02 abril 2009

DUAS PARALELAS NÃO SE CRUZAM




Por Jorge Fernandes


    Há alguns meses, venho pensando na questão da Igreja. Não falo da igreja nominal, a igreja apóstata, liberal, relativista, amoral, emergente, e antievangelho de Cristo. Não. Desses não há muito o que falar, estão no mundo, se refestelam nele, e não querem largar o osso de jeito nenhum; "são cegos condutores de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova" (MT 15.14). Para eles, tudo não passa de visão; o que, para mim, é a falta dela, a cegueira completa, a escuridão total em que o homem natural se encontra, em conluio com a carne que os levará à perdição final (Gl 6.8); caso o Espírito Santo não lhes tire a venda e revele-lhes a luz do nosso Senhor Jesus Cristo, pois "agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Rm 8.1).

    Não, não é desses que desejo falar, mas da Igreja verdadeira, pela qual Cristo morreu. Vivemos momentos conturbados que, no mínimo, nos levam a uma espécie de indecisão, mesmo para os que procuram e querem servir a Deus. O mundo rejeitou definitivamente qualquer opção de ouvir e obedecer à sabedoria divina. Pelo contrário, tem prazer em se rebelar contra ela e tudo o que é de Deus. Desprezam a Escritura e a Sua Lei; zombam do Seu poder e glória; consideram-se sábios em sua arrogância, pretenção e devassidão, quando não passam de tolos e loucos porque "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1Co 2.14).

    Há irmãos sinceros e que se esforçam em buscar o servir a Deus, ainda que nenhum de nós possa ser chamado de útil; "Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer" (Lc 17.10). Mas mesmo assim, muitas decisões são tomadas precipitadamente, e outras proteladas ao esquecimento. Deus nos deu a medida certa, o Espírito Santo, e cada um deve pedir a Ele sabedoria, entendimento e compreensão da Sua vontade (Tg 1.5), ao invés de gastá-lo com solicitações supérfluas e o regalo. O que mais carecemos nesse momento é de ter a mente de Cristo, e sermos guiados por ela, que é espiritual e discerne bem tudo, e por ninguém é discernida (1Co 2.15).

    Sei que as dificuldades são muitas: estamos na carne, somos imperfeitos, incompreendidos, e temos um inimigo que se utiliza de armamento pesado contra nós, e encontra em nossa natureza pecaminosa o terreno propício para o ataque. Há lutas, perseguições e injustiças; e se olharmos a outros lugares (em especial o mundo islâmico e comunista), veremos crentes perdendo tudo: bens, família e a própria vida por amor a Cristo e Seu Evangelho. Diante desse quadro, e da possível perseguição aos crentes no Brasil, como agir? (a PLC 122 pode implantar uma ditadura gay no Brasil, onde Deus pode ser criticado, o Presidente pode ser criticado, qualquer um poderá ser criticado, somente os homossexuais não poderão sê-lo em sua impiedade).

    Não importa o que eu penso ou qual é o desejo do meu coração. Não importa se o Júlio Severo autoexilou-se ou há pastores detidos por pregar a Palavra. É claro que fatos como esses nos pertubam, nos entristecem e, mesmo, nos causam indignação. Mas devemos ser guiados pelas emoções? Ou obedecer a Deus?

    Eu mesmo me vejo numa cruzada "santa" contra todos os pecadores, contra todos os blasfemadores, contra todos aqueles que afrontam a Deus e Sua palavra. E me esqueço de que, um dia, por muitos anos, fui inimigo de Deus, blasfemei contra o meu Senhor, e rejeitei-O com o que de mais insano e doentio havia em mim. Mas pela Sua providência, Ele me amou eternamente, e me preservou de mim mesmo, guardando-me para o instante em que operou no meu coração, regenerou-me, colocando-me aos pés de Cristo, meu Senhor.
Por muitas vezes, me perguntei o que a Igreja estava esperando para agir. Porque mantemos um estado de inércia enquanto o mundo e o diabo querem nos destruir. Por alguns momentos, o meu calvinismo e o entendimento racional da soberania de Deus não desceu ao meu coração, e acreditei que devia tomar as rédeas da situação com as próprias mãos. Esqueci-me de que Deus é soberano sobre tudo e todos, e de que nem mesmo uma folha de árvore cai sem que Ele queira, o qual não precisa de defesa; e nem mesmo eu preciso de defesa, pois Deus cuida de mim de uma forma que jamais poderei fazê-lo, tanto ativamente me protegendo, como na provisão de Sua sabedoria (na escolha dos caminhos e atos pelos quais obedece-lO-ei).

          Abre parêntese: 
O conjunto de doutrinas bíblicas chamadas de calvinismo não servem apenas como deleite intelectual, nem como um mero conhecimento teórico, onde as generalidades se opõem à prática. Como princípio bíblico tem de ser aplicado em nossa vida diariamente e, por ele, refletir no que nos levará à obediência a Deus. 
         Fecha parêntese.

    Então, o que devemos fazer? Protestar, ir às ruas, bloquear estradas, queimar pneus, estender faixas e fazer abaixo-assinados? Pode ser que sim. Mas sobretudo orar, para que Deus nos capacite a servi-lO.

    Cristo nos deu dois mandamentos: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes" (Mc 12.30-31).

    Portanto, devemos guiar-nos pela santa e bendita palavra de Deus, a qual nos exorta a crer que Deus é o único que opera em todo o universo, e de que em nada adianta opor-se à Sua vontade: "Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos" (Zc 4.6). Implica em que tudo acontecerá conforme a ação do Espírito de Deus, tanto o bem como o mal, sem que o homem possa intervir ou alterá-lo, sendo simplesmente instrumento do amor, justiça ou da ira de Deus.

    Quem nos convence do pecado? Da inimizade com Deus? Do sacrifício salvífico de Cristo? De que somos justificados nEle? O Espírito! Quem nos revela a Verdade, nos faz santos, e nos conduz aos caminhos do Senhor? O Espírito! O qual nos leva à Palavra, nos forja e transforma à semelhança do Senhor Jesus. Seremos um dia ressuscitados? Teremos um corpo glorificado? Feito santos, sem pecado? Louvaremos a Deus eternamente? Pelo Espírito Santo é que somos novas criaturas em Cristo, e por Ele somos guiados a entender que não temos mais parte com o mundo, e de que as coisas velhas se passaram, eis que tudo se fez novo (2Co 5.17).

    Não quero dizer que devemos esperar o próximo vôo à Marte mas que, antes de pegarmos em armas (aqui representam todo e qualquer método de defesa, ainda que retórico), urge que se pregue o Evangelho. Por que se como Igreja sofreremos (se essa for a vontade de Deus), que seja em obediência, pregando e testemunhando a Cristo. De que adianta a apologia sem Cristo? Não estaremos negando o que somos e voltando ao que éramos? Ou tememos padecer?... "no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jo 16.33). Paulo escrevendo a Timóteo diz: "Por isso sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa. Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna. Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo" (2Tm 2.10-13).

    Podemos dizer que Paulo era um covarde? Que não se rebelar contra a injustiça e cruedade humanas tornava-o um acomodado? Pode-se questionar a inteligência de Paulo? E sua sabedoria? E fé? Não foi ele quem disse: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim" (Gl 2.20)?; e ainda: "E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho; De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; E muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor" (Fp 1.12-14)?

    O sofrimento do apóstolo não era por Cristo e o Evangelho?

   Bem, alguns dirão que devo contextualizar o que Paulo disse com a sua época, já que agora as coisas são diferentes. Mas em quê? Se creio na infalível e inerrante palavra de Deus, se quero viver por ela, e se creio que o que era bom para os apóstolos é bom para mim, a Escritura não é suficiente para me convencer? Preciso me agarrar a uma corda imaginária enquanto me vejo cair? Não estarei usando os mesmos métodos do passado? De quando tinha por pai o diabo? Desculpas para encobrir meus erros, e não me fazer obediente a Deus? Ainda que disfarçadas, dissimuladas, de uma pretensa defesa da fé?

    A única defesa verdadeira do cristão é pregar e viver o Evangelho de Cristo, e isso somente a Igreja pode fazer. Qualquer outro objetivo, desde a realização pessoal à mais tênue ignorância, não tem nada a ver com a Verdade, mas com aqueles que "pregam a Cristo por inveja e porfia" (Fp 1.15), que mesmo citando a Escritura o fazem em pecado, e para a própria condenação.

    Assim como duas paralelas não se cruzam e estão equidistantes, a Igreja e o mundo jamais se convergem; e nada pode aproximá-los, pois não há ponto em comum... Ah, desculpe-me, existe uma similaridade: Cristo, ao morrer na cruz, salvou a Igreja e condenou o mundo.

27 março 2009

LEI & ORDEM




















Por Jorge Fernandes

Parece o título de um folhetim de tv; onde o mal dá as cartas, permite que o bem ganhe uma ou outra partida, mas ao final do jogo o vitorioso será sempre o mal; bastando que se dê algumas opções ao homem, e que ele escolha-as segundo os seus padrões, para que o caos seja instalado, perpetrado, extrapolado. Essa é a sua principal arma: deixar que o homem decida-se por si mesmo, e se jogue de cabeça no buraco sem fim que cavou com as próprias mãos. Não é assim o mundo? Onde as pessoas esperam tirar proveito da virtude quando buscam e se esmeram no que é nocivo? Como diz o salmista: "Não me arrastes com os ímpios e com os que praticam a iniqüidade; que falam de paz ao seu próximo, mas têm mal nos seus corações" (Sl 28.3). Não há refúgio para o bem no íntimo dos homens, antes "não dormem, se não fizerem mal, e foge deles o sono se não fizerem alguém tropeçar" (Pv 4.16).
Há os cegos que não vêem, e não querem ver essa condição e vivem na ilusão de que a essência humana é venturosa, e os perversos, casos raros de "inocentes" cujas culpas não lhes pertencem mas são resultados do meio, da conjunção desfavorável de fatores ambientais, culturais e sociais (popularmente conhecido como "azar"), os quais não permitiram à bondade florescer, pelo contrário, conduziu-os à improbidade, coitadinhos.
Há os que crêem na regeneração humana, fruto dos esforços pessoais de profissionais "infallibiles", de técnicas comportamentais indiscutíveis, e métodos científicos que levarão o perverso a acreditar-se santo, até que todo o aparato psicológico-terapêutico mostre-se ineficaz e estulto quando, diante da escolha, sua inclinação o levará à queda, pois "os seus pés correm para o mal, e se apressam para derramarem o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniqüidade; destruição e quebrantamento há nas suas estradas" (Is 59.7).
E ao serem confrotados por suas tolices, escondem-se na condicionalidade do tratamento: Antes, inquestionáveis; depois, imprecisos. E assim caminha a humanidade, "porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas" (Jo 3.20).
Está claro por que o mal subsiste: Num mundo sem ordem, todos estão certos e ninguém tem razão; por que o padrão não é absoluto, pelo contrário, rejeita-se o modelo fundamental, cujo princípio é a verdade e normas estabelecidas por Deus. Ao negá-las, o ponto de partida é sempre o do homem "livre" passeando por um universo relativo, onde o próprio conceito de liberdade não existe. São tentativas de se atravessar paredes sem crer que elas existam; então, como atravessá-las?
Dissimulada e cinicamente, é o mesmo que dizer: não há paredes, mas caso houvesse, poderíamos transpô-las, como não existem, contentemo-nos com a possibilidade de atravessá-las. Ou seja: o homem se tornou refém da própria mentira, aquele fosso que diz inexistir, mas de onde não consegue sair, pois em si mesmo apenas afundará mais e mais.
Porém, que mal é esse? Uma força, uma entidade, uma vontade? O mal tem nome e sobrenome: Satanás, o pai da mentira, de quem Cristo diz: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44). O Senhor falava aos filhos da perdição, aqueles que eram influenciados pelo diabo, mas que desejavam o mal com a mesma disposição com que ele anelava. Da mesma forma que Satanás é culpado por desejar e praticar o mal, o homem também não é inocente. E assim a sua rebeldia afastou-o tanto de Deus, ao ponto de não considerar mais o significado da verdade e vida; ele reconhece somente a mentira e a morte, declarando-as a própria imagem de si mesmo, ainda que não as confirme autênticas, legítimas, em seu coração escorregadio. Porém, nenhum artifício afasta-lo-á do julgamento de Deus, porque todos estaremos "perante a face do Senhor, porque vem a julgar a terra; com justiça julgará o mundo, e o povo com eqüidade".
Por que o homem se aproximou tanto do caos? Por que Deus é ordem, e em sua teimosa oposição, o homem desprezou-O, preferindo a confusão. Deus estabeleceu leis pelas quais o homem, observando-as, viveria pacificamente, e a sociedade em disposta justiça. Por isso, após a Queda de Adão no Éden, quando desobedeceu à lei de não comer da árvore do bem e do mal (
"porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" [Gn 2.17]), enganado que foi pela serpente, a qual induziu-o a cobiçar o pecado que havia em seu coração, a humanidade se tornou abominação para Deus, o qual viu "que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração" (Gn 6.5)*.
Para reger as decisões humanas, o Senhor deu-nos a Sua Lei, que estabelece o que não devemos fazer, o pecado (negativamente), e o que devemos fazer, o certo (positivamente), visto o homem ter apagado em seu coração a Lei Natural (Rm 1.18-21),
"o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos" (Rm 1.21-22).
A Lei Moral percorre por toda a Escritura, mas pode ser resumida pelos Dez Mandamentos, que foram entregues por Deus a Moisés no Monte Sinai (Ex 20.1-17) para que o temor de Deus esteja diante de todos,
"a fim de que não pequeis" (Ex 20.20). Contrário à verdade, o homem desprezou a sabedoria de Deus, entregando-se as suas regras injustas, ao pecado, encerrando a falsidade no recôndito da sua alma, como o produto final de toda a estupidez humana, "que detém a verdade em injustiça" (Rm 1.18). Ainda que o Senhor em sua misericórdia e bondade tenha alertado incontáveis vezes os homens a se converterem dos maus caminhos e das más obras; "não ouviram, nem me escutaram, diz o Senhor" (Zc 1.4); permanecendo mortos em suas ofensas e pecados. Por isso, cada homem e mulher serão julgados. Deus, do alto do Seu trono onde está assentado perpetuamente, "já preparou o seu tribunal para julgar" (Jr 9.7), e "Ele mesmo julgará o mundo com justiça; exercerá juízo sobre povos com retidão" (Jr 9.8).
Mas ainda não é o fim. Quer dizer que o caos e o mal venceram? Não houve a mínima chance para o bem e a ordem? Há um ditado que diz que as aparências enganam. Não sei em outros casos, mas especificamente neste, tudo o que vemos, mesmo a desordem e o pecado, estão em perfeita ordem com tudo aquilo que Deus estabeleceu na eternidade. Nenhum pecado, nenhuma mentira, nenhum engano, nenhuma maldade surpreende ao Todo-Poderoso, que os decretou como forma de manifestar a Sua ira e justiça (Rm 9.22). Para esses, que perpetraram o mal, deleitaram-se nele, acaletaram-no como uma anomalia ardentemente esperada, e deles fluiu como a mais imperfeita das aberrações, a fim de encherem sempre a medida de seus pecados, os "que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo" (Is 5.20) sem arrependimento, "se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição" (2Pe 3.7).
Contudo, os que buscam o Reino de Deus e a Sua justiça (Mt 6.33), encontrarão a ordem e a santidade em Cristo, o qual é "o caminho, e a verdade e a vida" (Jo 14.6), e ninguém vai ao Pai senão por Ele.

Logo, Deus decretou a desordem e o pecado, para que em Seu Filho Amado o pecador descobrisse, e fosse-lhe reveladas a ordem, a santidade e a justiça; e o bem, ao contrário dos folhetins de tv, triunfou na cruz do Calvário, tornando maldição em bênção (porque todo aquele que subir no madeiro será maldito); e na Sua ressurreição, Cristo venceu o mal e o caos, o pecado e a morte, para cumprir em Si mesmo a Lei, e fazer-nos perfeitos nEle (Cl 2.10).


* Na verdade, Deus não se arrepende (Nm 23.19; Os 13.14; Tg 1.17), o que há aqui é Ele expressando-se de forma humana (antropomorfismo), em uma linguagem humana, a forma pela qual entendemos e percebemos o desagrado de Deus com o homem e suas atitudes. Portanto, Deus não se arrependeu de criar o homem que, ao relacionar-se com o Criador de maneira ímpia, levou-O a revelar o Seu desgosto com a maldade.

16 março 2009

A NÃO-RELATIVIDADE DO PECADO


















Por Jorge Fernandes

Na era pós-moderna, em que a sociedade é guiada pelo conceito relativista-materialista, o homem é visto como um amontoado de genes, e suas atitudes estão diretamente ligadas à combinação dos genes, hormônios, e a interação deles com o meio natural e social em que vive. Segundo esse padrão, o homem é resultado de agentes biológicos/hereditários, químicos e ambientais; e assim explica-se os seus atos, os quais são conseqüência direta desses fatores. Tal pensamento visa tirar do homem o senso moral, e suprimir-se Deus, o criador da Lei Moral, pela qual o homem se revela iníquo, e culpado pelos seus pecados. Desta forma, está-se livre para praticar a dissolução e impiedade descaradamente, o "salvo-conduto" que o tornará inconsequente e irracional, fugindo de qualquer responsabilidade que não seja a de pecar, o vínculo suícida com o delito, que culminará na própria destruição.
O ceticismo aboliu a idéia do pecado como ato condenável e condenatório, não podendo ser julgado pela moral cristã, visto ser ao homem impossível resistir às "forças" bio-químico-sociais, as quais está exposto. Como os animais, o homem é refém do seu instinto, não podendo resistir-lhe. Este conceito é o que chamo de a "cara-de-pau" do pecador; por que, diferentemente dos animais, o homem possui uma alma imortal, e ela é capaz de conter e deter os seus impulsos pecaminosos. É claro que esta não é uma definição mas uma dedução, e se aplica apenas àqueles que são regenerados pelo Espírito Santo, mas o objetivo principal é o de diferenciar o homem e sua mente do animal e seu instinto. Muitos podem dizer que o animal é por vezes mais racional que o homem em sua irracionalidade. Pode ser. Mas o fato é que a Bíblia indica os atos imorais humanos como pecados, por isso a necessidade da Lei Moral, a qual distingue nossos atos (e por conseguinte, nós) das demais criaturas.
Por outro lado, o homem somente poderá se conter e deter os seus impulsos pecaminosos pelo poder e pela graça de Deus, ao transformar o coração de pedra em coração de carne; em outras palavras, Deus operará a conversão e o novo-nascimento no homem caído, e pelo poder de Cristo, o homem é justificado, absolvido dos seus pecados, e feito santo.
Se o homem tivesse se mantido puro e perfeito no Éden como Deus o criou, à Sua imagem e semelhança, não haveria o pecado, nem condenação (não entro no mérito de como isso se daria, porque o “se” aqui tem a idéia de hipótese não realizável, uma conjectura, visto Deus agir no homem e na história conforme Sua vontade decretada na eternidade).
O mundo moderno vê o pecado e o mal como resultado natural do que somos. Porém, as Escrituras nos revelam que o mal e o pecado são conseqüências daquilo que nos tornamos ao rebelar-nos contra Deus, ao rejeitar Sua autoridade, supondo-nos capaz de ser como Ele. Ao opor-se a Deus, deliberadamente o homem aliou-se ao mal, teve corrompida a sua natureza, fazendo-se antinatural, uma abominação.
Cristo veio restaurar o que se havia perdido, veio restaurar em nós a imagem de Deus que havia sido maculada e deteriorada por Adão e Eva. Por Ele ser o homem perfeito, puro, santo e sem pecado, ao morrer na cruz do Calvário, substituiu-nos, pagando o preço da nossa desobediência, dos nossos pecados e, então, fomos regenerados, santificados, purificados e transformados novamente à imagem e semelhança de Deus.
Então, o pecado não é relativo: por ele estamos mortos para Deus; por ele virá a condenação eterna; por ele Cristo morreu na cruz... e, por Ele, muitos serão justificados e salvos.
Glória eterna a Jesus Cristo, o nosso bendito Senhor e Salvador!

14 março 2009

PECADO: UMA TRAGÉDIA!














Por Jorge Fernandes

Diante da imoralidade e da cegueira que campeiam no país, onde os valores cristãos têm sido constante e pertinazmente desprezados e substituídos pela falácia humanista/marxista, onde a verdade se tornou relativa a ponto do mal quase não mais incomodar ninguém (a não ser os que sofrem diante da ilusão de que o homem é bom e somente precisa ser compreendido e aceito como tal para que “toda” a inclinação para o bem que não possui se manifeste), alguns blogs discutiram a polêmica do aborto da menina de 9 anos estuprada pelo padrasto em Recife, e que somente se tornou uma controvérsia porque os padrões absolutos de Deus e Sua sabedoria são sistematicamente substituídos pela crença no homem e sua parvoíce.
Certamente, se não houvesse o desdém aos princípios bíblicos, casos como esse não aconteceriam (nem mesmo se chegaria ao estupro, quanto mais ao aborto dos gêmeos), porque Cristo é a verdade e, fora dele, há apenas mentira e fraude. Mas enquanto o homem permanecer cego, o que lhe resta ver a não ser as trevas?
Abaixo, transcrevo alguns dos comentários que fiz em blogs cristãos, cujos links de acesso encontram-se no final de cada um dos textos.
“Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do Senhor. Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos, e que o buscam com todo o coração. E não praticam iniqüidade, mas andam nos seus caminhos. Tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos... Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl 119.1-4;8).
Que assim seja!

1) COMENTÁRIO AO TEXTO DO PRESBÍTERO SOLANO PORTELA NO "TEMPORA-MORES"

Solano,
Por que os abortos são legitimados? Como você disse, porque a nossa consciência é antropocêntrica e não teocêntrica. Se a Bíblia fosse não somente a regra de fé, mas a regra moral e ética da sociedade, certamente tal crime não seria cometido. Quando uma sociedade relativiza a vida e a morte, o que se pode esperar dela? Quando os parâmetros são dúbios, incoerentes, pautados pelo “vale-tudo” (a)moral, há poucas chances ou nenhuma para o certo. E o pecado se torna inofensivo, indolor, anestesiante, ainda que o homem se deleite na própria destruição.
De certa forma, somos culpados por essas mortes; quando aceitamos em nossas igrejas que irmãos afastem-se da palavra de Deus e adotem uma postura humanista/liberal sem que sejam exortados e/ou disciplinados à obediência divina, ao Evangelho de Cristo. Quando se oferecem "cristos" baseados nas concepções humanas, e não o Cristo da Bíblia, o qual é único, não há esperança para a vida, apenas morte.
O arcebispo errou ao condenar o aborto? Não. Ele conhece as Escrituras? Provavelmente, não. Mas muitos de nós usam a Bíblia desonesta, espúria, corruptamente, a fim de justificar pecados e crimes como o homossexualismo, o aborto, o divórcio e o novo casamento, entre outros. Não querem perder o contato carnal com o mundo, nem rejeitá-lo, mas viver nele com o endosso e aquiescência de Deus, como se fosse possível. Não querem guerra, nem inimizade com o mundo, mas tornarem-se aliados.
A tristeza é que, casos como esse, acontecem diariamente em nossas cidades, sem que ninguém se importe. Recentemente, no interior de Minas, uma menina de 10 anos engravidou-se do padrasto (e aí não estaria parte do erro? Mães e pais que colocam as suas prioridades acima das dos filhos e filhas?), o qual foi preso, mas a família optou pela vida, e não pela morte do bebê. Enquanto a sociedade for permissiva e proteger os bandidos, nós continuaremos vítimas, e fazendo-nos de vítimas.
Abraços.
(a discussão enfim, migrou para a pena de morte, a qual fiz algumas considerações)

2) COMENTÁRIO AO TEXTO DO JÚLIO SEVERO EM SEU SITE

Júlio,
Concordo com tudo o que disse, porém, a questão é muito mais grave, pois os males sociais estão diretamente ligados ao desprezo a Deus e Sua palavra. Se houvesse a aplicação da Lei Moral de Deus, com as punições descritas no A.T., ao invés da indústria do crime fomentada por advogados, juízes, psicólogos forenses, leis inócuas e o sistema prisional inepto, garanto que a criminalidade desceria a quase zero. Temos de entender que os princípios bíblicos não são apenas para os crentes mas para toda a sociedade, cuja sabedoria de Deus entregou-nos a Sua Lei para que o mal fosse restringido. Contudo, o homem crê na sua falsa sabedoria, entrega-se ao racionalismo/humanista/liberalismo/esquerdista, e é vítima dos seus pecados, soberba e estupidez, deleitando-se na própria destruição.
Creio que a crítica maior está reservada à igreja que não tem sido luz no mundo, ao contrário, tem se aliado com as trevas e propalado o padrão iníquo de satanás, ao não somente permitir mas desejar guiar-se por ele.
Enquanto o homem rejeitar Deus e a Sua Lei, estará fadado à morte e a ruína. E cabe-nos, o corpo de Cristo, guerrear contra o mundo e pela verdade, o Evangelho de nosso Senhor Jesus, pois não estamos autorizados a rever os princípios bíblicos, mas a obedecê-los, simplesmente.

3) COMENTÁRIO AO TEXTO DO MARCOS DAVID MUHLPOINTNER EM "MÚSICA, CIÊNCIA E TEOLOGIA"

Marcos,
Concordo com boa parte do que disse, exceção à questão do aborto. A legitimação desse crime, seja qual motivação houver, sempre ferirá a Lei Moral, a qual, para nós crentes, está acima da lei estatal. Muitas vezes são argumentos humanísticos (eivados por uma falsa justiça) que, invariavelmente, tentam desacreditar e invalidar a Escritura Sagrada, e levam os cristãos a guiarem-se pelo pensamento antropocêntrico.
Não sou biólogo, nem médico, mas se fosse, me recusaria a realizar pesquisas com embriões, abortos e cirúrgias de mudança de sexo, ainda que fosse punido pela lei. A questão é se os meus pressupostos são bíblicos, aparentemente bíblicos ou não-bíblicos; o que refletirá diretamente na minha conduta de vida. Se são bíblicos, guiarei-me pela vontade de Deus, nos outros dois casos, a minha cosmovisão é extra-bíblica, e conflita com a revelação divina.
O problema é que a nossa sociedade despreza Deus e a Sua palavra e, como tal, desde o início, mantém-se num estado de rebeldia, onde casamentos são desfeitos e outros arranjados sem se preocupar com a real proteção e necessidade dos filhos (tratando-os negligente e irresponsavelmente), além do quê, há uma irritante tolerância com o criminoso(a). Vivemos uma avalanche de padastros (e pais, mães) que torturam, estupram e matam enteadas e enteados (filhos e filhas), e a origem disso está onde? No desprezo aos princípios bíblicos, os quais são para toda a sociedade, não apenas para o crente (e a maioria de nós quer se ver livre deles, e pecar comodamente).
Portanto, a despeito do apelo emocional e sentimental da situação (realmente triste, sobretudo, porque é uma afronta a Deus), não vejo nada além do que pecadores sofrendo por sua própria rebeldia (não se esqueça de que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" [Rm 3.23], inclusive a menina)

10 março 2009

INFINITO



















Por Jorge Fernandes

Calma, o mar se tornou ainda mais tempestuoso,
Profundo, o sono não pode ser interrompido por ferroadas,
Fuja enquanto se agarra às amarras do mastro,
Lançam-se as cargas, o vento não quer o mar calado,
O silêncio é o medo de lembrar
Que a sorte ruiu como o casco em pedaços.

Calma, o mar não vai se aquietar
Até que as aves dêem voltas na terra,
E se cansem de ruflar as asas,
E recordem que o céu não lhes é permitido,
De que a terra seca é temerária.

Calma, o mar está embravecido,
Por minha causa, a fúria não cessou,
Os remos se perderam na tormenta,
Salva-vidas definharam ao peso das almas viciosas.

Calma, o mar não se aquietará,
Levantai rogos e preces,
Nossas cabeças estão postas sob sangue inocente,
Vede, ele ofereceu-se em sacrifício,
A causa de não ser eu consumido em desgraça.

Calma, deixou o mar a sua ira,
Ele declarou que fez tudo por mim,
Até mesmo o mal sobreveio por sua causa,
E temi... Porque, se enfurecer de novo, o que farei?

Calma, não há como desertar, ninguém há de acolher,
A passar por cima de mim, a gratidão exibida
São lágrimas encerradas por ferrolhos no coração.

Calma, o inferno cercou-me, com a angústia dos perdidos,
Diante dos olhos, os lamentos são falsos sacrifícios,
Como a recompensa do ingrato, o pagamento do estelionatário,
O cordame enrolado ao pescoço, o ofício do morto.

Calma, gritei do ventre a minha oração,
Tornei a ver a sua misericórdia,
Voltou-me a vida às entranhas, a resposta aos ouvidos,
Fui convocado à sua presença, retido no tempo indefinido,
Onde se desenrola irreversível o perdão definitivo,
Como o compasso do andar imutável, sem decorrer o fim.

A obra verdadeira testifica:
Do Senhor vem a salvação.

03 março 2009

ESBOÇO DE UM ESQUEMA












Por Jorge Fernandes Isah

Incipientemente, tentei montar um esquema sobre a soberania de Deus e a criação, conforme exposta na Escritura. Não há uma ordem cronológica na proposta, e ele não quer explicar o dilema infra/supralapsariano (o qual acho irrelevante, tendo-se em vista que o decreto de Deus é único e não tem uma ordem sucessória, pois foi estabelecido fora do tempo. Porém, a proposição mais coerente com a soberania de Deus é o supralapsarianismo, que não conflita com a onisciência e onipotência divinas). É uma síntese do meu entendimento sobre a soberania de Deus e a criação, onde está contido o bem, o mal e a Lei Moral.

Pode parecer um esforço tolo ou pretensioso, mas creio que o entendimento da soberania de Deus é o divisor de águas que nos fará compreender o Senhor, Sua vontade, e a nos sujeitar completamente a Ele em servidão, inclusive, intelectual, ao reconhecer o Seu poder e como age em nossas vidas. E é isso que a Bíblia nos exorta a ser, meditar, compreender e aceitar.


Muitos reputam como algo impossível, mas se Deus nos revelou a verdade na Escritura, e deu-nos conhecê-la pela ação do Espírito Santo, não há porque refugarmos e afastar-nos das questões difíceis. Se essa não fosse a Sua vontade, que conhecêssemos os Seus preceitos, não nos teria dado a Palavra revelada e a capacidade de entendê-la.


Não se deve colocar
"chifre em cabeça de cavalo" e ir além do que Deus nos faz conhecer, mas também não se pode negligenciar e ficar aquém do que Ele quer nos mostrar.

É urgente que se dê a Deus a glória devida, e entendamos que Ele não brinca de gato e rato com os Seus filhos, para, no fim, deixar-nos completamente abatidos, ignorantes diante da Sua palavra; mas deu-nos o poder de conhecê-lO pela Sua vontade, a qual todos estamos submetidos.



ESBOÇO DE UM ESQUEMA:


DEUS (É o ser supremo, e sujeita à Sua vontade tudo e todos, não havendo nada sobre Ele ou que o submeta, nem o bem, nem o mal ou a Lei moral. Portanto, Deus não está subordinado a nada do que criou, ao passo que tudo o que foi criado está-lhe subordinado ativamente)


CRIAÇÃO (Tudo o que Deus criou por Sua vontade, seja para o bem ou para o mal, manifesta a Sua sabedoria) 


BEM (Parte da Criação. Mas, também, atributo inerente de Deus, e o qual a Bíblia afirma ser a Sua natureza por definição)

MAL (Parte da Criação. Do Seu eterno decreto)


LEI MORAL (Parte da Criação. Do decreto de Deus. Por ela temos conhecimento do pecado e da condenação/punição) 


QUEDA E PECADO (Parte da Criação, do decreto de Deus, para que a graça e misericórdia fossem manifestadas na salvação dos eleitos; e a ira na condenação e castigo dos reprovados)


PREDESTINAÇÃO (Tudo ocorre segundo a vontade de Deus, estabelecida antes da fundação do mundo. E nesse contexto soberano, Deus, em Sua infinita sabedoria, destinou alguns homens para a salvação e outros para a condenação eterna) 


ELEIÇÃO E SALVAÇÃO (Deus resgatou o Seu povo por Seu muito amor, que elegeu por filhos, a fim de se revelar a Sua graça e misericórdia, através do sacrifício do nosso Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário, o qual ressuscitou dos mortos corporalmente; e o mesmo ocorrerá com todos os santos salvos pelo Seu sangue em todas as eras)


CONDENAÇÃO (Deus destinou à perdição aqueles que não seriam justificados pelo sacrifício do nosso Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário, os quais seriam endurecidos e mantidos cegados a fim de serem condenados e sofrerem a punição eterna no fogo do inferno, a fim de que a Sua ira fosse manifesta).


Este é o esboço das principais doutrinas bíblicas, em que a soberania de Deus encontra-se ativa em cada um dos pontos da criação, desde o início quando Ele as decretou, quanto agora em seu desenrolar, e no futuro, quando todo o Seu plano estiver completo e consumado, com os salvos vivendo eternamente na glória celestial, e os condenados recebendo a punição eterna no inferno... e a justiça de Deus triunfalmente contemplada.

20 fevereiro 2009

GALARDÃO












Por Jorge Fernandes

“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt 5.11-12).

O que diz o Aurélio:
Galardão = recompensa de serviços valiosos; prêmio. Honra; glória.
Logo, é uma distinção conferida a alguém por serviços prestados ou merecimento.
Do ponto de vista bíblico, qual é esse merecimento? Quais serviços prestamos a Deus?
Os versículos nos remetem ao sofrimento. Portanto, se há injustiça ou perseguição, seremos premiados; não por qualquer sofrer, mas somente quando for “por minha causa”, disse Jesus.
Não vale ter um câncer, perder o emprego, ser abandonado pela esposa ou filhos, levar mordida de cão raivoso, ou encontrar uma barata esmagada no sorvete depois de comer metade do pote. Nada disso valerá o galardão, se não for pelo nosso Senhor. Isso não quer dizer que um câncer ou o abandono não sejam usados por Deus para a Sua glória, apenas não é o objeto do galardão.
O que nos leva à seguinte questão: o crente deve “esforçar-se” em buscar o sofrimento? Parece loucura, mas alguns poderão ter a idéia de que o melhor caminho para se obter a honraria de Deus é, a todo custo, batalhar pelo sofrimento. No mundo atual, isso seria o mesmo que remar contra-a-maré. Algo impensado e impensável, mesmo na maioria das igrejas e entre a maioria dos irmãos; o suficiente para que digam: “está amarrado”, “eu não aceito isso”, ou “determino que minha mente não pense tal obra diabólica”... Releiamos as palavras do nosso Senhor: “Bem-aventurados sois vós...”.

Novamente, o Aurélio:
Bem-aventurado = pessoa muito feliz.
Cristo diz que ao padecer injustiça e perseguição por Sua causa, devemos exultar e alegrar-nos, porque não somos apenas felizes, mas muito felizes.

Parece óbvio que se deve sofrer, que os crentes têm de entrar numa espécie de competição para ver quem se sairá melhor no quesito padecimento. Contudo, a mente mais abnegada rejeitará essa idéia. Ela não faz parte dos nossos planos, nem das nossas orações ou expectativas. Todos querem a glória sem esforço, ou quando muito, apenas o mínimo necessário de sacrifício, se não for possível evitá-lo. Ninguém está disposto a seguir os passos de Paulo, Pedro, Tiago, Estevão, quanto mais os de Cristo. Porém, há algo fantástico na rejeição ao sofrimento: a soberania de Deus. O mesmo Deus que nos chamou das trevas à luz, da morte à vida, da condenação à salvação, do inferno ao céu, é o Deus que operará o sofrimento, a injustiça, a perseguição, e nos dará também o consolo, a sustentação e a alegria de servi-lO em meio as piores e mais terríveis provações, pois são nesses momentos que o poder de Cristo mais se manifesta e aperfeiçoa-se em nós. “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte” (2Co 12.10).
Cristo se torna mais forte quando estamos mais fracos. Aqui, a debilidade de Paulo não é física (ainda que tenha citado o “espinho na carne” no v.7), nem moral, nem ética, mas está revestida da humildade em reconhecer-se fraco, e de que apenas pelo poder de Deus é fortalecido e pelo qual vive (2Co 13.4*); porquanto "aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado" (Lc. 14.11).
A igreja de Coríntios confundiu a atitude humilde de Paulo em servi-los no, e pelo Evangelho de Cristo, com fraqueza, falta de autoridade. Provavelmente, estavam acostumados aos líderes vaidosos e orgulhosos, e tinham a jactância por força. Mas ele esclareceu que mesmo esta aparente fragilidade é operada por Deus para que o Seu poder seja revelado.
Então, temos a soberania de Deus agindo tanto no sofrimento como na alegria, na fraqueza como no poder, “para que Deus seja tudo em todos” (1Co 15.28).
Logo, o galardão é um prêmio, não porque somos melhores, não por vencer pelo esforço ou fazer jus a ele, nem deve ser esse o objetivo; mas, por que Cristo opera em nós a fraqueza, o sofrimento, para que, em nós, seja manifestado o Seu poder, glória e júbilo. É Deus que em sua infinita sabedoria já tem destinado através do Seu eterno decreto quem será galardoado, e em qual nível será. Não é nosso mérito, mas o poder de Deus explícita e eficazmente operando em nós. Como em tudo, Deus escolheu e determinou a quem dará mais, menos ou nada.
Paulo somente pôde disse: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Fp 4.12-13), porque Jesus disse: “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). E assim, como na parábola dos servos inúteis, diremos: "fizemos somente o que devíamos fazer" (Lc 17.10).
Então, o galardão é: escolhidos vasos de misericórdia, preparados para a glória, somos chamados filhos do Deus vivo (Rm 9.23;26).

Pois essa é a única e maior glória que podemos receber.
*"Visto que buscais uma prova de Cristo que fala em mim, o qual não é fraco para convosco, antes é poderoso entre vós. Porque, ainda que foi crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós".
Podemos analisar a fraqueza de Cristo a qual Paulo se refere de duas formas:
1- Cristo, ao assumir a condição humana, sujeitou-se também à fraqueza da nossa natureza, fazendo-se igual a nós não por opção, mas por assemelhança (antibíblica).
2- Cristo, ainda que assumindo a condição humana, mostrou-se fraco ao humilhar-se na cruz em favor dos eleitos (sujeitando-se à injustiça e ao sofrimento), e essa é uma clara opção de que Se fez fraco para nos tornar fortes, a fim de sermos exaltados juntamente com Ele (bíblica).

17 fevereiro 2009

ESCONDERIJO



Por Jorge Fernandes

Folhas ao vento, cinzas ocultas na terra enlodada,
A memória zomba as palavras escondidas ao inimigo,
Depois que se cala, os dentes exibem restos de carne não comida,
O rosto esconde-se entre culpas e pecados do passado,
Sinais herdados, coisas amargas a consumir a causa justa.
Como a traça roí a roupa e não teme a morte,
Vagueia-se pelo deserto, na desordem dos caminhos reticentes,
Em sombras confiscadas pelas trevas,
Onde não há quem solte, nem há quem prenda, apenas a vida dá lugar à morte.
Quando cai o sono, adormece a cama,
A alma buscaria as veredas bucólicas, a repousar sob os álamos,
Mas desvia-se por entre os ossos aflitos, suporta o castigo contemplativo,
Em que a noite visita os moídos, inclina-se sobre os fortes, reparte o dia,
Porque a dor é o mensageiro dos perdidos, o pão o resgate da carne,
O pó a resposta ao acordo desfeito, o fôlego último a pelejar na guerra perdida;
Há o leão a saciar-se com a fome, e os trovões a sussurrar o dilatar dos céus.
O vento traz os dias, raios a colorir os rostos secretos,
Gotas de orvalho endurecem-se na superfície congelada,
Ferro a esculpir a rocha, cascas de árvores arrancadas à unha,
O espírito afugentou a momentânea alegria, e não mudará as coisas indesejadas.
Ao redor, o que não me pertence faz parte de mim,
Espalha-se a raiva onde estava confiada, pronta a perseguir o pecado,
Passo a passo, lado a lado, a sentença é o pretexto à rebeldia,
Sem forças não há protesto que dure,
Fica-se a replicar às vezes, mão posta à boca,
Porque a vida é o esconderijo da morte.

04 fevereiro 2009

COMENTÁRIO A JÓ 1.1-12









Por Jorge Fernandes Isah

      O livro inicia notificando-nos que Jó habitava a terra de Uz, assim chamada por causa da tribo aramaica cujo nome derivava de um dos “Uz” da Bíblia: 1) O filho mais velho de Naor (Gn 22.21); 2) O neto de Seir (Gn 36.28); ou 3) O filho de Arã (Gn 10.23). Provavelmente, situava-se no deserto da Arábia ou da Síria, a leste da Palestina; alguns indicando-a em Edom.
               Em seguida, lê-se: “e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal” (v.1). É uma assertiva valorosa que a Escritura faz de Jó, o que nos leva a meditar: ele esforçava-se para ser assim, ou Deus operava, capacitando-o?

               Certamente Jó se esforçava, mas mediante Deus produzir nele o esforço. No fim, Jó era sustentado por Deus para pensar e agir como justo, “porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fl 2.13). O seu caráter era conseqüência da vontade e daquilo que Deus produzia nele, o que, porém, não impede a Bíblia de exortar-nos à retidão: “aparta-te do mal, e faze o bem; procura a paz, e segue-a” (Sl 34.14); de denunciar-nos: “não há um justo, nem um sequer, não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3.10-12); e declarar que somente Deus “cria em mim... um coração puro, e renova em mim um espírito reto” (Sl 51.10).

                Como a analogia que o Natan* sugeriu:
“‘Jorge, você leu o meu livro e o personagem Jó que eu escrevi? O que achou? É um personagem justo, reto, íntegro...’. Assim, os méritos do caráter do personagem são do autor, e não da criação”.

                De outra forma, como Deus poderia assegurar a integridade do caráter de Jó? E de que se apartaria do mal? Se fosse “livre” no sentido de “escolher” ser justo e reto ou não (como querem os arminianos), essa liberdade poderia mudar com o tempo, e mesmo que não mudasse, como Deus teria a certeza de que Jó manter-se-ia fiel? Já que não depende da ação de Deus, mas da vontade do homem? Isso derruba qualquer idéia de soberania divina.

                Alguns dirão que a presciência garante a Deus a certeza do futuro. Mas se a presciência é antevisão do futuro, e esse futuro está sob a volição ou arbítrio do homem, que poderá alterá-lo a seu bel-prazer, como Deus terá certeza de que ele efetivamente ocorrerá? Só há uma resposta: o futuro precisa ser infalível; e Deus garantir que se cumprirá inevitavelmente, certificando-se de que cada etapa realize-se infalivelmente, de acordo com o Seu plano eterno. Tanto o desígnio geral como os mínimos detalhes serão assegurados por Deus de tal forma que não se frustrarão, então, o pensamento, a vontade e as ações humanas estão dentro do escopo da soberania divina, a qual Paulo diz: “conforme o propósito daquele (Deus) que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11); “porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28).

               Portanto, da perspectiva humana, a decisão é do homem, mas ela não é livre, pois produziu-se pela vontade soberana de Deus. Jó era o que Deus queria que fosse, da mesma forma que somos em Cristo o que Deus quer que sejamos, “com o fim de sermos para louvor da sua glória” (Ef 1.12).


         Em seguida, somos avisados de que Jó era um homem próspero, “maior de todos os do oriente” (v.3). Tinha dez filhos, sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas, além de servos e outros bens (v.2-3), o que faria dele um milionário, na atualidade. Apesar de todas as posses, ele não se rendia ao orgulho e vaidade humanas, antes sabia que tudo o que possuía provinha do Senhor. Diferente do Pai, os filhos banqueteavam-se numa espécie de “rodízio festeiro” em suas casas (v.4), e não demonstravam o mesmo zelo para com Deus, o que levava Jó a encarregar-se de, decorrido o turno de dias de seus banquetes, oferecer “holocaustos segundo o número de todos eles” (v. 5). O seu temor era de que os filhos pecassem e, portanto, afrontassem a Deus; incumbia-se então de aplacar a ira do Senhor sobre a sua casa. E essa atitude era contínua, mostrando não somente a reverência, mas a necessidade de obediência e da busca constante de santidade diante de Deus, que lhe abençoava com toda a sorte de bênçãos.

              Porém, “num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles” (v.6). Parece que o Senhor convocou os seus anjos, incluindo o próprio diabo, para um concílio. Há a dúvida se satanás foi um “penetra” na reunião. Mas pelo relato no verso 2.1, ele era constantemente chamado à presença de Deus, para uma espécie de “prestação de contas”. Quanto a ser um filho de Deus, parece haver uma distinção entre ele e os demais anjos, porque o advérbio “também” denota que satanás veio “entre” os filhos de Deus, sem sê-lo, como uma criatura discordante, diferente dos demais anjos.

              A pergunta que o Todo-Poderoso faz-lhe mostra que era esperado: “Donde vens?”. Deus parece desconhecer o trajeto e a atividade do diabo, mas há de se entender que a narrativa bíblica é voltada a uma perspectiva humana, e se não houvesse a indagação, jamais saberíamos o que satanás fazia. Ao que respondeu: “De rodear a terra, e passear por ela” (v.7). O dito é verdade, mas a mente maquiavélica do inimigo quer induzir-nos ao erro de pensar que ele estava a flanar pela terra despreocupadamente, como um turista fortuito. Não é isso. Satanás anda pelo globo com claros objetivos: Incitar-nos ao pecado como fez com Davi (1Cr 21.1, 1Jo 3.8); Acusar-nos diante de Deus como fez com Jó (Jó 1.9-11; 2.4); Praticar o mal (Jó 2.7); Opor-se ao homem como fez com Josué (Zc 3.2); Tentar-nos como fez com Jesus (Mt 4.1, Mc 1.13, Lc 4.2, Ap 2.10) e Pedro (Lc 22.31); Prender-nos a doenças (Lc 13.16); Transfigurar-se em anjo de luz (2Co 11.14); Mentir (Jo 8.44), e levar-nos à mentira como fez com Ananias (At 5.3); Enganar, e combater toda a justiça (At 13.10); Armar ciladas (Ef 6.11); Matar (Hb 2.14); e outras obras malignas que o espaço não permite descrevê-las.

              Se há alguma dúvida quanto à atuação do diabo, basta meditar na interrogação de Deus: “Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (v. 8). O diabo sabia das qualidades de Jó, pois ele não as invalidou ou refutou-as, porém, justificou-as como sendo fruto de toda a bondade de Deus, e que somente subsistiam por causa das bênçãos recebidas (v.10). Assim, ele reputava o zelo de Jó aos bens materiais, à prosperidade material, a qual explicaria cabalmente a sua fidelidade comodista. Em seu papel acusador, satanás questionou o temor do servo para com o Senhor (v.9), fazendo-o de maneira limitada, já que a sua única base era espreitar a Jó como seu adversário, bramando como um leão a fim de tragá-lo (1Pe 5.8); sem que lhe fosse dado conhecer o seu coração. Portanto, satanás tem um poder restrito, e apenas a idéia do que o Criador a efeito faz-lhe conhecido.


        Como ignorante da verdade bíblica (igual à maioria dos homens), satanás não reconhece a soberania de Deus, pois julga ser capaz de Jó cair da graça e blasfemar “contra ti na tua face” (v.11). Somente o controle divino sobre todo o processo da vida de Jó pode permiti-lO confiar na sua integridade moral e espiritual. Assim, sabendo que ao final tudo ocorreria conforme a Sua vontade, Deus estendeu a Sua mão, e tocou em tudo quanto Jó tinha, aceitando o desafio diabólico: “Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão” (v.12).

            Há duas implicações no verso 11: 1) Satanás diz a Deus que “estende a tua mão e toca-lhe em tudo quanto tem”, revelando que o mal provém de Deus, e de que Ele determina o mal através da ação subordinada do diabo. Deus planeja, deseja e ordena que satanás tire tudo de Jó, mas é o diabo quem tira, ao desejar, no íntimo, a sua ruína. Existe uma coordenação de vontades que culminará com Jó perdendo tudo o que possui.

             2) Satanás tem a certeza de que o servo blasfemará contra Deus, demonstrando que, tanto não crê na soberania divina, como desconhece o coração de Jó. O erro do diabo é o mesmo de muitos homens: duvidar de Deus, e ignorá-lO. Portanto, no decorrer da narrativa, o diabo literalmente “quebrará a cara”, será desmascarado, e sofrerá nova e flagrante derrota.

             Igualmente, há duas inquietações no verso 12: 1) Deus entrega ao diabo tudo quanto Jó tem. Significa que Ele deixou o controle para o inimigo? Não. Seria o mesmo que afirmar, como os teístas relacionais, que Deus “abriu” mão da Sua soberania. Mas, por quê? Para deixar de ser Deus? É possível Deus deixar de ser o que é? E o fazendo, não se tornaria em outra coisa, menor que Deus? O teísmo-aberto é tão ilógico, insano e antibíblico que não requer maiores considerações. Assim, o que ocorre é Deus autorizar o diabo a agir segundo a Sua vontade.

            2) Satanás é um anjo (ainda que caído), e como tal, um mensageiro, não de boas novas, mas de destruição. Há confusão quanto a se distinguir o papel do diabo na história. Muitos acreditam que ele é o oponente, uma força que se contrapõe a Deus. E isso é dualismo, antibíblico. Mas o que a Escritura nos revela é que satanás não passa de um servo (como dizia Lutero, “o capacho de Deus”), o qual executa rigorosamente o que o Senhor planejou. Na verdade, ele é o nosso inimigo, não o inimigo de Deus; que se quisesse, já o teria destruído, bem como a nós e ao universo. Se não o fez, é porque não foi a Sua vontade; e a Sua vontade é de que tanto o diabo, como o homem e o mundo subsistam pelo Seu poder. Talvez esta seja a parte menos tolerável, que mais incomode, mas a qual devemos nos render: saber que o diabo existe, vive e se move pelo poder soberano de Deus.

            Como instrumento divino, ele é uma espécie de operário encarregado de cumprir as ordens do construtor, ou um procurador com poderes limitados e específicos outorgados por Deus para agir em Seu nome. De qualquer forma, mesmo que não haja consenso nessa questão, é claro, notório e incontestável o servilismo do diabo a Deus.

             Logo, ao receber suas ordens, restou-lhe somente cumpri-las, e “saiu da presença do Senhor” (v.12).


*O Natan é o tutor do blog “Reflexões Reformadas”, com o qual tenho examinado a questão da soberania de Deus; sem que ele subscreva as minhas opiniões.