21 abril 2016

Docta Ignorantia



Jorge Fernandes Isah

A ideia de Deus é gigantesca; mas a inexistência dele é um abismo sem fim, sinistro, devastador; uma vida sem esperança... O vislumbrar no escuro.

18 março 2016

O lugar que imagina seu, mas está desocupado!




Por Jorge Fernandes Isah


Muitas pessoas querem ir ao céu, não pelo que ele verdadeiramente significa (a graça, amor e bondade divinas), mas como uma recompensa, um prêmio, pelo que cada um é. Ora, você é um pecador, miserável, e cego, e nu, inimigo de Deus, portanto, merece exclusivamente a condenação e a ira divina sobre a sua vida. 

Porém, se entender que o céu é uma extensão da terra, não pelo que você é, mas por aquilo que Cristo fez por você, e ansiar andar com ele, buscá-lo, honrá-lo e servi-lo, mesmo não merecendo, o céu será o fim da jornada iniciada aqui, neste mundo. Por que, mesmo estando morto para Deus, ele lhe dá vida, pelo Senhor e Salvador da sua alma, seu Filho Amado. 

Este é o seu lugar, aqui ou lá, mas sempre com Cristo; pois é ele quem o coloca assentado onde, pelos seus "méritos", você não estaria. Isso é graça, bondade e amor, não uma retribuição à justiça "trapos de imundicia" que, porventura, você considere merecedor.

29 fevereiro 2016

O homem e a autoprisão



Jorge Fernandes Isah


A relação do homem com Deus e sua Criação é permeada pela rebelião; e esse estado somente é desfeito quando ele se submete a Cristo, em obediência e humildade (quero dizer, humilhando-se e reconhecendo-o como Senhor). Pois assim ele falou: 

"Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me.  Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Ou que diria o homem em troca da sua vida?" (Mc 8:34-37)

De outra forma, qualquer tentativa, por mais dedicada, caridosa ou enlevada, por mais que agrade aos nossos olhos e coração, significará o recrudescimento da insubordinação (a teimosia levada às últimas consequências; ao limite da rebeldia, pois está a tentar mascarar algo evidente, do qual não há reconhecimento, nem entendimento, mas obstinação), onde o autonomismo e o ego são os seus principais fomentadores.

É o homem preso em si mesmo; em uma espécie de autoprisão, da qual é incapaz de sair sem a graça e misericórdia divinas.

12 fevereiro 2016

Cristo: Verdade e Vida!





Por Jorge Fernandes Isah

 
Em meio à crise moral, institucional e econômica (nessa ordem e não o contrário) há pessoas insistindo em dizer que está tudo bem, que não há convulsão. 

Ora, não sou empirista, mas a realidade fala por si mesma. Basta ter amigos, vizinhos e parentes; passear pelas cidades; visitar as lojas; comprar e vender; ou seja, viver e observar ao derredor, para constar o fato de que estamos no "olho do furação", em um estado agudo de degradação e inversão da ordem cultural, social, política e econômica. 

Porém, como exigir delas a constatação do que acontece ao seu redor se, por um passe de mágica ideológico, são transportadas para um mundo utópico, inconsciente e simulado? Beirando o irracional? Acho que é pedir muito... 

Como confirmação, sobra histrionismo e "baianas rodadas" nas terras tupiniquins... E a atitude do avestruz, de enfiar a cabeça no buraco, tem se tornado em ofício e regra.

Mas Cristo nos redime também da tristeza e da angústia deste mundo... "Regozijai-vos sempre nos Senhor!", afirma o apóstolo. E este é o nosso desafio; deixar Cristo operar em nós, dando-nos a sua beleza, suavidade e paz. Penso que a paz é isso! E não o digo como se fosse uma novidade para você, mas para os não acostumados com esta verdade, que porventura estejam lendo. 

Cristo o fortaleça, animando-o cada vez mais a perseverar em um mundo disposto a tudo para que renunciemos à Verdade e Vida. 

 

02 fevereiro 2016

Silenciados

Por Jorge Fernandes Isah

Essa é a realidade do país (mais de 60.000 assassinatos por ano; maior do que todas as guerras civis em curso no mundo) que a esquerda não consegue ver sem arrumar uma justificativa estúpida, irracional e delirante para o monstro criado por eles mesmos, com o objetivo de reengenharia social, o desmantelamento da sociedade ocidental, cuja base é a tradição judaico-cristã substituindo-a por valor imorais, antiéticos e anticristãos. Para eles o que são milhares de mortes se a utopia ideológica, o delírio messiânico, de substituírem o Salvador pelo "Estado Destruidor", vai de vento em polpa?

A canalhice não tem limites, enquanto o povo, bovinamente, deixa-se usar, como experimento social, por uma horda de assassinos. Sobre eles, Paulo escreveu: 

"Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos" Rm 1:21,22. 

E, ainda, um pouco mais: 

"Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te... Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade" 2 Tm 3.5, 7. 

É claro que os reflexos da "Depravação Total do Homem" não são exclusividade dos marxistas, mas, em uma coisa eles se aperfeiçoaram (sic), em elevar a sordidez e a barbárie ao limite máximo da imoralidade e do irracionalismo; e, para piorar, alçaram-nas à condição de virtude intelectual. 


Como Dalrymple escreveu, não dá para saber se o porco existe por causa do chiqueiro ou se o chiqueiro existe por causa do porco (não literal, mas de memória, do livro "Vida na Sarjeta"). 

E o mundo tem se tornado em uma grande pocilga.


Assista ao trailer do filme, abaixo. 


28 janeiro 2016

Comunhão com o Deus Triuno



Por Jorge Fernandes Isah



A comunhão com Deus não pode ter hora e data marcadas (de maneira geral e individual; não falo dos momentos comuns em que nos ajuntamos com outros irmãos para louvar e realizar a obra do Senhor), mas deve ser constante, a cada minuto. 

Nossa mente deve estar sempre voltada para ele. 

Nosso pensamento em contato ininterrupto com ele e, aí, já estaremos em um estado de permanente oração e adoração.

É colocá-lo em nossa vida inteira e por completo.

Assim como estamos em nós (e não há como não estarmos), que ele esteja também; tão indistintamente ligado a nossa alma que não notamos se somos nós ou ele, pois já temos a mente de Cristo.

23 janeiro 2016

Um povo (quase) anticristão!



Por Jorge Fernandes Isah


Graças a Deus, não tenho filhos em idade escolar, mas há filhos de parentes, amigos e conhecidos no ensino fundamental, e, simplesmente, estarrece-me (e temo) o estado de degradação moral e intelectual ao qual as nossas crianças estão expostas, diariamente, pelos órgãos e entidades responsáveis pela educação no Brasil. É um acinte, uma vergonha, uma aberração, todo esse projeto de reengenharia social visando transformá-las em protótipos de "classe" (ou sem), experimentos artificiais com o fim de destruir a alma dos pequeninos, tornando-os em bestas, estereótipos da impessoalidade, da deformação, da antinaturalidade.

Dizem amar o pobre, o povo, mas expõe-no ao ódio mais profundo da alma tresloucada dos gestores e administradores públicos.

Boa parte da culpa, por essa cultura de morte e degradação, se deve à omissão e contemporização da igreja com os ideais esquerdistas, os promotores, não de hoje, de todo o tipo de tática rasteira e desprezível com o fim de destruir o homem e em seu lugar colocar a sua criação: o anti-homem ou desumano.
Ela tem falhado também, e principalmente, em promover os valores cristãos na sociedade, sendo, muitas vezes, nós próprios, os primeiros a dar mostras de imoralidade, de associação com o mal, desprezando o Santo. É necessário acordar do sono profundo, antes que seja tarde, não apenas para dar um lugar decente, produtivo, criativo e saudável aos filhos e netos, mas, sobretudo, para realizar a obra que nos foi destinada pelo Pai , sob o poder do Espírito: nos conformarmos a imagem do Filho, Cristo, espalhando as boas novas. Se este não for o nosso objetivo e meta, de nada adiantará os demais esforços neste mundo; seremos uma nulidade como cristãos e um estorvo para o evangelho e aqueles que o amam de verdade. 

No vídeo, o dep. Jair Bolsonaro, em pronunciamento na Câmara, revela a face canalha do executivo (em conluio com boa parte do judiciário e legislativo); em seguida, a reportagem da TV Alterosa, de BH, mostra a perversa e asquerosa atuação da secretaria de educação de Contagem, da pedagoga e suas justificativas ardilosas e desonestas. 

Que Deus tenha misericórdia e apiede-se do Brasil; desperte o seu povo para a defesa da verdade, o evangelho de Cristo; e nos capacite a ser suas fieis testemunhas, ao invés de meros espectadores inebriados com a própria falta de luz e em repousar na mais densa escuridão.

11 janeiro 2016

Orai sem cessar!




Pr. Jorge Fernandes Isah


 
"Orai sem cessar" (1Ts 5.17)

Você já orou, hoje? O que está esperando?

Mas o orar não é apenas um ato de se ajoelhar, fechar os olhos e abaixar a cabeça (como a foto, acima, parece indicar); muito mais do que isso, é estar em comunhão constante com Deus, de forma a todo o seu pensamento estar ligado e voltado para ele; enchendo-se do Espírito; e pronto a responder, com a mente de Cristo, em todas as situações nas quais se é colocado, neste mundo caído. 

São ações responsivas a culminar na gratidão, confiança e esperança de ser conduzido em meio as vicissitudes da vida, das tristezas e aflições, culminando no gozo e alegria expressados no verso seguinte: dar graças em tudo (1 TS 5.18). 

Se entendemos estes versos como são, imperativos, e não condicionai (a ordem divina a ser cumprida pelos seus filhos), por que, então, desobedecemos?

07 janeiro 2016

A Escada da Vida









Por Jorge Fernandes Isah

      A existência humana, como a conhecemos, é uma fração irrisória na história, e o homem um nada em relação à criação, quanto mais se compará-lo a Deus. Não é estranho, portanto, o anseio obsessivo de, sendo nada, fazer-se como ele e querer tudo?... Ah, maravilhas das maravilhas, enquanto o homem tenta subir as escadas para o trono divino, em uma nítida intenção de invadir e conquistar o Reino; Deus, em sua sabedoria, desceu aos porões da terra, fazendo-se um de nós, para, assim, salvar o seu povo, os seus eleitos. E, somente então, as portas do reino eterno foram-nos abertas, escancaradas, para encontrarmo-nos com o Criador, Senhor e Salvador, e dele, e por ele, e para ele, gozarmos por toda a eternidade. Não foi o homem quem subiu aos céus, mas Cristo se fez homem, servindo-nos de escada, como uma ponte a ligar o mundo perdido e baixo ao Reino venturoso e sublime, finalmente alcançado, onde nos realizamos, filhos amados do Pai, pelos méritos exclusivos do Filho.

Disse Jesus: “Em verdade, em verdade vos asseguro que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”. [Jo 1.51]

04 janeiro 2016

Mordomia

Por Jorge Fernandes Isah

Se entendermos, dentro da Doutrina da Providência, que somos mordomos de tudo o quanto Deus nos dá, assim como Jó, não blasfemaremos, murmuraremos ou pecaremos, quando ele nos tirar o que deu.

28 dezembro 2015

Graça!



Por Jorge Fernandes Isah



Cristo pode salvar o pior dos homens; mas o melhor dos homens não pode salvar a si mesmo.

17 outubro 2015

Um Deus preso no tempo




Por Jorge Fernandes Isah



  
É sempre complicado falar das coisas de Deus, mesmo guiados pelo Espírito Santo, a nossa visão é limitada pela infinitude, transcendência e perfeição divinas, então entender e compreender tudo é impossível, sendo seres limitados e imperfeitos, muitas coisas nos serão ininteligíveis e incompreensíveis, no sentido de sabermos em detalhes explica-las. Devemos, logo, ter a humildade de reconhecer os termos demarcados pelo Senhor a impedir-nos de esmiuçar e descrever toda a verdade. Ainda que nos seja revelado tudo nas Escrituras, tudo aquilo que ele quis manifestar, muitas delas serão aceitas pela fé, sabendo ser a Bíblia a palavra divina, ela é a verdade, e de que, se o Senhor escreveu, independente da capacidade de entender um ou outro enunciado, deve ser simplesmente aceita e jamais questionada, evitando-se a especulação, exatamente por sua complexidade. Enquanto Deus vê o todo, vemos, quando atentamos corretamente, fracionada e parcial. Deve bastar-nos, e ser suficiente para deleitarmo-nos, reconhecer a realidade da Escritura, posto Deus tê-la escrito e revelado, mesmo sem nos dar maiores explicações. Rejeitar algo maravilhoso, sublime, porque não as alcançamos, pela insignificância e limitação da mente e espírito, torna-nos em arrogantes, presunçosos, incapazes de admitir a própria realidade, auspiciando nas divagações e especulações uma vantagem suficiente para igualar-nos a Deus (ou até mesmo tornar-nos superiores), e assim encobrir a debilidade inerente e contemplada na natureza humana.

Eleição incondicional é, então, o ato divino de escolher pessoas entre a totalidade da humanidade caída, condenada, morta espiritualmente, e fazer delas o seu povo, regenerando-as e salvando-as da condenação advinda pelo pecado; sem que elas tivessem condição alguma a favorecê-las na escolha, pois a escolha é dele, feita exclusivamente por ele, pela liberdade e vontade soberanas que ele tem de escolher sem qualquer restrição, coação ou limitação exterior a ele. Deus é absoluto, supremo em suas decisões, implicando ser ele livre para escolher quem quer, da maneira que quer, sem ninguém poder questioná-lo, como Paulo, peremptoriamente, declara em Romanos:


“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? ” (Rm 9.20)

         Deus livremente escolhe, segundo a sua vontade, de entre os seus inimigos, pessoas as quais separou para serem o seu povo.

           Como Deus é eterno, e tudo relacionado com ele é eterno, a eleição também é eterna. Há várias passagens na Escritura afirmando a nossa eleição antes da fundação do mundo. Esta expressão não está limitada a um momento histórico, a um evento temporal, mas significa que, desde sempre, desde quando o Senhor existe, ela foi planejada, estando sempre em sua mente, assim como a sua causa também é eterna. Pense um pouco, e tente responder: Você pode dizer o motivo pelo qual, não havendo nada em nós a agradá-lo, Deus elege?

 Seria por ele ter antevisto, no tempo, que responderíamos prontamente ao chamado santo do Senhor? De ter ele previsto que alguns creriam e, por isso, predestinou-os à salvação? Esta é, certamente, a resposta mais óbvia, uma solução humana que não contempla a realidade divina, porém tem uma aceitação quase unânime, em nossos dias. Também chamado de presciência, advoga o conhecimento prévio de Deus de todas as coisas como o motivo para a eleição. Acontece haver duas definições de presciência, uma antibiblica e a outra bíblica. A primeira, definida como Deus não estando no tempo, mas este sendo parte da criação, vê tudo e todos num mesmo instante. A dificuldade em se dar um sentido exato à sentença é facilmente verificada em como dispomos de uma linguagem restrita para um conhecimento também restrito. Um instante é uma fração de tempo, contido no tempo, mas não há como abandoná-lo na tentativa de trazer significado ao termo “presciência”, pois, de outra maneira, tornar-se-ia, por completo, incompreensível. Ao dizer que Deus vê tudo num instante, mesmo esse “instante” sendo infinito e eterno, é prova da delimitação reservada ao homem de não alcançar a amplitude indeterminada, a perfeição intangível, a santidade ilimitada, da mente divina. É preciso, muitas vezes, para a nossa compreensão, rebaixarmos a magnitude de Deus ao nível da insignificância humana.
 
Prosseguindo, a ideia de presciência, definida segundo uma ótica não bíblica, tem a conotação de Deus prever, antever, conhecer de antemão, todos os atos e eventos históricos, antes deles se realizarem. Assim, Deus, conhecendo que fulano responderia positivamente ao chamado ou “esforço” do Espírito, através da fé, crendo para a sua salvação, tornou-se um eleito, em definição corrente e usual entre os cristãos. Ao ver os eventos descortinados diante dos olhos, e a resposta positiva do homem, Deus o predestinou, elegendo-o. Encontramos um sério problema nesta definição, posto Deus escolher quem o escolheu, mesmo o fazendo antes dos eventos, mas apenas um momento após vislumbrá-los, antevê-los, significando, de qualquer maneira, que a escolha divina se deu após a decisão, a escolha humana estabelecendo-se efetivamente. Ou seja, do ponto de vista lógico, Deus escolheu depois da escolha do homem, logo, não é, na verdade, a escolha divina, mas a ratificação divina à escolha humana. Somente depois de confirmado pelo antever, Deus tornou-a firme, validando a eleição, cuja causa e origem está no homem, cuja atitude de responder positivamente ao chamado divino é a razão, o agente eficaz que justifica a existência do não existente, sendo a origem da eleição, o ato motivador e o princípio gerador. Deus nada pode fazer, como um agente passivo, se tornando prisioneiro da vontade humana. Mas há algo ainda pior: este esquema faz de Deus prisioneiro do tempo, ou seja, prisioneiro da sua própria criação.

Se a presciência é a antevisão de Deus dos fatos futuros, e ele elege o homem a partir dessa visão, mesmo Deus não estando no tempo, ele estaria “refém” do tempo, posto somente "validar" a eleição após certificar-se da resposta positiva do homem. Ora, há uma visão do futuro, o próprio futuro é um fragmento temporal, e a resposta humana se dará nele, então a presciência, como um “decreto comprobatório” dessa visão, depende essencialmente da resposta transitória do homem, levando a uma decisão temporal, não eterna, tornando o próprio Deus em um ser limitado por sua própria criação. Neste sentido, Deus elegeria e predestinaria somente "após" observar a resposta positiva ou negativa do homem. Há, aqui, uma condição de subordinação de Deus, passível de afetar o atributo da soberania, na qual ele pode tudo, ontologicamente, mas está condicionado à iniciativa humana, no tempo, no sentido de o seu conhecimento, ainda que completo, amplo, o restringe e o faz dependente, podendo tornar-se imobilizado nos casos das respostas serem negativas. Sendo eterno, se sujeitaria a efemeridade, resignando-se a uma mera coadjuvância, não o causador e gerador do ato, mas uma testemunha ocular; onde a sua vontade não é imperiosa, determinante, mas sancionada por uma ação futura, temporal, a não apenas influenciar, mas ocasionar a eternidade. Ou seja, não é o eterno a fundar o tempo, mas uma fração ou frações dele a sedimentar o perene. E a própria ideia de Deus conforme revelado na Escritura tornar-se-ia impossível, ou, no mínimo, questionável. 


Uma analogia possível, guardadas as devidas proporções, seria um copo de suco de laranja ser a causa da existência da laranjeira e seus frutos; em outras palavras, o menor, o suco de laranja, fundacionaria o maior, a laranjeira, quando na verdade acontece o contrário. O temporal nunca poderá justificar e fundamentar o eterno, posto ser este a instituir aquele. E Deus estaria aprisionado em sua própria criação, não somente agora mas para sempre, dadas as consequências da eternidade firmarem-se nas ações transitórias, das quais ele não tem poder de decisão, nem são por ele controladas.

Podemos resumir este estado de coisas em duas frases:

“Deus escolhe, elege, o salvo”. Esta proposição não fere, enfraquece a soberania divina, ou transforma-o em um mero espectador, mas em um agente ativo na ação de escolher. É ele quem, por sua exclusiva vontade, decide, a partir de si mesmo, quem será eleito, sem atentar para nenhum fator externo a ele. 

“O homem, ao responder positivamente, pela fé, é escolhido por Deus”. Esta proposição faz de Deus um agente passivo, que decide a partir de uma ação exterior a si, como uma reação à resposta positiva ou negativa do homem; pois, antes, a sua motivação está associada, ou melhor, parte da resposta humana, da manifestação da sua vontade, sem a qual Deus está incapacitado de condenar ou não, posto o homem ser autônomo e detentor do livre-arbítrio. Em linhas gerais, Deus está em uma camisa de força, imóvel, podendo apenas assentir ao movimento humano, concordando ou discordando mentalmente, mas ratificando-o, independente da resolução tomada pelo homem, a qual, em última instância, põe termo à questão, dando-lhe o desfecho final. 

Isso faz de Deus, em algum aspecto, refém da autonomia humana, de tal maneira que ele estará condicionado a ela, submetendo-se (e a ideia de voluntariedade inexiste como explicação), numa posição subjacente, secundária, ao desígnio estabelecido pelo homem a partir da própria vontade; esta, sim, determinante da eleição, enquanto a divina é apenas confirmatória, e não causativa, ratificando o que Deus já havia vislumbrado, por verdadeiro, pela antevisão. 

Nesse aspecto, a soberania divina é frágil, enquanto a força encontra-se na vontade determinada do homem; e nem mesmo Deus pode demovê-lo para o bem, pois sua vontade permanece imperiosa; assim, se o homem desejar permanecer em sua rebeldia, Deus não poderá fazer nada. Como observador, resta-lhe a condição de testemunha, estando apto a confirmar e declarar o assistido, cumprindo o papel de passividade cabível. Ainda mais angustiante é saber que, segundo essa definição, o Senhor ama a todos os homens, indistintamente, e não pode exercer nenhuma ação visando preservar o objeto do seu amor, antes, porém, deve respeitar e salvaguardar as decisões tolas de suas criaturas, culminando em lança-las, os amados, no Inferno. Após a condenação, o amado tornar-se-á em odiado, e sobre ele a ira e justiça divinas recairá. Temos, via de regra, um deus esquizofrênico, o qual ama suas criaturas, derramando sobre elas a sua graça, morrendo por todas elas na cruz, pagando o sacrifício impossível de ser quitado, mas, na hora “h”, nada disso se torna relevante, pois se o homem não quiser receber todas essas dádivas, pode recusá-las, anulando os seus eventuais efeitos, tornando-os inócuos como uma rosca espanada. 

Outra analogia seria a de um garoto, de dez anos, subir no alto de um prédio de cinco andares, vestido de Super-Homem, e ameaçar atirar-se do telhado. Ele acredita possível voar, e espera alcançar a mesma velocidade do Homem-de-aço, vista no último filme. Ainda que tenha machucado algumas vezes, e tirado sangue de joelhos e cotovelos, sempre reputou ser aquilo fruto de uma kriptonita invisível, enfraquecendo-o. Porém, agora, ele está certo de não haver nenhuma ameaça, nem mesmo tênue. Sente-se corajoso como nunca para realizar o mesmo feito do seu ídolo. Seu avô chega a tempo de impedi-lo, e tenta demovê-lo dessa ideia, dizendo que, se pular, ele morrerá, não verá mais seus pais, seus irmãos, os colegas de escola, não tomará mais sorvete, nem jogará futebol, o seu PlayStation será dado ao irmão caçula, que herdará também o quarto e todos os demais brinquedos... Além do mais, diz, você não é o Super-Homem, o Super-Homem não existe, é uma história, e homem nenhum jamais voou por si mesmo. Então, durante a conversa, ele se aproxima o suficiente para agarrar a criança, salvando-a de precipitar-se no vazio, mas insiste em convencê-la, argumentando, crendo que ela acreditará na própria insensatez e gravidade do seu ato, e pelo seu livre-arbítrio¹ decidirá com correção. Mas o garoto está cheio da conversa do avô e, mentalmente, quer provar que está certo; o Super-Homem não é uma mentira, ele viu, estava lá, voando, atravessando paredes, segurando aviões em pleno voo, mostrando o quanto era hábil no que fazia. Num átimo, lança-se do topo do edifício, estatelando-se no chão. O avô, no momento em que podia segurá-lo, recua a mão, lembrando-se de que a decisão é do netinho, e ele não pode interferir em suas escolhas, mesmo danosas e mortais. Quase teve remorsos, mas entendeu ser impossível ir contra a decisão da criança. Mesmo sabendo que o conhecimento dela da realidade era insuficiente para tomar uma decisão acertada, mesmo sabendo que esteve, até aquele tempo, enganada com a ilusão hollywoodiana de um super-herói voador, que sua mente estava mais afeita à fantasia do que à verdade, mesmo assim, não poderia intervir. Considerou-se impotente, entristecido, mas convicto de haver preservado a vontade da criança, a qual, em última instância, não a teve cumprida, posto não ter voado, nem permanecido vivo, como supunha, chegando a um final impensado e não desejado. 

Se porventura, todos os homens negassem a graça, a expiação e a justificação de Cristo (hipoteticamente, claro, a despeito de muitos já o fazerem efetivos), as quais não saíram da categoria de possibilidades, jamais, e em tempo algum, alcançaram o estado de certezas, elas não teriam qualquer sentido, e seriam um retumbante fracasso. Deus teria malogrado em seu propósito, o de salvar alguns, e ainda hoje, segundo essa visão, ele fracassou, pois, se Cristo morreu por todos e sua graça é resistível, não há eficiência na expiação e justificação, em salvar todos, mas apenas a contingência de, eventualmente, um e outro decidir abandonar o pecado e aceitar a salvação (mais por um mérito pessoal que pelo convencimento sobrenatural); além do quê, Deus passaria o atestado de incompetência.

Diante desta descrição, como não julgar esse "Deus" um miserável, e cego, e nu, submetendo a sua sabedoria, perfeição, santidade e poder, às vontades de suas criaturas imperfeitas, tolas, pecadoras e frágeis? 

Pois bem, a maior parte desse esquema não provém da Bíblia, nem da revelação divina, mas de distorções interpretativas do texto sagrado (ainda que exista uma lógica interna culminando nessa conclusão, contudo, o pressuposto do livre-arbítrio e do tempo, onde a vontade está atrelada, e sob os efeitos da transitoriedade, não se harmoniza com a realidade bíblica, sendo um equívoco) aliadas à especulações filosóficas e a necessidade de justifica-las, tendo como ponto comum a rebeldia e intransigente autoglorificação humana, em que o seu destino depende exclusivamente de si mesmo. Mas, se nos aspectos mais comuns e insignificantes da vida, nem assim o homem tem o poder de estabelece-los, muitas vezes, por que haveria de deter praticamente a totalidade das virtudes necessárias à salvação da alma, garantindo um lugar ao lado de Deus, na eternidade (algo que demandaria uma sabedoria próxima da perfeição)? Se está à mercê de forças externas a si, capazes de determinarem parte do curso existencial terreno, em um aspecto temporal, o que dizer de algo grandioso e dependente de um grau superlativo de virtudes? Ao ponto de ser necessário um estado de harmonia absoluta entre o espírito do homem e o Espírito de Deus? De onde tiraria essa superioridade espiritual sendo detentor de uma alma caída, pecadora e corrupta? Qual transformação seria indispensável à essa conversão? Uma vontade dominada pelo pecado? Controlada pela carne? Em oposição a Deus? 

Alguém dirá: Mas o Senhor derrama a sua graça sobre aquele homem, e ele pode então ver...

Ao que digo: será? Se ele é capaz de vislumbrar as benevolências, o amor, o sacrifício, a misericórdia e a graça divinas, e permanece resoluto em manter o seu estilo de vida, depravado, corrupto, e maldito, terá entendido de verdade quem é Deus? Quem ele é? E, caso não tenha entendido, de que adiantará a graça se não pode, ao menos, movê-lo ao conhecimento divino? Será uma graça inútil, anulada por sua estupidez.
 

Nota: 1- A própria noção de "livre-arbítrio" está equivocada, posto a criança estar "presa", de alguma maneira, a uma coação exterior a si mesmo, ou seja, o personagem "Super-homem", o último filme, a sua fantasia de homem-de-aço, tudo isso cooperando para mover a sua vontade a fim de realizar o ato desejado. O livre-arbítrio não é sinônimo de vontade, pois esta é controlada pelo Espírito Santo ou pelo pecado. Não há meio termo; enquanto o livre-arbítrio pressupõe neutralidade, uma neutralidade livre de qualquer influência ou coação externa e interna (somos, desde cedo, expostos à moral, à ética, a valores sociais, leis, etc, capazes de formar o nosso caráter, e, ao se ter um caráter, levando-nos para um lado ou outro, em nossas decisões, já não somos "neutros", significando na impossibilidade da neutralidade, logo, do livre-arbítrio)
2- Advogo que nem mesmo Deus detém o livre-arbítrio, pois ele não pode fazer, nem como hipótese, algo que contradiga o seu Ser, de maneira que ele somente fará e decidirá por atitudes segundo a sua natureza, e jamais contra ela.
3- Fragmento de um esboço, a tornar-se apostila ou livro, sobre a Eleição Incondicional , portanto, são ideias e exposição preliminares, podendo sofrerem alterações, no futuro.  

 

29 julho 2015

"What Happened, Miss Simone?"








 Por Jorge F. Isah

   
           Ontem, assisti a um documentário da Nina Simone​, no Netflix.

      Primeiro, quero salientar, sou fã da cantora. A sua voz potente, crua e profunda, sempre me emocionou, ao mesmo tempo causando um espanto, surpresa, com as suas variações tonais e uma melodiosa tristeza com rompantes de alegria comedida. Seria, guardadas as devidas proporções, como ouvir um mudo produzir, de uma hora para outra, uma frase operística. Talvez, não esteja expressando-me adequadamente em relação ao seu talento, mas foi o que me veio à mente a primeira vez que a ouvi, e, novamente quando a ouço. Mas não é sobre o seu dom inegável para a música o assunto deste texto. No filme, ficou evidente como ele pode se tornar em uma maldição, quando mal aproveitado, conduzido, e contaminado pelo discurso ideológico, onde a arte deixa de ser arte para se tornar em militância, empobrecendo o autor(a) e o público.

      Foi possível perceber o mal e a destruição que a ideologia fez em sua vida, tornando-a uma paranóica, violenta e solitária, além de drenar e minar todo os seu talento, em nome de uma "causa"; entregando-se de corpo e alma ao ativismo, penetrando as fronteiras mais densas da escuridão, do ódio, do terror, e da escravidão mental e espiritual, numa defesa intransigente do indefensável, da revolta alucinada por um mundo terreno perfeito, onde finalmente seus anseios e deficiências seriam satisfeitos por uma "nova realidade", utópica, etérea, delirante. Na busca por alguma justiça (uma guerra "racial" intentava a supremacia negra na sociedade americana), qualquer meio (protestos, terrorismo, assassinatos) eram legítimos, necessários, mesmo que viesse apenas e tão somente implantar outro padrão de injustiça, mas que, no final, era apenas o restabelecimento de uma justiça perdida, a verdadeira justiça proclamada pelo ativismo negro¹, onde a igualdade significava a humilhação, a transformação e o aniquilamento da sociedade "branca". 

      Nina passou a odiar o mundo (literalmente), Deus, seu país, sua música, a si mesma. Tornou-se em  suicida, aniquilando-se pouco a pouco; não estava preparada para compreender as implicações de sua militância, e deixou-se apenas seduzir por um discurso falacioso de igualdade em que as consequências seriam a perpetuação da desigualdade, da injustiça, usando o seu talento de maneira panfletária, estereotipada, impessoal. Perdeu espaço na mídia, foi rejeitada por gravadoras, acusando-as de lançarem-na no limbo; mas, afinal, o que esperava do seu inimigo declarado? Que ele a munisse de mais subsídios em sua batalha destrutiva? Ou que ouvissem os seus absurdos, aplaudissem-na, louvassem-na, aprovando a insanidade e a indigência moral? Ainda assim, houve espaço, e muito espaço, nos palcos, universidades, protestos, marchas, e em todos os eventos revolucionários da época, sendo uma "garota-propaganda" do movimento progressista americano. O seu talento mingou a olhos vistos... As músicas eram apenas veículos para o discurso de ódio racial (aos brancos), o mesmo que julgava combater, em relação aos negros.

      Acabou por autoexilar-se na África, abandonando a música, odiando-a; abandonando o piano, seu companheiro desde os quatro anos (ensinada por uma velha senhora branca que a patrocinou em suas primeiras exibições, como concertista clássica), odiando-o; jamais se arrependeu da sua militância, mesmo quando abandonada pelo "movimento", visto não lhe ser mais útil. Por fim, acusava a indústria fonográfica, a sociedade branca, os EUA, por todos os males advindos em sua vida, sem jamais fazer um autoexame, crítico, sincero, de seus equívocos.

      Nos últimos anos, acolhida por amigos (os mesmos brancos que desejou mortos), voltou ao jazz, mas sem o brilho da primeira década profissional. Ainda assim era possível ver uma mulher autoritária, intransigente e perturbada com os rumos que sua vida levou, após coabitar no universo revanchista e da luta pelos direitos civis. A sua militância no ativismo negro acarretou-lhe sequelas incuráveis, especialmente em uma alma atormentada, inquisitora e odiosa, incapaz de adentrar a realidade, reconhecer a verdade, absorta em um mundo fictício, cínico, niilista, a atormentá-la incessantemente. Uma vida desperdiçada (ao menos, boa parte dela), enganada pelo discurso "intelectual" da época, buscando significado no absurdo, na mentira, no delírio, tornou-a psicótica, amarga, deprimente, sem identidade.

      No fim das contas, quando não mais era útil, viu-se perdida em um mundo inexistente; porém, sua mente adestrada não quis se libertar, arrepender-se, e manteve-a prisioneira.

      Posso parecer dogmático, insensível, até mesmo cruel, mas quando há obstinação no pecado e uma revolta, em primeiro lugar, contra Deus, as trevas são os lugares mais próximos a nos recolher. Se ela tivesse a honestidade de reconhecer a sua situação, como o salmista teve, perceberia que "um abismo chama outro abismo, ao ruido das tuas catadupas; todas as tuas ondas e tuas vagas têm passado sobre mim" (Sl 42.7). E concluiria, arrependendo-se, como o mesmo salmista, que "assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" (Sl 42.1-2).

     Vida nenhuma vale a tristeza da inimizade com Deus; e qualquer movimento, nessa direção, significará em destruição e morte, mesmo que o tolo não as reconheça, fruto da própria vaidade ou seja, da própria morte instalada em sua alma.

Nota: 1- Nina Simone estava despreparada para entender as falácias do ativismo negro americano (não tinha a bagagem cultural necessária para criticá-lo, para entender suas contradições e desatinos); entregou-se a ele de corpo e alma, arruinando a sua vida, carreira, e afastando-se da realidade, vivendo em um mundo perdido na sua confusão mental. O problema não está apenas nas universidades, nos sindicatos, na mídia, mas está presente no cotidiano: levar a cabo a loucura e a quem puder se arrastar.
Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim.
Salmos 42: