33)

No primeiro verso, o apóstolo contrapõe “confusão” com “paz”. A palavra confusão tem vários significados, mas sempre ligados à ideia de desordem, bagunça, dúvidas. Penso que a paz vem adicionada à fé, não a qualquer tipo de fé, mas aquela proveniente do bom Deus, que nos leva a suportar até mesmo as piores e mais terríveis batalhas na confiança de que ele não somente não nos abandonou, mas tem nos sustentado e dirigido a trajetória em direção a si, à paz verdadeira. 

A paz, portanto, é o complemento da fé, não como um acessório, um adendo, mas consequência natural de tudo o que Deus nos dá e proporciona a partir da obra remidora de Cristo. Paz, significa, então, conciliação, concórdia, união, harmonia, acordo, em que Deus, e aqueles que desfrutam da sua paz, encontram-se ligados a um mesmo propósito. Não mais existe apenas o Pai, o Filho e o Espírito Santo, unidos eternamente, três Pessoas e um único Deus, mas também nós estamos unidos a eles. Esta é a promessa divina: 


“E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim;
Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.
Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.” (Jo 17:20-23)


Neste sentido, até mesmo a justificação é decorrente da fé salvadora; aquela colocada em nossos corações pelo Espírito, e nos leva à comunhão e intimidade com Deus. 

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;

Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. (Rm 5.1-2)


Sendo Deus paz, quando os cristãos se cumprimentam com “a paz do Senhor” (e, infelizmente, essa tem sido uma prática negligenciada; sim, muito do que é dito o é da boca para fora, mas ainda assim o cumprimento serviria de lembrança para algo que não devemos negligenciar: de que Deus é a nossa paz), reconhecemos que é por ele que encontramos, enfim, a reconciliação com o Criador, conosco e, de alguma maneira, com o mundo que nos tem por inimigos.



A INIMIZADE DO MUNDO: COMBATENDO NÃO A CARNE E O SANGUE


Mas, então, por que Cristo afirma, categoricamente, que não veio trazer a paz, mas a espada?

Estaria ele conclamando o seu povo a uma guerra santa? 

Devemos entender que o chamado da fé não é para combater a carne e o sangue, mas as potestades, como Paulo nos diz: 

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.

Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.
Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.” (Efésios 6:11-13)

Há uma luta em curso que, antes de qualquer coisa, está sob a égide espiritual. O mal que campeia no mundo é fruto daqueles que combatem o bem, ou seja, são inimigos de Deus e da verdade, logo, trabalham para o príncipe das trevas, aquele que é mentiroso e assassino desde sempre. As maldades que vemos, ouvimos ou tomamos conhecimento diariamente é fruto da influência do diabo e seus demônios, mas também nasce, brota e se fortalece no homem cujo coração não conhece a Deus, não deseja conhece-lo, é idolatra, e produz para si um emaranhado de certezas a partir da mentira e falsidade. Alguns querem colocar a culpa exclusivamente nele, mas o coração que insiste e se alegra na afronta e rebeldia a Deus, também é culpado pelo mal que produz, muito mais do que satanás. 

E se estamos em um mundo onde os homens carregam almas beligerantes contra o Criador, não somente a Cristo e seu evangelho, mas todos aqueles que o servem, também são declarados inimigos do mundo. Claramente, o cristão não poderá agradar ao mundo e a Deus, e se tem em seu íntimo a vontade agradar a Deus, fatalmente desagradará ao mundo. E o desagrado é uma declaração de guerra, ainda que unilateral. Porque o cristão não odeia os homens, nem o mundo, no sentido de querê-los destruídos, aniquilados, mortos por suas mãos. Não. Ainda que o pensamento do mundo seja motivado pelo pecado, pelo não arrependimento, desagradável, vil e mesquinho, ao crente, que também um dia, em algum aspecto, posicionou-se a favor do mal e contra o bem, reconhecerá que assim como ele mesmo necessitou da graça e misericórdia divinas para ser perdoado de sua condição iníqua e contenciosa, aos homens devem ser levadas as mensagens de vida, as boas-novas de Cristo, a fim de terem suas mentes e corações transformados, suas vendas tiradas, e a verdade lhes seja revelada pelo próprio Espírito. O arrependimento como consequência de uma disposição favorável, amorosa e grata, quando antes havia apenas ódio, desgosto e rivalidade contra Deus. 

“Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne.
Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas;
Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo;
E estando prontos para vingar toda a desobediência, quando for cumprida a vossa obediência.” (2Co 10:3-6)

Portanto, se odiaram a Deus, também odiarão os seus filhos e servos: 

“Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros.
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.” (João 15:17-19)

E ainda outra vez:

“Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.
Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos.
Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.
Não são do mundo, como eu do mundo não sou.” (Jo 17:12-16)


DEIXO-VOS A PAZ

Como harmonizar os versos iniciais com outros tantos em que Deus é a paz, e ele veio para nos dar a paz? Como o próprio Senhor disse:

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo 14:27)


Cristo mostra que não dará aos seus uma paz igual a que o mundo deseja ou oferece, uma paz temporária, volátil, que se desfará no primeiro problema, trazendo, em seu lugar, angústia, dor e contendas. A paz que o mundo advoga é transitória, ilusória, porque ao homem bastaria um dissabor, uma contrariedade, ou algum tipo de agressão (por menor que seja), para que a ela seja quebrada. Na verdade, ela está diretamente ligada ao orgulho, ao egoísmo, e ao desejo de poder. Este poder não necessariamente significará subjugar os outros, mas simplesmente não se deixar subjugar. O mundo está em guerra com Deus exatamente por isso, por não querer, e não aceitar, o jugo divino. E se a forma de gratidão, por tudo que o Criador é, seria a adoração sincera e espiritual, em seu lugar o homem natural se põe na condição de ingrato, cultuando a si ou seu semelhante, quiçá um objeto. 

Neste sentido, a paz pode ser entendida como aquela na qual o homem se sujeita e se entrega ao governo divino, e, por conseguinte, ao serviço como um todo: não somente a Deus, mas por Deus, para a sua glória, e servindo também ao próximo. 

A afirmação do Senhor Jesus de que ele veio ao mundo para servir e não ser servido, coloca-nos diante de um dilema entre o “eu” que deseja ser servido, e a prontidão em se negar a si mesmo (negação não como pessoa, mas no egoísmo e superioridade de se considerar o “centro do mundo”; o que é, me maior ou menor escala, fruto da idolatria), e estar disposto a servir. 

Cristo é a paz; aquele que veio desfazer a inimizade, a contenda, e guerra entre o homem e Deus. Ele é a paz, por se sujeitar à vontade do Pai; ele é a paz, por buscar a glória do Pai, e fazer a vontade dele, ao invés da sua; Ele é aquele que dá, quando poderia tomar; Ele é o sacrifício, oferecido como dádiva, quando poderia trabalhar por algum interesse individual; veio como Servo sofredor, quando poderia ter vindo como Rei. Este é o despir da glória de Cristo, o Rei eterno se fez um de nós, se fez servo, para que ele fosse tudo em todos. 

Essa é a paz que recebemos, a paz que nos faz, em todos os sentidos, ansiar sermos como é o nosso Senhor. Se somos como ele, viveremos como ele, e serviremos como ele. No servir está a paz daquele que se submete ao Deus de paz. 


CONCLUSÃO

No capítulo 14 de João, ele inicia assim:

“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.”

E no versículo 27, ele repete, mais ou menos, o mesmo enunciado do verso 1:

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.”

A paz somente vem pela fé. A fé de que, em qualquer situação ou circunstância, Cristo está cuidando de nós. E de que, sendo ele a paz, e estando unidos a ele, também teremos paz.

Nota: Mensagem ministrada no Tabernáculo Batista Bíblico


25 março 2018

Introdução à Pregação - Aula 1 e 2




Jorge F. Isah



Aos interessados, os áudios deste estudo estão disponibilizados no final da postagem.


INTRODUÇÃO

Estudamos, no decorrer do último ano, a apresentação do que seja o culto cristocêntrico. Agradecemos ao irmão Francisco por nos orientar nas várias questões relativas ao entendimento do que seja o culto verdadeiramente cristão, e as imitações que grassam, em boa parte das reuniões religiosas, e que equivocadamente são reputadas como cristãs, quando apenas reproduzem pouco ou nada da verdade bíblica, e, também, pouco ou nada do nosso Senhor. Ele é o centro da fé, e imaginar possível uma vivência cristã onde ele não seja o fundamento, o alicerce, a motivação a prática da fé, é inconcebível e um absurdo. 

Iniciaremos hoje, uma série de estudos a partir dos temas abordados em vários livretos publicados pela Editora Fiel, e que se estenderão a outros livros diversos, inclusive a biografia dos santos e seus ministérios. Os temas têm tudo a ver com o estudo anterior, e serão complementares a ele, fortalecendo os conceitos já aprendidos, reforçando-os para que sejamos ainda mais conscientes e zelosos da defesa da fé. 

O primeiro deles trata da pregação em nossos dias. O livro tem o título: “O que há de errado com a pregação hoje?”, escrito por Albert N. Martin. 

Tentaremos uma nova perspectiva de aulas, onde os irmãos receberão, antecipadamente, parte do texto, preferencialmente capítulos inteiros, uma semana antes da aula, a fim de lerem durante a semana, meditarem no que leram, anotando as partes mais relevantes, as dúvidas, ou o que não ficou suficientemente claro, e, caso haja, suas críticas (de deverão ser fundamentas). Desta forma, queremos que o estudo não se restrinja ao momento da EBD, mas os irmãos possam estendê-lo ao restante da semana. Como não serão partes longas, apenas algumas páginas, esperamos não haver motivos para não se proceder a esse exercício, no que acredito haverá o substancial crescimento individual quanto aos fundamentos da fé, e, como igreja, o Corpo de Cristo. 

Antes de entrarmos propriamente no tema do livro, faremos um apanhado do que vem a ser pregação e sua formação histórica.


O QUE É PREGAÇÃO? COMO SURGIU?

O dicionário Priberam online define a expressão como o “ato de pregar, uma admoestação, sermão, assunto de uma prédica”, e trazendo para o universo da fé, podemos resumir como sendo um discurso religioso (não apenas se manifesta nas religiões, mas pode-se estendê-lo ao âmbito político, ideológico, etc). Esta é uma definição genérica, que traz algum sentido, ainda que seja um sentido óbvio, e que, portanto, não define as características que distinguem a pregação bíblica de qualquer outro discurso religioso. 

No mundo antigo, por exemplo, a civilização greco-romana, havia a figura do filósofo-pregador, aquele que se utilizando das ferramentas da retórica (arte ou ciência de falar bem em público, também conhecida como oratória), ia para as praças e outros lugares públicos expor suas ideais, conceitos e cosmovisões, incluindo-se fé e religiosidade. 

Como veremos a seguir, fora do Cristianismo, a pregação não tem o mesmo significado e importância que em outras religiões e culturas, nem mesmo a judaica. 

No A.T. a palavra mais comumente utilizada para identificar uma pregação é bãsár (ocorre 30 vezes): tornar público, dar (boas) notícias, pregar. Há também a palavra Nãtap (ocorre 18 vezes), significando gotejar, destilar, profetizar e pregar, entre outros. 

Neste sentido, ou seja, no sentido bíblico, a pregação é, via de regra, uma proclamação publica. A palavra mais utilizada no N. T., para definir pregação é “kerusso” (de onde deriva a palavra Kerygma = proclamação, mensagem), que significa “proclamar como um arauto”, aquele que proclama. O arauto era o servo ou funcionário encarregado de levar à população os éditos, ordens, decretos e leis reais. Ele era mensageiro do rei, transmitindo a própria voz do rei aos seus súditos. Assim, o pregador cristão nada mais é do que um arauto ou mensageiro de Deus, quem levará aos súditos a sua palavra, vontade e ordem. 

O N.T. trata a pregação como “a mensagem de boas-novas ou evangelho”. Então, quando as boas-novas de Cristo são proclamadas, estamos a pregar, no sentido mais estrito que ele representa para a fé cristã. 

Algo que me fez pensar muito sobre o assunto, foi quando me deparei, em minha pesquisa, com a afirmação de vários autores de que a a pregação era uma atividade neotestamentária, surgindo a partir do ministério do Senhor Jesus. Esta afirmação levou-me a questionar o seguinte: Antes de Cristo, Deus abandonou o seu povo sem lhes destinar pregadores e pregações?

Ainda que diferente do sentido utilizado no decorrer da igreja, a pregação não é algo exclusiva dela, mas surgiu ainda no tempo dos profetas, que eram “oráculos” de Deus, de Abraão (ao anunciar a aliança de Deus com ele e sua descendência) até Malaquias, sem nos esquecer de que houve antes homens que foram também porta-vozes divinos, como Noé, que anunciou aos homens, por 120 anos, o juízo e a destruição do mundo, através do Dilúvio. 

Os profetas foram os primeiros pregadores, aqueles que comunicavam, levavam até o povo a mensagem divina, que lhes era transmitida diretamente pelo Espírito Santo, por meio de sonhos e visões. Hoje o termo profecia tem o cunho quase exclusivo de “revelações”, sendo algo particular e de pouca valia para o crescimento e aperfeiçoamento da igreja. Normalmente, as revelações atuais se referem a mostrar ou prever algo na vida de uma pessoa, e que interessa exclusivamente a ela, na maioria das vezes, exposta de forma genérica e pouco explícita. Dentro do sentido bíblico, esse tipo de dom não tem nada de divino, nem cumpre os requisitos de edificação da igreja e de glorificação a Deus, pelo contrário, tenta tornar os “profetas” modernos em semideuses, em heróis de uma causa perdida. 

Voltando aos profetas do A.T., eles recebiam a mensagem divina relativa à relação Deus-homem-povo, anunciando a sua vontade, e os juízos advindos do seu não cumprimento. Deus levantou vários profetas em Israel, e através deles manifestou a sua vontade revelando-se a ele. É comum nos depararmos com a inscrição: “Veio a palavra de Deus a mim...”, como em 1Sm 15.10, Jn 1.1 e Ageu 1.1, entre outros tantos textos. 

Em Deuteronômio 18.9, em diante, o Senhor adverte que Israel não será como as demais nações pagãs, que se entregavam a adivinhadores e prognosticadores, normalmente homens que eram bruxos, feiticeiros e envolvidos com magia negra e forças ocultas, guiados por espíritos demoníacos. Vejamos o texto completo: 

“Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações.
Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro;
Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;
Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.
Perfeito serás, como o Senhor teu Deus.
Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa.
O Senhor teu Deus te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis;
Conforme a tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe, no dia da assembléia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor teu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra.
Então o Senhor me disse: Falaram bem naquilo que disseram.
Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele.
Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá.
E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou?
Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele. (Deuteronômio 18:9-22)


Esta é uma profecia messiânica, a apontar para o Cristo, que foi descrito como “um profeta semelhante a Moisés” Dt 18.15 cf. Atos 3.22, 7.37), mas o trecho inicial refere-se diretamente a Moisés, a quem Deus falava face a face, e não pelo método ordinário: sonhos e visões. O relacionamento entre Deus e Moisés era tal que o Senhor agradava apresentar-se sem rodeios, de forma indireta como fazia com outros profetas (não na mensagem, mas na transmissão da mensagem), falando diretamente. 

Em Êxodo 7.1-2, lemos: 

“Então disse o SENHOR a Moisés: Eis que te tenho posto por deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será o teu profeta.
Tu falarás tudo o que eu te mandar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó, que deixe ir os filhos de Israel da sua terra.(Êxodo 7:1,2)


Este trecho nos permite fazer uma analogia quanto ao ministério profético, em que Moisés é apontado pelo próprio Deus como o “deus” de Faraó, enquanto Arão seria o profeta de Moisés, o deus. Moisés ouvia a palavra diretamente do Senhor, e a transmitia a Arão que se encarregava de anunciá-la ao povo. Assim eram as “pregações” anteriores ao período do Novo Testamento. 

Alguém pode alegar o equívoco em se colocar as profecias no mesmo lugar, ou ao lado, das pregações, pois o caráter delas era evidentemente díspare, cumprindo funções e objetivos diferentes. Como conhecemos o ministério da pregação atualmente, as profecias distinguem-se nos detalhes e aplicações; não em relação ao conteúdo ou mensagens, mas quanto à forma. Em essência, têm o mesmo significado, levar a revelação divina aos homens, seja para salvar, seja para condenar, seja para instruir e aperfeiçoar. Mais à frente, falaremos sobre o culto judaico nos períodos testamentários. 

Voltando ao texto de Deuteronômio 18, analisaremos alguns pontos que destaquei: 

Primeiro, Deus escolheu Israel dentre todas as nações para cumprir o privilégio especial de ser o seu povo. Diferentemente das outras nações que se entregavam ao conselho e orientação dos falsos profetas, homens que falavam em nome de outros deuses, inspirados pelas forças diabólicas (em toda a história da humanidade sempre houve os farsantes, aqueles que se diziam inspirados pelo seu deus, mas, na verdade falavam por si mesmos, a fim de obterem lucro e benefícios pessoais, ainda que cumprissem essa missão em caráter temporário. Não são menos inimigos da verdade do que os falsos profetas guiados pela aparição ou mensagem do diabo e seu anjos, os quais podem se transfigurar em anjos de luz). 

Segundo, Deus levantaria um profeta, do meio de Israel, e lhe poria as palavras em suas bocas, e ele ficaria responsável (no sentido de cumprir a determinação e vontade divina), encarregado de transmiti-la ao povo. 

Terceiro, fica evidente que os profetas tinham autoridade, e deveriam ser ouvidos e obedecidos. Portanto, as profecias não eram apenas sobre coisas futuras, o porvir, mas também sobre ações práticas a serem realizadas e cuidadas naquele tempo, como as advertências à santidade e ao cumprimento da Lei, por exemplo. 

Quarto, o profeta, recebida a palavra de Deus, por sonho ou visão, estava obrigado imperiosamente a revela-la ao povo, o que acontecia infalivelmente. 

Quinto, aquele que não quisesse ouvir a palavra proclamada, Deus requereria a sua vida, ou seja, o profeta não era responsável por ela, estando isento de responsabilidade em relação àquela alma. 

Sexto, contudo, se o profeta, após receber a palavra não a entregasse ao povo, a alma que perecesse pelo alerta não dado, ficaria sob a responsabilidade do profeta, que negligente, responderia pela ruína da alma desavisada. 

Existem vários textos correlatos a este, nas Escrituras, afirmando o mesmo. Um deles está em Ezequiel 33.1-9

“E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Filho do homem, fala aos filhos do teu povo, e dize-lhes: Quando eu fizer vir a espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um homem dos seus termos, e o constituir por seu atalaia;
E, vendo ele que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo;
Se aquele que ouvir o som da trombeta, não se der por avisado, e vier a espada, e o alcançar, o seu sangue será sobre a sua cabeça.
Ele ouviu o som da trombeta, e não se deu por avisado, o seu sangue será sobre ele; mas o que se dá por avisado salvará a sua vida.
Mas, se quando o atalaia vir que vem a espada, e não tocar a trombeta, e não for avisado o povo, e a espada vier, e levar uma vida dentre eles, este tal foi levado na sua iniqüidade, porém o seu sangue requererei da mão do atalaia.
A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da minha boca, e lha anunciarás da minha parte.
Se eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para dissuadir ao ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, porém o seu sangue eu o requererei da tua mão.
Mas, se advertires o ímpio do seu caminho, para que dele se converta, e ele não se converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade; mas tu livraste a tua alma.” (Ezequiel 33:1-9)


Sétimo, como o povo saberia se determinada pessoa era ou não um profeta de Deus? Quando a palavra não se cumprisse, o profeta falou por si mesmo, pelo seu orgulho e soberba. E a sentença era clara: ele morreria! 

Portanto, podemos entender que Deus falou ao seu povo, através da pregação, em diversos momentos na história, muito antes do advento da igreja, pela voz dos profetas, homens encarregados de levar ao povo as boas-novas; desde os patriarcas até Malaquias. 


A PREGAÇÃO NA SINAGOGA

Como a palavra de Deus era proclamada no Templo e nas sinagogas? Você saberia dizer? Como imagina que era um culto judaico?

É impossível cogitar que, depois de proclamada a palavra pelo profeta, as pessoas simplesmente não buscassem o seu significado ou explicação quanto ao seu sentido. Nem sempre as profecias eram facilmente compreendidas; haviam pontos obscuros, imperceptíveis, muitas vezes, até mesmo pelos profetas. Então, era necessário que houvesse uma explicação, um estudo e um ensino para a grande maioria do povo. Tal qual hoje, ainda existem pontos de difícil compreensão, como o próprio apóstolo Pedro falou em relação aos escritos do apóstolo Paulo. Se para ele haviam coisas incompreensíveis, imagine para nós. 

Fato é que, mesmo no deserto, no Tabernáculo, ou nas sinagogas e no Templo, havia o estudo e o ensino da palavra de Deus. Por falar nisso, o culto cristão não era muito diferente do culto judaico: 

a) Recitava-se o credo judaico, o Shema (Dt 6.4-5); 

b) Seguia-se uma oração ritual, e um tempo para a oração individual;

c) Entoavam-se salmos;

d) Leia-se uma porção ou mais da “Bíblia Judaíca”: o pentateuco, livros históricos, poéticos e proféticos. As vezes, e em muitas comunidades, se liam porções específicas para datas especificas, de maneira a se ler todo o conteúdo bíblico em um ou mais anos. 

e) Após a leitura, seguia-se o sermão explicativo, provavelmente exposto pelo chefe da sinagoga (Jairo, em Mc 5.22, era um deles), concluindo-se os trabalhos com a bênção sacerdotal. 

Ou seja, parece-se muito com o nosso culto, ao menos quanto ao seu desenvolvimento formal. 

Outra prova do ensino, e eventuais interpretações da Escritura, notadamente é identificável nas facções dentro do próprio judaísmo, com a disputa entre fariseus, saduceus e rabínicos, grupos que se arvoravam aos verdadeiros interpretes das Escrituras Sagradas, cada um a seu modo. 

A sinagoga era o local mais importante nas cidades em Israel, e mesmo em outras terras, para aonde foram após as várias diásporas. Um judeu, normalmente, procurava primeiro a sinagoga para se apresentar e receber auxílio e ajuda de outros judeus. Havia também uma escola, e o local onde ficavam guardadas as cópias dos manuscritos, seja da Lei ou demais escritos tradicionais, uma biblioteca. Era ali, também, que se formava o tribunal para a solução de disputas, e julgamentos dos infratores e criminosos. 

Com as constantes invasões e dominações sobre Israel, por outros povos, os tribunais criminais e legais eram transferidos para os edifícios públicos controlados pelos conquistadores. Mas o povo ainda preferia solucionar suas querelas nas sinagogas. 

Então, é perceptível a importância das sinagogas na vida judaica, e de que, ainda que não seja ipsis literis uma cópia perfeita do modelo cristão de culto, os judeus o tinham muito semelhante ao nosso; na verdade, muito do que firmou e difundiu-se na liturgia da igreja foi herdado do judaísmo, como já disse, ao menos na questão formal. 


JESUS, SEU MINISTÉRO E O TEMPLO

A relação de Jesus com o Templo e as sinagogas era íntimo e frequente. Ele estava sempre por lá, participando dos trabalhos, ensinando, pregando, passeando, exercendo o seu ministério terreno. 

Vejamos uma lista de passagens bíblicas que revelam o seu constante envolvimento nesses lugares: 

a) Jesus foi circuncidado e apresentado no Templo – Lc 2.27;

b) Jesus foi ao Templo, ainda criança, aprender e ensinar – Lc 2.46;

c) Jesus defendeu o Templo como a casa de Deus – MC 11.15; Jo 2.13-17;

d) Jesus estava constantemente no Templo: Mc 14.49;

e) Jesus ensinava e pregava nas sinagogas: Mt 12.9; 1354; Mc 1.21; 3.1; Lc 4.16,33; 6.6; Jo 6.59;

f) Jesus passeava no Templo: Jo 10.23;

g) Enfim, Jesus gastou boa parte do seu ministério de ensino e pregação, curas e milagres, realizando-os no Templo: Jo 18.20.

Qualquer insinuação de que Cristo desprezava, odiava ou não queria que os seus discípulos se reunissem em comunidade, e juntos realizassem a obra de Deus, seja no Templo, sinagoga ou mais tarde nas igrejas, é falácia e embuste. 


A IGREJA PRIMITIVA E O INÍCIO DA PREGAÇÃO

Assim como o Senhor Jesus usava o Templo e as sinagogas para pregar as “Boas-Novas”, a igreja primitiva seguiu-o neste princípio, o de conservar as reuniões formais no judaísmo. Somente após a perseguição empreendida tenazmente por judeus e romanos, quando a igreja foi acossada por todos os meios e formas com o fim de ser extinta, é que as reuniões tornaram-se clandestinas, às escondidas, organizadas em casas, sepulcros, cavernas, ou áreas mais remotas e longe das autoridades e dos delatores. 

Sem entrar muito na questão, mas não me escusando de tocá-la, todo esse processo de tentativa de deter a expansão do Evangelho não aconteceu fortuitamente à revelia de Deus, mas foi decretada por ele, como meio de aperfeiçoamento dos santos, do crescimento ainda maior da fé cristã, a iluminação do mundo, a separação entre trevas e luz, e, sobretudo, para a sua própria glória, levando-a à cabo não somente com a pregação da verdade, mas no sacrifício e martírio pela verdade, a fim de que ficasse a pessoa gloriosa de Cristo. 

Para exemplificar, relacionarei algumas passagens onde encontramos os apóstolos e discípulos do Senhor reunidos no Templo: 

· Lc 24.53; At 2.46; 3.1; 5.21, 25, 42 ver também At 21.26-28. 

E nas sinagogas: 

· At 13.14, 14.1, 17.1-2, 10, 17; 18.4, 19; 19.8; Tg 2.2.

Como já foi dito, somente por causa da repressão à igreja, ela procurou se reunir em outros locais onde pudesse cultuar, aprender, ensinar e proclamar o Evangelho. Algumas passagens deixam clara essa prática: At 2.1, 12.12, 16.40; Rm 16.5; 1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2.

Quando Jerusalém foi sitiada, invadida e destruída por Tito, no ano 70 D.C., é que aconteceu a Segunda Diáspora (a primeira Diáspora ocorreu, provavelmente, em torno do ano 580 A.C., quando da deportação de milhares de judeus para a Babilônia), ou seja, os judeus, fugindo do terror romano, espalharam-se pelo mundo de então, e, com eles também, muitos cristãos seguiram o mesmo caminho, levando o Evangelho a outros rincões. 

Desta forma, a pregação das “Boas-Novas”, antes circunscritas às terras de Israel, espalhou-se por todo o mundo conhecido da época, alcançando lugares remotos como o norte da Europa, Ásia, o norte da África, a Bretanha, e ainda outros. 

Cumpria-se, portanto, a “Grande Comissão” ordenada pelo Senhor em Mateus 28.18-20. 


TIPOS DE PREGAÇÃO

Para finalizar este estudo introdutório, descreveremos as três formas de sermões, do ponto de vista estrutural: 

1) Sermão tópico ou temático:

O sermão parte de um tema, não do texto bíblico. As divisões do sermão não estão no texto, mas podem ser elaboradas através de outros textos bíblicos ou mesmo do desejo do pregador. Por exemplo, o tema casamento cristão, o desafio do jovem ou vida eterna. A escolha recai primeiro no tema, para depois se buscar na Bíblia um texto central, cujo desenvolvimento, ou as etapas do sermão, podem ser ordenadas por outros textos bíblicos. 

2) Textual: 

Parte de um ou, no máximo, três a quatro versículos, para se fazer o sermão (não há um consenso sobre o número exato de versos, alguns estudiosos indicando um e dois, enquanto outros podem chegar a três ou quatro). O tema e as divisões do sermão estão no texto bíblico. Normalmente o texto utilizado é pequeno, e as divisões são extraídas do próprio texto. 

3) Expositivo: 

O tema, e as divisões, é feito a partir do texto bíblico, como no sermão textual, porém, parte-se de um trecho maior, com mais de três ou quatro versos. Basicamente o que distingue um sermão textual de um sermão expositivo é o número de versículos que serão utilizados como base para a pregação. Alguns estudiosos chegam a apontar outras diferenças que distinguem o sermão textual do expositivo, mas em suma, a maioria concorda que a diferença básica e nítida está reservada ao número de versículos utilizados. 


CONCLUSÃO

Pode parecer um exagero o estudo, ainda que introdutório e mínimo, sobre pregação em uma EBD. Alguns podem realmente considera-lo desnecessário, mas penso que a igreja deve, sobretudo, estar a par das coisas relevantes em seu meio, e tendo-se em vista que a pregação do Evangelho é sumamente importante, de tal maneira que aprouve a Deus utilizá-la como forma de revelar aos homens sua natureza, propósito e vontade, conforme Paulo esclarece-nos em Romanos, capítulo 10, nada que se refira ao assunto deve ser negligenciado. 

É fato que o objetivo não é um estudo minucioso, detalhado, mas um apanhado geral do que venha a ser, a fim de nortear quando aos próximos passos do estudo, e que a meta inicial: O que está acontecendo com a pregação hoje? Por isso, considerei necessária esta introdução, que espero, tenha esclarecido pontos elementares da história e execução do plano divino no decorrer das eras. 

Não sei se publicarei a sequência dos estudos por aqui, visto me preocupar a questão dos direitos autorais do livreto de Albert N. Martin. Talvez o faça sem citar o texto, o que me parece conter uma certa dificuldade. É um caso a pensar. De qualquer forma, espero que, ao menos incialmente, este estudo tenha sido útil como introdução ao assunto. 


Notas: 1-Abaixo, os dois áudios das aulas referentes a este estudo, na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico.

2-Este material pode ser utilizado em grupos de estudos ou reproduzidos sem restrições, apenas gostaria que a fonte fosse citada: autoria e blog.

3-Abaixo, os áudios das duas aulas.