25 fevereiro 2010

Cura Bíblica ou Placebo Psicológico?
















Por Jorge Fernandes Isah

Lendo o livro do Dr. Jay Adams, "Manual do Conselheiro Cristão"1, percebi que ele bate repetidamente na mesma tecla: de que à parte da Escritura é impossível qualquer mudança ou cura espiritual.

O homem poderá se debater e se bater com diversas metodologias, desde as pretensamente mais científicas até as não-científicas; porém, sem que se creia nas orientações da Bíblia, a mudança mais radical, o novo nascimento, é inatingível; visto essa condição somente ser possível pelo poder do Espírito Santo o qual nos predispõe, transformando a antiga natureza em uma nova natureza, para que sejamos capazes de seguir o Seu norteamento.

Desta forma o não-crente somente terá uma esperança viva e verdadeira se, pela operação divina, converter-se à fé no Evangelho de Cristo. De outra forma, andará em círculos, amenizando aqui e acolá seus problemas, que "volta e meia" retornarão, sem que haja uma solução. São placebos sem nenhuma eficácia, o mesmo que tomar comprimidos de açúcar (que podem matar ao invés de curar, se a pessoa for diabética, p.ex).

Outra posição do Dr. Adams é a da necessidade de confrontação com o cliente (a utilização do termo se dá pelo fato do autor não ver o aconselhado como paciente). Enquanto ele não souber claramente qual é o seu problema, e esse problema não for tratado através do arrependimento e do perdão (sobretudo o arrependimento diante de Deus para receber o Seu perdão); confrotado pela sua natureza caída e a de seus semelhantes (a impiedade humana) diante da graça divina, esse homem será um homem sem esperança.

Ao contrário, se tiver a mente de Cristo, e for inundado por ela, aprenderá a viver uma vida relativamente desprovida de raízes neste mundo, e isso será uma imensa alegria, pois viverá como se peregrino e estrangeiro fosse. Como definiu o autor: "Toda mudança prometida por Deus é possível. Toda qualidade requerida por Deus, da parte de Seus filhos remidos, pode ser atingida. Deus supriu cada recurso para tanto necessário... sua pátria está nos céus (FP 3.20), e, por isso, há esperança de alegre mudança no aconselhado pela graça de Deus"2.

A mudança na crença do que é o homem a partir de conceitos "mascarados" pelo próprio homem, como a sua bondade inerente, a sua animalidade inerente, a sua irresponsabilidade inerente, a relatividade das relações e da moral, tornam em infrutíferas, perniciosas e catastróficas a metodologia humana para se tratar os desvios e os problemas espirituais (inorgânicos). A abordagem não-cristã é inútil e apenas escravizará o "doente" numa espécie de redoma que o próprio método o direcionará e aprisionará.

Por exemplo, existe a abordagem do conhecimento do especialista (freudianismo) em que o aconselhamento somente deve acontecer por métodos e técnicas apropriadas (segundo eles). Nela os problemas são resultados dos eventos externos ocorridos na vida do cliente, o que retira do cliente qualquer responsabilidade, pois os fatores que o levaram ao problema decorrem das ações de outras pessoas. Interessante que esse método tende a "inocentar" o cliente e a culpabilizar quem vive ao seu redor. E, assim, o indivíduo vive num círculo vicioso onde a culpa dos seus problemas se deve à socialização deficiente, onde o cliente sempre será a vítima, e as outras pessoas com quem conviveu em seu passado ou mesmo no presente, são os criminosos. E isso determinou-lhe uma consciência rígida (superego), a qual se encontra em conflito com os seus desejos normais (id), levando-o às dificuldades, à sua não adaptabilidade, gerando os vários e duradouros conflitos da vida.

Portanto, o perito terá de desfazer aquilo que os outros fizeram, reverter esse quadro pela psicanálise, retrocedendo ao passado do cliente, fazendo-o reviver pessoas e situações desagradáveis, a fim de torná-las, durante as sessões, agradáveis, reestruturando o sistema de valores do aconselhado. Esse método é longo e está envolto em um emaranhado de especialização que torna o psicanalista em uma espécie de "super-homem" com todos os poderes sobre o cliente. Ele cria uma dependência e um vínculo que impedem o paciente até mesmo de decidir sobre si mesmo, pois muitos são internados por ordens desses mesmos peritos, que controlarão a sua vontade e desejos tornando-os em corpos sem almas.

Da mesma forma, ainda que o padrão seja diferente, o behaviorismo de Skinner, se posiciona como a escola de modificação comportamental baseada no empirísmo. Para eles, o homem é apenas um animal, e, por isso, produto do seu meio ambiente. Novamente, temos uma causação externa ao cliente. Ele não é culpado por seu comportamento nocivo, o qual é somente consequência do seu convívio social.

Para Skinner, falar ao menos em responsabilidade é uma insensatez. "A solução aventada por Skinner consiste em descobrir cientificamente as contingências relacionadas à conduta 'deficiente' (todos os julgamentos de valores fazem parte da mitologia), para então, com base nos informes obtidos, reagrupar as contingências ambientais, a fim de reprogramar as reações do paciente. Isso é feito mediante o uso de recompensas e controles que provoquem a aversão"3. Em outras palavras, seria o mesmo que domesticar o homem como se domestica um cão selvagem, treinando-o para fazer exatamente o que o "dono" quer. Porém, ao meu ver, os animais foram criados por Deus para servirem ao homem; e, especificamente neste caso, o que vemos é o homem no mesmo nível dos animais, servindo a um grupo elitista que se considera como um semi-deus. Desta forma, o método utilizado não é o da confrontação bíblica, mas o da manipulação, ao qual muitos aconselhadores cristãos se submeteram (p.ex., Dobson).

Para ele, o homem é tão destituído de valor quanto qualquer animal; e assim, podem fazer do homem qualquer tipo humano desejado, começando pela manipulação genética e então estabelecendo as contingências ambientais desejadas. O objetivo é o de criar rebanhos, como gado. Mas, mesmo entre peritos tão obstinados, não há unidade, e determinar o que quer que fosse seria impossível, visto não haver valores fixos, nem padrões, pois tudo é relativo, está a ser descoberto ou mesmo pode não ser o desejado.

Da mesma forma outras abordagens seguem o mesmo padrão de controlar, dominar e aprisionar os clientes aos seus métodos. Não há desejo real de libertá-los.

Sem o uso das Escrituras, sem a conversão, sem o arrependimento, sem que o Espírito Santo atue no homem, sem a santificação, sem a confrontação bíblica, sem que a criança seja ensinada nos caminhos do Senhor, todos esses métodos se tornam em uma louca prisão, onde o cliente não obtém cura, e necessita constantemente estar "conectado" ao especialista e sua metodologia, sem que muitas vezes se saiba exatamente o que ele tem, nem como "curá-lo".

Uma boa dica de série televisiva é Monk, cujo personagem sofre de transtorno compulsivo, o chamado "toc", e se mete em hilárias situações (ainda que a série faça da psicanalise uma "válvula de escape"; de onde o personagem não consegue escapar, e se mantém completamente dependente, preso ao método).
Há outras como Criminal Mind e Lie To Me (nitidamente adeptas do método de Skinner) que abordam o homem a partir do seu comportamento. Em última análise, eles sempre poderão solucionar os casos criminosos baseados na personalidade, no seu passado, e em suas relações. Acontece que sendo o próprio homem quem investigará esses elementos, assegurar que ele os compreenderá e solucionará é impossível. Como séries policiais, elas não se propõem a garantir a cura do cliente (nem estão preocupadas com esse aspecto), mas apenas descobri-lo, revelando-lhe a identidade através dos crimes. Mesmo que o objetivo seja minimamente alcançável, tenho dúvidas da sua eficácia.

Outra interessante série no campo psicológico voltada para os animais é o Encantador de Cães, ainda que esteja fundida a uma crença holística (espiritualista panteísta), mas que também analiza os comportamentos dos humanos, no caso, os donos, a partir do mesmo princípio em que os animais são examinados.

Voltando ao Dr. Adams, ele se posiciona frontalmente contra os métodos anticristãos, os quais, perpassados por técnicas esotéricas, obscuras, não revelam a verdade do paciente, nem o colocam em contato com a realidade, sua e do mundo em que vive. Pelo contrário, eles o transportam para um mundo paralelo, onde não há solução, apenas contemporização e uma cura intangível. 

Com o alicerce sólido [a Escritura] o crente poderá erguer uma metodologia cristã coerente com o alicerce; enquanto o incrédulo sempre distorcerá esses aspectos com seus pecados e sua posição não-cristã de vida. Porém, o conselheiro cristão poderá trazer à luz a verdade obscurecidamente refletida pelo incrédulo a partir dos princípios e metodologia bíblicos. Ele jamais deverá buscar e incorporar a esses princípios e metodologia elementos alheios e antibíblicos. Técnicas que aparentemente são eficazes somente o distanciarão ainda mais da eficiência escriturística.

Infelizmente o eclético e o cristão "moderno" (diga-se pragmático e liberal) partem da premissa de que não existe base bíblica que sirva de alicerce, e, invariavelmente, pegarão tudo de que dispoem à mão para tentar construir algo que funcione, mas que ao final, será apenas um trabalho sem efeitos reais e verdadeiros.

Na ânsia de se obter resultados a qualquer custo, esquece-se de que há somente um caminho que o assegurará: a sabedoria e o conhecimento bíblico com o qual o homem é transformado à imagem de Cristo. Em sua rebeldia, o que o homem faz é afastar-se de Deus, e buscar em si mesmo o deus (in)capaz de curá-lo.

O crente não pode agir como alguém que ao final não tem nada, quando Deus lhe deu tudo, tanto o alicerce como os materiais a fim de construir um sistema bíblico.

O pressuposto principal é o da inspiração divina da Escritura, a qual tem o poder de:

1) Ensinar, estabelecendo normas de fé e de vida.

2) Repreender, mostrando de modo convincente aos crentes que errarem, como e de que forma estão vivendo no erro.

3) Corrigir, endireitar novamente a partir das Escrituras a fim de que o crente se firme outra vez.

4) Disciplinar na justiça, pois as Escrituras permanecem operando em nós, estruturando-nos na disciplina diária, conduzindo-nos à piedade.

Esses quatro usos das Escrituras delimitam quatro atividades básicas do aconselhamento bíblico:

1) Atividade aquilatadora, o crente, alicerçado na Bíblia, não encontra dificuldade alguma em fazer juízo sobre as questões. Por exemplo, a Bíblia diz que o homossexualismo é pecado. Para o crente, a questão está resolvida.

2)Atividade convencedora, na qual a Palavra revelará o padrão divino de santidade a fim de que haja arrependimento do aconselhado, e não uma busca infrutífera por um alívio. Condutas pecaminosas sempre trarão consequências danosas às vidas das pessoas; logo, o conselheiro, ao invés de minimizar ou contemporizar o pecado, deve mostrá-lo, levando o cliente à convicção de sua rebeldia. Somente a ação do Espírito Santo mediante a Palavra poderá ajudar o aconselhado a buscar o "reino de Deus e a Sua justiça", através da qual ele experimentará o verdadeiro alívio e a verdadeira felicidade.

3)Atividade Transformadora - As escrituras, eminentemente práticas, levarão o crente não somente a reconhecer o seu pecado, mas a como ser restaurado, recuperado do pecado. A Bíblia deve ser usada de modo prático, da forma como Deus tencionou que fosse empregada.

4)Atividade Extruturadora - O discipulado através da disciplina no ensino regular e ordenado da Palavra, pela Palavra, tornará o crente habilitado para toda a boa obra; porque não há nada que o homem de Deus não esteja adequadamente preparado pelas Escrituras.

Portanto, a metodologia a ser aplicada no aconselhamento não pode ser o ajuntamento e colagem de toda espécie de coisas à Bíblia, e sim, usarmos os recursos do conhecimento divino no aconselhamento, através do estudo árduo e contínuo das Escrituras.

É preciso conhecer os problemas humanos, e descobrir as respostas dadas por Deus. E o único método é através do estudo e ensino das Escrituras.

Para completar, o aconselhamento cristão é uma prerrogativa de qualquer crente, mas, sobretudo, ele tem de vir sob a autoridade investida por Cristo e a Igreja; portanto, segundo Adams, é função primordial dos pastores, os quais são preparados escrituristicamente para tal, e outorgados por Deus e a Igreja para cumprirem essa missão, como vocação especial. 

Infelizmente, do último século para cá, o aconselhamento tem sido adotado secularmente por profissionais da área médica; e os médicos devem se ocupar exclusivamente com os problemas orgânicos, ou seja, com a saúde física do homem. Assim, "não há lugar, no esquema bíblico, para o psiquiatra como médico de especialidade separada. Essa casta, que a si mesmo se nomeou, veio à existência ante a expansão do guarda-chuva médico a fim de incluir as doenças inorgânicas (qualquer que seja o seu sentido)"4.

Ao investirem-se de prerrogativas as quais não lhe cabem, como as do psicólogo e psiquíatra, eles deixam de cumprir verdadeiramente a sua missão para tornarem-se em ministros seculares, metade médico (uma parte insignificante) e metade sacerdote secular (uma parte avantajada), corrompendo todo o objetivo do aconselhamento e, por conseguinte, da medicina. Até porque muitos vêem o aconselhamento como uma forma de não-aconselhamento, relativista, em que o aconselhado é estimulado a falar ao invés de ouvir, onde não se busca o resultado objetivo (no caso do crente, a santificar-se e amoldar a sua imagem à de Cristo).

A função do conselheiro é a de, com sabedoria e ensinamento bíblico, orientar o aconselhado a abandonar as práticas que lhe são nocivas, notadamente as práticas anti-cristãs, e pecaminosas.

Nota: 1 - "Manual do Conselheiro Cristão" - Dr. Jay Adams - Ed. Fiel 
2 - Idem - pg. 40
3 - Idem - pg. 85
4 - Idem - pg. 22

18 fevereiro 2010

deus, não é Deus











Por Jorge Fernandes Isah

Deus é Deus. Não importa o que eu pense, nem se penso. Ele continua Deus. Não importa o que eu faça, nem o que não faça. Ele é Deus. Não importa o que creia, nem o que não creia. Ele permanece, e sempre será Deus. É uma afirmação simplista? Sim. Mas nela está contida uma verdade absoluta: Deus não é outra coisa a não ser Deus. Ainda que eu me aventure a rotulá-lo ou redefini-lo, nada o fará deixar de ser o que é: “eu sou o que sou” [Ex 3.14].

Nem a fé, nem o ceticismo. Nem as boas obras, nem as más. Nem a morte, nem a vida. Nem o bem, nem o mal. Ou qualquer outra coisa que eu seja ou produza. Ainda que o universo não existisse, Deus é Deus. Imutável, Todo-Poderoso, Soberano, Perfeito, Justo e Santo.

Então se dirá: como sabe essas coisas? Como saber que Deus é Deus? Não dependerá daquilo que apreendo dEle, de como o vejo e me relaciono? Deus não depende de mim?

A verdade é que todas as criaturas têm um relacionamento com Deus. Seja a matéria ou a anti-matéria, seja o físico ou o espiritual, seja forma ou amorfa, viva ou morta, certa ou errada, possível ou impossível, verdadeira ou falsa. Tudo se relaciona com Deus, pois Ele é o criador de todas as coisas, e nada pode vir à existência sem que Ele determine que exista, nem mesmo os pensamentos, nem mesmo o que não pensamos; “porque todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” [Jo 1.3].

Ele não depende em nada de nós.

Até mesmo o que não existe se relaciona com Ele, pois por sua vontade não o trouxe a existência. Nada pode autoexistir ou surgir sem que Ele queira, pois seu plano é certo e infalível. Como está escrito: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos” [Sl 100.3].

[Apenas como uma hipótese ou uma hipérbole, o não-relacionamento é uma forma de relacionamento].

Os réprobos relacionam-se com Deus, rejeitando-o, desprezando-o, blasfemando, opondo-se, pecando e cultivando a impiedade como afronta à Sua santidade. Não importa se consciente ou inconsciente, se voluntário ou involuntário, tencionando fazê-lo ou não, se por dolo ou distração, se livre ou obrigado, o fato é que todo pecado, e por conseguinte toda criatura, tem um relacionamento com o Criador: O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” [Sl 14.3]. E isto vale também para satanás e seus anjos.

Ao final, todos têm um relacionamento com Deus, independente de se querer ou não; independe da vontade, pois tudo no universo está sujeito a Ele, contido e limitado pelo Seu poder: pois o Seu “reino é um reino eterno; o teu domínio dura em todas as gerações” [Sl 145.19]. Foi o que Paulo também disse: “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” [At 17.28].

A dependência seja em qual nível for revelará o tratamento que Deus dispensa e a forma como nos portamos diante dEle. Nada acontece por acaso, nem cairá no esquecimento, porque o “Senhor guarda a todos os que o amam; mas todos os ímpios serão destruídos” [Sl 145.20]; ainda que faça o sol se levantar sobre maus e bons, e a chuva descer sobre justos e injustos [Mt 5.45]. O que me leva a concluir que o Senhor tem um relacionamento pessoal com cada uma de Suas criaturas, tanto as eleitas como as réprobas, pois até mesmo estas cumprem o Seu propósito eterno, segundo os Seus desígnios, de criar “até o ímpio para o dia mal” [Pv 16.4].

Contudo o relacionamento ou dependência de Deus não significa conhecimento, saber quem Ele verdadeiramente é. Apenas aqueles que são predestinados e chamados para serem conforme a imagem de seu Filho, para que “ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 28.29], podem conhecê-lo. Não digo reconhecê-lo por algumas particularidades, pelos indícios que a criação nos revela da Sua majestade, pela impossibilidade de haver o acaso e a aleatoriedade na vida, mas pelo que é, e nos revelou de Si mesmo.

Em linhas gerais, Deus se revelará apenas a quem quiser, pois não é um exercício do quanto podemos conhecê-lo, mas do quanto quer que saibamos. Ainda que não seja a essência do versículo, ele pode muito bem ser aplicado nesta situação: “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece” [Rm 9.16]. Ele é misericordioso até mesmo em Se revelar, e isso é simplesmente fantástico: a forma como o Todo-Poderoso quis se mostrar. Porém se não for por Ele, não o será. Se não for pela regeneração da mente natural, o homem não o conhecerá. Se não for através da revelação especial, o que se apreende será apenas uma concepção incompleta, não elucidativa, errônea, ao ponto em que não passará de uma mera criação humana, transformando em lenda ou ficção o que é real e verdadeiro.

Estará evidenciada a incapacidade do homem, por si só, de conhecê-lo. E ela não poderá ser corrigida se não for pelas mãos de Deus. Se Ele não transformar o barro dando-lhe vida, o novo-nascimento, nada feito. “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” [Jo 3.3, 7].

Pois os regenerados, as ovelhas, serão apartadas dos bodes; aquelas à direita, e estes à esquerda. Então o Senhor dirá aos que estiverem à sua direita: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" [Mt 25.34]. E dirá também aos que estiverem à sua esquerda: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" [Mt 25.41].

As ovelhas não são bodes, nem os bodes, ovelhas. E Cristo não os confunde; antes criou-os separados, com propósitos distintos, com o fim de ser glorificado; e naquele dia, todos verão a Sua obra concluida. E ela passa necessariamente pela regeneração dos pecadores, aqueles que receberam a Sua misericórdia e não nasceram do sangue, “nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” [Jo 1.13], o qual ordenou que assim fosse, antes da fundação dos séculos, para a nossa glória também. Porque o que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiu ao coração do homem, é o que Ele preparou e reservou aos que o amam. Revelando-as pelo seu Espírito; “porque ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” [Rm 2.11]

Tais coisas são reveladas através da Bíblia Sagrada, a própria voz do Senhor falando aos nossos ouvidos. Mostrando-nos o que Ele é, o que somos, as promessas que nos são reservadas, na esperança de que se cumprirão infalivelmente, porque assim nos diz, e assim será. Como escrevi certa vez, não há silêncio nas Escrituras. Jamais Deus se calará àqueles que tiveram seus ouvidos abertos, a mente aberta, o coração de pedra transformado em carne; pois somente Ele é capaz de dar vida ao defunto, tirando-o das trevas e levando-o para a luz, Jesus Cristo, o qual "eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus"[Jo 1.34].

Porque Deus estará sempre a se revelar ao Seu povo, para que o conhecimento seja entre Pai e filhos, através do Unigênito, Cristo, em cujas mãos estão todas as coisas, e nas quais fomos entregues, porque ouvimos a Sua voz e Ele nos conhece, e nos deu a Sua vida para que jamais pereçamos, como ovelhas desgarradas levadas ao aprisco pelo Pastor [Jo 10.27-28].

Como está escrito: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” [Jo 10.14].

Sem Cristo e o Evangelho, o conhecimento de Deus é impossível! E se tem apenas o deus que se quer, e no qual estupidamente se acredita.

E esse deus, não é Deus!


16 fevereiro 2010

Resultado do Último Sorteio de Livros & Nova Promoção


NOVO SORTEIO

No próximo mês de Março serão sorteados pelos blogs Internautas Cristãos, Kálamos e Voltemos ao Evangelho, os seguintes livros: 

Kit 1: "Com Vergonha do Evangelho" - John MacArthur Jr. - Ed. Fiel














Kit 2: "Questões Últimas" - Vincent Cheung - Ed. Monergismo














Kit 3: "O Papado e o Dogma de Maria" - Hernandes Dias Lopes - Ed. Hagnos














Kit 4: "Deus é o Evangelho" - John Piper - Ed. Fiel














Kit 5: "As Crônicas de Nárnia - Volume Único" - C. S. Lewis - Ed. Martins Fontes














Maiores detalhes e inscrição para o sorteio AQUI.


Resultado do Último Sorteio:


Os ganhadores da promoção "Sorteio de Livros" organizada pelo site Internautas Cristãos, pelo blog Kálamos e Voltemos ao Evangelho, no mês de Fevereiro/2010 foram:

KIT 1 - "Sermões em Efésios", de João Calvino - Gabriela Brandalise - PR;
KIT 2 - "Piedade com Contentamento", de Vincent Cheung - Rubner Rodrigues Durais -SP;
KIT 3 - "Por Que os Homens São Salvos?", de Charles H. Spurgeon - Camila E. Chagas Augusto -MG;
KIT 4 - "Os Dez Mandamentos", de Arthur Pink - Ana Gabriela da Conceição - RJ.

Os contemplados terão o prazo de 05 (cinco) dias utéis para manifestar o interesse de receber os livros, enviando-nos nome e endereço completo com CEP. Os livros serão enviados no prazo de 10 a 15 dias após a resposta dos ganhadores, pela ECT, em encomenda normal. Caso o ganhador não se manifeste no prazo indicado, novo sorteio será realizado a fim de destinar o prêmio a outro participante.

Aos contemplados, parabéns e boa leitura!

Tiago Knox - Internautas Cristãos
Jorge Fernandes Isah - Kálamos
Vinícius Pimentel - Voltemos ao Evangelho

11 fevereiro 2010

Castelos de Areia Demolidos

















Por Jorge Fernandes Isah

Como prometido em um comentário da postagem anterior, apresentarei um esquema que, de certa forma, sintetiza os pensamentos em "Dupla predestinação, o Barro 'decaído' e a Arbitrariedade de Deus" , e muitas outras reflexões neste blog. Gosto muito de síntese, apesar de praticamente todas as minhas ruminações serem analíticas. 

O objetivo não é explicar tudo, até porque não considero tudo explicável, havendo coisas que não nos foi revelada por Deus e que permanecerão um mistério até aquele glorioso dia, quando não será necessário perguntar nada.  Mas naquilo que nos foi revelado, não temos que temer conhecê-lo.

Então, vamos ao esquema!

1) Deus é soberano e autoridade sobre toda a Sua criação, inclusive, o homem [o que desagradará os proponentes de todos os sistemas humanistas, que veem o homem como autônomo e livre em relação a Deus]. "Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras" [At.15.18].

2) Deus preordenou tudo no universo, inclusive o mal e o pecado, até mesmo as nossas mínimas atitudes e pensamentos. Nada está livre do poder de Deus, pois se assim estivesse, Deus não seria o Todo-Poderoso [Is 44.6-7, 45.5-7].  Novamente os sistemas humanistas ruem diante da Palavra; porque, em sua insignificância, o homem é livre apenas para cumprir o eterno decreto de Deus, o qual é a manifestação da Sua perfeita e santa vontade.

3) O fato do homem não ser livre, não exclui a sua responsabilidade sobre os seus atos. O homem é responsável não porque é livre, mas porque praticou esses atos e, ao executá-los, tornou-se responsável por eles, e o único culpado e réu; pois "A alma que pecar, essa morrerá... na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá" [Ez 18.20, 24]. 

4) Responsabilidade não pressupõe liberdade humana [livre-arbítrio ou autonomia], mas autoridade divina, a qual foi estabelecida pela Lei Moral [a primeira delas promulgada no Éden:"De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2.16-17)] .

5) Deus é justo. Não há padrão de justiça superior a Ele [Sl 11.7].

6) Deus é santo. Não há padrão de santidade superior a Ele [Sl 145.17, Is 43.15].

7) Deus é Todo-Poderoso. Não há poder superior a Ele [Ap 1.8]. Como o profeta disse: "
A quem, pois, fareis semelhante a Deus, ou com que o comparareis?" [Is 40.18].

8) Deus não está sujeito à Sua criação, nem mesmo à Lei Moral. Ela é para as Suas criaturas, portanto, aplicam-se somente a elas. Não se pode aplicar a Lei Moral a Deus, porque ela está no nível da criação, não do Criador.

9) Deus não peca exatamente pelo mesmo princípio de autoridade máxima; e do pecado ser criação, logo, ele está no nível da criação, não do Criador. Nada pode sujeitá-lO, antes o Senhor é quem sujeitou todas as coisas conforme a Sua bendita vontade [Fp 3.21].  

Abro um parênteses para reafirmar que o homem faz parte da criação, logo está no nível da criação e sujeito à vontade divina. Não há a menor hipótese do homem, ainda que precariamente, ainda que minimante, ainda que se sinta ilusória e fraudulosamente investido de algum poder, frustrar o plano divino. Antes, o homem é nada perante Ele, "e todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?" [Dn 4.35].

Ainda que certos conceitos sejam “duros” demais mesmo para calvinistas, não me importou ou interessou amaciá-los, nem também enrijecê-los, porém cabe-nos aceitá-los como Deus os revelou e encontram-se registrados nas Sagradas Escrituras.

A Bíblia demole o humanismo... e os humanistas, como os castelos de areia são destruídos na praia.

27 janeiro 2010

Não Há Silêncio Na Escritura













Por Jorge Fernandes Isah

Tenho me arriscado a escrever sobre alguns assuntos que até pouco tempo sequer tinha a menor idéia. Isso se deve especialmente à renovação da minha mente pelo Espírito Santo, e  a leitura das Escrituras. Mas não há como rejeitar aquilo que os santos de todos os tempos escreveram e ainda escrevem, seja em livros, artigos, pregações ou postagens em sites e blogs. Pretender ser uma mente "neutra", partindo-se do zero é pura prepotência e soberba, além de ser uma conclusão estúpida e enganosa em si mesma. Não tenho problemas em assumir o que sou, e o que tenho sido é fruto da ação de Deus através da instrumentalização do corpo de Cristo, capacitado pelo próprio Deus a auxiliar os membros no conhecimento e entendimento da verdade. Isto não quer dizer perfeição nem infabilidade, mas um processo lento em que, mesmo na imperfeição e vivendo com a natureza pecaminosa, o Senhor vai-me afastando cada vez mais de mim, e me colocando cada vez mais próximo de Cristo.  E, de forma alguma, ninguém pode dizer que o conhecimento adquirido ou a ignorância cultivada é fruto exclusivamente de si mesmo. Mas esta é apenas uma introdução, não o assunto deste texto. 

Dito isso, abordarei mais um tema do qual não domino, mas tenho o entendimento suficiente para considerá-lo verdadeiro: o pressuposicionalismo bíblico. 

Interessante que alheio à metodologia humanista de se avaliar e colocar o texto bíblico à prova da razão e da ciência, as pressuposições interpretativas serão a base para a exegese; ou seja, nenhum estudioso interpretará as Escrituras sem pressuposições, e a afirmação de que existe uma "neutralidade" no estudo não passará de uma grande farsa.

A questão é: ou se interpreta a Bíblia através das pressuposições sobrenaturais, ou a fazemos através das pressuposições racionalistas e liberais. Delas dependerá o caminho a ser tomado. O que significará utilizar de pressuposição interpretativa crente e ortodoxa ou incrédula e liberal.

Na verdade o incrédulo baseará o seu estudo a partir da incredulidade; enquanto o crente baseará o seu estudo a partir da crença bíblica.

Defender uma isenção ou neutralidade é sempre uma forma de engano,  de se autoenganar, tendo-se em vista a impossibilidade de interpretação a partido do nada, da neutralidade, pois, sem se partir de algum ponto específico é impossível se chegar a algum lugar.

Porém, isso não quer dizer que as nossas crenças se sobreporão à Bíblia, que se chegará diante dela com tudo ajeitado, esperando apenas a confirmação, a qual implicará, muitas vezes, em conspurcação, em distorção do texto bíblico. Ao contrário a Escritura deve avaliar e validar se todas as nossas crenças estão, de fato, concordantes com a revelação proposicional de Deus. O incrédulo e liberal utilizará a sua fé não-sobrenatural e irracional, ancorado em falsas premissas, a deduzir que tudo deve partir e ser explicado pelo homem. Deus é simplesmente descartado do método, revelando o quanto o discurso racionalista não passa de um embuste irracional, tendencioso e desonesto de se interpretar a realidade escriturística.

Então podemos dizer que a interpretação bíblica estará respaldada pela fé, que estará sustentada por suposições ortodoxas. Temos, por assim dizer, um círculo vicioso, certo? Errado. Simplesmente porque assim como Deus pode ressuscitar um cadáver e soprar vida numa alma morta [o que os liberais terão uma infinidade de desculpas e justificativas no mínimo absurdas e estapafúrdias para não reconhecer a sobrenaturalidade bíblica e reafirmar a sua incredulidade], assim também Ele pode transformar nossas pressuposições. E isso acontece infalivelmente na regeneração, no novo-nascimento, quando o Espírito Santo reorientará as pressuposições do homem em relação à Bíblia. Já que o homem caído, o homem natural, encontra-se no estado de rebeldia contra Deus e a Sua palavra, sendo-lhe impossível concebê-la como a fidedigna revelação divina. Somente após o novo-nascimento ele estará em disposição intelectual para aceitá-la e sujeitar-se a ela pela renovação da mente, tornando-a semelhante à mente de Cristo.

Ainda que o seu entendimento inicial seja limitado, e algumas das suas antigas pressuposições ainda permaneçam nos detalhes, à medida que a palavra for-lhe revelada, ele estará crescendo na graça, deixando de tomar leite para comer carne, amadurecendo-se, santificando-se, progredindo no entendimento da Bíblia e da Fé que foi uma vez dada aos santos.

Logo a tarefa interpretativa deve estar pautada por pressuposições teológicas [pressuposicionalismo], fundamentadas na ortodoxia cristã, ao invés de se recriar novas ortodoxias [ou seriam heterodoxias?] a cada geração que, na verdade, têm como único objetivo demolir a fé bíblica e disseminar o ceticismo iluminista. Faz-se necessário apelar constantemente à Bíblia, "a Palavra santa e viva de Deus, que nos reorienta e que refina as nossas pressuposições e proporciona um entendimento cada vez maior da revelação escrita de Deus, dentro dos limites da ortodoxia cristã"1.

Mesmo sendo possível aos exegetas discordarem ou se contraporem à infalibilidade bíblica [de chegarem à conclusão da não infalibilidade do texto sagrado], o problema estará na abordagem "científica" que os levará a compreender o método humano como infalível, mesmo que substituído por outro, e por outro, e mais outro, e tantos quanto forem necessários para que a ciência sempre seja o argumento final de todo o processo interpretativo [excluíndo-se qualquer hipótese de sobrenaturalidade bíblica], levando-a ao extremo de ser o dogma principal da crença naturalista: a fé cega na ciência; o que implicará sempre no silêncio de Deus para eles, quando o Senhor está a falar ativa e diretamente em toda a Escritura.

O próprio fato de tê-las diante de nós é a prova cabal da sua infalibilidade, "e qualquer outra conclusão de uma, assim chamada, exegese 'objetiva' é categoricamente equivocada - e enganosa"
2.

A imperfeição humana e o seu estado caído são provas da impossibilidade de se obter a "precisão científica" tão decantada e idolatrada pelos estudiosos, mas que no fundo, não passa de uma tentativa insignificante e frustrada de se "avaliar" a revelação especial, além de ser uma afronta a Deus.

O único padrão válido para a interpretação bíblica e seus aspectos históricos, éticos, artísticos, etc é o da Bíblia, a qual é a voz do próprio Deus. Portanto, infalível. Assim o método interpretativo levará, se bíblico, ao conhecimento da verdade; se extrabíblico ou não-bíblico, ao aprofundamento cada vez maior no engano. O que me leva a concluir a completa e total impossibilidade do homem natural conhecer a Deus a parte da revelação escriturística, sem que o Espírito Santo opere em sua mente regenerando-a.

Em linhas gerais, todo o esforço interpretativo do homem não-bíblico somente o afastará mais da verdade; enrijecendo-lhe a mente ao ponto em que todo o seu esforço "científico" o levará mais ao abandono e ao não-conhecimento de Deus. Ele terá uma idéia do que venha a ser o Todo-Poderoso, porém  será uma imagem tão distorcida que nem mesmo o mais eficiente espelho esférico poderá reproduzir.

Na verdade, enquanto muitos acreditam enganosamente no silêncio de Deus,  Ele estará sempre a falar.

Porque não há silêncio na Escritura. 

Nota: 1- "Infalibilidade e Interpretação", de  Rousas John Rushdoony & P. Andrew Sandlin - Editora Monergismo - pg. 61
2- idem - pg. 75
 

21 janeiro 2010

Cristianismo AntiCristão






















Por Jorge Fernandes Isah

Há um empenho quase generalizado de se propagar a idéia de que todos os caminhos levam a Deus. De que qualquer religião praticada com sinceridade é aceita por Deus. De que qualquer forma de devoção, ritual ou religiosidade pode agradá-lO. Seria o mesmo que confundir um maestro com um condutor de trem, um golfista com um cavador de buracos, um domador de leões com um exterminador de insetos. Essa falácia está presente em todas as religiões, especialmente entre os deístas e politeístas. No caso do teísmo, onde essa falsa idéia deveria ser rejeitada, infelizmente tem ganhado corpo e achado guarita. Tanto o judaísmo, como o cristianismo, e o islamismo estão sendo contaminados pela premissa de que, em princípio, tudo é possível ao homem no satisfazer a Deus. Esquecem-se contudo de que Ele explicitou claramente o que lhe apraz: a sujeição do homem a Cristo, e o senhorio de Cristo sobre o homem. Mas isso está sendo cada vez mais desprezado e ridicularizado entre aqueles que se dizem cristãos. E o que poderia levar a tamanho engano e disparate?

Há de se analisar que existem apenas duas religiões: a divina e a humanista. Uma se contrapõe à outra, e, infelizmente, alguns crentes e denominações cristãs têm se apegado a parte da verdade, como se ela pudesse ser fatiada e cada pedaço viver coerentemente sem o todo. Então, com o pedaço na mão e a partir dele, constrói-se um sistema falacioso e corrupto em que essa partícula verdadeira é soterrada por camadas e camadas de entulhos, ao ponto em que não se é possível mais identificá-la, ou ganhou uma conotação tão espúria e degradada, unida ao paganismo e ao sincretismo, que se acaba por formatar uma cosmovisão pluralista, inconsistente e, sobretudo, anticristã. Partindo-se do princípio de que o mundo tem e pode ser entendido por ele mesmo, de que a resposta está ao alcance dos dedos sem a necessidade da sabedoria divina para explicá-lo. Em linhas gerais, prega-se a autosuficiência e o autoconhecimento, bem ao estilo gnóstico de se interpretar o mundo através de um sistema subjetivo, quase sentimental, em que a maior virtude é a dúvida, disfarçada de falsa sabedoria. É a maneira sutil de apanhar os tolos numa espécie de piedade e nobreza, onde há apenas autocomiseração, a fim de mantê-lo domesticado pelo pecado.

A intenção é claramente uma só: através da ontologia, da epistemologia, da ética e da teleologia criar-se um conjunto uniforme que se oponha ao cristianismo ortodoxo; operando a partir do ponto de vista relativista, pragmático e imanentista, colocando o homem como o ser supremo, o centro do universo, quando ele nada mais é do que o bobo da corte.

Desta forma a religião humanista (e nela está contido o arminianismo e todas as outras formas e concepções em que o homem tenta desesperadamente usurpar o trono de Deus; alguns conscientes, outros nem tanto) subverte algo do cristianismo para moldar a idéia de que todas as concepções são legítimas, de que todos os caminhos são aceitáveis, vistos que eles ensinam e se preocupam apenas com o bem-estar do homem; então, a cosmovisão que proclama o estado de depravação e iniqüidade do mesmo homem e a completa soberania de Deus tem de ser combatida a fim de se resguardar a integridade da criatura.

Logo, não há lugar para a ortodoxia cristã, nem para Deus como o ser supremo, justo e santo, que irá julgar esse mesmo homem; não há chance de salvação além dele mesmo, e muitos consideram desnecessária a própria salvação na toda poderosa e suficiente super-humanidade.

Por isso, entre os cristãos, criou-se a imagem de um deus paspalhão, um sentimentalóide tosco e tolo que acaba por se sujeitar ao padrão estabelecido pelo homem, e do qual o próprio homem desconhece quais serão as suas conseqüências, mas de uma forma estúpida, arvora-se uma tranquilidade bovina. Esse deus não é reconhecido na Escritura, nem em momento algum é visto ou descrito por ela; por isso eles têm a necessidade de, primeiro, relativizar e desqualificar o texto bíblico como a fiel palavra de Deus; colocando-a somente como mais um manual ético-moral entre tantos outros criados pela mente humana. Inclui-se a destruição de qualquer aspecto sobrenatural e histórico em suas páginas, e a revelação divina nada mais é do que "contos da carochinha" ou alegorias extraídas da nossa capacidade criativa. E assim o homem estará pronto a exercer a sua credulidade em qualquer coisa e em qualquer um; imitando a si mesmo num exercício de não-convicção-não-fundamentada na revelação especial e racional do Deus vivo.

No mundo subjetivo, onde as "verdades" são mutáveis e adaptáveis à corrupção, qualquer defesa do cristianismo bíblico deve ser combatida. Por isso o empenho em erradicar algo tão divisor, sectário e que define claramente o caráter de cada decisão e ação, julgando-a à luz da Palavra, anunciando-a verdadeira ou revelando-a enganosa. 

Por isso o Estado, com a falsa premissa de ser laico, torna-se antireligioso, mas não o suficiente para impedir que "técnicas" religiosas se convertam em métodos "científicos" aplicados à satisfação humana. A prova está na aceitação pacífica da yoga, da acupultura, da ecologia (o culto pagão da deusa "Gaia") , e tantas outras “técnicas” holísticas como o padrão aceitável de espiritualidade humana, aparentemente neutra, aparentemente inofensiva, mas que em seu cerne contém apenas destruição. Ao financiá-las e propagandeá-las o que se tem é a subversão “pacífica” dos valores cristãos, através da implementação e institucionalização de formas religiosas inclusivas e não-conservadoras. É como colocar o gato, o rato e o cão na mesma caixa e esperar que vivam pacificamente, sustentando-se apenas com a idéia de que o outro é ele mesmo, e vice-versa.

Como o Cristianismo proclama a necessidade do novo-nascimento, da regeneração, da santificação, ao ponto em que o homem espiritual derrote o homem carnal e seja semelhante ao nosso Senhor Jesus Cristo, e por Ele seja reconhecido como tal, nada mais funcional do que fazer todos acreditarem que a fonte salobra é algo fresca e pura, e assim, ninguém jamais saberá a diferença entre o líquido que mata e aquele capaz de dar vida. 

Portanto todas as formas que possam se fundir ao humanismo são aceitas, exceto o Cristianismo Bíblico, ortodoxo e histórico, o qual não é antropocêntrico, mas teocêntrico; e por isso, deve ser destruído, já que em seu escopo não existe a menor possibilidade de comunhão entre luz e trevas.  

17 janeiro 2010

Ponto de Fuga
















Por Jorge Fernandes Isah

Ano novo começado, já as portas de se vencer o janeiro, e estou a me perguntar: o que nos aguardará nos próximos onze meses e alguns dias? Em que condições a igreja evangélica deixará o país ao fim-do-ano? Será que a expansão numérica dos evangélicos no Brasil tem-se refletido em luz, ou "tudo continua como dantes no quartel do Abrantes"? Com os evangélicos não fazendo diferença, nem salgando o mundo?

Quais mudanças serão percebidas na sociedade? Ela terá refletida a sabedoria e santidade bíblicas? Terá se tornado moral e eticamente aprovada? A defender a vida e os princípios estabelecidos por Deus em Sua palavra? 

Ou a expansão numérica servirá apenas para aproximar a igreja cada vez mais do padrão do mundo (através da invasão de incrédulos e suas perversões no seio da igreja; e o que é pior, a aceitação passiva por parte daqueles que se dizem cristãos e defensores da fé bíblica)? A interagir e se fundir com o secular de tal forma que não se distingue o aparentemente santo do profano?

Até que ponto, o triunfalismo e o otimismo com as possibilidades de um Brasil evangelizado é realidade ou ficção? Especialmente quando se sabe que a maior parte das pregações têm sido antibíblicas e não-cristãs? É possível se pregar o antievangelho e ainda assim evangelizar em moldes verdadeiramente cristãos? Ou estamos a misturar as coisas, sem saber o que fazemos, guiados por egos inflados, por doutrinas espúrias, com o objetivo de saciar a sanha indolente das criaturas? Sem glorificar o Criador e Senhor?

Há muito tempo se ouve a frase: o Brasil para Cristo! Mas o que pregamos é Cristo crucificado, ressurreto e que está à destra do Pai governando o mundo, ou o anticristo?

Até que ponto, igrejas preocupadas com atividades sociais, de lazer, empresariais, mercadológicas, envoltas pelo pragmatismo e a busca de resultados estatísticos e financeiros podem estar comprometidas com Deus e Sua palavra, ao ponto em que ela transborde e seja impossível não proclamá-la?

Até que ponto, as igrejas estão preocupadas em pregar o arrependimento? E, assim, somente assim, reconhecendo-se nu e miserável o homem poderá quedar-se submisso diante do Deus Todo-Poderoso, santo e justo? Pois sem arrependimento não há novo-nascimento, e sem novo-nascimento como será possível ver o reino dos céus?

Até que ponto, um povo obstinado em rejeitar a Deus pode ser chamado de cristão? Como está escrito: “Feriste-os, e não lhes doeu; consumiste-os, e não quiseram receber a correção; endureceram as suas faces mais do que uma rocha; não quiseram voltar” [Jr 5.3].

Até que ponto, o Evangelho estará soterrado pelo humanismo? E se tornará irreconhecível como a mensagem do Deus Vivo?

Até que ponto, continuaremos assentados confortavelmente em nossas poltronas sem clamar, interceder e orar pelas almas escravizadas do pecado? E por milhões cegados pelo deus deste mundo?

Até que ponto, todo o nosso entendimento e rigor doutrinários estarão realmente a serviço do Reino de Cristo?

Até que ponto, satisfaz o que temos e não o que damos?

Até que ponto, continuaremos soldados na caserna, enquanto a guerra se desenvolve no campo?

Até que ponto, ser cristão é não ser cristão?

O compromisso dos que são de Cristo é seguir os passos do Mestre, para que se dê muitos frutos, senão, será cortado e lançado "onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga" [Mc 9.48]

Quantas vezes é preciso ser vomitado? Por não ser frio nem quente, mas morno? Julgando-se rico, quando se é desgraçado, miserável, pobre, cego e nu? 

“Sê pois zeloso, e arrepende-te” [Ap 3.19].


16 janeiro 2010

Resultado do Último "Sorteio de Livros" e Nova Promoção























Resultado do Último Sorteio:

Os ganhadores da promoção "Sorteio de Livros" organizada pelo site Internautas Cristãos, pelo blog Kálamos e Voltemos ao Evangelho, foram:

1) Kit 1 - "A Soberania Banida" - André Leonardo Venâncio - SP;

2) Kit 2 - "Sansão e Sua Fé" - Reginaldo Santinoni - SP;

3) Kit 3 - "O Peregrino" - Judson Milhomem Silva - PI;

4) Kit 4 - "A Peregrina" - Michelle Ramos Barbosa - PE;

5) Kit 5 - "Nascido de Novo" - Josué Macário dos Santos - PR.

Aos contemplados, parabéns e boa leitura!


    Nova Promoção:

As inscrições já iniciaram, e vão até o dia 14 de Fevereiro de 2010. Serão sorteados 4 kits, assim mais pessoas têm chances de ganhar. Veja os livros que serão sorteados:


KIT 1 - "Sermões em Efésios", de João Calvino - Editora Monergismo







KIT 2 - "Piedade com Contentamento", de Vincent Cheung - Editora Monergismo 








KIT 3 - "Por Que os Homens São Salvos?", de Charles H. Spurgeon - Editora Monergismo









KIT 4 - "Os Dez Mandamentos", de Arthur Pink - Editora Monergismo


08 janeiro 2010

Autofilia





















Por Jorge Fernandes Isah



Tornou-se comum entre os crentes frases do tipo:  

“Não olhe para mim, olhe para Jesus”.

Mas seria ela e suas corruptelas uma verdade?

Digamos que... parcialmente, pois contém apenas uma fração da verdade.

Devemos olhar sempre para o nosso Senhor, pois é Ele quem nos dirigirá, revelando-nos, segundo a Escritura, a Sua vontade [para nós e nossos semelhantes] como Aquele que é o autor e consumador da nossa fé [Hb 12.2]. Contudo, isso não quer dizer que não devamos olhar para os homens, nem aprender com seus exemplos, seja imitando o que fazem de bom, e rejeitando prontamente seus erros, não incorrendo neles, tudo segundo e sob a luz das Escrituras Sagradas.

Muitos se utilizam daquela frase com o nítido intuito de justificar seus erros; alguns até mesmo para encobri-los, quando devíamos seguir o exemplo de Paulo: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” [1Co 4.16].

Estaria o apóstolo tão cheio de si mesmo que proclamaria uma blasfêmia? Comparar-se a Cristo? Estaria envolvido pela vaidade e o orgulho a ponto de afirmar a necessidade dos coríntios serem como ele? Qual o fundamento de Paulo para tal afirmação? Não estaria o homem louco e dominado pela auto-exaltação?

Vejamos algumas características do apóstolo:

1)     Paulo estava crucificado com Cristo [Rm 6.6, Gl 2.20a].

2)     Paulo tinha a mente de Cristo [1Co 2.16].

3)     Paulo tinha o Espírito de Cristo [Rm 8.9].

4)     Paulo era imitador de Cristo [1Co 11.1].

No mundo atual, todos se querem originais, mas são exatamente os que se dizem originais que descambam para as esparrelas do diabo, os velhos ardis com que sempre os pegou; na pretensão de serem, digamos, únicos, singulares, acabam por repetir vulgarmente o que tornou satanás em pai da mentira e homicida desde o princípio, o qual "não se firmou na verdade, porque não há verdade nele" [Jo 8.44].

A mesma originalidade que fez Adão e Eva cairem; Caim matar seu irmão Abel; os homens contruírem a Torre de Babel; desprezarem os alertas de Nóe quanto ao julgamento divino; matar os profetas que proclamavam a Palavra de Deus; convencer Davi a assassinar covardemente um soldado a fim de adulterar com sua esposa; a crucificar Cristo; perseguir a igreja e matar os santos; implementar heresias, corrupções e formatar os antievangelhos com o nítido objetivo de dispersar o rebanho do Senhor, como se fosse possível espalhar aquilo que Cristo juntou pelo poder do Seu sangue na cruz [At 20.29].

Paulo não se envergonhava de ser como Cristo, pelo contrário, ele desejava ardentemente sê-lo, “esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” [Fl 3.13-14]. E o alvo era viver para e pelo Evangelho, o qual chamou apropriadamente de “meu evangelho” [Rm 2.16]. 

Novamente, parece que o apóstolo está envolto em soberba e arrogância, buscando uma autopromoção, porém, creio que para cada um de nós, os crucificados com Cristo, o Evangelho é nosso também, pois por ele fomos salvos, vivemos e seremos glorificados eternamente.

Antes de jactar-se em si mesmo, Paulo estava a glorificar Cristo, arraigado ao desejo de se parecer e ser semelhante ao seu Senhor. Ao invés de orgulho e vaidade, temos submissão e obediência, ao ponto de o termo “imitador”, algo tão desprezível em nossos dias, ser apontado por Paulo como uma virtude, uma qualidade dos que estão em Cristo, e são guiados por Ele.

Então, quando o apóstolo exorta a igreja a imitá-lo, o faz pelo privilégio de pertencer a Deus, mas não somente por isso, mas porque vivia não mais ele, mas Cristo nele; e a vida vivida na carne, vivia-a pela fé do Filho de Deus, o qual o amou, e se entregou a si mesmo por ele [Gl 2.20b]. O apóstolo tinha o legítimo direito de admoestar os crentes a serem seus imitadores, assim como ele era de Deus, pelo amor com que Cristo o amou em oferta e sacríficio a Deus [Ef 5.1-2].

E nós? Podemos pedir para que os irmãos nos imitem assim como imitamos Cristo? Ou nossa consciência nos diz para eles não fazerem isso? Por quê? Não será que nos esquecemos de seguir o exemplo de Paulo e imitar o Senhor? Ou estamos preocupados demais em imitarmos a nós mesmos, em nossas mentiras, orgulhos, vaidades, pretensões e objetivos nitidamente antibíblicos?

Se Paulo não vivesse a verdade seria facilmente confrontado. Não teria a autoridade apostólica reconhecida. Nem teria suas epístolas citadas por Pedro como parte das Escrituras. Se Paulo tivesse uma falsa vida cristã seria rejeitado pela igreja, a mesma igreja que o acolheu e reconheceu a regeneração operada pelo Espírito Santo naquele que antes a perseguia.

Na verdade, quando alguém afirma: “Não olhe para mim, olhe para Cristo”, está rejeitando em seu coração o próprio Evangelho; está se colocando vergonhosamente como alguém que não precisa seguir exemplos, e nem mesmo pode ser um; que se considera autosuficiente em si mesmo, e pode recusar qualquer conselho, exortação ou ensinamento, pois não se deve olhar para mais ninguém; e nisso, muitos acabam erroneamente por segui-lo... Contudo, Deus é um desconhecido para essa espécie de crente, o que nos levará inevitalmente à seguinte pergunta: como esse “super-homem” pode olhar exclusivamente para o Senhor, conhece-lO e a Sua vontade, se não se enquadra nas características de Paulo?

Ele:

1)     Não está crucificado com Cristo.

2)     Não tem a mente de Cristo.

3)     Não tem o Espírito de Cristo.

4)   Não é um imitador de Cristo.

É possível?

Como está escrito: “haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos... Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” [2Tm 3.1-2,5].

Assim se constrói uma mentira, a de que não devemos seguir os homens, nem ouvi-los, nem lê-los, nem espelharmos naquilo que de bíblico fazem. Ao contrário dos irmãos de Beréia que ouviam Paulo atentamente, mas confirmavam se tudo o que dizia estava nas Escrituras, a maioria está mais preocupada em viver uma vida à margem da Bíblia. Como bandoleiros e usurpadores da palavra; como se o testemunho cristão fosse algo irrelevante, descartável, inalcansável. E, nisso, tentam fazer de Deus mentiroso, para a própria condenação.

É uma via de mão-dupla:

1)     Não se segue ninguém, porque assim pode-se viver a vida que quiser, à revelia da Escritura, sem que nada ou alguém o leve a imitar Cristo;

2)     E não se corre o risco de ser imitado, e assim não é necessário aprimorar-se na palavra e no conhecimento de Deus. Pode-se ser o que sempre foi sem medo de ser importunado.

Sendo ainda possível:
1) Se considerarem em tão grande conta no seu orgulho que desprezam a igreja. Dizem:  "Ela não é perfeita... ninguém é perfeito... então, por que devo olhar para os homens?"

Esquecem-se de que a igreja julgará o mundo juntamente com o Senhor, e de que, se não olharmos para ela, com seus erros e acertos, sendo capazes de apreender o bem e rejeitar o mal, não haverá purificação, porque Deus utilizará exatamente os meios humanos para torná-la santa e perfeita. De tal maneira que a multiforme sabedoria divina seja agora conhecida dos principados e potestades nos céus, através da igreja, "segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor" [Ef. 3.10-11].

A falácia do não seguir os homens está em acordo com o individualismo, o egoísmo e o humanismo que têm permeado a igreja nos últimos tempos. Já imaginou se os discípulos do Senhor tivessem esse pensamento, visto ser Jesus homem (sem se esquecer da sua deidade)? Já imaginou se os discípulos, pelo fato dEle ser também humano, desprezassem seus ensinamentos e mandamentos? E como a igreja se iniciaria, progrediria, sendo pastoreada por homens simples e incultos como Pedro, Tiago e João? Mas, que tinham a sabedoria que vinha do céu? Haveria uma Igreja de Cristo? Haveria proclamação do Evangelho? Haveria salvação? Santificação? E Cristo teria um corpo? E o Noivo, a Noiva?

O Evangelho foi pregado por homens divinamente inspirados e guiados. Hoje, o Evangelho progride por homens igualmente inspirados e guiados pelo Espírito Santo. Assim como devemos orar e clamar a Deus para que Ele nos capacite e aperfeiçoe ao ponto em que outros sentirão o desejo de nos imitar. Não para a nossa glória pessoal, mas para a glória de Deus, que a cada dia nos faz mais semelhantes ao Seu Filho Amado, Jesus Cristo. Se você não crê nisto, a sua fé está posta em outro deus, não no Deus Vivo e Todo-Poderoso.

Não seguir os homens naquilo em que são bíblicos, fará seguir os que não são bíblicos. E esta não é a vontade de Deus, mas somente outra forma do maligno aprisioná-lo.

Nota: Autofilia = estima exagerada por si próprio; egolatria  (Do gr. autós, «próprio» +philía, «amor; amizade»)

02 janeiro 2010

Perdas e Ganhos

 













Por Jorge Fernandes Isah 

Quase todo mundo se dispõe a fazer um balanço de fim-de-ano.  Mesmo que irrefletidamente, muitas conclusões são tiradas, e de forma geral, consideramos o ano produtivo se houve algum “ganho” substancial em nossa vida, seja financeira, profissional, acadêmica, familiar... Por outro lado, tem-se a impressão de “perda” quando há um revés e nos endividamos, somos demitidos, vamos mal na faculdade, ou existem sérios problemas em casa, seja a morte, a doença ou desequilíbrios gerais. É sempre assim. E para afogar as tristezas ou comemorar a esperança de futuras conquistas, enche-se a cara e a pança de muita bebida e comida, os ouvidos de música (invariavelmente, de péssimo gosto), o ambiente de gritos e foguetes ensurdecedores. Poucos se submetem ao silêncio, à reflexão, a oração e agradecimentos.

No exato momento em que escrevo este texto, há uma disputa açular entre os meus vizinhos, para ver quem tem o som mais potente, o pior gosto musical e a maior falta de educação. Tudo neste mundo tem sido muito barulhento, espalhafatoso, brutal e detidamente sem escrúpulos; ao ponto em que boa parte da igreja evangélica se rendeu aos apelos seculares, seja com carros de som e suas centenas de decibéis propagandeando esse ou aquele culto libertador, esse ou aquele pastor curador, esse ou aquele show abençoador, essa ou aquela promessa sedutora... ou a chacota nas rádios, tvs, e a impudência de muitos púlpitos. A maioria deles não passaria pelo Código de Defesa do Consumidor, e seria facilmente enquadrado nos casos de propaganda enganosa. Promete-se o céu quando se vende o inferno e as mais abissais masmorras...

Mas o assunto é outro. 

Na verdade, como todo mundo, decidi fazer um balanço da minha vida. Não no crepuscular e já defunto 2009. Mas no primeiro dia de 2010. E onde cheguei?

Apesar de virar a noite em oração, em leituras bíblicas, em entoar hinos do Cantor Cristão, sinto que é muito pouco. É claro que não estou a desmerecer a comunhão com Deus pela oração, nem o conhecimento da Sua vontade pela Escritura, nem de louvá-lO pelo hinário. Não é isso. Acontece que Deus tem sido demasiadamente misericordioso para comigo, ao ponto em que tenho percebido o crescimento intelectual e racional através da Bíblia, ainda que apenas esteja engatinhando [1]. Sei que pela ação do Espírito Santo tanto o conhecimento divino como a Sua vontade têm sido revelados. Não por algum mérito ou esforço pessoal, mas, como disse, pela exclusiva e infinita misericórdia e bondade divinas.

Do ponto de vista teórico, Deus tem me capacitado a entender e compreender a verdade, como opera e os propósitos que alcançará infalivelmente. Porém, fiz-me a seguinte pergunta: estou mais semelhante a Cristo? O quanto de Cristo foi acrescido a mim, para parecer mais com Ele e menos comigo? A resposta foi: ainda que tendo a mente de Cristo, falta-me muito, mas muito mesmo para, um dia, ser conformado à Sua imagem. O que me trouxe inicialmente esmorecimento e tristeza... vergonha mesmo, pois, espiritualmente, sinto-me estagnado, inerte, sem produzir os frutos necessários a glorificá-lO através da minha vida. 

Falei de Cristo para as pessoas? Sim. Aconselhei crentes e incrédulos segundo a Sua palavra? Sim. Orei por muitos? Sim. Distribui Bíblias e livros? Sim. Amei, servi, fui paciente, auxiliei? Sim, claro que sim! Então, porque me sinto frustrado? Não seria porque a maior parte do tempo estava envolvido com os meus problemas, comigo mesmo e não tive tempo ou não quis orar? E acabei por orar muito menos do que podia e devia? Não tive tempo ou não quis meditar na Escritura, e acabei por negligenciá-la? Não tive tempo ou não quis visitar um enfermo, e acabei por esquecê-lo? Olhei para aquele homem ou mulher que necessitavam do Evangelho, e silenciei-me? Não levei esperança a quem precisava de esperança, e egoisticamente guardei-a para mim? Por timidez, medo ou vergonha não intervim e refutei os ignorantemente blasfemos? Por esses e outros motivos não fui neste dia e no ano nada mais do que um covarde, acomodado em minha fé, em minha salvação, acreditando estupidamente que essa é a vontade de Deus. Mas não é, “porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29]

O que Deus quer é que eu viva como um eleito, como co-herdeiro de Cristo, e a segurança seja para mim o estímulo ao trabalho e não uma espécie de aposentadoria prematura [2Pe 1.10]. Se o crente negligenciar a sua eleição, ele não é um escolhido; pois dele se espera coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, porque Deus não é injusto para se esquecer da obra e do trabalho realizado por amor do Seu nome [Hb 6.12].

Sei que não depende dos meus esforços eu ser como Cristo, no sentido de que efetivamente não posso produzir uma nova natureza e semelhança com o meu Senhor, porém, isso não me exime de desejar sê-lo, e imitá-lo, cumprindo assim a vontade de Deus, tornando meu o que é dEle [Ef 5.1]

Não é um desabafo, mas uma constatação. Nem tampouco uma demonstração de auto-indulgência, mas a certeza de que em mim não há nada que agrade a Deus, pois com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” [Rm 7.18]. Exatamente porque o bem somente se concretizará na minha vida pelo poder de Deus operando em mim, e não por alguma possibilidade de produzi-lo por meios próprios, seja pela vontade, seja por algum dom ou exercício. Se Deus não o fizer, nada que eu faça resultará no bem. Foi assim que o Senhor disse a Paulo: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” [2Co 12.9a]. Ao que o apóstolo respondeu: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” [2Co 12.9b].

Tudo em nossas vidas é sempre obra de Deus. Não importa se eu quero, faço ou desejo, porque Deus é o que opera tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade [Fp 2.13]. Contudo, alheio à questão da liberdade, eu tenho de querer, desejar e fazer, senão serei responsabilizado por minha desobediência em não querer, não desejar, não fazer. No final, o que importa é isso: viver segundo a vontade de Deus [1Pe 4.2], gerado pela palavra da verdade, para ser as primícias das suas criaturas [Tg 1.18],  aperfeiçoando-me em toda a boa obra, operando em mim “o que perante ele é agradável por Cristo Jesus” [Hb 13.21].

Portanto, quero continuar a ler, meditar e aprender nas Escrituras, “segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus” [2Tm 1.1], pedindo para ser cheio do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para andar “dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus... dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz” [Cl 1.9-10, 12]; para ser o homem perfeito em Cristo, assim como Cristo é perfeito e nos tem por cumprimento da Sua promessa: “quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” [1Jo 3.2 b].

Neste ano, mais do que nunca, que eu possa considerar todas as coisas como perdas para ganhar a Cristo [Fp 3.7].

Nota: 1- Não podia esquecer de agradecer pela vida dos autores de obras impressas e virtuais, bem como a muitos irmãos e amigos que têm sido auxiliadores no conhecimento de Deus, Sua obra e vontade. Não é possível citar um a um, mas o bom  Deus conhece aqueles que o amam, "sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer" [Ef 6.8].