25 agosto 2008

RÓTULO

Por Jorge Fernandes

O rótulo é algo inevitável para o homem que precisa se identificar e identificar aos outros, sendo muito mais uma definição estética que moral. E entre os evangélicos há tantos dísticos que ficamos perdidos; muitos deles apenas estéticos, e alguns nem tão morais. Por exemplo, a questão da salvação é algo moralmente distorcida em nossos dias. Prega-se que o homem pode "aceitar" a Cristo, e o mesmo que O aceitou pode"rejeita"-lO, como se fosse o escolher brócolis no almoço e filé no jantar. Não se pode tratar Deus como um tubérculo ou leguminosa acomodados no freezer, o qual retira-se e coloca-se quando e onde quiser. Jesus disse: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” [Jo 15.16].

A causa de muitas profissões de fé falsas é a idéia errada de que posso aceitar e depois rejeitar a Cristo, e mais à frente aceita-lO novamente, e caso não queira mais, desprezá-lO quantas vezes quiser até que venha a “recebe”-lO, se houver tempo. Não é algo definitivo, nem mesmo é uma hipótese de definição, é efêmero e vacilante, podendo suceder-se por inúmeras vezes. Esse tipo de salvação é moralmente bíblico? Ele pertence à categoria do nascer de novo ao qual o Senhor Jesus afirmou ser necessário para se ver o reino de Deus? [Jo 3.3].

Ao depender de mim, da minha vontade e, especialmente, dos "métodos" para se"convencer" alguém de que uma vida com Cristo é o melhor, a minha salvação seria moral? Como pode um homem caído, separado de Deus em seus pecados ser moralmente apto para se reconciliar com o Senhor santo e justo? “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” [1Co 2.14].

Ao aceitá-lO, sou o agente moral, e, portanto, habilitado a estabelecer a comunhão com o Todo-Poderoso, o qual é passivo, dependente da minha vontade? E ao aceitá-lO e rejeitá-lO diversas vezes sou moral ou amoral? Responda-me: é realmente melhor ser um cristão? Já imaginou os sacrifícios, os obstáculos, as renúncias que temos de fazer num mundo que odeia a Deus e que apela tão baixamente para o que de pior existe em nós? Se é tão bom ser crente, porque não o fomos antes? Porque somente agora e não um ano atrás? O que mudou em minhas convicções e natureza que me motivaram a aceitar Cristo e servi-lO? Porque “decidi-me” pelo Deus bíblico, ao invés de permanecer com o deus genérico, popularizado, mistificado e comercializado por tantas religiões e sistemas filosóficos?

O Deus bíblico, verdadeiro e único não pode ser passivo. Ele não fica de braços cruzados esperando as coisas acontecerem, alheias à Sua vontade, sem intervir direta e propositadamente, visto ser o Agente, o Autor de toda a criação, Aquele que atua na história, que determina todos os atos no universo [Ex 33.19; Is 14.24;27; Rm 9.15], os quais foram estabelecidos soberanamente antes da fundação do mundo. Portanto, o Deus bíblico não pode ser rejeitado impunemente. Não pode ser desprezado sem que aquele que o desprezou sofra as conseqüências do seu ato. O Deus bíblico não reconhece o homem como seu filho se ele permanecer "amoldado" à sua natureza pecaminosa. Para isso, é necessário que o nosso ser seja transformado, que esse homem renasça em Cristo, e pela ação do Espírito Santo, o caráter do Senhor seja implantado, pouco a pouco. Assim, regenerados, somos então capacitados a reconciliar-nos com Deus, ou a “aceitá-lO”; não sendo mais passivos no pecado, mas ativos em santidade. Sem isso, somos criaturas rebeldes, incomunicáveis com o Altíssimo, destinados à Sua ira, a perecer eternamente, sem jamais ser filhos e templo do Espírito Santo. Então, não é uma questão de escolha, mas de QUEM escolhe, e Deus escolhe, “Para que nenhuma carne se glorie perante ele” [1Co 1.29].

Se sou eleito de Deus, Ele jamais permitirá que eu me perca novamente, que eu volte ao reino de trevas, ao mundo caído de Satanás. Esta é a Sua promessa aos Seus escolhidos, porque “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”, disse Jesus [Jo 6.37].

O arminianismo, e o seu pai, o pelagianismo, são a razão do vai-e-vem sem fim nas cadeiras das igrejas, onde os crentes de hoje serão incrédulos amanhã, podendo novamente ser crentes, e por fim, apostatarem tempos depois; visto que a salvação é como uma partida de pingue-pongue; e não consigo imaginar-me disputando um jogo em pé de igualdade com o Todo-Poderoso, Criador, Salvador e Senhor, e ainda por cima, derrotá-lO. A salvação passa a ser uma pilhéria, e o Senhor motivo de escárnio, tais as possibilidades de variações quanto ao estado de salvo e perdido, quanto a uma insegurança que denota a fragilidade de um deus criado na mente corrupta e insana do homem... que nada tem a ver com o Deus Tri-uno, poderoso e Senhor de todo o universo.

É possível que esse homem que crê deter o poder de "eleger" a Deus tenha a certeza da salvação? Visto que não há nada que a assegure, apenas e tão somente a vontade do próprio homem? O qual é fraco, volúvel, obstinado em sua pecaminosidade, bastando apenas o mudar para se perder outra vez? Ele pode afirmar-se salvo, se ele mesmo não o sabe nem tem certeza se o será?

O homem deu um tiro no pé! Ao supor-se detentor de um poder que não possui. É ilusório, terrível, maligno. Pois nos dá uma sensação de liberdade irreal, impossível de nos levar a decidir por Deus, na medida em que ela é incapaz e inadequada de nos levar a escolhê-lO; pois o livre-arbítrio pressupõe o homem tanto bom como mau, contrapondo-se ao ensinamento bíblico, o qual assevera ser o homem essencialmente mau; “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” [Rm 3.23]; “não há justo, nem um sequer” [Mq 7.2; Rm 3.10]; e “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” [Jr 13.23]... Logo, o homem encontra-se completamente incapacitado de vencer o seu pecado.

A presunção é de que, se fazemos coisas boas e ruins, escolhas boas e ruins, elas indicam que sou capaz de eleger a Deus (pois rejeita-lO já o faço naturalmente, de manhã à noite); e de que esta escolha é não influenciada por alguma força, seja ela exterior ou interior; de que é isenta de causalidade, neutra, o que é utópico, pois somos sempre tomados por algum poder... a liberdade morreu no Éden com Adão e Eva, e estaremos sob o domínio de satanás até que o poder máximo do Senhor restaure-nos, e a liberdade seja finalmente ressuscitada.

Ainda que não possamos "ganhar" ninguém para Cristo, pois esse papel cabe ao Espírito Santo, o qual dá o convencimento ao homem do pecado, da necessidade de arrependimento, e a compreensão da obra salvadora do Filho de Deus, não podemos nos escusar de levar o Evangelho aos perdidos [Mt 28.19-20]. É uma ordem expressa do Senhor, não sendo condicional, mas imperativa. Como instrumentos, Deus nos usará para alcançá-los, não nos cabendo questionar os Seus sábios métodos, mas certificar-nos de obedecê-lO prontamente.

E, para que não reste dúvidas quanto à minha posição, creio na doutrina da Eleição do homem por Deus, e de que Deus escolhe quem salvará; é uma obra completa d’Ele, na qual somos como barro nas mãos do oleiro [Rm 9.21], em vista de sermos incapazes de “escolher” salvar-nos; pois jamais o homem escolheria a salvação se Deus não o movesse a ela... É uma discussão que se arrasta há séculos, mas a Bíblia é clara quanto ao assunto: a eleição é de Deus, e não do homem! Como acertadamente disse o profeta: “Do Senhor vem a salvação” [Jn 2.9], pois a glória é somente e completamente d’Ele...

Ah... ia me esquecendo... quanto ao rótulo, podem chamar-me monergista.

19 agosto 2008

PECADO











Por Jorge Fernandes

O pecado arromba a porta,
Empurra-me ao abismo,
À sua beira, sinto que não preciso cair,
Mas as trevas profundas,
E no prazer ignominioso,
Lanço-me à desolação;
Sei que sofrerei,
Sei-me odioso,
Não devia permiti-lo,
Desprezo ao meu Senhor,
Ao alertar-me, dá-me não escolher o mal,
Fico a ruminar a idéia,
E como num cabo-de-guerra,
Vejo-me a puxar e tracionado,
Atraído pelo desvio,
Ainda embatendo-me,
Já derrotado.

Ao seduzir a ofensa,
Persuade-me a falsa promessa,
Domina-me,
E a convicção de cair vítima do erro,
Faz-me tenaz em obtê-lo.
Não é mais uma luta...
A dúvida cedeu ao vigor abjeto,
Hesitação virou crença,
Quando, é a questão,
Se agora ou em qual momento,
Detalhe sórdido a prolongar a queda.

Demônios riem-se,
Esfregam as mãos,
É só o tempo,
De apertar-me o laço,
Para que o folguedo comece
No inferno.

O delírio num flash,
Tenho as mãos sujas,
Os pés olhos e um coração podre,
Lodaçal a impregnar a pele,
Pragas erguem ninhos nos cabelos.

Quero chorar,
Rasgar-me num grito,
A madrugada a esconder-me,
Qual meliante furtivo,
Socar-me à parede,
E ver que nada disso mitiga a dor,
Ou faz renascer a alma morta.

Careço de perdão,
Eu mesmo não o faria,
Então de joelhos,
Curvo-me envergonhado,
Triste,
Pela tentação a rondar solerte;
Então clamo,
Orando ao meu Senhor,
Que se compadeça,
Apiede-se de mim,
Livre-me da culpa,
Que carrego como constipação.

E somente Ele,
O Rei da graça,
Ouve-me...
As dívidas liquidadas,
Pois o resgate,
Ele pagou
Na cruz.

15 agosto 2008

ZUMBIS INTELECTUAIS











Por Jorge Fernandes

Em poucos anos de conversão, tenho ouvido muitos crentes dizerem-se avessos à teologia. O argumento mais usual, distorcido e surreal é afirmar que a “letra mata e o espírito vivifica” [2Co 3.6], abrindo espaço para todo o tipo de sandice dita espiritual que abunda nas igrejas [Paulo alude claramente à impossibilidade de salvação pela lei, pela letra, a qual é capaz de trazer apenas a condenação ao homem, visto que a lei não salva, mas revela-nos o nosso pecado e nos dá a condenação. Somente a obra consumada de Cristo pode livrar-nos do inferno. Portanto, o versículo não é uma proibição para se estudar as Escrituras].

O pouco convívio com a Bíblia, a falta de senso crítico, e o estímulo que muitos líderes imprimem à experiência pessoal, a qual ganhou uma relevância ímpar em nossos dias, acentuada pela ignorância teológica dos seus defensores, levam os crentes, de uma forma geral, a negligenciar o zelo que os irmãos de Beréia tinham [At 17.11], e a uma espécie de torpor espiritual que os faz aceitar de bom grado tudo o que lhes é proposto sem examinar as Escrituras, conduzindo à morte da razão. No pouco ou nenhum conhecimento da Palavra eles são abatidos pelas armas que satanás lhes dá, as quais julgam provir do Senhor mas nem remotamente percebem que ao puxar o gatilho tornam-se alvos de si mesmos.

O conhecimento de Deus passou a ser subjetivo e cada um pode tê-lo a seu modo, facilitado pela completa alienação doutrinária; amoldando-o a qualquer recipiente blasfemo, herético e diabólico.

Parece-me que os crentes estão meio que perdidos; são tantos os ataques do inimigo [e o seu desejo é a destruição da igreja, visto que o Senhor Jesus morreu por ela], são tantas as suas artimanhas, que os crentes não têm idéia do que seja uma vida cristã [a base que se tem dado aos crentes é muito frágil, e “ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11). Não se prega a Bíblia expositivamente (2Ti 4.2-3); é psicologismo pra cá, humanismo pra lá, e individualismo por todos os lados; não se estimula os crentes a ler teologia, a ler livros que os levem à santidade, a aprofundar-se nas doutrinas; e muito porcamente dizem que as Escrituras são a única regra de fé. Mas como isso é possível sem conhecê-la, sem entendê-la?].

Parte disso é culpa dos acadêmicos [muitos deles inconvertidos e educados em seminários e faculdades nitidamente opositores do Evangelho], que tratam o estudo da Bíblia com mais frieza do que um legista disseca um cadáver; é como um labirinto onde se tem a certeza de que jamais se sairá dali; visto que o homem cada vez mais está preocupado com a sua glória pessoal, “porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21); “e, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm” (Rm 1.28); pois, “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4.4).

Então, prefiro autores que conciliam doutrina com doxologia, ao estilo de Lloyd-Jones, John Owen, Charles Spurgeon, Jonathan Edwards, Arthur Pink, John Piper, John McArthur... Guardadas as devidas proporções, eles tentam repetir o que Paulo fazia divinamente inspirado: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas Cristo Jesus, o Senhor” (2Co 4.5); “para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Ti 3.17). Enquanto isso, os Warrens, Malafaias, Cavalcantis, Mclarens, Hinns e Yansens da vida ganham cada vez mais espaço nas livrarias, nas estantes, e em mentes loucas, porque o que eles fazem é meio que anestesiar a consciência, um inibidor que impede as pessoas de pensarem como crentes, os quais devem ter a mente de Cristo [1Co 2.16], transformados pelo Evangelho; e não mantidos em coma pelo humanismo/secularismo/místico com que são tratados, tornando-as em zumbis intelectuais, em natimortos espirituais. Na vaidade das suas mentes, “entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração... se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza” [Ef 4.18-19].

Só há um antídoto: a leitura diária, devocional e reverente da Palavra em espírito de oração; porque “toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça” [2Ti 3.16], e a “tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre" [Sl 119.160]; sabendo que os pensamentos de Deus são mais altos do que os nossos, e os Seus caminhos são mais altos do que os nossos [Is 55.9]; “porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas, glória, pois, a ele eternamente. Amém” [Rm 11.34-36].

Então, não nos furtemos a “conhecer os mistérios do reino de Deus”, o qual nos é dado pela revelação das Sagradas Escrituras, mas aos outros é dado “por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam” (Lc 8.10).

08 agosto 2008

EM SEUS PASSOS









Por Jorge Fernandes

Se há um Evangelho verdadeiro sendo pregado, esse é o que leva à perseguição, à prisão, à morte, ao desprezo [2Tm 3.12]. Não era assim com o Senhor? E com os apóstolos? E na igreja primitiva? O mundo não quer saber da Verdade, ao contrário, ele quer eliminá-la, destruí-la. E a culpa é nossa, ao nos esquivarmos de realizar a missão delegada por Jesus, preocupados apenas e tão somente com o nosso “umbigo”. Até quando?
Venho pensando muito nisso ultimamente. E tenho orado para que Deus não permita que nos tornemos em “crentes secretos”, que pouco ou nada da nossa vida revele a quem servimos. Podemos ir à falência? Ser expulso da escola? Perder o emprego? Abandonados pela família? Desprezados pelos vizinhos? Ir à prisão? Como Cristo disse: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á” [Mt 10.38-39].
Falta vergar-nos diante de Deus. Quantas vezes fingimo-nos de surdos ao Espírito Santo? E deixamos a condição de discípulos? De assumir o lugar na igreja, em casa, no trabalho? Sendo omissos, quando Deus quer que ajamos ao invés de nos confortar com a nossa eleição?... Sei que é difícil... Passo boa parte do dia me questionando se estou mesmo servindo a Deus ou se estou apenas brincando de cristianismo. Aflige-me ver o quanto estou preocupado com as coisas do mundo, com a minha própria vida, e quase nada com o Reino de Deus. Mas oro ao Senhor para que Ele me transforme, me capacite, me dirija no cumprimento da Sua santa vontade; e a testemunhar verdadeiramente o Seu amor, graça e misericórdia para com esse mundo perdido [mesmo sabendo que nem TODOS são o alvo do Evangelho].
É uma encruzilhada, e o caminho a seguir não é florido, nem asfaltado, nem tem barracas distribuindo água de coco grátis; mas o Senhor nos fará ultrapassá-lo, e conheceremos o Seu amor, e quem nos ver ali saberá que O amamos, por isso O servimos. Como Paulo afirmou: “O viver é Cristo, e o morrer ganho” [Fp 1.21].
Reli recentemente a passagem em Lucas 5:1-8, em que o Senhor mandou que Pedro e os pescadores lançassem suas redes no mar quando o fizeram a noite toda e nada pescaram. Após voltarem do local, onde Cristo os ordenou ir, com as redes lotadas de peixes, lemos: "E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador". Não pude deixar de chorar, porque percebi que Pedro, um simplório, um iletrado, compreendeu e entendeu o que talvez levemos a vida inteira e ainda assim não compreendamos: o quanto Deus é santo [e somente Ele é santo], o quanto somos miseráveis pecadores, e o quanto devemos nos humilhar diante d’Ele. Ali Pedro se rendeu à santidade de Jesus, submisso adorando-O, porque entendera, naquele momento, que havia um abismo separando-o de Deus; e de que sem Ele, Pedro não seria absolutamente nada além de um reles pecador.
Fico pensando que muitos de nós, ainda que salvos, seremos envergonhados diante da santidade e glória de Deus. Não falo da nossa pequenez diante da grandiosidade do Senhor, mas daquilo que poderíamos fazer, o qual Deus nos capacitou a fazer e não fazemos em rebeldia.
Fico a imaginar que a salvação é algo sublime, que só podia vir do Senhor, mas mais fantástico do que a salvação é o próprio Deus. E não honrá-lO é triste; ao se abrir mão das coisas santas e desprezar as coisas simples que não realizamos por puro descaso.
Se ao invés do cuidado excessivo conosco lembrarmos do essencial, pregar a Cristo crucificado [1Co 2.2], o qual, ainda que fosse Filho, aprendeu a obediência, e veio a ser a causa da salvação a todos que lhe obedecem [Hb 5.8-9]; o disfarce cairia, e o Senhor seria revelado em nós pelo Espírito Santo, e ainda que em meio às tribulações e lutas, participaríamos da Sua glória, pois somos chamados a seguir os passos de Cristo, e a jamais cair.

06 agosto 2008

RENASCERE












Por Jorge Fernandes

Estive sozinho e abandonado,
Vivendo em conflitos,
Lágrimas corriam secas dos olhos
Dia após dia sem enxugá-las.
Havia um grito sem êxito,
O fôlego que se havia extinto,
As forças a se esvair,
E correr, apenas um exercício à força.
Dias tão escuros como a noite,
Noites, a aflição de lugares sombrios;
O corpo sonâmbulo,
E a mente a disputar uma última batalha,
Quase sem fim.
O inimigo alentado,
Eu, fustigado,
O desespero: a porta onde se entra e não sai,
A debater-me,
Como o naufrago em águas bravias;
Acorrentado às tentações,
A julgar tangível a liberdade
Que não alcanço,
E a ninguém posso tomar.
O fio último a escorrer pelo ralo...
Há anos tomado pela ilusão,
De que sentara no trono,
Quando na sarjeta só há plebeus.

A fúria dá lugar à paz,
O desânimo, esvaece,
A aflição não perscruta rijamente,
A tristeza não subsiste à graça,
E mesmo nos intervalos,
Sou impedido de cair.
Porque a luz veio-me ao encontro,
A dar o que jamais tive;
Na verdade fui acolhido,
E o Senhor livrou-me do caos.

Resgatou-me,
E a eternidade se fez hoje.

31 julho 2008

O ÚNICO SACRIFÍCIO








Por Jorge Fernandes

Ao me converter, Deus colocou em meu coração o desejo de ler a Bíblia integralmente, começando por Gênesis, claro! Ao caminhar por suas páginas, descobri a soberania, a graça, o amor de Deus para com os homens, o que não O impediu de julgar povos, tribos e indivíduos rebeldes a Si. Contudo, ao atingir o livro de Levítico entristeci-me por todos aqueles sacrifícios (fruto da minha ignorância e imaturidade espirituais), e o que muitos julgam fazer parte do "mar de sangue" do Antigo Testamento (igualmente fruto da ignorância e cegueira espiritual alheias). Foi difícil lê-lo e entender o porquê de tudo aquilo, ainda que Deus já tivesse colocado no meu coração que aquelas páginas eram fruto da Sua sabedoria, e como tal, eu deveria crer na sua urgência.

Em Levítico, vemos a providência de Deus para o Seu povo, a misericórdia com que Ele nos deu o escape, ainda que para isso o Seu Filho Amado tivesse de padecer em nosso lugar, para não sermos condenados à perdição eterna. E esta é a maior prova do Seu amor.

Hoje, passados três anos, estou novamente lendo o terceiro livro da Bíblia, e maravilhando-me. Ao invés de provar a "crueldade", vejo a manifestação da graça e misericórdia de Deus. Em suas páginas, a descrição detalhada dos sacrifícios de animais a fim de que sacerdotes, indivíduos e o povo de Israel expiassem os pecados, levá-nos até a crucificação do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade Santa. O ritual de purificação era um prenúncio, um sinal, a indicar o que ocorreria quando o eterno Filho de Deus encarnasse, se fazendo homem igual a nós e, na cruz do Calvário, nos substituisse pagando os nossos pecados e reconciliando-nos com Deus [2Co 5.18-21]. O sangue dos animais ali derramado significava o sangue imaculado do Senhor que se verteria por nós. Aqueles animais, primogênitos e perfeitos em sua natureza (macho, sem manchas ou defeitos) anunciavam o Cristo, o unigênito Filho de Deus, perfeito e sem pecado [Hb 7.26], que por Seu muito amor, fez-se iniquidade para que os Seus eleitos fossem salvos.

Ao escolher o animal conforme Lv 1.2-3, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, numa simbologia a qual o animal "recebia" os pecados dele, e então, era sacrificado, e os sacerdotes aspergiam o sangue da vítima em redor do altar para expiação dos pecados. Parece cruel e injusto um inocente, ainda que seja um animal, ser morto para que os pecados do homem fossem purgados... Mas não foi o que aconteceu com o Senhor? Sendo Deus, eterno, puro, santo e justo, Cristo fez-se como nós, e escolheu padecer na cruz para que tivéssemos a vida eterna [Fl 2.6-8]. Não é injusto?... Não! Pois assim aprouve a Deus fazer [Is 53.10]. Era necessário que a nossa iniquidade, os nossos pecados, a desobediência e a afronta a Ele fossem pagas. E como não fomos capazes de cumpri-la, Ele decidiu fazê-lo por nós [Jo 10.17]. Há algo mais maravilhoso? Saber que mesmo imerecidamente, ainda que sejamos iníquos, que não possuamos nada com o qual Deus se alegre, merecendo a condenação eterna no fogo do inferno, somos feitos justos por Ele, justificados eternamente pelo sangue derramado do Cordeiro no Calvário! Que Deus maravilhoso! Que grande libertação! Glória eterna ao Senhor!

As religiões pagãs sacrificam seus filhos. Milhões de bêbes foram mortos e ainda são em favor dos seus deuses; esposas foram sacrificadas juntamente com seus maridos mortos; virgens foram ofertadas para aplacar suas "iras"; velhos, doentes e aleijados encontraram a morte para afugentar os "maus espíritos" e as consequências de tudo o que eles representavam... Em meio as densas trevas que satanás impos a esses povos, eles continuaram e continuam sob a ira de Deus, e se tornaram apenas em assassinos frios e cruéis; pois a ignorância que os conservou não servirá de desculpa para os seus crimes diante do Tribunal de Cristo.

Mas Deus não escolheu sacrifícios e sacrificados para Si [Hb 10.8]. Ele mesmo se fez sacrifício por nós, imolando-se a Si mesmo em favor dos Seus escolhidos. Ele não quis nada de nós, antes nos deu tudo. Não exigiu nada, e nem esperou que fóssemos capazes de atender a alguma exigência, pelo contrário, "E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" [Rm 8.30] ; capacitando-nos pelo Espírito Santo a crer, sermos fiéis, e instrumentos para a realização da Sua boa obra no mundo. Nem quis nossos corpos autoflagelados, nem autopenitentes, nem que "pagássemos promessas" a fim de agradá-lO, nem o cumprimento de qualquer ritual, nem peregrinações e romarias, nada, absolutamente nada! Porque? Simplesmente por que não há algo que possamos fazer que Cristo não fez. Nem há nada que agrade mais ao Pai que Cristo não tenha feito. Se Ele, o Filho Amado, cumpriu todas as exigências da justiça divina, como melhorar o que já é perfeito? Se pensamos em fazê-lo, desmerecemos a obra consumada do Senhor Jesus, e queremos nos fazer iguais a Ele, e estamos condenados, porque jamais alcançaremos a salvação por mérito próprio. Antes, devemos nos rejubilar pelo que o Senhor fez em nosso favor, quando éramos inimigos de Deus [Ef 2.5;Cl 1.21]. Os sacrifícios não são mais necessários [Hb 7.27], pois o próprio Deus se encarregou de fazê-lo em nosso lugar [Ef 5.2]. Cristo nos substituiu, pagando a dívida que tínhamos para com Deus e a Sua justiça. Somos livres, e estamos livres unicamente pela Sua graça e amor.

Se você, como eu no passado, não compreendia os sacrifícios de animais em Levítico, saiba que os pagãos o achariam simples em demasia para os seus padrões de impiedade, e saiba que isso é fruto da corrupção da alma; e de que somente através da obediência, da subserviência e da entrega total de nossas vidas ao Senhor, encontraremos finalmente a paz, reconciliando-nos com o Princípe da Paz [Is 9.6], Rei dos reis e Senhor dos senhores [1Tm 6.15]. Pois não é necessário mais nenhum sacrifício, porque Cristo é o único holocausto que satisfez a Deus [Hb 10.12]... agora há somente o gozo de saber que Ele jamais se lembrará dos meus pecados e iniquidades... e desfrutar da Sua glória e salvação eternas.

25 julho 2008

AVIVAMENTO








Por Jorge Fernandes

É um tema morto entre nós cristãos hoje. Quase ninguém fala de avivamento, ou, quando o fazem, referem-se a um suposto “avivamento”, o qual não é nada mais nada menos do que uma espécie de coceira nos pés, nas mãos e nos quadris dos freqüentadores de igrejas "calientes". Toca-se a rumba, rock, samba ou forró, gritam-se aleluias num frenesi à moda dos doidivanos, em altíssimos decibéis, e pronto! O que poderia chamar-se tranquilamente de “baderna”, adquire a corruptela de “louvor”; e muitos o confundem com avivamento.
Dizem que o Brasil está em meio a um avivamento; que há uma “onda brazilis”; que a igreja nunca cresceu tanto em um país como aqui e agora, onde o número de evangélicos ultrapassou os 30 milhões; as igrejas e seus grandes templos estão cheios, onde o "povo de Deus" aplaude, pula, grita, rosna, late, rola pelo chão, e está afeito a tantas outras esquisitices ditas do "Espírito", que somente alguém cegado por satanás seria incapaz de reconhecer esse grande evento. Não é assim... “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” [Os 4.6]. O quê, e em quê, a igreja cristã tem influenciado o país? Qual o testemunho que esse "avivamento" tem levado para os descrentes? Tem havido arrependimento, temos nos desviado do pecado, e honrado o nome do Senhor? Há uma busca pelo servir a Deus e ao próximo, ou pela satisfação egoísta e pessoal dos prazeres mundanos? Pois, “os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera" [Mc 4.19].
Essa é, mais ou menos, a contribuição de Charles Finney. Ao construir o pragmatismo na igreja [a igreja de resultados a “ la Ricky Warren”], ele criou todo um sistema de apelo humanista, e de rejeição aos princípios bíblicos; onde, para que algo seja verdadeiro, tem de dar certo, tem de funcionar [no sentido mais primitivo que o homem conceber]. Por isso, a pregação tem de ser emotiva, a música sentimentalóide, as luzes hipnóticas, banners com frases estimulantes... um ritmo quase como os dos comícios políticos, ou seja, tudo a fim de agradar e satisfazer a carne, permeado por técnicas de psicologia e auto-indução. Então, o que se vê hoje são crentes “nominais” invandido templos à procura de distração para as suas consciências; e comoção, êxtase para os sentidos; uma cartaxe onde extravasar as emoções, desopilar, é o mesmo que fãs fazem em shows musicais, "raves", em orgias, ou em grupos de auto-ajuda; cujo objetivo é trazer um bem estar momentâneo, um alívio imediato, ao invés de arrependimento, perdão, reconciliação com Deus, e o novo nascimento em Cristo.
Onde houve avivamento, a sociedade foi mudada, sobretudo, porque os crentes refletiam uma vida cristã, nas quais as pessoas olhavam-nos e via revelado neles o caráter de Cristo; “para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” [Cl 1.10]. Havia o desejo de servir a Deus, de reverenciá-lO com suas próprias vidas, não apenas com palavras, porque um homem somente poderá refletir a Cristo exteriormente se o seu brilho vier do coração. Mas a maioria, como o Senhor disse, “se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” [Is 29.13]. Hoje, quase não se dá para distinguir um crente de um não-crente, a não ser aos domingos, quando estamos com nossas Bíblias, empunhando-as como a um adorno, e assim, desonrando ainda mais o evangelho, pois “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” [Rm . 2.24].
Infelizmente, não creio num avivamento no Brasil. Estamos anos-luz do viver e testemunhar os princípios bíblicos [a sociedade manifesta, irrefutavelmente, o desprezo para com Deus, e agoniza, sofre e faz sofrer] preocupados em demasia conosco para que isso aconteça. Creio, porém, no avivamento de uma igreja, de um grupo de igrejas, num local específico, onde aqueles que buscam verdadeiramente a face do Senhor serão cheios do Espírito Santo, abundando no amor, graça e misericórdia de Cristo, servindo-O. A história mostra que os avivamentos são isolados, e ocorrem em determinadas regiões ou grupos, como os puritanos na Inglaterra do Sec. XVII, ou os EUA, de Jonathan Edwards, no Sec. XVIII.
Contudo, devemos orar para que Deus, na sua misericórdia, avive a nossa igreja [primeiro, a nós e à nossa congregação], e, sobretudo, que tenhamos uma vida cristã, obediente aos princípios bíblicos, em amor para com todos [crentes ou não], em oração constante, para que a misericórdia e a graça do Senhor se manifestem em nós, como Ele disse: “Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” [Jo 11.40]; e, Paulo: “portanto, quer... façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” [1Co 10.31].

24 julho 2008

CULPADO

Por Jorge Fernandes

O pão a seu pai;
O grão à terra;
Vida e morte;
O campo se pesa;
Recolha-se os filhos;
A boca a comer,
Fartar-se do que não juntou,
Antes do sol se pôr.

Desce ao seu lugar em roupas novas,
O coração lacerado,
O choro como lavoura sem sega,
Nada sobra,
Nem se buscou,
Diante dele o silêncio,
O ai! de dor é quase um alívio.

A palavra amorfa caída entre o vazio da manhã,
O pouco da velhice restou,
Esteve conosco no pedaço desarraigado,
O desastre lhe coube,
Em vestes rasgadas no corpo sem perdão,
Se ausentou,
E não o tenho visto até agora.

18 julho 2008

ECO'S











Por Jorge Fernandes

No fim do sec. XIX e durante o XX, os direitos individuais foram as bandeiras políticas dos movimentos sociais e civis. Povos colonizados viram-se independentes; plebeus puderam escolher o seu “rei” pelo voto majoritário; escravos foram libertados; empregados tiveram direitos assegurados; mulheres engrossaram as fileiras do mercado de trabalho; consumidores ganharam leis que os protegessem; filas para idosos, gestantes... Um período onde o homem foi aparentemente beneficiado, onde obteve conquistas, e uma ilusória igualdade foi alardeada como vitória, o que, contudo, não passou de retórica.
A cada novo “triunfo”, outros se faziam necessários; e cada vez mais grupos de novos privilegiados subjugavam grupos de ex-privilegiados. Foi um período de lutas, de sangue, de gritos, de ruas pichadas, nervos à flor da pele... e ainda que alguns esforços fossem legítimos, houve muita injustiça.
Hoje, nada disso é passado! As antigas formas de mobilização persistem. Há os “paneleiros” em Buenos Aires, as prostitutas em São Paulo, os sem-teto em BH, e outras tantas reinvindicações espalhadas pelo Brasil e o mundo. Mas, nenhum movimento ganhou mais visibilidade e força em nossa época do que a “eco-panfletagem”. Existem mais "ong’s" no planeta em defesa da natureza do que, por exemplo, em prol das crianças abandonadas e famintas. A ecologia é a indústria político-social do novo milênio; substituindo a racial, a marxista-comunista, operária, indígena, feminista... Então, devemos nos engajar nessa nova causa? Ou ignorá-la?... O que a Bíblia fala acerca disso?
Paulo diz: “Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora” [Rm 8.22]. Muito antes das ong’s, do greenpeace, e de toda a parafernália eco-militante, o apóstolo afirmava que a natureza sofria. Porque? “Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção”; e, como nós, a natureza se aflige, dolorida, corrompida, aguardando “a liberdade da glória dos filhos de Deus” [(Rm 8.21].
A queda do homem no Éden trouxe o caos e a desordem ao universo. Adão, ao pecar, desobedeceu a Deus e, portanto, opôs-se à Sua santidade. O Deus santo não pode conviver com o pecado e nem com o pecador. Por isso, após criar todas as coisas, Deus aprovou-as, por estarem acabadas e refletire
m a Sua perfeição: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” [Gn 1.31].
O homem foi criado em perfeição, à imagem e semelhança de Deus [Gn 1.27]; mas a rebeldia e a descrença o fizeram cair, e juntamente com ele, caiu toda a criação. A queda do homem significou a morte, a transitoriedade e o fim de tudo.
E como se deu?... Deus entregou ao homem e a mulher para alimento “toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente” [Gn 1.29]; e “fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida” [Gn 2.9], e deu-lhas ao homem para delas comer livremente, menos uma: a árvore do conhecimento do bem e do mal; “porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” [Gn 2. 16-17].
Igualmente, o Senhor proferiu que “a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi” [Gn1.30]. Logo, tanto o homem quanto os animais alimentavam-se exclusivamente de ervas e frutos; eram todos herbívoros, e não havia carnívoros.
Deus ainda deu ao homem o poder de sujeitar e dominar sobre toda a criação [Gn 1.28]; ele era uma espécie de administrador, um zelador, ao qual tudo lhe foi submetido. Até esse momento, o sangue de animais não havia sido derramado; mas ao transgredir a ordem do Senhor e pecar [ao comer o fruto da árvore do bem e do mal (Gn 3.6)], o homem e a mulher viram-se nus, e para cobrir-lhes a nudez, Deus fez túnicas de peles de animais, significando que ocorrera a primeira morte no mundo [Gn 3.21].
A perfeição e o equilíbrio criados por Deus haviam-se rompido, e, a partir daquele momento, a criação sofreria as conseqüências danosas da transgressão de Adão [Gn 3.17].
Por isso, Paulo afirmou: “a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou” [Rm 8.20], e de que “a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus” [Rm 8.19]. O que o apóstolo quer nos dizer? Que apenas quando formos completamente restaurados, “a saber, a redenção do nosso corpo”, recebendo corpos glorificados como o do nosso Senhor Jesus Cristo, onde o pecado não mais habitará, e sermos santos como santo é o nosso Deus; nesse dia, a criação será redimida e não mais gemerá “com dores de parto”, pois, “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado... Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” [1Co 15.55-57]. Somente Ele detém o poder de restaurar a ordem inicialmente rompida, e que existiu quando da criação do mundo: “Porque em esperança fomos salvos”; e, “nós, segundo a sua promessa [de Cristo], aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” [Rm 8.24; 2Pe 3.13].
Ao contrário, o movimento pró-ecologia quer fazer da natureza um deus, assim como o marxismo quis fazer dos seus líderes deuses e o Estado o deus supremo, e cultuá-lo, e alçá-lo ao trono divino, intentando usurpar o lugar que jamais lhe pertenceu.
A natureza não quer assumir o lugar do Senhor, ela quer, como boa criação de Deus, servir-nos, cumprindo o propósito do Criador. E nós, cumpramos o nosso: de dar glórias somente a Deus, e, como servos, render-nos ao senhorio de Cristo nosso Senhor; entendendo que tanto o homem como o universo somente encontrarão a paz quando entrarem na plenitude da Sua glória, a qual durará por toda a eternidade, será infinita, e em gozo contínuo, “porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” [Rm 8.18].
Portanto, não é o caso de se rejeitar ou aderir à causa ecológica [o que qualquer um pode fazer, ao aceitá-la ou não], nem ignorá-la, mas de esperar em Cristo, crendo na Sua justiça, a qual não se pode escolher, mas render-se.

14 julho 2008

HOUVE












Por Jorge Fernandes


Há carne,
E sentidos,
Há ferida,
E mortes
Há dor,
E repetições,
Há teimosia,
E ilusões,
Há vão,
E abismos,
Há imoralidade,
E anuências,
Há loucura,
E omissões,
Há sinistro,
E pretextos,
Há retórica,
E impassividades,
Há treva,
E armadilhas,
Há pecados,
E inferno,
Há cegos,
E coiós,
Há obstinados,
E insanos,
Há desertores,
E desgraçados,
Há caídos,
E condenados,
Há criminosos,
E culpados,
Haverá a eternidade,
E mais nenhuma chance,
Pois o passado,
Se houve.

10 julho 2008

COROA DA VIDA













Por Jorge Fernandes

A palavra de Deus é verdadeira, e nela está contida toda a verdade. Porque, então, temos tanta dificuldade em aceitar partes dela, e compreendermos que Deus nos deu a Sua revelação como um todo; e não para escolhermos apenas e tão somente o que nos agrada, ou melhor, somente o que nos satisfaz egoisticamente, e acomoda a nossa fé? E nos leva a uma vida confortável, sem compromisso, riscos ou percalços; ensimesmados em nós mesmos por falsas promessas e conceitos distorcidos? Que nos torna no pior tipo de fariseu, ou no melhor tipo de irresponsável e negligente, dito "cristão"?
Quando as provações vêem, qual a nossa reação? Murmurar e nos rebelar contra Deus? Imputar-lhE injustiça e fazer-nos de vítimas? Ou aproximar-nos obedientes e submissos do Seu trono, aceitando a Sua santa vontade, sabendo que estamos sob os cuidados de um Deus sábio e reto?
Ao ouvir-lhE a voz, e sermos chamados à conversão, a obra de Deus inicia-se em nós, e conduz-nos até o dia do Senhor: "tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo" [Fp 1.6]. Aceitando-O como Senhor e Salvador, adquirimos o passaporte que nos levará ao gozo eterno, numa viagem sem retorno; que, contudo, não está isenta de dificuldades, muitas vezes, dolorosas. Ainda assim, nada está à Sua revelia; em cuja soberania e perfeição Ele não se permite surpreender, nem se decepcionar, visto que todo o curso da história [inclusive a nossa história pessoal] encontra-se determinado eternamente por Seus decretos.
Não podemos ver a provação apenas como um castigo por algo que fizemos de errado, por causa do pecado ["Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho" (Hb 12.6)]; mas devemos vê-la como um instrumento de Deus para a nossa santificação ["Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14)], a qual nos levará à perfeição ["Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra"(2Ti 3.17)]; e, portanto, sentirmos gozo nas aflições, a fim de perseverarmos, mantendo-nos firmes nas promessas do Senhor, mesmo quando tudo parece conspirar contra nós.
Assim Deus estará colocando em nós o caráter do Seu Filho Jesus Cristo, e nos fará semelhante a Ele. Como Paulo disse: "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos" [2Co 4.8-10].
Devemos crer firmemente que Deus dirige a nossa vida, que Ele cuida de cada detalhe do nosso dia-a-dia, mesmo os aparentemente insignificantes, mesmo aqueles que sequer notamos. E assim, temos a confiança de que, ainda que sem entender, sabemos que Deus não nos abandona, e de "que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" [Rom 8:28]. Se O amamos, somos obedientes, e submetemo-nos aos Seus desígnios. E teremos conforto na Sua palavra, a qual promete que Jesus nos dará a paz que o mundo não pode nos dar [João 14:27].
Portanto, sigamos firmes no Senhor, "que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia" [2Ti 1.12]; entregando a nossa vida em confiança ao Deus eterno e santo, o qual nos purificará como o ouro é purificado pelo fogo [1 Pe 1.7], a fim de nos apresentarmos diante do Seu trono irrepreensíveis, aprovados em Cristo Jesus, "para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para nós" [1 Pe 1:4].; pois, "Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam" [Tg 1.12].

04 julho 2008

NÃO SEJA IGUAL AOS OUTROS












Por Jorge Fernandes Isah


Vi uma propaganda de um produto na internet em que a mensagem era exatamente esta: “Não seja igual aos outros”. Havia um apelo à diferença, ao não conformismo, a não se parecer ou ser uma repetição de outras pessoas.
No primeiro momento, pensei: “Puxa, é mais uma tentativa de se vender algo que não diferencia ninguém ou nada neste mundo... que pelo contrário, o fará parecido ou igual à maioria”. É claro que não somos inteiramente iguais, nem mesmo na família é possível encontrar pessoas idênticas. Não falo de clonagem, nem de uma massa de indivíduos fisionômica e psicologicamente análogos. Mas é que, cada vez mais os nossos comportamentos, gostos e vontades estão-se massificando. E a publicidade dos produtos, a fim de distingui-los, procura fisgar o consumidor com a idéia de exclusividade, ou quando muito, adentrá-lo a um grupo “seleto” de privilegiados.
Se o objetivo é conquistar o maior número de pessoas para a sua causa, consequentemente, um número maior delas se parecerá com outros adeptos catequizados pela mesma cartilha. No fundo, a idéia é vender, quanto mais a um maior número de pessoas, e nada melhor do que dizer que você é singular, e fazê-lo adquirir o produto como outros tantos milhões o farão, crendo no mesmo ardil.
É a prova do quanto há de insatisfação, pois, o que as sandálias da Gisele Bundchen ou a cerveja do “Zeca” ou o carrão do Kiefer Sutherland podem fazer para me transformar em alguém como eles? A Gisele é única não pelas sandálias. O Zeca, o Kiefer, idem. O que nos torna diferentes é exatamente a medida daquilo que Deus nos deu, e que deu a cada um. É possível que eu cante tão bem como o Chat Baker? Ou venda tantos softers como o Bill Gates? Ou componha como Bach? E jogue como o Cristiano Ronaldo? Talvez eu tenha até mesmo algumas das suas habilidades, talvez eles não tenham algumas das minhas; mas jamais serei eles, e vice-versa.
Deus deu a cada um [crente ou não] habilidades, dons e talentos que são exclusivos; não no sentido de únicos, de que apenas uma pessoa os possui, mas no sentido de que, no conjunto de nossas aptidões e características não há alguém como nós [é um milagre, visto que evidencia a nossa complexidade, e a impossibilidade de sermos apenas fruto do “acaso”]. E devo não apenas conformar-me, mas alegrar-me com aquilo que Ele me deu, sabendo que, segundo a Sua santa e reta vontade pode dar mais ou menos a quem Ele quiser.
O homem natural [e mesmo o crente] pode não se satisfazer com o que Deus lhe dotou, e cobiçar o que não lhe pertence, seja material, espiritual ou intelectual; incorrendo em pecado, pois, agindo assim, estamos dizendo que o Senhor errou ao não me capacitar como fez a outro. Isso vale para tudo, para todas as nossas insatisfações; e, devemos reconhecer que ao agir assim, estamos em flagrante oposição a Deus, que é perfeito, e não erra. Paulo afirmou: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” [1Tes 5.18].
Ao buscarmos ser como o outro, deixamos de encontrar em nós exatamente aquilo que Deus nos confiou, não para o nosso proveito próprio, mas para a Sua glória: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”[1Co 10.31].
Mas, em seguida, veio-me uma questão: “A Bíblia não afirma que devo ser como o meu Senhor Jesus Cristo?"... “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”[2Co 3.18]. Então percebi o quanto estava errado. E o quanto deveria anelar a conformidade do meu Senhor e Salvador, na expectação de um dia ser como Ele: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele [Jesus] se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”[1Jo 3.2]. Deus o Pai prometeu que seremos como o Seu Filho Amado, porque um dia Jesus Cristo se fez semelhante a nós [“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fl 2.6-7)], por amor a nós [Ef 5.2], para nos salvar da condenação eterna [At 4.10-12;Rm 5,8], e nos dar vida [Jo 20.31;Rm 6.23]; portanto, devemos buscar ardentemente parecer-nos com Cristo, e orar para que esse dia não demore, e possamos, como Paulo, dizer: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” [Gl 2.20]; e ainda: “Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nele” [Cl 2.6].
E então, a Gisele, o Zeca e o Kiefer poderão ser iguais a nós, se assim aprouver a Deus, chamando-os para a Sua glória, onde todos seremos um só Corpo; sem nos preocupar mais em “não ser igual aos outros”.

30 junho 2008

MALABARISMOS












Por Jorge Fernandes

Atualmente, há uma preocupação excessiva em se ser pragmático, onde todos os meios justificam os fins, mesmo que não sejam éticos, honestos e morais. E eles têm de ocorrer imediatamente, senão todo o projeto iniciado vai por água abaixo, e é prontamente abandonado. A igreja tem refletido esse comportamento nas suas várias áreas de atuação, inclusive, no evangelismo. Portanto, tentarei responder à seguinte questão: Carece de malabarismos e subterfúgios a pregação para “ganhar” almas a Cristo?
Primeiramente, faz-se necessário alguns esclarecimentos. Nem eu, nem você, nem qualquer indivíduo é mais importante do que o Senhor, nem mesmo os perdidos. Então, o que faço, seja na pregação, no escrever, no cantar, no viver como testemunha da fé, tem de objetivar a glorificação de Deus; e o Evangelho a ser pregado, é o de Cristo nosso Senhor [não se esqueça do que Paulo afirmou, de que o importante é pregar a Cristo, e Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gregos/gentios/nós (1Co 2.2;1Co 1.23)].
Se as pessoas vão aceitá-lo ou não, se vão escandalizar-se ou não, taxar-me de burro, medieval, bárbaro ou qualquer outro adjetivo menos cortêz, isso é irrelevante. O mundo jamais entenderá a Cristo e ao Evangelho [a esmagadora maioria das pessoas, para ser bem redundante], e de que, contemporizar, ficar em cima do muro, condescender ou buscar o meio termo em nada os ajudará, e em nada nos ajudará [Dr. Lloyds-Jones diz que na Palavra de Deus não há cinza, apenas preto e branco], e o nome do Senhor será aviltado [“Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” (Rm 2.24)].

Vê-se o exemplo de hoje: a igreja atual se assemelha com a igreja primitiva? Ou à época dos puritanos? O senhor Jesus afirmou que somos sal e luz no mundo [Mt 5.13-14], mas a igreja contemporânea, ao invés de influenciar o mundo, deixa-se cada vez mais influenciar por ele. As trevas entraram onde devia haver luz, e “quão grande serão tais trevas” [Mt 6.23].
Em 2Co 6.14 Paulo diz: Pode a luz coexistir com as trevas? E o mal com o bem? “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça?”. O crente é separado para Deus, e separado do mundo. A palavra santo quer dizer a mesma coisa: separado. Santo é aquele que foi escolhido desde a eternidade para ser filho de Deus[Jo 1.12], para ser sacerdócio santo [1Pe 2.5], e instrumento de justiça para a Sua glória [Rm 6.13]. Reportando-nos a Cristo, ele disse: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” [Lc 11.23]. Pode alguém servir a dois senhores? “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro” [Mt 6.24]. O homem será sempre servo. Ele jamais será senhor de nada. Então, a questão é: a qual dos senhores servirá? A Deus, ou a Satanás e o pecado?
O cuidado que se deve ter ao escrever, falar ou comentar qualquer assunto é o de buscar a verdade nas Escrituras. E se tenho dúvidas, preciso orar e estudar ainda mais o assunto, a fim de que o Senhor o elucide e o esclareça; para que eu não tropeçe na Palavra, e seja desobediente [1Pe 2.8]; “levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” [Ef 4.14]. E assim, não seja pedra de tropeço a ninguém [Lc 17.2], nem pregue sofismas e leve as pessoas ao erro, a manterem-se rebeldes a Deus e a Sua palavra; muito menos, a tentar impedi-las de se salvarem [como se fosse possível!].
Então, não posso me preocupar com o que os outros falam ou pensam em oposição ao Evangelho [contudo, devo tratá-los com e em amor], porque agindo assim, estarei negando o meu Senhor e a minha consciência; e chegará o momento em que, talvez, em favor da vontade alheia [ou da minha própria vontade em não me desagradar, comprometer, ou ser incompatibilizado de certas relações, situações e lugares], exclua completamente Deus da minha vida, ou então o acomode num cantinho do quarto de despejo, para as horas em que precisar, quando precisar [Daniel 1 a 6 revela-nos como é ser separado do mundo].
O mandamento supremo é: “amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” [Dt 6.5 - a alusão é a amar a Deus com todo o meu ser (física, racional, intelectual e em disposição total), e não apenas "senti-lo”].
É que preocupa-nos muito mais ser aceitos... Humanamente falando, estamos sempre inclinados a isso. A aceitação faz parte da nossa vida; e forma, na maioria das vezes, o nosso caráter, para o bem ou para o mal. E esquecendo-nos dos devaneios psicológicos, sigamos a Pedro, o qual disse diante do sinédrio: “Mais importa agradar a Deus do que aos homens” [At 5.29].
Pergunto-lhe: É possível alguém afastar-se de Deus? O Senhor soberano, perfeito e eterno pode ser rejeitado por um simples mortal? Pense racionalmente, apesar do que, melhor é pensar biblicamente: o homem ao nascer JÁ está separado de Deus. Ele não nasce em Cristo e depois morre para Cristo. Ele, ao ser concebido, já está morto para Deus [Rm 3.23;5.12], portanto, não se é possível afastar quem nunca esteve próximo. Por exemplo: se sou um esquimó, e nunca ouvi falar do pecado, da redenção em Cristo, do arrependimento, etc, não posso me separar de Deus, pois, na verdade, já estou separado Dele. Se um missionário ou evangelista não for até a mim e pregar o Evangelho, ou a Palavra não me for entregue pelo meio que aprouver ao Senhor, apenas me manterei afastado Dele, e ao morrer, nada poderá me unir mais a Ele.
A importância da pregação do Evangelho é esta: de levá-lo a todos que estão separados e mortos para Deus [o Evangelho verdadeiro de Cristo, que fala do pecado, da condenação, da morte eterna, do inferno; mas também fala do amor de Deus, da salvação, da redenção, do sacrifício do Senhor, da eterna glória que está por vir; e não o evangelho psicológico que me acomoda à pregação assistencialista de que Deus me ama de qualquer jeito, e de que sou um coitadinho!]; e aos vivos para que sejam ainda mais vivificados.
A Bíblia está repleta de exemplos de homens sinceros que, mesmo cheios de boa-fé, foram castigados por Deus, ao não cumprirem a Sua vontade. É o caso de Caim. Ele deu a Deus uma oferta, a qual Deus rejeitou, pois não era a oferta segundo o padrão de Deus, como Ele estabelecera; ao contrário do seu irmão Abel que “trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou” [Gn 4.3-5].

Uzá, quando este conduzia a Arca da Aliança para a cidade de Davi, tentou impedi-la de cair, segurando-a, quando ela desequilibrou-se. E morreu na hora, porque Deus havia proibido qualquer um de tocá-la: “Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus” [2 Sm 6.7].
Moíses, ao irar-se contra o seu povo, feriu com a vara duas vezes a rocha fazendo jorrar água [Deus lhe disse para TOMAR a vara e FALAR à rocha], por isso, não pôde entrar na terra prometida, ainda que a tenha visto de longe [Nm 20.2-13]. Há muitos outros exemplos... Mas sejamos como João o Batista, o qual disse, quando alguns dos seus discípulos questionaram-no pelo fato de todos o abandonarem e irem seguir a Cristo: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”[Jo 3.30]. E como Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” [Gl 2.20].
O esquimó só se reconciliará com Deus, se Deus criar os meios e condições para que ele se reconcilie. Trocando em miúdos: eu não posso ir a Deus, se Deus não me chamar, e o Espírito Santo não me regenerar; não posso aceitar a Cristo se não for uma de suas ovelhas escolhidas [Jo 10.14]; não posso ir até Cristo se o Pai não me der a Ele! [Jo 6.37].
Então, não há nenhuma chance deu aproximar ou afastar alguém de Deus, ainda que eu faça muita força, ainda que eu me empenhe ao máximo, ainda que eu faça todos os malabarismos possíveis, e use todos os métodos disponíveis, mesmo que eu morra por um deles; se esta não for a vontade de Deus. Sou um instrumento, como um bisturi nas mãos do cirurgião, mas é o cirurgião quem opera através do bisturi; e a vontade é toda e completamente do cirurgião, e o bisturi é apenas objeto da vontade do cirurgião. É claro que estou colocando a coisa toda de uma forma hiperbólica, visto que o bisturi não tem vontade alguma, e no nosso caso temos uma vontade não livre como muitos pregam [pois o livre-arbítrio implica numa escolha sem qualquer influência, ausente de qualquer motivação, o que é uma fábula, pois todas as nossas decisões estão PRESAS a algo; portanto, não são neutras o suficiente para que decidamos livremente].

Para concluir, não é preciso “pantominas” para que as pessoas cheguem-se a Cristo, porque “não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” [Jo 15.16]. Ele, através da Sua igreja e da proclamação do Seu Evangelho, pela ação do Espírito Santo, é quem chamará, regenerará e justificará o pecador, o qual se encontra apartado de Deus, pois, “vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”[Jo 8.44]. Mas os escolhidos eternamente, desde sempre, já são filhos de Deus.

26 junho 2008

MOTEJO







Por Jorge Fernandes



Não conheci,
Não encontrei,
Já é muito,
Os fiz abandonar,
Agora venha sem cargas.

Não há palhas,
Nem cascas,
Colha o grão seco dos galhos ociosos,
E ocupe-se com palavras vãs.

Nada diminuiu,
Nem o restolho se espalhou,
Apanhei-o como jóia acabada,
Enquanto a aflição veio ao avançar da noite.

Julguei as mãos vazias,
A culpa abandonada,
Ontem foi apenas outro dia...

Os braços estendidos,
O nome marcado,
Nenhum som aos ouvidos,
Nem sangue nos lábios,
No torpor ficou claro,
O que as moscas haviam dito.

23 junho 2008

DESPLUGAR










Por Jorge Fernandes Isah


O que aconteceria se você ficasse exposto à radiação nuclear? Como os habitantes de Goiania ao Césio 137? Ou os russos em Chernobyl? E arriscar-se, por anos, aos perigos dos agrotóxicos sem qualquer tipo de proteção? A nada no Tietê somente de sunga? Ou tomar arsênico no café da manhã?
Sem entender muito do assunto, qualquer um de nós saberia a resposta: a morte imediata, a morte após algum tempo, doenças, ou sequêlas irreversíveis por toda a vida. O nosso corpo não suportaria um ataque como esses sem que houvesse meios adequados de proteção, e se degeneraria, e seria destruído. Em alguns casos, não se é necessário anos e anos de exposição às toxinas para sermos minados, mas apenas alguns minutos, às vezes, segundos, e somos derrotados.
Agora, imagine-se diante de uma tv, uma hora, duas, três, quatro... dia após dia, semana a semana, durante anos... seria o mesmo que oferecer-se como cobaia numa experiência de transmutação de cérebros, ou candidatar-se a homem-bomba palestino. Ao sujeitar-nos a todo o tipo de miséria humana: degradação, perversão, injustiça, cobiça, estupor, infâmia... expomo-nos a uma programação abjeta, que revela o quão próximo se está de atingir o suícidio moral, a destruição da família, e por fim, a eutanásia social... O espírito necrosa muito mais rapidamente do que o corpo.
A tv não é inocente, enquanto a maioria de nós finge ser, pois sabemos muito bem o que vemos, sabemos quais são as consequências, e o quanto somos afetados. Mas a disposição para o mal encarrega-se de embrutecer a consciência, e somos arrastados pelas imagens e sons, cores e movimentos, glória, poder e ruína, como folhas no tsunami. Alguns segundos: suficientes para nos levar ao engano da “máquina de sonhos”, a ter entorpecidos os sentidos, e agir como “eles” programaram: chorar quando se é para chorar, rir quando se é para rir, xingar quando não se pode calar, dormir e acordar vazio como um balão sem ar... Já não é questão de tempo... estamos vencidos, cativos na própria alma, produzida na fábrica de abstração.
“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
O alerta é para não sermos conformados com este mundo, e a tv é a síntese do que ele é. Mas Cristo diz-nos: “Porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17.14-15). Não ser deste mundo representa não se conformar com ele; se o fazemos, é porque pertencemos a ele, e não somos o alvo da oração do Senhor. “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele... E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1Jo 2.15;17).
O seu monitor ainda está ligado?
Em João 12.46 lemos: “Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”. Quer dizer que há trevas e há luz; o mundo e tudo o que ele representa são trevas: “adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl 5.19-21). Estes são os frutos da carne, as concupiscências da carne, ou pecados; e por acaso não é a eles que estamos submetidos diariamente? E se propagam através de nós?
É um massacre a persuadir-nos, inclinando-nos às transgressões. São os recheios das novelas, reallity-shows, programas de auditório, filmes e peças de teatro em cartaz ou fora dele, das músicas tocadas em casas e ruas, da literatura de ficção e na maioria dita acadêmica; são os conteúdos da internet, das revistas e jornais, onde grassa o pecado contra Deus, e contra o próximo. “Porque da abundância do seu coração fala a boca” (Lc 6.45); e, “se alegram de fazer mal, e folgam com as perversidades dos maus” (Pr 2.14).
Ao contrário, quantas vezes viu ou manifestou a luz, ou os frutos do Espírito? “Amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5.22)?
Então, a Palavra de Deus mantém-nos livres do domínio do pecado; com os olhos no mundo, contudo, sem nos deleitar e conformar com ele. Através dela, conhece-se o que se é, e o que se pode ser em Cristo nosso Senhor: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12).
Que a nossa vida seja o produzir frutos do Espírito, contra os quais não há lei (a lei de Deus, pois, a lei humana quer impedir que esses frutos se reproduzam), e “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” (Gl 5.24-25). Porque Cristo veio ao mundo, o qual foi feito por Ele, e o mundo não o conheceu (Jo 1.10).
Plugar-se ao mundo, é desligar-se de Deus.

17 junho 2008

RUTILAR













Por Jorge Fernandes

Por toda a Bíblia vemos a glória de Deus revelada em magnitude, autoridade, onipotência, santidade, perfeição, amor, misericórdia, graça, soberania... na criação do universo; do homem à Sua imagem e semelhança; na queda da humanidade; nas alianças com o Seu povo; na redenção definitiva pela morte sacrificial e substitutiva do Seu Filho Amado Jesus Cristo; nas promessas de vida eterna aos Seus escolhidos; na condenação igualmente eterna de Satanás e seus demônios, e de todos aqueles que rejeitaram a Palavra da Vida... em inúmeros outros aspectos, fatos, execuções e promessas é visível a glória de Deus, manifestada em tudo que existiu, subsiste e existirá.
Mas há duas passagens que nos mostram, de uma forma especial, o que nos espera na eternidade, quando estaremos diante de toda a majestade do nosso Deus. A primeira, encontra-se em Êxodo 33 e 34, quando é impossível não se emocionar com as narrativas escritas ali. Moíses, um dos grandes profetas de Deus, foi contemplado com o privilégio de falar com Ele. Durante a jornada de 40 anos até Canaã, ele presenciou todos os feitos realizados pelo Senhor em favor do Seu povo; mas, também, presenciou o quanto esse povo era rebelde, de dura cerviz para com Deus. Moíses viu a glória de Deus, e a hediondez dos seus semelhantes. Contudo, não é disso que quero falar...
Por quarenta dias, o profeta Moíses esteve em comunhão íntima com o Senhor. Pisou em terreno santo, e pôde vislumbrar a santidade Dele. Durante quarenta dias, ele esteve exposto à glória de Deus, de uma forma fantástica e única, a qual poucos homens tiveram entrada. Deus se revelou a Moíses como poucas vezes o fez: “E falava o Senhor a Moíses face a face, como qualquer fala com o seu amigo” (v.33.11). É claro que o profeta não ficava “cara a cara” com Deus, “frente a frente” com Ele. O próprio Senhor alertou-o: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá”(v.33.20). A idéia a se passar é a de que havia uma comunhão íntima, um relacionamento pessoal entre o Senhor e Moíses; e de que esta era a vontade de Deus, de que o Seu povo compreendesse como era prazeroso e santo o relacionar-se com Ele. Através da submissão e obediência aos Seus mandamentos, o povo hebreu reverenciaria-O em adoração pura e santa. Nada parecido com a adoração pagã aos deuses mortos dos seus inimigos; “E habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei o seu Deus”(v.29.45).
A glória de Deus resplandecia no rosto do profeta, quando este desceu do monte Sinai, para levar as duas tábuas do testamento, a aliança de Deus com o povo de Israel: “Moíses não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que falara com ele”(v.34.29). O povo temeu chegar-se a Moíses; e ele era uma miniatura, quase um nada diante da santidade divina; e ainda assim, temeram, porque a iniquidade do povo estava manifestada frente ao testemunho do seu líder. Essa ínfima demonstração da glória de Deus, obrigou o profeta a pôr um veu sobre o rosto diante da congregação, até que entrasse para falar com Deus novamente (v.34.35).
Diante de um povo rebelde, inclinado ao mal, e sem arrepender-se (v.32.22; 33.3; 34.9), Deus em sua muita misericórdia não podia permanecer no meio dele, a fim de que a Sua glória não os consumisse, destruindo-os (v.33.5). E poderia fazê-lo, se não fosse a Sua graça, e a aliança que estabelecera com os patriarcas, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23) . Então, ordenou o Senhor a Moíses que erguesse uma tenda fora do arraial, e ali, “todo aquele que buscava o Senhor saía à tenda da congregação” (v.33.7).
Moíses exultou, proclamou o nome do Senhor, ao vê-lo descer numa nuvem e se pôr ali junto a ele, apressou-se, inclinou a cabeça à terra, e adorou-O (v.34.5;8).
A segunda passagem, encontra-se no cap. 9 de Lucas. Estando Jesus orando, “transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente. E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias, os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém. E Pedro e os que estavam com ele... viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam com ele” (v.29-32).
Vimos que Moíses teve o rosto, apenas o rosto, resplandecente. Ele fora como um espelho, um reflexo, a revelar minimamente a glória de Deus; uma glória que não era sua, que não podia gerar, mas que pela graça de Deus, unicamente pela Sua vontade soberana, passou a pertencer-lhe; e pertence a cada um de nós que fomos predestinados, chamados, justificados e glorificados em Cristo Jesus (Rm 8.30).
Então, agora parece que vemos uma repetição do que aconteceu com Moíses, quando da transfiguração do Senhor Jesus Cristo. Mas ao contrário do profeta que refletia a glória de Deus, Cristo é a própria glória de Deus. Vemos Jesus transfigurado, e a palavra transfigurar significa transformar, modificar a figura. Moíses apreendeu um fragmento do esplendor de Deus, e o seu rosto resplandecia, e o povo o temeu. Imagino o que seria de Moíses se não fosse a graça de Deus. Ele seria destruído. E o que seria de nós? As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22).
Cristo é a própria glória de Deus, não um reflexo, um poder indireto, nem apenas um indicativo da fonte, aquele que aponta para Deus; mas o próprio Deus em unidade com o Pai e o Espírito Santo. A glória de Deus estava Nele, e era Ele (e está, e é Ele eternamente): “para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre” (1Pe 4.11).
Pedro, extasiado com o que via, clamou ao Senhor para que se armassem três tendas, uma para Jesus, uma para Moíses, e outra para Elias (v.33). Mas a Bíblia afirma que ele não sabia o que dizia, mostrando a incapacidade de se compreender e absorver a vontade de Deus, quando o fazemos por nós mesmos, deliberados por nossa natureza corrompida.
“E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram”(v.34). Novamente, não resta ao homem mais nada diante da santidade e magnitude de Deus, do que o temor, em reverência e adoração.
“E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi”(v.35).
Moíses era o interprete de Deus junto ao povo de Israel. Ele transmitia-lhes tudo o que Deus lhe ordenou. Foi assim em relação aos mandamentos, à construção do tabernáculo, aos sacrifícios e cerimônias de consagração, às festas, ao sacerdócio dos levitas... aos trabalhos mínimos, como o cozer o pão sem fermento e a confecção de cortinas. Mas em tudo havia a vontade do Senhor para que assim fosse, e a tudo santificava; eram ordens a se cumprir, destinada ao Seu povo. Moíses, portanto, era o interlocutor da parte de Deus ao povo de Israel.
Cristo é o próprio Deus falando-nos. Sem a necessidade de um intermediário, por isso, o Pai exorta os discípulos a ouvi-lO. Não que Jesus seja uma voz solitária, individualista, não. Ele fala em conformidade com o Pai, porque tudo quanto o Pai faz, o Filho o faz igualmente (Jo 5.19): “Eu falo do que vi junto de meu Pai” (Jo 8.38), afirmou o Senhor; e exultamo-nos diante da harmonia eterna existente entre as pessoas da Trindade Santa.
Alguns estudiosos afirmam que Moíses viu a Jesus no monte Sinai, e que agora, diante dos discípulos, testemunhava a Sua divindade; o que João 5.46, parece confirmar: “Porque, se vós crêsseis em Moíses, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele”. Por analogia, aceitamos que Moíses viu no monte Sinai a glória de Cristo, a qual Pedro, Tiago e João se deleitaram em contemplar (v.32).
Sem nos esquecer de que Moíses e Elias apareceram “com glória”, ao contrário de Jesus Cristo, pois Pedro e os demais ao despertarem, viram a “sua” glória. E regozijemo-nos; pois, na eternidade, receberemos a mesma glória que coube aos profetas, pela graça e para a glória de Deus.

13 junho 2008

SUSTER








Por Jorge Fernandes


A vida cristã não é uma simples teoria, filosofia ou utopia, como já disse anteriormente; um processo exclusivamente racional que me levará, invariavelmente, a compreender a Deus. A vida cristã é para ser vivida, praticada, senão, não haveria a necessidade de santificação, e nem de se permanecer aqui na terra; tão logo convertéssemos, seríamos arrebatados ao Céu.
Tanto você como eu vivemos o mesmo dilema: como ser santo? Como agir como um cristão? Como esperar apenas em Deus, e nos confortar com a promessa de que Ele cuida e zela por nós? Como deixar de crer que somos capazes de cuidar de nós mesmos? Como abrir mão da imaginária segurança que supostamente temos quando quase o tempo todo somos afligidos pela intranquilidade? Se sequer obtemos êxito em parecer-se com um cristão bíblico?
Creio que apenas quando me entregar completamente ao senhorio de Cristo, colocando-me total e integralmente em Suas mãos, deixando de manter-me no centro enquanto Ele encontra-se periférico, serei capaz de compreender e de viver uma vida cristã. Essa é a promessa que Cristo nos dá: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para terdes vida(Jo 5.40).
Em Gálatas 6.3, Paulo diz: "Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo". Não é isso que fazemos o tempo todo? Tentando ser alguma coisa, quando não somos nada? Buscando uma glória pessoal quando não há nada em nós do que se gloriar? Mas quando entendermos, pelo poder do Espírito Santo, que a subserviência a Cristo, que o lançar-me à periferia e Ele ao centro, cumprindo assim os propósitos de Deus para nossa vida me fará um servo fiel, então estarei apto por Deus a distribuir neste mundo e aos homens os dons que me foram dados pelo meu Senhor. Mas ainda assim, não há nada em que me orgulhar, não tenho mérito algum, visto que fiz apenas e tão somente aquilo que Ele ordenou: “Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17.10). Como o barro nas mãos do oleiro, que segundo a sua vontade o modelará para a finalidade e o propósito que ele quiser, assim somos diante do Senhor (Rm 9.20-21).
Cada vez mais descubro que não há solução além de Deus. Não apenas para o mundo, as nações, culturas diferentes, os meus concidadãos, vizinhos e parentes, mas sobretudo, para mim mesmo. Como obtê-la? Esta talvez seja a nossa maior dificuldade: entender que o Evangelho não é somente para os outros, não é uma espécie de publicidade do tipo “faça o que eu digo, não faça o que faço”; mas a sua mensagem e o seu poder transformador foi dado pelo Altíssimo, em primeiro lugar, a mim mesmo. E é algo que tenho de vivê-lo para o meu próprio bem, e gozo; “Na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3.8).
Outra questão é a de que vivemos com o coração conturbado, atemorizado... “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”(Jo 14.27). É preciso confiar no Senhor mesmo quando tudo estiver de cabeça para baixo, mesmo quando não há uma esperança aparente; quanto mais quando as coisas estiverem bem.
Hoje, as pessoas se afligem por qualquer bobagem: um cabelo que cai, o gol contra do zagueiro, o vizinho ranzinza, o latido do cão... tudo é motivo para nos inquietar, nos tornar infelizes, amargurados. Fico a imaginar se estivéssemos no lugar de Pedro, à noite, acorrentado, guardado na prisão por 16 soldados de Herodes, à espera da execução na manhã seguinte... Dormiríamos profunda e tranquilamente como ele, esperando apenas em Cristo nosso Senhor (At 12.5)?
Este é apenas um exemplo de como estamos mais suscetíveis às intempéries, ainda que não passem de uma inofensiva brisazinha. O homem está e é cada vez mais infeliz, porque encontra-se em desobediência a Deus, e não há temor de Deus diante dele (Rm 3.11;18). O homem está em guerra constante consigo mesmo. É um dilema, uma luta interior a qual a sua natureza o impele à rebeldia contra o Senhor, a opor-se às coisas de Deus, mesmo quando não é possível achar em si algo que o alegre; e o que encontra, lança-o em trevas profundas, na desilusão, na tristeza, na amargura, refletindo a sua natureza caída, pecaminosa: "maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!" (Jr 17.5). E isso traz consequências trágicas para a sua vida (Gl 6.7-10), mantendo-o preso às cadeias que o tornarão mais e mais miserável; é um fardo insuportável de se levar, porque a “aflição e angústia se apoderam de mim”; mas, não se pode esquecer da esperança, a qual está unicamente em nosso bom Deus, pois “os teus mandamentos são o meu prazer”(Sl 119.143).
Portanto, o cristão é aquele que pode repetir a Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl.2.20); e: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fl 1.21), ainda que se saiba o miserável homem que é (Rm 7.24).