31 maio 2008

DUREZ





Por Jorge Fernandes


Por quantas vezes,
Ouvirei aquela palavra,
E me sentirei morto,
Como um corpo conservado no gelo,
A alma intacta não se alui,
Insensível como ouvidos moucos,
Ao troar da lima no metal?

Quantas vezes ainda,
A espada me ferirá,
O sangue a jorrar anêmico,
Jaz-se em poça, se esvanece,
E nem mancha forja?

A quantas vezes,
Irei tropegar,
Qual velho a mover-se no pântano,
A resvalar a ponta do dedo,
Em algo que julga bálsamo,
Mas sequer pode-se entrever?

Dores a fustigar;
Entre golpes acolhidos,
A pasmar a consciência suína,
Não é ainda o nocaute...
Nem o espírito sepultado.

26 maio 2008

IRMÃO X IRMÃO














Por Jorge Fernandes

Recentemente travei um “embate” com um irmão a respeito do constante julgamento que nós, crentes, fazemos uns dos outros. E nos demos mal, ambos. Não que não haja nada a se discutir; nem que se deva mascarar os erros doutrinários e contemporizar com os falsos ensinos e testemunhos de muitos “evangélicos”. Mas é que, enquanto travamos uma batalha entre denominações, a guerra vai sendo vencida pelas forças inimigas. O apóstolo Pedro nos adverte de que “já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?”.
Mas o que se vê são reformados acusando batistas de heréticos por não batizarem crianças, que, em contrapartida, acusam os reformados de heréticos por realizarem o pedobatismo. Calvinistas não toleram arminianos, que consideram os calvinistas “filhos das trevas”. Pré-milenistas repelem pós-milenistas, que, por sua vez, desejam exorcizá-los. Então, a denominação a qual pertenço é a melhor, tanto na doutrina, como na pregação, como no serviço a Deus. Ando com um “neon” preso à testa com os dizeres “batista”, ou “presbiteriano”, ou “metodista”, ou o de outra congregação. As igrejas acabam parecidas com clubes de futebol, com agremiações esportivas, onde torcer e distorcer é o que importa:
“No domingo, vamos à 21a igreja?”.
“Que isso, mano! Eles não tão com nada! Vamo lá na 58a ! Eles são da hora!”.
E assim é só organizar a charanga, as teenleader, o mestre-de-cerimônias, os comes-e-bebes, e se tem um grande evento. Uma festa de arromba. E Cristo nosso Senhor? Onde Ele entra?... Nesse clube, o Santo de Deus não tem lugar; apenas a idolatria.
A carne grita tão desesperamente em nós, que a despeito de uma suposta espiritualidade e zelo para com as coisas de Deus, desprezamos irmãos que igualmente foram levados a Cristo pelo Pai (Jo 17.24), e com os quais passaremos toda a eternidade. No fundo, há muitos cristãos que se consideram melhores do que outros. Há muitos de nós que não querem se misturar; que em sua soberba e vaidade se julgam os únicos salvos pelo nosso Senhor, e vislumbram em si méritos suficientes para que Deus os escolha, ainda que não assumam, ainda que digam que são salvos apenas pela graça do Senhor. Muitas vezes, em nossa arrogância, pecamos, odiando e desprezando homens, lançando-os no fogo do inferno (se possível fosse), investidos de uma autoridade que não possuímos, nem nos foi dada. Como Paulo disse aos coríntios: “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor... Já estais fartos! já estais ricos! sem nós reinais! e quisera reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco!” (1Co 4.3-5;8).
O Senhor Jesus, porém, nos diz: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”(Mt 5.44); e se devo amar aos meus inimigos quanto mais aos irmãos na fé; e não cometer a ofensa de me sentar em um trono de santidade e dignidade para falar mal de quem quer que seja, e viver dessa forma dissoluta; “porque para mim, o viver é Cristo”(Fil. 1.21).
Enquanto discutimos qual de nós é o melhor, caindo no mesmo pecado que os discípulos do Senhor cairam, indignamo-nos mutuamente (Mt 20.20-24), copiando-os naquilo que havia de pior. Em contrapartida, negligenciamos a exortação que o nosso Senhor nos deu: “E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo”(Mt 20.27). Por que é sempre mais fácil imitarmos o erro dos filhos de Zebedeu do que imitarmos a Jesus Cristo, o qual veio servir e não ser servido? Ainda que as Escrituras nos alertem, ainda que o Espírito Santo nos oriente, sempre tendemos a assumir o orgulho e a soberba diante de Deus e dos homens. Alguém se candidata a servo? A serviçal do seu irmão? “Todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal”(Mt 20.26). Pouquíssimos de nós anseiam esse posto, antes queremos manter a dignidade, a pompa de distinção, amando “os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas”(Mt 23.6). O holofote não é para o crente. Nem honrarias. Nem aplausos. Nem tapetes vermelhos. Aqui neste mundo, o qual nos odeia como odiou ao nosso Senhor (Jo 15.18), não buscamos nem esperamos honras, “porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele”(Fp 1.29). Mas muitos se enganam com os tapinhas nas costas, com os títulos beneméritos, com as placas, medalhas, comendas e distinções insignes, e, sendo ilustres, estão no topo do Reino de Deus, assegurando-lhes o direito de tripudiarem sobre os ossos e carnes humanas, escarnecendo, ridicularizando e detratando-os, sem que aja qualquer amor, pois não há arrependimento. É como no boxe, onde os lutadores desejam, cada um a “desgraça” do outro, subjugando-o, impondo-se. Pelo menos, ao fim da luta, se cumprimentam... se um deles não for à UTI ou ao necrotério.
Não era para ser assim...
A Bíblia nos exorta a sermos santos, como é santo o nosso Pai que está nos céus (1Pe 1.15-16); a amarmos cordialmente uns aos outros com amor fraternal (Rm 12.10); a amarmos ardentemente uns aos outros com o coração puro(1Pe 1.22); unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer (1Co 1.10); e admoestando-nos uns aos outros, certos de que estamos cheios de bondade e de conhecimento (Rm 15.14); mas nós mesmos fazemos a injustiça e o dano, e isto a irmãos (1Co 6.8).
Se ainda estivéssemos na Idade Média, certamente muitos de nós condenariam à fogueira outros irmãos. Apenas porque ele não é batista, ou presbiteriano, ou metodista, ou assembléiano. Fica a parecer que não foi Cristo quem morreu por mim, que não foi Ele quem me redimiu e salvou-me da condenação, à qual eu merecia completa e justamente. Parece que foi uma denominação que padeceu na cruz por meus pecados.
Não será a hora de se parar com esta guerra estúpida de egos, de partidarismo religioso, e nos propormos a saber senão a Cristo, e este crucificado? (1Co 2.2). Foi o Senhor Jesus quem tomou o meu lugar, levando sobre Si a minha iniquidade, morrendo, ressuscitando, me salvou. A Ele prestarei contas, inclusive, do tempo mal gasto aqui, perdido em nulidades, vaidades, que em nada glorificam o santo nome de Deus.
Não proponho um neo-ecumenismo ou coisa parecida; nem é isso o que faço aqui. Muito menos que nos unamos debaixo de uma “bandeira”, de uma proposta ou meta, a fim de exercitar o pragmatismo. Nem mesmo a idéia de convenções, concílios, me agrada. Mas se cada um se preocupar em proclamar o Evangelho, em defender a fé, em honrar e glorificar o nome do Senhor ao invés de disputas inócuas de poder e do ser [“tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros”(Mc 9.50)]; o mundo não será insípido mas temperado, para a glória de Deus.
Enquanto isso, o movimento GLBT se une aos SEM-TERRA, que associa-se aos PRÓ-ABORTO, e aos PEDÓFILOS, à DASPU, aos MATERIALISTAS, à PESQUISA COM EMBRIÕES, aos IMORAIS, aos CORRUPTOS, aos ESQUERDISTAS, à MAFIA, aos LEGALISTAS, à PORNOGRAFIA, aos POLITICAMENTE CORRETOS, aos LIBERAIS, aos HIPÓCRITAS, às FEMINISTAS, aos MACHISTAS, aos LADRÕES, aos ASSASSINOS, aos TRAFICANTES, a PAIS que não educam SEUS FILHOS, a FILHOS que não respeitam SEUS PAIS...
O que esperamos? Que eles desistam? Que se unam a nós, e lutemos juntamente pelos princípios cristãos? Ou aguardamos o melhor momento para unir-nos a eles, e assim, desobedecer ao nosso bom Deus? Ou desistimos nós?
Assim evidencia-se o mal, o qual age livremente, enquanto viro a cara e torço o beiço ao irmão de Bíblia em punho.
Somente quando se vislumbra a cruz e a mensagem de Cristo, crendo que também é necessário que se morra para si mesmo, vive-se para Deus; e não se é mais instrumento de injustiça, mas justo como o nosso Senhor; e se é capaz de amar como Ele ama.

17 maio 2008

FUNERAL











Por Jorge Fernandes


Hoje chorei a morte dela,
Chorei por seus filhos,
Chorei a sua juventude carcomida pelo mal,
Chorei a vontade que ela tinha de viver,
Hoje seus lamentos e súplicas calaram-se,
Chorei a maligna doença a definhá-la,
Chorei a esperança posta na santa,
Chorei a TV ligada ao pé da cama.


O céu azul difuso,
A grama pálida,
O vermelho da terra surde do chão,
Há risadas,
Há lágrimas,
A sapiência dos silenciosos,
A tolice vulgar e infame dos tagarelas,
O desacato no olhar indiferente,
O alívio amparado nas colunas e paredes.


Quis o abraço fraterno,
Quis que me sentissem em dor,
Quis vê-los, e visto,
Quis o melhor que não dei,
Quis o afeto, o afago simples,
Quis, sem poder.


Achei que precisavam de mim,
De algo que não conjeturava,
Sem persuadir-me do meu papel,
O seu Nome exaltado,
Ainda que sem O proclamar.



Ali estava o desamparo,
A indulgência,
O amor desertor,
Qual cego numa ilha deserta,
A espera da noite chegar,
Para não se defrontar com a luz.


Em meio ao murmurio orei,
E seguiu um hino,
Errei dois ou três versos,
Esqueci mais alguns,
Encontrei-me no refrão:
“Entregarei tudo a Ti”, diz.
Era o certo, e único a fazer.


Quando a cova se abre,
O esquife desce,
Entoa-se um cântico à Maria,
A dor é insuportável,
Em vê-Lo desprezado.
E não sei se amá-Lo é suficiente,
Ou o amor é que não o é,
Não sei se os amo na dor,
Nem na alegria ou hora qualquer.
Numa prova, passaria?
Qual sacrifício disporia?
O corpo, a alma...
Algumas lágrimas a sobrevir.


Não para Ele,
Nem para eles.
No que sou, é que me guardo,
Para o dia em que revelado O veja,
Aos Seus pés me arrependa,
E chore por não pregar as Boas Novas;
E nos túmulos,
Muitos ficaram sem tê-las.


Onde está o sal?
E a luz?
Não passo de trevas,
E insosso.


A resposta,
Debaixo da cama,
Jaz oculta,
Porquanto Cristo,
Não passa de digressão,
E contento em me ver,
Como sepulcro caiado.


E chorei,
Também por mim.

10 maio 2008

O CÉU REINA












Por Jorge Fernandes


“...entregando para a morte, quem é para a morte; e quem é para o cativeiro, para o cativeiro; e quem é para a espada, para a espada” (Jr.43.11)

Deus é soberano! Certamente, a maioria dos crentes concordará com esta afirmação. Mas de que forma Ele exerce esse poder? Muito se tem discutido até que ponto Deus é soberano, ou como a Sua soberania se manifesta. E em grande parte, a doutrina bíblica se mistura à filosofia, à cultura e tradições, prejudicando ainda mais o seu entendimento, e porque não, o seu real significado; ainda que, aparentemente, tudo pareça mais fácil e digerível para o homem e seu humanismo, ao não desejar abrir mão da sua liberdade, mesmo que ele não a possua no sentido de sê-la livre de influências, e o livre-arbítrio não passe de uma utopia proveniente do nosso coração rebelde.
Há uma enorme diferença entre o que acreditamos possuir e o que verdadeiramente temos; geralmente, fica mais fácil aceitar prontamente o que nos parece verdade (ainda que suspeita), o que se molda melhor com os nossos conceitos, se acomoda ao nosso ego, e nos traz alívio mesmo que apenas momentaneamente; fruto da indolência e desleixo com que tratamos a nossa relação com Deus (sobre o assunto da liberdade humana, ver o post
Senhor ou Escravo? ).
A Bíblia afirma, categórica e extensamente, que Deus é soberano, e de que, nada, mas absolutamente nada afasta-se do Seu propósito e vontade (Ef 1.11). Deus domina sobre todas as coisas, e todas as coisas estão sujeitas a Ele (1Tm6.15; Dn 4.35; Jó1.12; Sl 89.9; Mc 4.39); nada pode frustá-lO e a Sua vontade, sendo ela a causa final de tudo (veja bem: tudo! E não uma parte ou alguns itens).
No livro de Daniel, o Rei Nabucodonosor tem um sonho, e pede ao profeta para interpretá-lo: “Esta é a interpretação, ó rei; e este é o decreto do Altíssimo, que virá sobre o rei, meu senhor: Serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti; até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. E quanto ao que foi falado, que deixassem o tronco com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o céu reina (Dn 4.24-26). E todas estas coisas vieram sobre ele, pois se cumpriu a palavra de Deus, a qual havia determinado acontecer ao rei Nabucodonosor, transcorridos 12 meses (Dn 4.28-33).
No Salmo 33, o salmista proclama a glória e a soberania de Deus como o criador de todas as coisas, como Aquele que controla e subjuga todas as coisas; mas também Aquele através do qual o crente alegra-se em esperar e confiar, pois é o seu auxílio, escudo e refúgio (v.20-22).
O domínio do Senhor antes de ser o motivo para o pânico (semelhante ao de uma ameaça terrorista), deve ser a causa do nosso júbilo(v.1-3; 12; 21), sabendo que somos sustentados por Ele, protegidos pela Sua misericórdia (v.18), guardados em Sua sabedoria, santidade e perfeição; O qual zela por nós, e nos mantém firmados na Rocha que é Cristo. Como o profeta Jeremias afirmou judiciosamente: “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor... meu refúgio és tu no dia do mal” (Jr.17.7;17); e Paulo, extasiado, proclamou um cântico de louvor a Deus: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33).
Ainda que não entendamos tudo sobre a vontade divina, e em muitos aspectos os Seus desígnios sejam inescrutáveis, não há como não aceitá-la, e reconhecer que os caminhos do Senhor são muito mais altos do que o nosso, e os Seus pensamentos mais altos do que os nossos, e que Ele fará o que lhe apraz (Is.55.8-11).
Há questões que vão além da nossa mente finita e corrompida, das quais não temos solução nem somos capazes de entender, que fogem ao nosso controle, e julgamos dissociáveis: como a soberania de Deus e a responsabilidade humana. A Bíblia afirma a existência de ambas: tanto Deus é soberano, como somos responsáveis por nossos atos. Contudo, não compreendemos como uma ação aparentemente livre, pode ser operada pela vontade de Deus e assim ser determinada. Resta-nos resignar, admitindo o quanto somos limitados; e humildemente reconhecer a nossa incapacidade para desvendar aquilo que o Senhor não quis nos revelar, contudo, estejamos confiantes, seguros e confortados com o que Ele quis nos manifestar através da Sua santa palavra, o que já é por demais grandioso e glorioso para a nossa exiquidade.
Infelizmente, parece mais fácil adequar os atributos divinos à nossa imperfeita e caída natureza do que avaliar submissa e espiritualmente os ensinamentos bíblicos, com temor e reverência, sabendo que se trata de algo muito elevado, muito além dos meros preceitos humanos, muito além do nosso juízo.
O importante é crer que as Escrituras são a fidedigna palavra de Deus, revelada ao Seu povo, e de que o Senhor é o Deus soberano e supremo de todo o universo; o que não exclui eu, você, ou qualquer outra coisa (seja mineral, vegetal, animal ou espiritual), de sujeitar-se à vontade divina, “porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu” (Sl. 33.9).
Como Davi cantou, ao reconhecer sabiamente o que o Altíssimo fizera ao elegê-lo, libertá-lo e entronizá-lo como o rei de Israel:“ O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio... Porque quem é Deus senão o Senhor?... O Senhor vive; e bendito seja o meu rochedo, e exaltado seja o Deus da minha salvação. É Deus que me vinga inteiramente, e sujeita os povos debaixo de mim” (Sl 18.2;31;46-47).

04 maio 2008

ONDE ESTÁ O SEU TESOURO?











Por Jorge Fernandes


“E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”(Lc 10.39-42)

A Bíblia afirma que o crente é um ser separado. Separado para Deus, e do mundo. Estamos no mundo, mas não pertencemos a ele (Jo 17.16); antes, somos de Deus, propriedade Sua, comprados por alto preço (1Co 6.20). Então, porque a maioria de nós “devota” a totalidade do seu tempo, das suas energias, dos seus dons e talentos, do seu dinheiro, da sua atenção, do seu estudo, e de tudo o mais que o cerca, a fim de satisfazer-se no mundo, pelo mundo e para o mundo?
Vejo muitos falando de Cristo. Muitos o chamam de “senhor”. Alguns choram, emocionados. Outros demonstram uma confiança parecida com a que se deposita em um talismã. Como se o nome de Cristo fosse uma ferradura ou um pé-de-coelho, ou na melhor das hipóteses, uma chave que abrirá todas as portas... as que eu quero abrir, as quais me satisfarão. Crêem que o nome de Jesus tem um poder imanente, bastando proclamá-lo para que, num passe de mágica, tudo ao nosso redor se transforme em satisfação pessoal. E isso é mais do que o suficiente para elas. Falar de Cristo vez ou outra, sem compromisso. Pensar Nele como um “gênio da lâmpada”, pronto a realizar todos os nosso caprichos, como se nós fóssemos deuses, e Ele, criatura. Será isso conhecê-lO verdadeiramente?
Jó entendeu que o conhecimento de Deus é muito mais do que ouvir falar Dele, e repetir aos quatro cantos, como um papagaio, o que ouviu: “Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos” (Jó 42.3-5). Reconhecendo a dimensão do seu erro, ele concluiu: “Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.6).
Estar no mundo não é pertencer a ele. Nem ao menos se agradar com ele, quanto mais viver em função dele. Essa não é a nossa glória. Nem a nossa atribuição. O nosso dever é o de obedecer ao nosso Senhor, proclamar o Seu Evangelho e glorificá-lO. Parece simples, e talvez por isso, negligenciamos tanto essa incumbência dada-nos por Cristo. Em muitos casos, desprezamo-la, em favor da nossa glória pessoal. Quantos não se empenham até o sangue por um diploma? Pelo cargo de executivo? Pelo carro novo, viagem, ou pelo novo desejo que se seguirá a outro desejo realizado? É um círculo vicioso, que nos domina, nos consome, e tira-nos do privilégio supremo de servir ao nosso bom Deus.
Quantos de nós não se encontram “encantados” pela tv, pelo sexo, pelo futebol, pelas festas e shows, que não têm um momento sequer para ler, ouvir e meditar na Palavra de Deus? Quantos de nós oram numa fração de segundo, enquanto passam horas e mais horas diante da tela do computador ou da tv envenenando-se, repetida e maciçamente, com as toxinas do mundo? Não ficam um dia sem eles, mas podem ficar semanas, meses e até anos sem ouvir uma pregação, sem comunhão com os santos, sem confortar um irmão, sem contribuir para a obra de Deus, sem interceder pelos que sofrem, pelos que morrem, e pelos condenados eternamente.
Pelo contrário, como luzes que deveriam iluminar o mundo, não o fazemos (Mt 5.14), antes nos misturamos às trevas, tornando-nos participantes dela (Lc 11.35). Seduzidos como o marido infiel pela amante (na verdade, seduzidos pelo nosso pecado, pela nossa rebeldia, pelo desprezo a Deus), voltamo-nos para o mundo, como se jamais tivéssemos saído dele.
No texto acima, Marta era uma discípula do Senhor. O amava, reconhecendo-O como o Cristo (Jo 11.27), queria agradá-lO naquele momento em que O recebia em casa. Estava atarefada, preocupada com os seus afazeres, distraída em muitos serviços; provavelmente, suas intenções eram as melhores, queria servir correta e adequadamente ao Senhor, queria que Ele se sentisse confortável e que desfrutasse da sua hospitalidade; inebriada em seu trabalho não percebeu como estava errada, e de como desperdiçava não somente o seu tempo, mas a sua energia, em ansiedade e cansaço. Marta, certamente, seria uma “workaholic” dos nossos dias, uma viciada no que faz, vivendo para o que faz, e não pelo que faz; ela seria uma das vítimas do stress, da estafa, talvez até mesmo da depressão pós-moderna. Por isso, o Senhor nos adverte: “Mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera... Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 4.19; 8.36). Paulo exorta-nos a não sermos conformados com este mundo, mas sermos transformados pela renovação do nosso entendimento, para que experimentemos qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2).
Marta não compreendeu o mesmo que sua irmã Maria, de que, ao invés de proporcionar conforto ao Senhor, era ela quem deveria desfrutar do Seu consolo. Como alguém que não vê além do próprio nariz, queixou-se a Jesus por “reter” a Maria que O ouvia, enquanto ela, pobre-coitada, se desdobrava em servi-lO. Foi, sem dúvida, um atrevimento da parte de Marta, uma repreensão tola e mal-educada (especialmente porque ela parecia querer agradar ao Senhor... ou queria mostrar a sua eficiência?), peculiar às mentes dominadas e minadas pelo pecado do individualismo, do egocentrismo. Marta, literalmente, “pisou na bola”. Em sua agitação despropositada, interessada em ser uma boa anfitriã, em atingir suas metas e obter os resultados pelos quais se esforçava, ela se esqueceu do mais importante: adorar ao Deus vivo. O seu erro foi agravado ainda mais pelo fato de considerá-lO um insensível: “Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só?”. E a aflição e a insensatez da sua alma, levaram-na a julgá-lO equivocado na forma em que agia: “Dize-lhe que me ajude”.
Quantas vezes ignoramos, ou somos tentados a duvidar de Deus? E em outras a censurá-lO? Com qual direito agimos assim? “Ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20).
Mas a Cristo coube uma advertência amorosa, pacífica, repleta de compaixão e misericórdia; contudo, imperativa, reveladora o suficiente para que ela pudesse aperceber-se de seu grave erro: “Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”.
A comunhão com Deus é a única indispensável a nossas vidas. Devemos buscar sempre, e em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça (Mt 6.33). O mundo e tudo o que nele há, passará. O que plantamos agora, daqui a pouco, de nada servirá, tornando-se inútil. E muito do que nos esforçamos em alcançar continuamente é irrelevante, supérfluo; “porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12.34).
Pois, se alguém ama a Deus, é conhecido dele (1Co 8.3); e para os filhos de Deus, somente isso é necessário... Como Maria entendeu gloriosamente, ao deleitar-se em conhecer o seu Senhor.

29 abril 2008

AINDA ASSIM

Por Jorge Fernandes

Tudo me deres,
E, ainda assim, orgulho-me de tê-las aceito,
Como se possível fosse tomá-las,
E pelo vigor, o céu se tornar azul,
Ramos a brotar da terra,
Enquanto suo gotas douradas de paladino.


Tudo me dás,
Mas no intelecto descanso,
Um sono atormentado e lívido,
Onde posso todas as coisas,
E, ainda assim, vejo-me cair em trevas,
Nem ao menos tocar o fundo,
Sem saber o que me esperas.


Tudo me darás,
E, ainda assim, ponho-me em insatisfação plena,
Onde o gozo difuso,
Me possui no segundo,
Para depois arder em prurido;
Análogo ao doador,
Julgo sê-lo,
Quando na verdade, não é o meu sangue,
Mas o Dele a verter em mim.


Risos, gargalhei,
Lágrimas, chorei,
Por mim,
De mim,
Estendi minha debilidade,
Como um cueiro a agasalhar-me o corpo,
Na elevada auto-estima,
Resisti-me nu,
Ao frio a vergalhar-me a carne,
Qual caça nas garras do predador.


Ainda assim, eu não O via
Suster-me em suas mãos,
A Palavra a gerar vida,
Nutriu-me a alma,
Os olhos fitos à Luz.


Não sou mais eu,
Nem o fui,
Mesmo como tresvario,
Anseio a morte,
E nem o mais sofístico kamikaze conceberia,
Que ao invés do logro,
Surge a verdade:
Ele vive em mim.


Se deu a Seu tempo,
Eternamente.

21 abril 2008

VELOZES...




















Por Jorge Fernandes


“Mas se alguém agir premeditadamente contra o seu próximo, matando-o à traição, tirá-lo-ás do meu altar, para que morra. O que ferir a seu pai, ou a sua mãe, certamente será morto. E quem raptar um homem, e o vender, ou for achado na sua mão, certamente será morto” Êxodo 21.14-16


No relativismo moral em que vivemos, o homem é caça, e refém da sua fraqueza e transigência. O homem ao julgar-se evoluir, apenas revela-se ainda mais débil do que já foi um dia. Estamos rodeados por governos fracos e inoperantes, famílias frágeis e desagregadas, vizinhança fugidia no individualismo medroso de sua própria omissão. O homem é um par de pernas ágeis, ainda que trôpegas, corredias ao esconderijo da covardia. E o troféu ganho pode ser a morte imediata, ou a impunidade, seguida de morte. Entre bandidos e mocinhos, ninguém se salva. Todos são culpados: os que matam, e os que se deixam morrer. Não há inocente, ainda que todos sejam vítimas. Todos são criminosos, mesmo que somente uma minoria seja condenada. A sociedade agoniza, como um doente terminal... Já se ouvem os últimos suspiros... mesmo que a esperança venha em minúsculas cápsulas de açúcar... Fatalismo? Realidade? Delírio?
Olhe ao redor. Abra os olhos, as narinas, os ouvidos. Veja. Cheire. Ouça. Ainda que Deus tenha criado um mundo maravilhoso, ordenado, funcional e aprazível, os resultados da “obra humana” encontram-se espalhados como vermes no monturo: feiúra, caos, desconforto. A Queda do homem proporcionou o colapso do mundo. O pecado foi e é o propulsor para o que vemos e não suportamos ver, para o que cheiramos e não suportamos cheirar, para o que ouvimos e não suportamos escutar, para o que não tocamos e suportamos não tocar. A humanidade decaí, minuto a minuto, morinbunda, sujeitando-se à sua inevitável impiedade.
Os jornais estampam a nossa vergonha. Publicam a nossa sordidez. Dissecam a nossa pobridão. Os corpos há muito estão despojados. A alma, cativa. Prazerosos, entregues ao algoz, pelejamos pela morte, como se viver fosse martírio.
Pais descuidados, filhos rebeldes, mestres inescrupulosos, alunos indolentes, maridos e esposas infíeis, sexo leviano, contratos inexequíveis, governos polutos... a refletir o que há de mais marcante na natureza humana: o ódio a Deus.
Não se engane. A idéia que você tem de Deus pode ser qualquer coisa, menos Ele. O que foi-lhe dito, pode trazer-lhe algum alívio, temporário e fracionado, pode trazer-lhe até mesmo uma espécie de conforto, mas ao confrontar-se com a verdade divina, descrita e pormenorizada na Bíblia, o que você sente? Desdém? Ira? Aversão? Abandona-a completamente? Ou como num self-service, colhe apenas e tão somente aquilo que não fere a sua consciência? Será possível agradá-lO sem obedecê-lO? E honrá-lO sem segui-lO? E glorificá-lO sem nos negar?
“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” (Mt 16.24).
A maioria das pessoas, ao ler este versículo, vê-o como um alívio para os seus problemas. Já ouvi muitas interpretações, e quase todas nos dizem para levar a nossa cruz e seguir ao Senhor, do jeito e como der. Quase todos se esquecem de que, não é possível seguir ao Senhor se não “renunciar-se a sim mesmo”. Em Mc 8.34 e Lc 9.23, lemos: “negue-se a sim mesmo”. E as palavras negar ou renunciar têm o mesmo significado. Não é uma negação simbólica, alegórica, irreal. Antes, é a recusa efetiva, é negar a nossa natureza pecaminosa, caída e depravada.
Você pode perguntar: “O que isso tem a ver com a sua exposição inicial?”. Respondo: “Tudo!”. O fato do homem encontrar-se em um beco sem saída, como o cão a caçar o próprio rabo, é que não há nem nunca haverá solução para ele e a humanidade em si mesmos. Enquanto iludirmo-nos de que podemos (mesmo que seja num futuro longinquo, fictício) consertar os erros criados por nós e nossos semelhantes; enquanto nos apegarmos a idéias utópicas de que o homem é bom, e basta um esforço para encontrar essa bondade nele, e de que é capaz de dividi-la com o próximo, a sociedade e o mundo (mesmo que não saiba onde ela está, e mesmo que defina sempre o próximo como ele próprio); enquanto continuarmos olhando para nós com autoindulgência e comiseração, e nos fazermos de pobres-coitados, de injustiçados, de vítimas oprimidas pelo sistema (seja lá o que isso representa); enquanto não olharmos para nós mesmos, não com os olhos encobertos pela dissimulação, pelo engano, mas olharmos para o que Deus nos revela sobre nós, estaremos irremediavelmente perdidos, obliterados pela cegueira.
É tempo de ver. E não de camuflar. É tempo de agir. Não como um piqueteiro inconsequente atirando pedras nos “fura-greve”. Não como alguém que vê somente o erro alheio. Como alguém que tem salvoconduto para a acusação. Deixar de olhar para a própria iniquidade, faz-nos odiosos diante de Deus. E os outros homens ver-nos-ão apenas como mais um inimigo, o qual se deve destruir (a destruição não somente física, mas psicológica, emocional, financeira...).
No tempo em que o temor a Deus está perdido, onde o homem relativiza tudo, onde ele mesmo não se julga culpado por nada, onde os outros são solidários em meus crimes apenas para que os seus também sejam absolvidos, onde “as verdades” são sofismas que nos levam à perdição, o homem precisa encarar o fato do que é: o próprio mal.
Estigmatizamos o diabo, e ele tem a sua culpa. Blasfemamos contra Deus, o que é abominável. Julgamos interiormente o próximo, ainda que não o façamos exteriormente, por vergonha de nós mesmos. Somos incapazes do auto-juízo, ainda que sejamos julgados, mais cedo ou mais tarde por Deus.
“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27).
E o amor de Cristo, que nos constrange (2Co 5.14) é o único capaz de nos afastar de nós mesmos e da nossa natureza, e do mal que habita em nós. E de nos tornar possíveis para o próximo, para o mundo, para nós. Sem Cristo, somos incapazes de amar, da mesma forma que a areia jamais amará a pedra. Ao contrário, se O conhecemos, estamos reconciliados com Deus, e seremos cheios da Sua plenitude (Ef 3.19), e a vida se abrirá para nós, e sepultaremos, definitivamente, a morte.
“Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte” (Jo 8.51).
Quanto ao homem natural, irreconciliável, rebelde, malévolo, resta-lhe a punição, a fim de se resguardar a vida, de tão alto valor, mas tão aviltada na atualidade. E que a sociedade, como remediadora (e não mediadora), corrija o mal praticado, e não seja cúmplice dos nossos crimes.

17 abril 2008

CUMPRA-SE!












Por Jorge Fernandes

"O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida... O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (1Jo 1.1;3).


O apóstolo João foi testemunha ocular das maravilhas que Cristo nosso Senhor realizou aqui na Terra. E no momento de maior sofrimento do nosso Salvador, no Calvário, quando estava expiando os pecados do Seu povo, da Sua Igreja, João também estava lá. Imaginemos a dor que o discípulo amado sentiu ao ver o Seu Senhor morrer na cruz. Ao vê-lo humilhado, padecendo, o corpo marcado por açoites, por ferimentos, o sangue escorrendo através dos cravos, através dos espinhos com os quais o “coroaram”; o Seu lado vertendo água e sangue; ouvindo as blasfêmias, os insultos e o escárnio dos judeus e romanos, os quais zombavam do Mestre.
Mas esses não foram os motivos pelos quais o Senhor mais se afligiu. É claro que como homem, Jesus Cristo sofreu na carne, na pele; lançaram-lhe em rosto a abominação de toda a maldade existente na alma humana; mas, certamente, a maior angústia pela qual o nosso Senhor passou foi a de carregar os pecados de todos aqueles que seriam remidos pelo Seu sacrifício. Jesus, o Deus-Filho eterno, sem o qual nada do que foi feito se fez (Jo 1.3), o santo, puro, imaculado e justo, levou sobre si toda a nossa iniquidade, todos os nossos pecados, carregou a nossa natureza caída; e, ali no Calvário, Ele expiou-nos, reabilitou-nos pelo Seu castigo, livrando-nos da ira de Deus, e reconciliando-nos com Ele.
Provavelmente, João ainda não entendia isso. Mas ali, diante da cruz, testemunhou o sacrifício do Santo de Deus. E testemunhou o sepulcro vazio, os lençóis no chão, e o lenço enrolado num lugar à parte; e viu, e creu (Jo 20.5-8). E em outras ocasiões, João viu, tocou, foi tocado e falou com o Senhor após a Sua morte e ressurreição (Mt 28.17-18; Mc 16.14; Jo 21.7; At 1.1-9; Ap 1.17-19).
Por isso, ele nos escreve, anunciando que o seu testemunho é para a nossa comunhão com os santos e com Deus; para que o nosso gozo se cumpra (aqui, "o nosso gozo" é tanto o do apóstolo João, como o meu, o seu, como o de toda a Igreja, mas também é o de Deus).
É fantástica a forma como o Senhor cuida de nós, como Ele se preocupa com os mínimos, e muitas vezes, desapercebidos detalhes. Deus reservou para o Seu povo, para as Suas ovelhas, o gozo, o prazer de usufruirmos da comunhão consigo mesmo. Ele poderia nos reservar apenas a salvação (o que já é indescritível, visto o tamanho e a intensidade de nossos pecados e iniquidades), fazer-nos escravos e sujeitos unicamente à Sua autoridade e Senhorio. Mas Deus nos ama, e quer que tenhamos gozo, que desfrutemos Dele e de toda a Sua glória.
Em João 17.13, Jesus diz: “Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos”. Deus quer que tenhamos em nós, completamente, a Sua alegria. E o que é essa alegria? Em Atos 13.52, Lucas nos diz: “E os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo”. Paulo complementa em Rm 14.17: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”.
Vemos então, que a alegria a qual o Senhor Jesus se refere é a alegria do Espírito Santo. É Ele que nos revela a nossa iniquidade (o que nos enche de profunda tristeza - Ef 4.30; 2Co 7.10), mas Ele mesmo nos consola mostrando-nos o perdão em Cristo (1Jo 1.9); abrindo-nos os olhos para as maravilhas que Deus tem guardado para aqueles que não são negligentes, mas são imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas divinas (Hb 6.12).
Cristo, o justo, morreu por nós, os injustos, para levar-nos a Deus (1Pe 3.18); e na comunhão que temos com Ele, em obediência, é que se encontra a totalidade do nosso prazer; e é assim que deve e deveria ser.
Em Jo 15.9-11, Cristo diz: “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo”.
O gozo ao qual o Senhor fala não é uma mera manifestação de sentimentos. Não é um fluxo momentâneo ou um estímulo fugaz, nem mesmo um arrepio ou uma sensação de súbito frescor. O gozo ao qual as Escrituras se referem é um gozo perene, longevo; em nós implantado diariamente pelo Espírito Santo, e que, muitas vezes, se manifestará nas dificuldades e reveses da vida; porque não nos gloriamos apenas na esperança da glória de Deus, mas nos gloriamos igualmente nas tribulações (Rm 5.2-5). Portanto, se o nosso gozo fosse apenas reservado aos momentos de alegria, não seria completo. É isso que o Senhor diz. Que a alegria independe do instante, podendo manifestar-se ao ganharmos um presente, como ao sermos perseguidos. Se ocorre apenas em uma das situações, o gozo está incompleto, e não provém de Deus. Devemos entender que Deus nos abençoa de múltiplas formas, tanto na alegria como na dor; e é no sofrimento que, muitas vezes, vislumbramos a face do nosso misericordioso Senhor.
A fonte para que o gozo se realize totalmente em nós é a obediência a Deus. O Senhor Jesus guardou os mandamentos do Pai e teve gozo. E o Senhor nos ordena a guardar os Seus mandamentos para que também tenhamos gozo, e que ele seja completo. O princípio é o da obediência, de não apenas ouvirmos, mas de praticarmos aquilo que o nosso Mestre supremo nos ordenou.
Guardar os Seus mandamentos é reter a Palavra da Vida, o próprio Cristo, em nós; a fim de nos mantermos Nele e Ele em nós, e permaneceremos no Seu amor. Jesus usa o exemplo da videira, onde Ele é a videira verdadeira (a única, não havendo outra; sendo as demais falsificadas), o Pai é o lavrador e nós somos os ramos. E de que o Pai é glorificado quando nós, os ramos, damos muito fruto; e assim, seremos recebidos como discípulos do Seu Amado Filho (Jo 15.1-8).
O gozo, portanto, é o sacrifício de Cristo na cruz; a alegria da salvação; é desfrutar do Seu perdão e do Seu imenso amor; é viver cheios do Espírito Santo; é obedecermos os Seus mandamentos; é glorificá-lO tanto na alegria como nas tribulações; é darmos frutos para a Sua glória, testemunhando as maravilhas que Ele fez em nós. E conforme o apóstolo João disse: isso anunciamos para que tenham, também, comunhão com os santos.
Somente assim, Cristo será gerado e permanecerá em nós, “para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós... para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja” (Jo 17.21;26); e o nosso gozo se cumpra.

05 abril 2008

OVELHAS DESGARRADAS

Por Jorge Fernandes

Diante do número de irmãos que têm optado em não congregar, e que não integram uma igreja local, resolvi escrever sobre o assunto, pois o considero de extrema gravidade e danoso à vida do cristão. O intuito não é o de uma critica pura e simples mas uma exortação, mostrando que a Bíblia não abre precedentes para o crente viver sem congregação, a despeito de uma “teologia moderna” que se dissemina e procura afastar o cristão do seu compromisso com Deus e a igreja (e o aproxima cada vez mais de si mesmo e do seu individualismo).
Nem tão-pouco quero fazer-me superior ou melhor do que qualquer pessoa, visto que sou um mísero pecador, resgatado e regenerado pela graça de nosso Senhor e Salvador. Portanto, espero sinceramente que o texto sirva como ajuda e reflexão, para que os irmãos assumam os seus postos no reino do bendito Senhor Jesus, conforme o chamado que Ele fez (e faz) a cada um.

A) PRINCIPAIS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:

a) A igreja apostatou; portanto, estou desobrigado de pertencer a ela.
b) Já que sou salvo, para quê igreja?
c) Você não conhece a minha vida, ela é difícil demais! E as circunstâncias me impedem de congregar.
d) Respeito a sua opinião, mas não vejo a igreja como imprescindível na vida do crente, afinal, os tempos são outros...

B) REFUTAÇÃO AOS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:

(As respostas não seguem a mesma ordem das questões, e muitas vezes, se intercambiam):
1 - Começando pelo fim, pouco importa a minha opinião ou a de qualquer crente, seja quem for, se ela não estiver embasada nas Escrituras. O importante é o que Deus quer e nos manda fazer. E a Sua vontade está claramente expressa na Bíblia de tal forma que somente em desobediência nos recusamos a cumpri-la; ou por negligência, quando deixamos de buscá-la diariamente. Se não refletimos a vontade de Deus, como testemunhas da transformação que Ele operou em nós, por melhor intenção que haja, estaremos errados e fadados ao engano e tropeço. E a minha opinião será sempre irrelevante diante da vontade soberana, santa e justa do nosso bom Deus.
2 - O Senhor Jesus Cristo morreu por Sua Igreja, a qual resgatou com o seu próprio sangue, exclusivamente para livrá-la deste mundo (Atos 20.28; Ef. 5.25). Portanto, não podemos minimizar a sua importância e achar que por causa da apostasia quase absoluta entre as denominações, o Senhor “abandonou” e se esqueceu do seu povo. Cristo morreu na cruz do Calvário pela Sua igreja, que é o corpo do qual Ele é a Cabeça (Col. 1.18); para que, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo e cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, o homem perfeito, e não segundo a vaidade da nossa mente (Ef. 4.13-17).
Crente “Big Brother” que somente se interessa com o que se passa na própria “casa”, preocupado exclusivamente com seus afazeres diários, subsistência e disputas pessoais, e em ganhar o "jogo", no mínimo, está equivocado quanto ao seu chamado, se é que entende o que venha a ser o chamado de Deus. Ouçamos a sentença do Senhor em Mt 16.25: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”.
Valorizar os problemas, eximindo-nos da nossa responsabilidade e dever, e esquivando-nos de cumprir a nossa obrigação como cristãos, é escamotear e não se comprometer com Cristo; é preocupar-se unicamente consigo mesmo em detrimento da obra de Deus e da igreja; é lançar um fardo extra nos ombros de irmãos que fazem exatamente o que eu e você desprezamos, mas não cansamos de alardear que fazemos: esses irmãos evangelizam, confortam, assistem ao próximo, e glorificam e honram ao nosso Senhor obedecendo-O (“as minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” – Jo 10.27; “E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” Lc 6.47).
Em contrapartida, “A sociedade de consumo diz: ‘Fique em casa, feche a porta, assista à televisão, tenha suas coisas e seja você mesmo do seu jeito’. Esta não é a vontade de Deus... Devemos estar em comunidade, em nossa vizinhança, na igreja, na família, em vez de viver o individualismo de nossa sociedade. Ande no Espírito. O Espírito busca reunir a igreja. Você está em sintonia com ele?... Que cada um de nós esteja comprometido com Cristo na prática, nos trabalhos de sua igreja, na perseverança para alcançar o reino de Deus, na divulgação do evangelho e na busca em servir uns aos outros em Cristo”1
3 - Deus sabe tudo; conhece cada célula do nosso corpo muito melhor do que jamais saberemos. Ele reconhece as nossas dificuldades, os nossos problemas, mas, se como disse antes, os valorizamos ou nos utilizamos deles para não fazer aquilo que Ele quer e nos ordena fazer, não agimos contrariamente ao que dizemos? Se falo que a minha vida está nas mãos de Deus, se afirmo que espero Nele, e somente Nele, mas me curvo diante das circunstâncias, elas se tornam maiores do que Deus; e não somente são obstáculo e empecilho, mas transformam-se no fio condutor que nos levará a uma vida apenas secular, guiando-nos na contramão do verdadeiro cristianismo (e a Igreja é parte dele).
Ao dizer que amo a Cristo, e Cristo me ama, e que Ele é incapaz de me sustentar e capacitar, e que sou incapaz de servi-lO, não ajo antagonicamente? Será que passaríamos por provas pelas quais Estevão, Pedro, Tiago e Paulo passaram? Ficaríamos confinados por 14 anos na prisão por recusar-nos a negar a Cristo como John Bunnyam e Richard Wurmbrand? Sacrificaríamos a vida, a família e a saúde por amor a Deus e ao próximo como o fizeram William Tyndale, John Hus, William Carey e David Brainner?
4 - Vejo muitos irmãos sofrendo, tanto na igreja como fora dela. Mas os irmãos que congregam têm o conforto da Palavra, da exortação e admoestação da pregação, a comunhão com os santos, o auxílio e consolo que Deus providenciará a cada um, pois Deus é muito formidável na assembléia dos santos, e para ser reverenciado por todos os que o cercam” (Sl 89.7).
Por sua vez, esses irmãos confortarão igualmente outros irmãos, exortando e auxiliando naquilo que Deus os capacitou como instrumentos de bênçãos na igreja (“... para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” – 2 Co 1.4). Estando eles debaixo da autoridade e proteção de Deus e da autoridade e proteção que Deus outorgou à Igreja (Mt 18.15-20), a qual é responsável pela sustentação dos santos e pela realização da obra do Senhor na terra.
O sofrimento pode até ser o mesmo, mas Deus usará de santificação e edificação no primeiro caso, enquanto os crentes em rebeldia estarão sob a disciplina e correção do Senhor. Paulo, em Hebreus 10.25, diz: "E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia".
5 - A história mostra a Igreja do Senhor, desde os tempos apostólicos, sendo perseguida. Satanás, de todas as formas, tentou frustrar os planos de Deus (e ainda hoje ele tenta), trazendo dor, tribulação, perseguição e morte à Igreja. Contudo, movidos pelo amor de Cristo, o poder do Espírito Santo e o serviço dos santos, ela cresceu, expandiu-se, refletindo a autoridade que Deus lhe investiu. Muitos sacrificaram seus bens, reputação, a família e a própria vida. Cristãos e mais cristãos foram levados para as arenas com seus familiares, e desde o filho menor ao chefe da casa, todos foram martirizados. Qual era o objetivo dos romanos? Qual o objetivo do diabo? Que adorassem a César e rejeitassem a Cristo; e assim a igreja desapareceria, e com ela o Evangelho e a salvação do homem... O que jamais ocorrerá, visto que o próprio Senhor nos diz: "edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18).
Na idade média, a igreja romana perseguiu, torturou e martirizou milhares de crentes fiéis, que não se submetiam ao seu jugo diabólico; e igualmente esses irmãos perderam tudo, e bastaria negar a sua fé, mas preferiram a morte. Como Pedro disse diante dos seus inquisidores em Atos 5.29: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (e aqui, “aos homens”, inclui-se a obediência que devotamos a nós mesmos. Pois temos o amargo gosto de satisfazer as nossas vontades julgando-as como de Deus, quando são apenas apelos carnais. Que cada um de nós ore ao Senhor, e um dia possamos dizer como Paulo em Gl 6.4: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”).
Hoje, não sofremos qualquer ameaça, pelo menos no Brasil e por enquanto. Podemos nos reunir livremente em qualquer lugar, a qualquer hora, sem sermos ameaçados por nada (talvez por isso, somos tão acomodados e inoperantes).
No mundo, especialmente o islâmico e comunista, crentes no Senhor são privados de conforto, de acesso a água, comida, escolas, hospitais, de assistência; são caçados, encarcerados, mortos; perdem os poucos bens que possuem, perdem o lar, os filhos, a esposa ou marido, perdem a própria vida, mas resistem a negar a Cristo (há material vasto e informações atuais no endereço http://www.portasabertas.org.br/ e também em http://www.vozmartir.org/ 2).
Serão eles melhores do que nós? Ou o nosso Deus menor que o deles?

C) CONCLUSÃO:
Respeito opiniões, sejam as de qualquer um. E respeito os que julgam a igreja descartável. Contudo, creio que os crentes têm e devem espelhar-se em Cristo Jesus, o qual é o nosso exemplo, e quem nos move a agir e a decidir em prol de uma vida cristã. É Ele quem opera em nós tanto o querer como o fazer, segundo a Sua vontade (Flp 2.13), mas "que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra" (1Tes 4.4); "a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3). Oro para que Deus nos guie no cumprimento da Sua vontade, porque é pela igreja que a multiforme sabedoria de Deus faz-se conhecida dos principados e potestades nos céus (Ef. 3.10).
E cada um dos irmãos que não congrega atualmente, ore a Deus para que Ele lhes dê uma igreja local onde possam servir, honrar e glorificar o Seu santo nome...
E que venham a amá-la como Cristo ama.

1 - Cristãos em uma Sociedade de Consumo - John Benton - Ed. Cultura Cristã - pg. 103/123

2 - O site Voz dos Martíres mudou de provedor, portanto, estará "fora do ar" temporariamente, voltando em Maio/08 à normalidade.

24 março 2008

SENHOR OU ESCRAVO?















Por Jorge Fernandes Isah


O homem não é senhor, nem jamais o será. O homem não é senhor sequer de si mesmo, e jamais o será. O homem só pode ser servo, e isso ele é, e sempre será. Resta saber a quem ele servirá, se a Deus, ou ao Diabo e o pecado.

Se alguém se propuser a dizer que controla a própria vida, bem... ele não é humano, mas o próprio deus. Ele deve fazer parte de algum clã divino que o “possibilita” a gerir a própria existência. Haverá um de nós que pode afirmar tal coisa?

Comecemos pelo nascimento... Alguém escolheu onde nascer? De quais pais nascer? O país, cidade e hospital? Alguém escolheu o próprio nome, sexo, o tipo sanguíneo, a cor dos olhos ou da pele? Qual seria a sua professora no maternal, ou se teria habilidade suficiente para ser um craque em squash? Alguém pode decidir, minimamente, sem ser influenciado pelos amigos, pelo sistema, pela mídia, pela moral? Até mesmo o imoral parte da pressuposição da moral para a sua imoralidade, ainda que não a compreenda, e se rebele contra ela.

É possível comprar-se um creme dental sem que aja qualquer influência em nossa decisão? Seja ela econômica, estética, odontológica? Ou mesmo que pudesse ser aleatória, o que não é (talvez pela proximidade do tubo; ou por estar na prateleira de baixo ao meu alcance; ou porque o repositor esqueceu-se e deixou apenas uma marca em estoque... Visto que a minha altura, a da prateleira, e a incompetência do estoquista não são casuais mas causais), ainda assim haveria uma motivação, uma influência para se colocar o creme dental no carrinho de compras, seja qual for. Pois a própria decisão de comprar o dentifrício já é desencadeada por alguma persuasão, por forças que sequer conhecemos ou entendemos.

Se levarmos esse exemplo para todas as decisões na vida, veremos que elas jamais deixam de sofrer uma influência externa, que se acomoda internamente, formando o que se chama de vontade, escolha, desejo; que, contudo, não é livre e independente.

É fácil perceber o desgoverno de nós em nós mesmos, e que muitos fatores levam-nos à optar pelo azul ao invés do vermelho, a ser advogado ao invés de lenhador, a ouvir Bach e não o MC bolinha. Temos, assim, debilitada a noção de liberdade que julgamos ter, e da qual não queremos abrir mão, ainda que ela seja intangível e se afaste cada vez mais de nós na medida em que a entendemos. E pode nos fazer servos de um ou de outro senhor, mas jamais nos fará senhores, nem das situações, nem das escolhas, nem de nossas vidas.

Basta olhar o nosso guarda-roupas ou a nossa discoteca para percebermos o quanto a nossa "vontade" é servil, subjugada, escravizada. Não há autonomia, e crer nela é o mesmo que dar um placebo a um tetraplégico, e esperar encontrá-lo no próximo domingo pulando na arquibancada do Mineirão. O homem vive de sonhos, e o maior sonho é fazer-se dono de si mesmo e da sua vontade. O que nos faz voltar à pergunta inicial: de quem sou servo? Visto que não há como ser senhor, pelo menos devo saber a quem me submeto.

Jesus Cristo, em Mt 6.24, diz: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (uma entre tantas divindades criada pelo homem). E questionado pelos fariseus, afirmou: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44); e ainda: aquele que me ama, fará a minha vontade. Portanto, a Bíblia confirma que temos um senhorio. Se de Cristo, a viver eternamente no Seu reino de glória; sem Cristo, a morrer eternamente para Deus, e para sempre ser castigado e lançado no inferno, onde o fogo não se extingue jamais.

Muitos dirão que Deus não existe. Apenas e tão somente o “poderoso” acaso; o qual aleatoriamente escolhe a morte para uns, a vida para outros, a miséria para um terceiro e a opulência para um quarto. O destino tornou-se o "deus" de milhares de homens durante a história da humanidade, e ele exerce uma força dominadora tão grande nas pessoas, que elas o ergueram ao pedestal de onisciência e soberania, como se nele houvesse inteligência, juízo, sabedoria, ou na pior das hipóteses, um poder caótico, desordenado; mas, ainda assim, capaz o suficiente para estabelecer diretrizes à vida.

Portanto, os ateus não podem esquivar-se a refletir: “somos peões nas mãos de um enxadrista, mesmo que ele não conheça e entenda o ‘jogo’”. O que os faz servos do seu deus, mesmo que seja um deus estúpido, estouvado e inconsequente, que bata a cabeça em paredes, volte e bata novamente, ignorando o que seja parede e o que seja cabeça.

A Bíblia afirma que Satanás é o pai da mentira, que ele veio para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ele gosta de confundir, de fazer as pessoas parecerem originais em sua soberba e vaidade. No fundo, como um rebelde ensandecido, pai do caos, e um mentor diligente, ele explora esse sentimento arraigado no homem caído, visando convencê-lo da inexistência de Deus e dele próprio, pois ao negar-se, ele nega o pecado, a queda e o Altíssimo. É uma tática surrada, de um velhaco, mas que surte efeito em mentes arrogantes e incautas, em corações endurecidos.

Elas buscam independência e autonomia utópicas, levando-as a abominarem toda e qualquer referência ao único e verdadeiro Senhor (O Deus bíblico), a fim de viverem uma pseudoliberdade, de deter uma pretensa autoridade, insana, vã; tornando-os em insurgentes, aptos a viverem absolutamente na dissolução e pecaminosidade, em nome de um aparente prazer e superioridade.

Mas você, prontamente, gritará uma outra opção: “EU SIRVO A MIM MESMO! NÃO QUERO SABER DE DEUS! SOU DONO DO MEU NARIZ, E FAÇO O QUE QUERO, QUANDO QUERO!”. Pergunto-lhe: como fazê-lo se não é senhor? E se a sua vontade está presa, sujeita ao pecado? No máximo, o que fizer será sob ordens, no domínio do seu superior, sob o comando e a serviço de outrem. Jesus diz: "em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8.34).

Não há meio termo, não há como conciliar e condescender. Rejeitar a Cristo e ao Evangelho é desprezar a Deus, é permanecer morto espiritualmente, e escravo da vontade do outro "senhor", o qual tem os dias contados, e um lugar de tormento reservado para ele e suas legiões de demônios.

A liberdade encontra-se exclusivamente em Jesus Cristo, o único capaz de quebrar os grilhões que nos mantêm aprisionados; pois Ele, em seu muito amor com que ama os seus servos, nos transporta do reino de dor, aflição, mentira e conceitos farsescos, para o reino de amor, verdade, paz e plenitude da Sua glória.

Como Paulo afirma (quando do retorno glorioso do Filho de Deus, como Rei dos reis, e Juiz do universo): “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai"(Flp 2.10-11).

Então, naquele dia, os homens que negaram a Deus e se mantiveram em insubordinação, Satanás e os anjos caídos (que na sua loucura pretenderam ser iguais ao Altíssimo), e aquele que crê, seja lá em que deus for, terá de se curvar, de quebrar a sua cerviz, porque estará diante do Senhor eterno e supremo; e a Sua glória o constrangerá de tal forma, que somente haverá lamento e choro por causa de toda a insanidade e tolice do homem.

Ao afastar-se definitiva e eternamente de Deus, e vislumbrar a Sua glória das densas trevas (se possível for), trará apenas a desolação e a lembrança de uma vida inútil na terra... e a constatação de uma vivência aterrorizante, flageladora... por toda a eternidade.

E onde estará o seu senhor? Aquele que o levou a se confrontar com a justiça de Deus, induziu-o ao erro de se considerar inocente, quando, ao praticar o crime de desprezar o Todo-Poderoso tornou-se condenado?... Estará ao seu lado, em indescritível tormento...

Concluo com a descrição libertadora de George Matherson:

“Faz-me um cativo Senhor e livre então serei;
Obriga-me à entregar a espada e serei um conquistador;
Nos alarmes da vida me afundo. Quando estou só;
Aprisiona-me em teus braços; e forte minha mão será”

Que Jesus Cristo, o Deus misericordioso e gracioso, sujeite-o ao Seu senhorio, para o seu próprio e eterno bem.

09 março 2008

RENOVO













Por Jorge Fernandes


I

A folia em noite de sábado,
Bulha disforme no ônibus,
Risos destoantes,
Como lamúrias espasmódicas;
Mulheres à beira de um ataque de nervos,
Homens de saias cobiçando outros homens,
Ainda que pareça galhofa,
Eles nas calçadas zombam-nas através das janelas de vidro,
O impudor,
Disparado como uma chuva de balas,
Exibe-se no malévolo mal do fim-de-semana,
Um dia depois, volta-se ao ostracismo.
Ruas abarrotadas,
Carros desgovernados,
Bêbados e drogados pelo chão,
É uma guerra,
Onde as vidas subjugam-se na dor,
Desistiram da esperança,
Confiantes em suas premissas,
Não vêem o vácuo debaixo dos pés,
Em queda livre, arrazoam pretextos,
Como se pássaros, voassem.
O alarido a perpassar,
Nada intermitente,
Como água a descer da cachoeira,
As luzes piscam,
Pneus fremem,
O caos acomoda-se, inflama-se,
E o vento não dissipa o fedor.


II

Cinco anos atrás,
Eram meus quinze minutos no coletivo,
Quase ouvia a minha própria voz,
Quase via meus próprios gestos,
O som como o chio do porco abatido,
Igual náufrago na procela,
O hífen de muitos gritos,
Antes de soçobrar.
Fui pior que eles,
No egoísmo a alardear-se,
Ascendi muitos degraus no estupor,
Era o rato a acrisolar o monturo,
Como um regato de dejetos,
A desaguar na sentina.


III

Quis orar por eles... Não consegui.
Quis que Deus os perdoasse... Mas se fosse por mim...
Quis que se calassem... Voltassem escondidos pra casa,
E as ruas livres,
Como numa madrugada fria e chuvosa.
O enlevo de outros gritos,
Retorna-me ao tempo,
E não foi difícil ver que entre eles e eu havia a única diferença.
Se fui perdoado,
Ainda que monstruoso,
Se redimido,
Ainda que imerecido,
Se santificado,
Ainda que o inferno fosse o destino,
Se amado,
Quando o ódio era-me escudo e lança,
Se feito filho,
Quando o matei,
Nascido sem choro,
Só sobrou-me arrepender,
Por não os tê-lo abraçado,
Beijado-lhes a face,
E dito: sou como vocês!
Mas somente pelo sangue derramado no Calvário
Fui feito novo,
Criatura em ser,
Firme na Rocha inabalável,
Erguido pelo santo amor do Filho de Deus,
Que me elegeu por toda a eternidade,
Na Sua graça perfeita,
E absoluta misericórdia;
Por Ele, unicamente Ele,
Sou renovo.

04 março 2008

REBELIÃO

(Definição: Ato de se rebelar; revolta; sublevação; desobediência; transgressão de uma ordem)







Por Jorge Fernandes

A rebelião implica na revolta contra uma autoridade, na quebra da ordem, na ilegalidade; sendo, portanto, um crime e passível de punição. Esta é a condição do homem natural: insurgente contra Deus, “não o glorificou como Deus, nem lhe deu graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21); encontra-se em teimosa e contumaz desobediência, em delito, e sobre ele a ira de Deus se manifesta (Rm 1.18).
O pecado é o crime contra a autoridade de Deus; é a prova de que somos rebeldes, e de que, por ele, seremos julgados e condenados. Muitos não acreditam na existência do pecado. Muitos se escondem na premissa de que o homem é imperfeito, e, portanto, sujeito ao erro, e de que não há quem não o cometa; sendo assim, temos de aceitar a nossa natureza como ela é, pois não há nada a se fazer, e refutam a idéia do pecado (1Jo 1.8). Muitos, para a sua própria perdição, se deleitam e se comprazem no mal que praticam, dizendo-se sábios, tornam-se loucos (Rm 1.22).
O pecado, transigido, foi aceito como algo inevitável, como parte da natureza humana contra o qual, antes de se combater, podemos usufruir, ainda que infame, ainda que “inatural”, ainda que inflame e incite a toda a sorte de sentimentos perversos. O homem, em nome de uma pretensa liberalidade, tornou-se impotente escravo de suas paixões e delitos (Jo 8.34), dominado, subjugado por um sofrimento infinito que se perpetuará numa tragédia por toda a eternidade. “Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo” (2Pe 2.19).
A despeito de todos os avanços da ciência, o homem morre e está morto. Apenas o Senhor pode trazê-lo à vida. Quando Adão transgrediu a ordem de Deus de não comer do fruto da árvore do bem e do mal, o pecado entrou na humanidade, e, por conseguinte, a morte (Gn 2.17; Rm 5.12). Depois, o que se viu foi a rápida degradação, a ponto de Caim, deliberadamente, matar a seu irmão Abel (Gn. 4.8). Antes, Caim foi alertado pelo Senhor: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar” (Gn 4.7). Mas a inclinação inevitável para o mal e a desobediência (decaído em sua miséria), levou-o ao assassínio e as lamentáveis conseqüências do pecado.
Hoje, como no passado, a maldade tem-se tornado a marca característica da humanidade. Não há o temor a Deus, e nem sabedoria (Sl 111.10)... “O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama” (2Pe 2.22). Assim encontra-se o homem, refestelando-se na dissolução, entregue às cadeias da escuridão, ficando reservado para o juízo, para ser castigado (2Pe 2.4;9).
Sem a convicção do pecado, o homem está morto em seus delitos; como o condenado à morte, seus crimes levá-lo-ão ao fim. E o fim é perecer eternamente. Diferente do condenado à morte, se ele confessar a sua culpa, se arrepender, será salvo.
Por isso, Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, morreu na cruz: para salvar os pecadores arrependidos. Não há outro jeito, nem forma ou maneira. Apenas o sacrifício que o Senhor fez na cruz do Calvário é capaz de livrá-lo da imputação dos seus crimes. “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; o qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.13-14).
Pedro, falando sobre Jesus em Atos 4.11-12, disse: “Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.
Esta é a verdade: a rebelião é uma afronta a Deus, é trata-lO com desprezo, em transgressão; e assim, estamos afastados, mortos para Ele; sepultados em iniqüidades, não temos vida, e a barreira que o nosso pecado erigi, separa-nos de Deus.
Como natimortos, em Cristo somos ressuscitados, e Ele é o único capaz de derrubar o obstáculo que nos separa de Deus, e de nos reconciliar com Ele, perdoando as nossas ofensas. Apenas o Senhor, e tão somente o Senhor Jesus, pode restaurar a nossa relação com o Altíssimo, absolvendo-nos dos crimes pelos quais o justo Juiz nos sentenciaria e proclamaria: CULPADO! (Sl 7.11; 2Ti 4.8). Ele mesmo cumprindo na cruz do Calvário a pena que nos foi fixada, pelo seu imenso amor substituiu-nos, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus, quando seria-nos impossível realizá-lo (1Pe 3.18).
Confessar os pecados e a rebeldia diante de Deus, e receber o inevitável e maravilhoso perdão de Cristo, dar-nos-á vida em abundância; encher-nos-á de alegria o coração, auferindo-nos o gozo eterno.
Ou Cristo, ou a ruína. Ou Cristo, ou a vida ceifada. Ou o amor e a salvação de Cristo, ou a Sua ira e juízo. Pois ao rebelde, o indulto apenas é-lhe concedido por Jesus, que o converte em servo resignado, o qual passa a obter a graça do seu Senhor. Recebemos o Espírito que provém de Deus, abandonando o espírito do mundo (1Co 2.12); e a paz e a ordem que nos é dada, gratuitamente, tomam o lugar da rebelião e do caos, e nos faz navegar por águas tranqüilas ao invés de nos arrastar pelas sarjetas terrenas.

23 fevereiro 2008

deus DE MENTIRINHA


- Análise do livro a Linguagem de Deus -
Por Jorge Fernandes


AUTOR: FRANCIS S. COLLINS (Diretor do Projeto Genoma)
EDITORA: GENTE

IMPRESSÕES:
· A linguagem narrativa do autor: O texto é de fácil compreensão, mesmo para quem, como eu, não é versado em ciência, o que é uma grande vantagem.
· Idéia geral: Defesa do darwinismo, a despeito do título e subtítulo afirmar um encontro com Deus. Na verdade, o deus dele é Darwin, e como tal, ele escreve sobre “A linguagem de ‘seu’ deus”.
· Conceito: O autor defende com “unhas e dentes” o darwinismo, usando Deus como um “mote”, um subterfúgio para atingir os cristãos incautos e outros religiosos.
· Erro imperdoável: Francis Collins fala sempre de um Deus genérico, procurando agradar a “gregos e troianos”. Como evangélico, ele em momento algum cita o Senhor Jesus Cristo como Deus, ou refere-se a Ele como Deus. Chega a usar o termo Verbo, presente em João 1:1, como sinônimo para Deus, sendo que o termo é usado exclusivamente para definir a 2 ª pessoa da Trindade: Jesus Cristo.
Fica clara a intenção e o desejo de “converter” ao seu deus, tanto cristãos como mulçumanos, budistas, agnósticos e ateus.
· Definição em uma frase: Sem fé no evolucionismo é impossível agradar a “deus”.

COMENTÁRIOS:
O autor disseca bem a teoria darwinista, expondo-a quase sem deixar de tocar em nenhum dos seus pontos principais; sempre a defendê-la a todo custo, mesmo que seja injusto ou desleal com os seus opositores (o que não fica tão evidenciado por seu texto comedido, mesmo não disfarçando a virulência com que os combate).
A linguagem ao qual aborda é a da evolução, dos princípios traçados por Darwin, ao qual chama de um cientista irretocável, pois ao enunciar a sua teoria, anteviu descobertas que sequer podiam ser cogitadas à sua época (ainda que estas “descobertas” não passem de pura e simples especulação, embasada em evidências que fogem ao crivo da ciência, e perambulam pela filosofia, ou pela fé evolucionista).
· Os argumentos com que ele combate os opositores são a base para sua defesa. Ele chega a usar fatos históricos como o de Galileu x Igreja Católica, para justificar que a disputa entre ciência x religião (subentende-se: Darwinismo x Deus) sempre resultará na vitória da primeira. Ele joga todos os seus dardos inflamantes sobre os cristãos ortodoxos/fundamentalistas, ridicularizando-os (não se engane com a pretensa linguagem conciliatória. Francis Collins dispara todas as armas do seu arsenal, atirando a torto e a direito): o alvo dele é desacreditar a fé em Cristo Jesus, talvez, por isso, ele exclua-O do seu debate.
Suas evidências são meramente especulativas, muito mais filosóficas que científicas (apesar de “aparentarem” ciência), e é exatamente neste ponto que ele combate tanto criacionistas como proponentes do Inteligent Design (o que é certo para Collins, torna-se erro grotesco nos outros). Veja a avaliação que ele faz de cientistas como Henry Morris (criacionista), Michael Behe e William Dembski (I.D.), quase os chamando de ignorantes, despreparados, pseudocientistas (apesar de elogiá-los pela sinceridade e honestidade com que defendem suas posições; e aí, o aparente elogio reforça o desprezo acadêmico que nutre por eles).
Ao referir-se a Phillip Johnson usou para combatê-lo a mesma tática que discorreu durante todo o livro: defender Darwin a todo custo. Se ele pode fazê-lo, porque Johnson não (a afirmação de que Johnson não é cientista, mas ao propor o I.D. queria apenas e tão somente “defender” a Deus dos ataques evolucionistas)?
A sua base crítica é um emaranhado de suposições (ainda que tenham um apelo lógico), as quais fazem dele e de seus pares cientistas sérios (afirmado pela negação da seriedade nos outros), e comprometidos com a verdade, já que apenas eles a detém (ainda que afirme não ser possível ou capaz, e talvez nem o seja, definir sobre essas verdades. Ele crê que, provavelmente, o homem jamais saberá o que se passou na criação do universo e da humanidade; ainda que afirme haver evidências factuais para se acreditar e confiar no evolucionismo, o que é uma contradição).
· Outro ponto interessante é a convicção com que defende o evolucionismo, ao nível de “crença”, de fé em suas pressuposições. O que confirma que o seu deus não é o Deus Verdadeiro, o Deus Único, o qual se manifestou em total plenitude no Senhor Jesus Cristo, mas um embuste chamado Charles Darwin.
· Ao usar argumentos humanistas, liberais (ele crê no que se pode chamar de livre-arbítrio extremado), excludentes da Bíblia, afirma que a fé deve sempre estar condicionada à ciência, sem a qual não haverá “verdade” alguma. Para ele, a crença em conceitos que não sejam científicos, ou que estejam à margem das descobertas científicas, levará ao enfraquecimento, ao distanciamento da fé. Chega a citar ingenuamente, que uma fé errada na ciência, destruirá a fé em Deus, ou, pelo menos, a comprometerá. Mas de qual Deus ele fala? Do seu deus?
· Francis Collins, se pudesse assumir, escreveria: “Sem fé no evolucionismo é impossível agradar a deus”.
· A idéia dele é a de unir todos numa espécie de “ecumenismo científico” (tal qual a Igreja Católica deseja entre os cristãos, desde que seus dogmas e doutrinas sejam aceitas irrevogavelmente), levando todos a um só princípio, a um mesmo padrão, desde que seja o do naturalismo. E isso, se não for ditadura, está bem próxima de sê-lo.
· Ao propor o Biologos (evolucionismo teísta) ele parte para uma conclusão na argumentação de que ciência e fé devem e podem andar juntas. Elas não devem viver em constante embate. Mas se uma nega a outra, como harmonizá-las? A sua resposta é: diminuindo ou eliminando os pontos em que há discordância bíblica. Pois sempre ele irá contestar a veracidade da Bíblia, e jamais a credibilidade científica, ainda que ela seja especulativa e nada conclusiva. Gênesis 1-3, assume caráter meramente espiritual, poético ou moral, enquanto o Big-Bang, a seleção natural e a evolução são fatos plenamente críveis.

CONCLUSÃO:
· Acho esta busca do Francis Collins um equívoco total. Ele prega um Deus genérico, sendo muito mais um Deísta do que um Teísta (apesar de enganar bem como tal). O seu deus é Darwin e sua teoria. Não vê como a fé pode subsistir sem que a ciência a corrobore (mesmo não deixando explícito tal afirmação, ela se encontra subliminarmente exposta), e aquela se torna refém desta.
O livro questiona a Bíblia e os fatos ali narrados, e execra tanto criacionistas como os proponentes do I.D., ao afirmar que eles são subcientistas e pseudo-intelectuais; homens sinceros, é verdade, mas incompetentes e inaptos (perdoem-me o termo darwinista) para vislumbrar as “belezas e maravilhas” da verdade evolucionária.
Ao questionar a seriedade de cientistas, os quais não comungam com a sua visão evolucionista, ele os lança ao descrédito, desprezando-os como acadêmicos, colocando-se (ele e o seu grupo) como o único porta-voz da verdade, e baluartes da seriedade (ou competência). Deus deixa de ser o absoluto para que a sua prática científica (e eles mesmos) o seja (ainda que ele valide, teoricamente, a moral cristã e a busca de um deus, qualquer que seja ele).
· O que é fato em Francis Collins e o seu “A linguagem de Deus”: seu deus é de mentirinha.

21 fevereiro 2008

TRASPASSAR

Por Jorge Fernandes

Os olhos decaídos
Não viam os passos em titubeio,
Nem o asfalto lacerado como pano velho,
Não ouviam o solado raspar-lhe os farelos,
Nem sentia o piso duro deformá-los;
A lágrima descuidada regou o solo,
Fez-lhe subir a poeira,
Enquanto o Sol rubro tingia o cinza-azulado do céu,
Não lhe senti o cheiro,
Nem pude tocá-lo,
Quase corri pelo gramado seco,
Entre as fístulas do passeio.



Olhei para todos eles,
E vi o quão longínquo estava,
Mesmo ali,
Não havia como alcançá-los,
Nem o choro,
Nem o grito,
Nem a dor,
Nem o silêncio,
Nem as vistas arqueadas,
Nem o aperto de mão ou o abraço desengonçado,
Nada.
As promessas esvaíram-se efêmeras,
E mesmo o vôo dos pardais,
O cair de folhas das palmeiras,
Intransigiam o momento.


Vi-me ao vê-los,
Parentes, amigos, colegas, ignotos,
Cravados na presunção,
De que para conhecê-Lo,
Posso ser o que quiser,
Aproximar-me de qualquer jeito,
E fazê-lo a mim mesmo,
Imperfeito,
Complacente,
Dissoluto.



No fim, tudo dará certo,
Ele me perdoará por tentar,
Por não conseguir, ainda que creia tê-lo,
Pela fé que não ultrapassa um ideal,
E desfaz-se na ardente aspiração extinta.


Ele pode se alegrar comigo,
Ele pode rir-se de mim,
Consentir em meus pecados,
Fazer a cara de bom velhinho,
Um noel irreal,
Que troca cartas por bolas de plástico,
Ele pode até se parecer comigo,
Mas esse não é Ele;
Apenas outra corrupção da mente caída,
Como tantas em que me agarro,
Uma corda imaginária,
Que me precipita.


A aflição me toma,
Um a um lançar-se no abismo,
A geena a sugá-los como redemoinho de chamas,
Até que o Altíssimo o estanque.


Ele é quem me eleva,
Iça-me do precipício eterno,
Não há como enganá-Lo,
Nem adorá-Lo,
Se vejo-me no espelho inteiro,
Desfigurado,
Se Cristo não se formar,
Os dentes rangerão no fogo inextinguível...


Ver-me através do Filho,
Purificado,
Convertido à Sua imagem,
É a salvação:
De mim,
Do inimigo,
Do desprezo,
Do pecado;
Próximo Dele,
Achego-me a todos,
E o Seu amor preenche as lacunas,
A perfurar
.

17 fevereiro 2008

Dízimo, oferta e o crente














Por Jorge Fernandes Isah*

Tenho lido muitos artigos sobre o dízimo e ofertas. Quase todo dia, me enviam textos "descendo a lenha" no que chamam a "falácia do dinheiro a Deus". Como já expus há alguns irmãos a minha convicção pessoal, e creio, também bíblica, e visto que me chegou às mãos um artigo intitulado "Salário do Pastor: um peso na carteira!"1 (cujo autor não sei quem é, mas já o reprovo pelo título), enviado por uma irmã que me pediu um comentário, resolvi escrever minhas impressões sobre o assunto e a minha convicção bíblica a respeito.

PRIMEIRO: UM ALERTA!
O problema de muitos articulistas é a falta de honestidade. Não que desejam ser "desonestos", mas é que não se preocupam com TODA a honestidade; pois estão satisfeitos demais com a honestidade que já têm, ainda que não seja suficiente. O ataque é sempre baseado em uma premissa, um pré-conceito instalado e arraigado, simplesmente opinativo (refletindo o desejo e prática pessoal ao invés da vontade de Deus), ainda que sejam citados alguns versículos bíblicos (normalmente fora do contexto e a pretexto de) e algumas fontes "abalizadas", que justificam a execração pública, seja da igreja, do pastor ou do crente fiel que oferta (isso não é privilégio dos articulistas cristãos, mas é uma prática usada secularmente, desde que o homem caiu no Éden). Não há preocupação com TODA a verdade. Uma parte dela, mesmo ínfima, já é o suficiente, e se houver alguma distorção, quem se importará?
Então, a questão passa a ser moral, e se omitimos deliberadamente alguma informação, ou não fazemos uma pesquisa cuidadosa, emitindo um conceito como sendo divino (o que é uma manipulação, um sofisma), faltamos com a verdade, e nos tornamos em mentirosos, fraudulentos. Há de se ter cuidado com tudo o que lemos, para que não caíamos na armadilha, sendo enganados por negligência, por desprezarmos uma acurada análise crítica do que está sendo proposto. É assim que começam as heresias, é assim que Satanás engana o homem, é assim que se torna fácil confundir, beligerar, dominar, e isso é pecado, e não podemos jogá-lo para debaixo do tapete, como se fosse possível escondê-lo. A Bíblia afirma que, "Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. (Gal.6.7), e que, "os pecados de alguns homens são manifestos, precedendo o juízo; e em alguns manifestam-se depois. Assim mesmo também as boas obras são manifestas, e as que são de outra maneira não pode ocultar-se"(I Tm 5.24-25).
Então, como ovelhas no meio de lobos, sejamos prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas (Mt 10.16).
Usualmente, temos o defeito de sermos relapsos, pouco atentos aos cuidados que se deve ter com a Palavra. Se lemos um texto, mesmo que de um renomado escritor ou teólogo, devemos cuidar para não crer "afoitamente" em tudo o que ele diz. Se nos são apontados versículos bíblicos, que os consultemos, atentando para o contexto do capítulo, seus versículos anteriores e posteriores, que nos darão o entendimento correto do que o versículo citado quer realmente dizer. Por sermos omissos, acabamos crendo em todo tipo de "sandice" professada e confessada, como sendo verdade e proveniente de Deus. Não podemos nos esquecer de que toda a verdade está contida nas Escrituras, e de que ela é a nossa única regra de prática e fé, mesmo que a maioria de nós a tenha (e venha) negligenciado. O Senhor nos alerta a vigiar e orar (Mc 14.38), e não nos deixar enganar por verdades, "as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria... mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne" (Cl 2.23).
Estejamos pois alertas, revestidos de toda a armadura de Deus, para não sermos apanhados nas ciladas de Satanás (Ef. 6.11)

SEGUNDO: UM FATO.
O dízimo é bíblico e refere-se à nação de Israel. Primeiramente, não eram ofertas a Deus, mas taxas para suprir o orçamento nacional, visto que Israel era uma teocracia, os sacerdotes levíticos atuavam como um governo civil. Representava não a décima parte mas, aproximadamente, 25% em taxas que eram doadas pelos israelitas. É uma ordenança ao povo de Israel. Assim, os crentes do N.T. não são chamados a dizimar. Mas temos de DOAR, OFERTAR. Como o pr. John MacArthur disse: "A linha de direção para a nossa doação para Deus e Sua obra é encontrada em II Co 9.6-7: 'E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria'"2.
Ao crente não é cobrado o dízimo, mas a oferta, que deve ser dada segundo o coração; e como ele ofertar, Deus conhecerá o seu coração (é uma hipérbole, visto que Deus JÁ conhece o coração de cada um desde toda a eternidade).

TERCEIRO: UMA MENTIRA.
Afirmar que pelo fato do crente não estar "preso" ao dízimo, ele não deve contribuir para a igreja, ou ele pode dar qualquer ninharia que Deus se alegrará (ninharia aqui tem o sentido de você separar uma ínfima parte do que tem, as migalhas que sobraram, e não como alguns fazem parecer a passagem de Lc 21.1-4, onde a mulher deu duas moedas, mas era TUDO o que tinha). Afirmar que as ofertas para "'a obra de Deus', naturalmente, significa assalariar o cargo de pastor e pagar as contas mensalmente para manter o edifício sem dívidas"3, não parece, no mínimo, uma falta de compreensão e ignorância quanto às Escrituras e a obra de Deus (e com o próprio Deus)? Não lhe parece tendenciosa e facciosa tal afirmação? Será que TODOS os pastores estão reprovados porque uma parte deles é réproba? O crente, então, não tem de sustentar o pastor e a igreja? Qual é a base bíblica? Quais são esses versículos?

QUARTO: A VERDADE.
O crente não só deve, mas tem o DEVER de sustentar a igreja. Foi o apóstolo Paulo quem afirmou em II Co 11.7-9: "Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus? Outras igrejas DESPOJEI eu para vos servir, recebendo delas SALÁRIO; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da Macedônia SUPRIRAM a minha necessidade, e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei" (grifo meu). Paulo reprova os coríntios por não lhe terem suprido as suas necessidades. E de que os Macedônios e outras igrejas o fizeram. E ainda assim, ele pregou-lhes o evangelho.
O mesmo Paulo disse em I Tm 5.17-18: "Os presbíteros que governam BEM sejam estimados por dignos de DUPLICADA HONRA, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: DIGNO é o obreiro do seu SALÁRIO"(grifo meu). Se o apóstolo dos gentios não afirma a necessidade de honrar os obreiros (presbíteros, pastores, missionários, etc) com o salário, não faço a menor idéia do que ele quis dizer nesta epístola.
Ao contrário, certos autores insistem em detratar os pastores, de uma forma geral, como se fossem todos eles crápulas, pústulas, uma classe de sanguessugas, cânceres sociais, a escória do mundo, criminosos... "Somos espiritualmente obrigados a PATROCINAR o pastor e sua equipe?"4 (grifo meu). A resposta é que, cada crente, deve manter, sustentar a obra de Deus, como afirmou o apóstolo Paulo. E ele diz mais! Em II Co 9.1-13 (leiam atentamente cada versículo, por favor!) lemos que Paulo os exorta a coletarem ofertas a fim de ABENÇOAR aos irmãos da Macedônia (parece que os coríntios, como muitos crentes hoje, achavam que podiam obedecer a Deus, sem cumprir o chamado de ofertar à igreja; talvez por isso, eram desobedientes em tantas outras coisas, e uma igreja fraca e cheia de tantos escândalos como o apóstolo relata em suas cartas).
Preocupado com o pouco zelo dos irmãos de Coríntios, Paulo manda uma comissão à sua frente com a epístola, para que os Coríntios providenciassem a coleta (que não era dos frutos da terra apenas, mas de dinheiro), "a fim de, se acaso os macedônios vierem comigo, e vos acharem desapercebidos, não nos envergonharmos nós (para não dizermos vós) deste FIRME FUNDAMENTO DE GLÓRIA. Portanto, tive por coisa necessária exortar estes irmãos, para que primeiro fossem ter convosco, e preparassem de antemão a vossa BÊNÇÃO, já antes anunciada, para que ESTEJA PRONTA como BÊNÇÃO, e não como AVAREZA"(grifo meu). Ele afirma que a oferta preparada para os macedônios seria uma bênção, e os exortava a que procedessem no firme fundamento de glória, e não como avareza. Há alguma dúvida de que ofertar é um mandamento para os crentes? E de que o devemos fazer como uma obediência a Deus, servindo de bênção à igreja e aos irmãos (e aos incrédulos também)? E de que glorificamos a Deus quando assim procedemos, sabendo que somos administradores daquilo que Ele mesmo nos deu e tem dado, sabendo que o nosso dinheiro não nos pertence, e de que, se o utilizamos apenas em nosso próprio proveito, nos fazemos egoístas, avarentos e de que, tanto o egoísmo como a avareza são pecados (Ef. 5.5)?
"Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também é abundante em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, GLORIFICAM a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos" [II Co 9.12-13 (grifo meu)].

QUINTO: UM COMENTÁRIO.
Estes e muitos outros versículos são "esquecidos" pelos detratores e inimigos da igreja. Sabemos que Satanás tem como alvo principal a igreja, pela qual o Senhor Jesus Cristo morreu. Ele não morreu pelo mundo, nem pelos que estão ou estarão queimando no Inferno; mas pelos crentes, aqueles que pertencem a Sua Igreja e Noiva. Por ela, o Senhor encarnou, andou pelo mundo, pregou o evangelho, curou, morreu na cruz do Calvário, ressuscitou, e chamou cada um de nós à conversão, restaurando-nos, vivificando-nos quando ainda estávamos mortos em ofensas e pecados (Ef. 2.1).
Muitos, usam o dízimo como argumento para não ofertar, não doar, não acolher, não ajudar, não auxiliar, tanto a igreja, como irmãos e incrédulos. Dizem que Cristo cravou na cruz toda a Lei (no que estão certos), e de que sou livre para agir, pensar, e me comportar como bem entendo, no que estou errado.
Se o dízimo não pertence à igreja, os crentes da igreja primitiva dispunham de TUDO o que possuíam. Atos 2.44-45, diz: E todos os que CRIAM estavam juntos, e tinham tudo em COMUM. E vendiam SUAS PROPRIEDADES E BENS, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister"(grifo meu). Quem você conhece que vendeu tudo o que possuía e entregou à igreja? Ou distribuiu-o com os irmãos? O que vemos hoje é uma igreja insensível, e irmãos igualmente insensíveis, que não obedecem a Deus; que se fingem de moucos, de cegos, de paralíticos, para não participarem da obra de Deus. Sãos os deficientes modernos, os quais precisam da cura do nosso Amado Senhor. Não digo, com isso, que se deve vender tudo, e despojar-se a favor da igreja. Isso nem é o mais importante. Mas se crentes se apegam tanto ao seu dinheiro que não o ofertam, não estarão igualmente apegados à sua velha natureza e ao pecado? Se não consigo “abrir a mão”, afim de ser uma bênção e glorificar a Deus no mínimo, poderei fazê-lo quando me for exigido o máximo, por exemplo, a minha própria vida? Será que tenho devotado meu tempo à leitura da Bíblia, à oração, ao evangelismo, aos trabalhos de discipulado e ensino dos irmãos? Ao conforto daqueles que se encontram afligidos e desamparados (não somente material, mas sobretudo espiritualmente)? Usando o meu tempo, dons e bens para a glória de Deus? Será que meus pensamentos estão em Deus, ou como narciso, vejo apenas a mim mesmo em todos os cantos? Serei capaz de algum sacrifício para glorificar o bom, misericordioso e gracioso Deus que me resgatou da condenação, quando o único lugar que mereço é perecer eternamente no Inferno?
São perguntas que devemos nos fazer. É fácil agredir as pessoas, e ser injusto. É muito fácil desprezá-las. E mais fácil ainda ignorá-las. Mas Deus nos chamou por amor, e pelo amor. E é por ele, o mesmo amor que o Senhor teve e tem por nós, que devemos ter pela igreja, pelos irmãos e por aqueles que se encontram perdidos no mundo. E o amor implica em renúncia, em entrega, em sacrifício. Não foi assim com o Senhor? Será que o nosso dinheiro é mais importante do que o nosso dever de crentes em Cristo Jesus?
Para finalizar este tópico, quero deixar-lhes o versículo de Hb 13.16:"E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada".

SEXTO: CONCLUSÃO.
1)Quanto a obediência aos pastores, fico com Hebreus 13.17; Paulo diz: "Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil".
2)Quanto a oferta às igrejas, com I Coríntios 16.1-2: "Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às IGREJAS da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar"(grifo meu).
3)Quanto ao sustento dos pastores, I Timóteo 5.18: "E: Digno é o obreiro do seu salário".
4)Quanto à acusação aos pastores, I Timóteo 5.19: "Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas" (e não genericamente, como se todos fizessem parte de uma quadrilha).
Por fim, exorto-os a seguir a Cristo, que é a cabeça, cujo corpo, nós, a igreja, devemos nos apresentar gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível; onde Deus distribuiu os dons aos homens (uns evangelistas, outros pastores e doutores), querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo, por Cristo e em Cristo (Ef. 4.11-16).
Sabendo que Deus detém promessas aos Filhos que doam com amor e alegria (II Co 9.6-7), e de que esta é uma forma de adoração. E só para ficar claro, essas promessas não se referem, necessariamente, a bênçãos materiais.
Finalizo com as palavras do pr. Ron Riffe sobre a questão: “Portanto, com ardente instância, recomendo que cada cristão individual "ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade" [1 Coríntios 16:2] e dê por meio de sua igreja local e de forma regular. E, se você não tem confiança que os líderes da sua igreja usam o dinheiro de uma forma responsável e honesta diante de Deus, então precisa procurar outra igreja para freqüentar! O dízimo não é requerido dos cristãos no Novo Testamento, mas devemos amar o Senhor e não nos limitarmos a dar apenas 10% de nossa renda. Observe que o verso citado anteriormente diz '... conforme a sua prosperidade’. Em outras palavras, o princípio do Novo Testamento é dar em proporção àquilo que Deus provê para nós”5.

* AVISO: 1- Quando escrevi este texto, tinha por objetivo alertar os irmãos da minha igreja quanto a um panfleto absurdamente não-bíblico distribuído por alguém que estava em nosso meio. À época, não havia estudado o suficiente sobre a biblicidade do dízimo e, com uma má-leitura da Escritura, com pressupostos errados, e uma ideia de descontinuídade entre o AT e o NT, considerei o dízimo como uma prática não cristã. Porém, decorridos alguns anos, vejo-me obrigado, por minha consciência, a colocar este alerta, pois reconheço que a minha interpretação sobre o dízimo não foi bíblica. Não há descontinuidade entre o AT e o NT, e o dízimo é, para mim, uma prática nitidamente cristã e neo-testamentária. No futuro, escreverei outro texto refutando os pontos falhos deste aqui, mas, por hora, escrevi uma pequena resposta a um irmão que pode ser lida em meu outro blog "Guerra pela Verdade".

2- Nova abordagem sobre este assunto pode ser lida no Estudo da Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 52: Dízimos e ofertas
 
2- Não sou seminarista, pastor, presbítero ou ocupo qualquer cargo oficial em minha igreja.

NOTAS: 1- O artigo “Salário do Pastor: um peso na carteira”, provavelmente foi extraído do livro “Cristianismo Pagão”, de Frank Viola. 2- Artigo de John MacArthur para http://www.monergismo.com/textos/dizimos_ofertas/dizimo_mac.htm , com o título “Deus requer que eu dê o dízimo de tudo quanto ganho?”.
3- Trecho de “Salário do Pastor: um peso na carteira”.
4- Idem
5- Artigo de Ron Riffe para http://www.espada.eti.br/p264.asp , com o título “O Suporte aos Missionários”.